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O aumento da extrema-direita na Europa
Por Peter Schwarz
18 de maio de 2011
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Ao descontinuar os procedimentos de expulsão de Thilo
Sarrazin e manter este racista assumido nas fileiras do Partido
Social-Democrata (SPD), a social-democracia alemã deu um
grande giro à direita.
Sarrazin, antigo senador de finanças do governo municipal
de Berlim e diretor do Bundesbank (Banco Central alemão),
defende teorias social-darwinistas e racistas - opiniões
que, desde a derrota de Hitler, só foram sustentadas na
Alemanha por pequenos grupos neonazistas extremistas. Em seu livro
A Alemanha abole-se a si mesma, amplamente vendido, Sarrazin acusa
os imigrantes muçulmanos de virem de uma longa tradição
de procriação consanguínea e de expressarem
uma deficiência genética de inteligência. Ele
faz um alerta contra a conquista da Alemanha "por meio da
fertilidade" e reivindica limites estritos de imigração.
Além disso, no espírito das leis raciais de Nuremberg,
ele afirma que todos os judeus compartilham um gene específico.
O SPD justifica sua reconciliação com Sarrazin
com considerações eleitorais e "respeito a
diferentes opiniões". Na realidade, o partido está
dando uma resposta a mudanças de fundamento econômico
e social. O giro à direita do SPD é parte de um
desenvolvimento pan-europeu.
Cada vez mais, partidos tradicionais à direita e à
esquerda no espectro político burguês estão
se tornando adeptos do nacionalismo, anti-islamismo e outras formas
de racismo em seus programas políticos, reconciliando-se
com partidos da extrema-direita. A mídia contribui para
esse desenvolvimento da extrema-direita ao promover pregadores
do ódio direitistas como Sarrazin e Marine Le Pen, o presidente
da Frente Nacional Francesa (FN).
Na Hungria, o partido no poder, Fidesz - um membro proeminente
do Partido dos Povos Europeus, que inclui também a União
Democrática Cristã Alemã/União Social
Cristã (CDU/CSU) e a União por um Movimento Popular
(UMP) da França - está promovendo, por meio de suas
políticas, um nacionalismo arcaico. O governo Fidesz restringiu
a liberdade de imprensa e concordou com uma nova constituição
aos moldes da autoritária e antissemita ditadura Horthy.
Nas ruas, a milícia paramilitar fascista do partido Jobbik
é autorizada a caçar ciganos e outras minorias e
aterrorizar vilarejos inteiros.
Na Itália, Suíça e provavelmente em breve
na Finlândia, partidos xenófobos estão no
poder. Na Holanda e na Dinamarca, governos conservadores apoiam-se
em parlamentares da extrema-direita.
Nas pesquisas de opinião francesas, a neofascista FN
já ultrapassou os governistas do UMP. Se as eleições
presidenciais acontecessem amanhã, o candidato pela FN,
Marine Le Pen, provavelmente teria o segundo lugar e chegaria
ao segundo-turno. O crescimento da FN foi incentivado pelas campanhas
anti-islâmicas do governo Sarkozy. Em alguns casos - como
o da proibição do véu islâmico em escolas
e do banimento da burca -, essas campanhas também foram
apoiadas pelo Partido Socialista Francês e seus satélites
de "esquerda".
Com seu giro à extrema-direita, a burguesia europeia
está respondendo à crise financeira internacional
e ao aumento dos antagonismos nacionais na Europa.
Trinta anos atrás, eles viraram as costas às
políticas de reformas sociais que haviam dominado o período
do pós-guerra. Desde então, eles se apoiam nos partidos
stalinistas e social-democratas, nos sindicatos e seus apoiadores
entre a antiga "esquerda" radical para rebaixar salários
e benefícios, mantendo a classe trabalhadora em xeque.
Os governos do Partido Social-Democrata sob Miterrand e Jospin
na França, o governo do Labour sob Tony Blair na Grã
Bretanha, a coligação Partido Verde-SPD sob Schröder
na Alemanha presidiram uma enorme redistribuição
de renda e riquezas para o benefício dos ricos. Os sindicatos
ou suprimiram completamente a luta de classes ou limitaram-na
a impotentes protestos. Isso desacreditou fortemente essas organizações.
