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A crise europeia
Por Peter Schwarz
27 de julho de 2011 2011
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Desde que foi adotado o Tratado de Roma 54 anos atrás
a União Europeia e suas organizações precursoras
nunca estiveram tão próximos do abismo como na semana
passada. Especialistas concordaram que, caso os governantes dos
países da zona do Euro não sejam capazes de encontrar
uma saída para a crise da dívida em sua reunião
de cúpula emergencial nesta quinta-feira, isso significará
o fim do Euro e da União Europeia.
As consequências dessa incapacidade não se limitariam
apenas à esfera econômica. Desde a Guerra dos Trinta
Anos no séc. XVII, a Europa tem sido repetidamente destruída
por guerras, culminando nas duas guerras mundiais de 1914 e 1939.
Desde então, a UE e as organizações que a
precederam constituíram o mecanismo mais importante de
prevenção a novos confrontos armados entre as potências
europeias. Não foi por acidente, portanto, que antes do
encontro, para muitos políticos de alto escalão
que se pronunciaram, a Europa - como disse o jornal Spiegel online
- "era ainda uma questão de paz e guerra - e não
de centavos e Euros". Eles alertaram fortemente contra a
falência da reunião emergencial.
O encontro não resolveu a crise, apenas adiou-a, chegando
até mesmo a exacerbar seus problemas fundamentais.
Os participantes adotaram o segundo pacote, longamente planejado,
de resgate à Grécia no valor de mais de 109 bilhões
de euros que, como o primeiro, está condicionado à
imposição de drásticas medidas de austeridade.
Para facilitar à Grécia seu pagamento, a taxa de
juros foi rebaixada de 4,5% para 3,5%, e os termos do empréstimo
estendidos de sete anos e meio a 15 até 30 anos.
Os poderes do Fundo de Resgate Europeu (EFSF) estão
sendo ampliados; no futuro ele comprará títulos
no mercado e apoiará ativamente países vulneráveis.
No entanto, seu volume total não será aumentado.
Os participantes do encontro fizeram um grande alvoroço
em relação ao envolvimento de credores privados
na dívida da Grécia. Sua participação
foi estabelecida a 50 bilhões de euros até 2014.
Mas uma inspeção mais detalhada revela sua farsa.
Bancos, seguradoras e outros credores privados podem resgatar
seus títulos gregos com uma pequena margem de perda que
gira em média de 20%, ou trocá-los por títulos
novos, de longo prazo cujo pagamento é garantido pela UE.
Dessa forma, eles podem vender seus títulos gregos por
um preço muito superior ao de mercado. Todos os riscos
futuros são impingidos à população.
Como resultado das medidas adotadas em Bruxelas, e que ainda
contêm muitas incertezas e ambiguidades, a dívida
do governo grego de 350 bilhões de euros cairá para
apenas 26 bilhões de euros - uma gota no oceano.
Irlanda e Portugal, que também estão altamente
endividados, também serão beneficiados com taxas
de juros mais baixas do fundo de resgate, mas a participação
dos bancos está expressamente limitada à Grécia.
Nenhuma provisão foi feita à Espanha e Itália,
apesar das taxas de juro em seus títulos dispararem na
semana passada, e as dívidas de ambos os países
serem consideradas uma parte central da crise do Euro.
Portanto, é apenas uma questão de tempo até
que a pressão sobre o euro aumente e os governantes tenham
que se encontrar mais uma vez em uma reunião de cúpula
emergencial.
A questão das causas que fundamentam a crise da dívida
não foi levantada na reunião e, muito menos, respondida.
Políticos e a mídia se repetem ad nauseam que a
crise é uma consequência do gerenciamento financeiro
duvidoso e que os países afetados estavam "vivendo
além de suas capacidades".
De fato, a crise da dívida é o resultado de uma
pilhagem sistemática dos cofres do Estado para o enriquecimento
da classe dominante à custa da população
trabalhadora. Por três décadas, os impostos sobre
empresas, grandes rendas e fortunas foram diminuindo continuamente.
Os bilhões de euros que compensaram as perdas especulativas
dos bancos após a crise financeira de 2008 devastaram as
finanças públicas.
