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As questões mal resolvidas sobre a operação
que matou Osama Bin Laden
Por Patrick Martin
5 de maio de 2011
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Publicado originalmente em inglês em 3 de maio de
2011
Perto de 24 horas já se passarem desde que a operação
das forças especiais dos Estados Unidos em cooperação
com a CIA mataram o líder da al-Qaeda Osama bin Laden no
Paquistão, mas muitas das circunstancias e detalhes do
ataque continuam obscuros, particularmente o papel das forças
de segurança paquistanesas, tanto na proteção
de bin Laden quanto no auxilio neste eventual ataque.
A mais espetacular contradição entre a propaganda
oficial estadunidense acerca da "guerra ao terror" e
da realidade demonstrada na operação é a
localização do esconderijo de bin Laden. Muito longe
de estar escondido em uma caverna, isolado do mundo, o líder
da al-Qaeda estava em um complexo palaciano em Abbottabad a pouco
menos de 1km de distancia da Academia Militar do Paquistão
o equivalente ao West Point em uma cidade onde reside
o alto escalão dos oficiais aposentados.
A disparidade entre as antigas afirmações da
localização de bin Laden - feitas pelos oficiais
dos EUA e inclusive pelo presidente - e sua atual residência
é largamente notável. A revista Time observou, "Como
bin Laden conseguiu residir em um luxuoso complexo por meses,
se não anos, cercado por oficiais paquistaneses aposentados
e continuar foragido." A agencia Reuters complementou, "
A revelação da vida em grande estilo que bin Laden
estava levando embaraça os oficiais paquistaneses, quem
estará sob pressão para explicar como ele pode estar
tanto tampo debaixo de seus narizes".
As justificativas da imprensa estadunidense, baseada em descrições
fornecidas pelo Pentágono, pela Cia e pela Casa Branca,
descrevem a fortaleza de bin Laden de modo que ela se torna tão
obvia quanto se houvesse um néon com os dizeres al-Qaeda.
Ela foi construída em 2005, aparentemente com o propósito
especifico de servir como uma residência protegida para
o líder terrorista.
A casa era gigante - oito vezes maior que a de qualquer vizinho,
facilmente visível em fotografias feitas por satélites
- em uma rica vizinhança não muito longe do centro
da cidade. Ela era fortemente segura, com muros de cinco metros
de espessura em alguns pontos, arames farpados e um parapeito
de 2 metros de altura na cobertura, adequado para receber um morador
de estatura incomum (Bin Laden tem 1,96m de altura).
A casa foi avaliada em cerca de $1 milhão, mas os dois
irmãos que foram nomeados proprietários "não
tem a riqueza necessária" e a estrutura não
possui nem telefone nem acesso à Internet, obviamente por
questões de segurança, os moradores queimavam seu
lixo ao invés de deixá-lo para a coleta.
Enquanto o presidente Obama afirmou em seu discurso, neste
sábado (30) à noite, que a inteligência dos
EUA só ficou sabendo da existência do complexo em
agosto de 2010, telegramas obtidos pelo sítio virtual de
denuncias, WikiLeaks, sugere que o governo estadunidense tomou
conhecimento sobre a residência em Abbottabad em algum momento
de 2008, com base em nos interrogatórios feitos com o líder
de al-Qaeada, Abu al-Libi, prisioneiro da baía de Guantánamo.
O WikiLeaks publicou uma postagem no Twitter segunda-feira
(2) dando detalhes sobre o telegrama, mas, o material completo
ainda não foi divulgado. De acordo com a postagem, al-Libi
foi escolhido como mensageiro especial da al-Qaeda em 2003 e sua
base seria em Abbottabad. Ele mudou toda a sua família
de Peshawar para Abbottabad em Julho de 2003 para cumprir sua
tarefa.
Abbottabad tem sido muito descrita como uma cidade regional
e um subúrbio distante da capital do Paquistão,
Islamabad, mas uma curta distância se percorrida de helicóptero.
Ela foi certamente um ponto focal para a atividade do monstruoso
aparato militar paquistanês, que tem controlado o país
a maior parte dos seus 65 anos de história.
A cidade de 100.000 habitantes é localizada estrategicamente,
dentro do território do Estado de Khyber Pakhtunkhwa, onde
a maioria da população possui língua e cultura
pachto - mesma etnia da maioria do povo do Afeganistão
- e apenas a algumas milhas da porção da Caxemira
ocupada pelo Paquistão e fortemente militarizada.
Uma brigada da Segunda Divisão do Exercito do Paquistão
fez sua sede lá, e também foi de lá que,
anos atrás, guerrilheiros fundamentalistas islâmicos
partiram para tentar se infiltrar na porção indiana
da Caxemira e efetuar ataques terroristas. Um colunista nascido
no Paquistão comparou a cidade de Colorado Springs, em
Colorado, onde se situa a Academia de Força Aérea
dos EUA, para caracterizar a mesma combinação nociva
entre militares insolentes e religiosos fundamentalistas.
Existem explicações conflituosas acerca do papel
das forças de segurança paquistanesas na atual operação.
Os oficiais paquistaneses declararam nesta segunda (2) que suas
forças auxiliaram o ataque, no entanto, essa informação
foi negada pela administração de Obama, que diz
que Islamabad apenas foi informado da operação após
a morte de Bin Laden.
