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Divisão do Sudão prepara caminho para novos conflitos

Por Susan Garth
15 de julho de 2011

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O Sudão do Sul declarou formalmente a sua independência em 9 de julho. O Presidente Barack Obama foi um dos primeiros a reconhecer o novo país. Ele saudou o "nascimento de uma nova nação".

"Estou orgulhoso de declarar que os Estados Unidos reconhece a República do Sudão do Sul como um poderoso e independente Estado neste dia, 9 de julho. Hoje", disse Obama, "é um lembrete de que depois das trevas da guerra, a luz de um novo amanhecer é possível". Isto é simplesmente bobagem.

A guerra a que ele estava se referindo era a guerra civil entre o governo de Khartoum, a capital do Norte e os separatistas do Sul. Um acordo de paz mediado pelos EUA findou o conflito em 2005 depois de mais de 20 anos. Em janeiro, foi realizado um referendo sob os termos do acordo de paz. 99% dos eleitores do Sul optou pela secessão do Norte.

O que antes era o maior país da África é agora dividido em duas.

Apesar das comemorações e palavras suaves de Obama, há uma grande questão ainda não resolvida. A linha da fronteira entre os dois Sudão ainda não foi definida; a região Abyei continua a ser uma questão de disputa, e a divisão das receitas do petróleo, que são vitais para a sobrevivência de ambos os países, não está decidida ainda.

A maioria das reservas de petróleo do Sudão estão no que é hoje o Sudão do Sul. Desde 2005, tem sido feito um acordo de partilha das receitas, mas este acordo está em objeção com a secessão do sul. Os líderes do sul ameaçaram manter a receita do petróleo. Em resposta, o presidente Omar al-Bashir, ameaçou cortar o oleoduto que passa pelo Sudão do Norte no caminho para Port Sudan, no Mar Vermelho.

Mesmo se o Sudão do Sul mantiver todas as receitas do petróleo, o setor não oferece um futuro estável a longo prazo para o novo país. Espera-se que as reservas tenham um pico em 2011/2012. Com pouca infraestrutura, exceto o que foi construído por empresas estrangeiras nos campos de petróleo para seu próprio uso, as perspectivas de diversificação da economia não são grandes.

Um conflito militar é ainda mais premente. No sul de Kordofan, uma região na fronteira entre o Norte e o Sudão do Sul, uma guerra civil pouco divulgada já está em andamento. Milhares de civis fugiram dos bombardeios, como o governo de Khartoum tenta assumir o controle de uma das poucas áreas que poderia alegar que tem reservas de petróleo.

Há relatos de casas de execuções. As forças internas de segurança de Khartoum estão identificando potenciais líderes entre as comunidades muçulmanas e cristãs e cortando suas gargantas. Agências de ajuda têm sido expulsas da área. O aeroporto que eles usam para trazer voos humanitários foi bombardeado, e a estrada de acesso foi bloqueada.?O conflito não se limita à fronteira. O Sudão do Sul enfrenta conflitos internos a partir de elementos da oposição contra o governo Juba. Um Exército de Libertação do Sudão do Sul (SSLA) emergiu, sob a liderança de Peter Gadet, e uma outra força liderada por George Athor, um ex-general no exército do sul.

Estes legados da guerra civil que custaram quase 2 milhões de vidas não são as únicas ameaças que enfrentadas pelo Sudão. Outros problemas podem ainda tornar as faíscas que inflamam o que poderia ser um conflito mais amplo. Longe de entrar em um novo amanhecer, Norte e Sul do Sudão enfrentam o perigo de guerras em várias frentes.

Ao passo que a seca na África Oriental e no Chifre de África se agrava, há um conflito crescente sobre o uso das águas do Nilo. O Nilo atravessa nove países. Etiópia, Uganda, Tanzânia, Ruanda e Quênia assinaram um acordo sobre a partilha da água. Burundi e a República Democrática do Congo (RDC) ainda não decidiram se vão aderir ao novo acordo. Mas o Egito e o Sudão, que atualmente recebem a "parte do leão" da água do rio e podem vetar a construção de barragens rio acima, têm recusado qualquer novo esquema de compartilhar este recurso vital. Enquanto isso, a Etiópia está pressionando adiante com sua represa Grand Millennium, um projeto de 4,5 bilhões dólares que vai fazer da Etiópia um exportador de energia hidroelétrica.

O acesso a água do Nilo é vital para o Egito. Ele usa o rio para gerar energia hidroelétrica, e sua agricultura é inteiramente sustentada pela irrigação. A agricultura é responsável por um terço da economia egípcia. O Egito não pode se dar ao luxo de perder qualquer um dos 84 bilhões de metros cúbicos de água que atualmente extrai do Nilo.

A divisão do Sudão injeta mais um elemento de incerteza para a rivalidade em torno da água. Imagens de satélite mostram claramente a gritante distinção entre o verde luxuriante do Sudão do Sul e a paisagem árida do deserto do Norte, com apenas uma faixa de verde fornecida pelo Nilo.

A base para essa amarga disputa sobre a água foi lançada na época colonial, quando a região estava sob domínio britânico. O acordo que dá ao Sudão e ao Egito, a maior parcela do Nilo foi elaborado pelos britânicos em 1929. Ambos, Norte e Sul do Sudão, apesar de serem independentes desde 1956, continuam a serem dominados pelo imperialismo. As recentes cerimônias de independência não fazem nada para diminuir essa dominação. A independência do Sudão do Sul é puramente formal.