Mas na Europa não há escassez de fundos que possam
ser usados para estabilizar as dívidas. Vê-se pelo
rápido aumento da riqueza privada e pelo número
de milionários, que continua a crescer sem parar apesar
da crise. De acordo com o Relatório anual de riqueza mundial
compilado pelo Merrill Lynch, cerca de 3,1 milhões de milionários
residia na Europa em 2007, os quais possuíam um total de
US$ 10,6 trilhões em patrimônio. Um imposto de emergência
de apenas 4,7% desse patrimônio poderia varrer toda a dívida
grega em uma só tacada.
Essa riqueza está crescendo rapidamente, mesmo após
a crise financeira. Somente na Alemanha, de acordo com o Bundesbank,
a soma de fortunas privadas aumentou nos últimos cinco
trimestres em um total de 350 bilhões de euros - o equivalente
exato da dívida total da Grécia. E isso ocorre apesar
do fato de que as rendas médias estagnaram nos últimos
dez anos e de que as rendas mais baixas decaíram. A riqueza
se concentra quase exclusivamente nos 10% mais altos da sociedade,
que possuem acima de 60% de toda a riqueza.
Mas até essas fortunas estão fora de cogitação
para os governos da zona do Euro. Mesmo um imposto sobre os bancos,
levantado pelo presidente Sarkozy por razões táticas,
foi categoricamente rejeitado em Bruxelas. Os líderes reunidos
chegaram até a usar a crise para acelerar a redistribuição
da riqueza social. A reunião emergencial em Bruxelas deu
claras boas-vindas aos programas de austeridade na Espanha e Itália,
e insistiram que o déficit orçamentário de
todos os países do euro deve cair abaixo de 3% até
2013 - o que significa mais cortes drásticos nos gastos
públicos.
Acima de tudo os partidos burgueses de "esquerda"
- os Socialdemocratas, Verdes e ex-Stalinistas - estão
insistindo em mais ataques contra a classe trabalhadora. Eles
desfilam enquanto salvadores da unidade europeia, apesar de suas
concepções de "salvação da Europa"
serem sinônimo de austeridade sem-fim.
Na Grécia, a vitória do partido socialdemocrata
PASOK foi um pré-requisito para um programa de austeridade
que irá rebaixar as condições de vida de
trabalhadores e pensionistas em 40% até 2015. Na Itália,
o presidente de 86 anos, Giorgio Napolitano, antigo quadro do
Partido Comunista stalinista, está agora assegurando que
a oposição de centro-esquerda apoie o recente programa
de austeridade do governo Berlusconi, que se dirige quase exclusivamente
contra as rendas médias e baixas.
Na Alemanha, o Partido Social-Democrata (SPD) ofereceu apoio
ao governo Merkel para aprovar medidas impopulares que lidam com
a crise do Euro. E no Spiegel online, o líder do Partido
Verde, Cem Özdemir, elogiou o primeiro-ministro grego Papandreau
porque ele havia introduzido suas medidas de austeridade contra
a resistência popular.
Nos anos 1920, Leon Trotsky alertou que a burguesia europeia
era incapaz de unificar a Europa sob os interesses de sua população.
O sistema capitalista, baseado na propriedade privada, exploração,
lucro pessoal e interesses nacionais, seria incapaz de garantir
uma coexistência harmoniosa e a solidariedade entre os povos
europeus. Essa estimativa se confirma, dramaticamente, hoje.
O debate entre os partidos burgueses de direita e de "esquerda"
em relação a uma saída para a crise pendem
entre o nacionalismo descarado de um lado, e a "salvação
da Europa" pelo arruinamento de seu povo do outro lado. Assim
como na década de 1930, ambas estradas levam à decadência
social, ditadura e guerra.
A classe trabalhadora não pode se subordinar a nenhum
desses campos; ela deve lutar por sua própria resposta
à crise - a reorganização da Europa sobre
bases socialistas. Os grandes conglomerados financeiros devem
ser expropriados e colocados sob controle democrático;
os patrimônios dos superricos devem ser altamente taxados
ou confiscados. Sobre essas bases é que será possível
resolver a crise atual, superar a divisão social na Europa
e usar seus vastos recursos para o interesse da sociedade como
um todo.
A alternativa à balcanização da Europa
e sua transformação em Estados-nações
guerreando entre si, assim como à ditadura do capital financeiro
e suas instituições em Bruxelas, são os Estados
Unidos da Europa.
(Traduzido
por movimentonn.org)
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