O número de seus filiados e votantes caiu drasticamente
e eles mal encontram algum apoio entre a juventude.
A crise financeira de 2008 levou o capital europeu a embarcar
em uma nova ofensiva contra a classe trabalhadora, ofuscando todos
os seus esforços anteriores. Enquanto os lucros e bônus
das diretorias batem novos recordes, as condições
de vida dos trabalhadores sofrem gerações de defasagem.
O que se iniciou com os programas de cortes na Grécia,
Irlanda, Portugal e vários outros países do Leste
Europeu está agora se transformando em um parâmetro
a ser seguido por toda a Europa.
Para levar esses ataques adiante, a burguesia continua a contar
com o apoio dos antigos partidos reformistas, dos sindicatos e
de seus seguidores ex-radicais. Mas, dada a fraqueza dessas organizações
e o rápido crescimento das tensões de classe, a
burguesia está sondando novos caminhos e preparando-se
para a repressão violenta aos protestos de massa, daí
seu apoio à extrema-direita. Isso se faz necessário
para envenenar a atmosfera social, dividir a classe trabalhadora
e mobilizar seu apoio a um Estado autoritário.
É sintomático que essa política receba
apoio do SPD e dos sindicatos. Estas organizações
de longa data perderam qualquer relação com a classe
trabalhadora. Elas representam uma burocracia enriquecida e privilegiada,
fortemente emaranhada nas tramas do aparato estatal e do grande
capital, e que defende seus interesses até o fim. Como
a manutenção de Sarrazin deixa claro, essas organizações
respondem às crescentes tensões econômicas
e sociais na Europa fomentando, elas próprias, a xenofobia
e o nacionalismo.
A situação política na Europa modifica-se
cada vez mais de acordo com os conflitos nacionais. Tensões
entre a Alemanha e a França estão aumentando, as
fronteiras externas da Europa estão sendo vedadas, as fronteiras
internas sendo restabelecidas e os interesses da política
externa - como aquele na Líbia - sendo defendidos por meios
militares e bélicos. O futuro do Euro e da União
Europeia estão em questão.
Logo após o irrompimento da Segunda Guerra Mundial,
a Quarta Internacional caracterizou a situação mundial
da seguinte maneira: "O mundo capitalista decadente está
superpopulado. A questão de admitir mais cem refugiados
torna-se um grande problema [...]. Em uma era de aviação,
telégrafos, telefonia, rádio e televisão,
viajar de um país a outro é paralisado por passaportes
e vistos. O período de desperdício do comércio
exterior e do declínio do comércio interior é,
ao mesmo tempo, o mesmo período da intensificação
monstruosa do nacionalismo e, principalmente, do antissemitismo".
Se fôssemos usar essas linhas para descrever a situação
atual, precisaríamos apenas substituir o termo "antissemitismo"
por "anti-islamismo". O crescimento dos conflitos nacionais
e dos movimentos de extrema-direita é uma expressão
da profunda crise da sociedade capitalista, que está mais
uma vez dirigindo-se a um desastre histórico, a não
ser que seja enfrentada pela classe trabalhadora.
Em contraste com os antigos partidos e sindicatos reformistas,
a classe trabalhadora não está se movendo à
direita, mas à esquerda. Sua oposição à
orgia de enriquecimento capitalista, contra os cortes de direitos
e a repressão política está - como na Tunísia
e no Egito - caminhando para poderosas explosões sociais.
O que falta é uma determinação e uma direção
política.
A classe trabalhadora deve romper com os velhos partidos e
sindicatos falidos e abandonar a ilusão de que eles podem
ser forçados a adotar uma diferente linha política
pela pressão vinda de baixo. Somente a unificação
da classe trabalhadora europeia e internacional, com base em um
programa socialista revolucionário, poderá oferecer
um caminho para sair desse impasse. A Europa capitalista deve
ser superada pelos Estados Unidos Socialistas da Europa. Isso
requer a construção de seções do Comitê
Internacional da Quarta Internacional por todo o continente.
(traduzido
por movimentonn.org)
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