De acordo com o Guardian britânico, os quatro helicópteros
carregando as Forças Especiais da Marinha dos EUA decolou
da base aérea de Ghazi, no noroeste do Paquistão,
onde certamente seu vôo seria assistido pelo Paquistão,
a leste de Abbottabad, e não pelo lado oeste, uma região
montanhosa da fronteira do Afeganistão, zona usual de operações
das Forças Especiais dos EUA. Os helicópteros voaram
em linha reta cruzando um dos principais centros militares do
Paquistão, no meio da noite, e se supõe que ninguém
os notou.
Parece claro que um ponto crucial no momento da operação
foi a complexa e obscura relação entre o aparato
da inteligência dos EUA e seu homólogo paquistanês.
Uma importante questão que envolve a possível conexão
entre o planejamento da operação e as atividades
de Raymond Davis, um agente de CIA preso pela policia do Paquistão
em janeiro, após ter assassinado dois homens enquanto dirigia
seu carro em Lahora, a maior cidade da província do Punjab.
O caso Davis gerou um conflito de dois meses de crescente animosidade
entre os EUA e o Paquistão.
Após uma pressão diplomática intensa da
administração de Obama, Davis foi libertado da custódia
paquistanesa no dia 16 de Março e rapidamente se retirou
do país - dois dias depois convocou o primeiro dos cinco
encontros na Casa Branca para planejar a operação
em Abbottabad.
Oficiais de primeiro escalão dos EUA envolvidos no planejamento
e na execução efetuaram encontros com seus colegas
paquistaneses nas semanas que precederam o ataque, e depois dos
encontros de planejamento operacional houveram os encontros na
Casa Branca. O diretor da CIA Leon Panetta, que se afirmou como
chefe geral das operações, encontrou Ahmed Shuja
Pasha, chefe do ISI paquistanês, no dia 11 de Abril deste
ano.
Duas semanas depois, o General David Petraeus, o comandante
dos EUA no teatro Afpak, visitou o Paquistão e se encontrou
com o General Ashref Kayani, o atual chefe militar. Dois dias
depois do encontro, a Casa Branca anunciou que Panetta iria substituir
Robert Gates como secretário de defesa, enquanto o General
Petraeus iria suceder Panetta como chefe da CIA.
O General Kayani esteve em Abbottabad apenas uma semana antes
da captura de Bin Laden, dando o discurso de abertura para os
novos graduados da Academia Militar do Paquistão. Ele disse
aos graduandos que suas forças haviam "quebrado a
espinha" dos Militantes Fundamentalistas Islâmicos.
"Deixe-me garantir-vos que o Exército do Paquistão
está totalmente consciente acerca das ameaças internas
e externas do país" disse Kayani, em seu discurso
a apenas algumas centenas de metros da casa do líder da
al-Qaeda.
Pelo menos duas das principais figuras da al-Qaeda foram presas
anteriormente em Abbottabad: Tahir Shehzad, um suposto intermediário
da al-Qaeda que teria se encontrado com alguns militantes nascidos
na França; e Umar Patek, a prisão mais recente,
em Janeiro deste ano, líder da Jemaah Islamiya, afiliada
da al-Qaeda na Indonésia.
Outra questão curiosa é o tratamento dado ao
corpo de bin Laden. A alegação de que os militares
do EUA jogaram o corpo na água antes das primeiras 24 horas
em respeito aos preceitos da religião muçulmana,
alem de ser uma piada, não tem graça. Parece ser
certo de que o corpo fosse de bin Laden, pois seus aliados confirmam
que seu líder tenha sido morto em declarações
de imprensa, mas a pressa com que se livraram do corpo deixou
um cheiro de tentativa de encobrir algo, mais parecido com um
acerto de contas de crime organizado.
Tirando todas essas informações fragmentadas
e pontas soltas, pelo menos uma conclusão parece ser evidente:
a história menos plausível e promovida tanto por
Washington como por Islamabad, cada um por seus motivos, e é
de que a inteligência dos EUA apenas descobriu o complexo
em Agosto e apenas confirmou a presença de bin Laden no
local há poucos meses.
É obvio que bin Laden era um convidado, senão
um prisioneiro, das forças de segurança paquistanesas.
Se a mídia dos EUA realmente investigasse as circunstancias
da vida de bin Laden no Paquistão ao invés de ficar
meramente macaqueando os pontos de vista do Pentagono e da CIA,
ela levantaria a questão de porque as agencias de inteligência
estadunidenses, não apenas a paquistanesa, sabe do paradeiro
de bin Laden há nove anos.
A passagem que possivelmente tenha sido a mais notável
no discurso de Obama no Sábado (30) à noite, foi
quando declarou ter dado a ordem ao Diretor da CIA, Leon Panetta,
em Janeiro de 2009, para encontrar bin Laden, colocando-o como
número um nas prioridades. A implicação obvia
deste fato - quase totalmente ignorada pela mídia dos EUA
- é que sob a administração de Bush, bin
Laden NÃO era a prioridade.
Isso apenas trás novas questões em relação
às velhas conexões entre bin Laden e as agencias
de inteligência dos EUA, desde seus primeiros tempos no
treinamento de métodos terroristas, como mercenário
da CIA, na guerra mujahideen contra o exercito Soviético
no Afeganistão, nos anos de 1980. Nenhuma análise
séria aos ataques do 11 de setembro podem excluir a conclusão
de que setores da Inteligência dos EUA protegeram as operações
da al-Qaeda e fizeram vista grossa enquanto a trama se desenrolava.
Traduzido
para Diário Liberdade por E. R. Saracino
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