A estrutura econômica e social destes dois países foram formadas por décadas de dominação colonial. Rivalidades entre tribos, grupos de línguas, e comunidades religiosas foram agravadas pelo governo britânico, que favoreceu um grupo sobre outro.

Inicialmente, a Grã-Bretanha usou os colonos nortistas de língua árabe em sua administração colonial. Mas, depois da revolta egípcia de 1919 e do levante de 1924 em Khartoum, as autoridades britânicas voltaram-se cada vez mais para o que eles alegaram ser as tradicionais formas tribais. O que tinha sido uma distinção puramente ecológica entre o norte e o sul se tornou uma grande divisão política, enquanto a Grã-Bretanha expurgou todos os vestígios da cultura árabe do sul. Sudaneses tiveram que ter passaportes para se deslocar entre o norte e o sul do seu próprio país.

Esta limpeza cultural foi feita para proteger a identidade africana das comunidades locais que há muito cooperou com os pastores de língua árabe. O Sul demonstrou resistência ao domínio britânico. Em 1927, a Grã-Bretanha usou ataques aéreos em uma tentativa de subjugar os Nuer do Sudão do Sul e desenraizar populações inteiras em uma tentativa de trazê-los sob o controle da administração colonial.

Antropólogos foram contratados para descobrir os líderes mais complacentes e para designar as identidades étnicas e tribais que eram ou não eram válidas. O Sudão do Sul foi em muitos aspectos, "Made in Britain".

Os emergentes conflitos regionais devem muito ao colonialismo britânico. As atuais fronteiras foram criação do imperialismo britânico. O domínio britânico impediu o surgimento de maiores entidades políticas e econômicas. Na batalha de Omdurman, em 1898, quando a Grã-Bretanha assumiu o controle do Sudão, trabalhou para impedir a união do Egito e Sudão. Para a Grã-Bretanha governar esta vasta região e mantê-la fora das mãos de seus concorrentes imperiais, foi vital promover a lealdade entre as elites locais, o que se tornaria rivalidades nacionais após a independência.

A invasão original da Grã-Bretanha no Sudão foi justificada por falsas razões humanitárias de supressão do comércio de escravos. Alegações de humanitarismo sustentam a atual onda de expansionismo colonial não menos do que o que ocorreu nos séculos XIX e XX. A administração Obama tem se apresentado como um campeão dos direitos humanos na África. Mas o acordo de paz e a divisão do Sudão, que patrocinou, irá produzir novos conflitos no próprio Sudão e ameaça espalhar no resto da região.

Potencialmente, os conflitos que estão agora se desenvolvendo no Sudão podem até ter implicações globais. A maioria dos campos de petróleo no Sudão do Sul têm sido desenvolvidos por empresas chinesas. Pequim já investiu US$ 20 bilhões na indústria do petróleo sudanês. Meio milhão de barris de petróleo por dia são bombeados principalmente pela Companhia Chinesa Nacional de Petróleo, com a Petronas da Malásia e empresas indianas responsáveis por uma parcela menor. A China compra entre 55 e 60 por cento do petróleo do Sudão, que responde por 30 por cento das importações da China. Pelos padrões mundiais e até mesmo africano o Sudão não é um grande produtor, com apenas 5 bilhões de barris de reservas comprovadas de petróleo. Ele vem em quinto na África, atrás de Angola, que é o oitavo maior produtor de petróleo do mundo, Guiné Equatorial, Nigéria e República do Congo. Mas é o investimento de maior sucesso da China no continente.

Pequim se ofereceu para fornecer empréstimos ao Sudão do Sul, enquanto se constrói um novo oleoduto que levará o petróleo para a costa do Quênia e lhe dar uma alternativa ao agora vulnerável gasoduto do norte. O combustível que alimenta a indústria chinesa está em jogo. Uma disputa entre o Norte e o Sul do Sudão sobre o uso do atual gasoduto levanta a possibilidade de importante interrupção para os chineses e a economia mundial.

Washington vê no Sudão uma oportunidade ideal para atacar um rival cada vez mais ameaçador. Os EUA tem a tempos armado seu aliado do sul. O Quênia tem servido como um canal para armas. De acordo com textos publicados pelo WikiLeaks, os tanques capturados por piratas somalis na costa do Quênia foram destinados para o regime de Juba, e os EUA estavam cientes da remessa. Na preparação para o referendo, os EUA têm treinado e reequipado o exército do sul.

É notável que Obama não ofereceu levantar sanções comerciais dos EUA contra Khartoum, ou para removê-lo da lista de Estados terroristas - apesar das sugestões frequentes que essa seria a recompensa pela cooperação com a divisão do Sudão. Uma enxurrada de notícias estão destacando as atrocidades cometidas pelas forças do Norte, mas têm pouco a dizer sobre o reforço militar do Sul. O solo está, assim, sendo preparado para mais um conflito com apoio militar dos EUA e possivelmente até mesmo uma intervenção direta sob a bandeira de defesa à população civil.

Traduzido para Diário Liberdade por Pamela Penha

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