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Berlusconi duplica cortes do programa de austeridade italiano

Por Marianne Arens
20 de julho de 2011

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Os cortes orçamentários do governo italiano assumem proporções cada vez mais "gregas". Sob pressão intensificada dos mercados financeiros, o governo de Silvio Berlusconi anunciou na terça-feira que as novas medidas de austeridade devem ser postas em prática muito mais rápida e implacavelmente do que se planejava.

Ao longo dos últimos três dias, títulos do governo italiano só puderam ser vendidos com garantias extras de taxa de retorno, após agências de avaliação de crédito dos EUA terem rebaixado a nota da Itália. Para justificar o rebaixamento, as agências citaram a estagnação do crescimento econômico e a enorme montanha de dívidas do país. Além disso, ministros das Finanças da União Europeia pediram que a Itália assumisse medidas de austeridade mais severas.

Na quarta-feira o ministro das Finanças, Giulio Tremonti, garantiu pessoalmente que a Itália reduziria o seu déficit a zero até o ano de 2014. Em uma conferência da associação de bancos ABI (Associazione Bancaria Italiana) realizada em Roma, Tremonti declarou: "O decreto orçamentário foi reforçado para os próximos quatro anos e será adotado na sexta."

Ele então propôs um programa de privatizações abrangente, dizendo aos banqueiros e industrialistas reunidos: "Quando a crise tiver se dissipado, precisamos sem dúvida começar um processo de privatização." Ele disse que as municipalidades trabalhariam para "vender seus bens", com o pacto de estabilidade fornecendo um "mecanismo de incentivos" apropriado. "É claro que precisa haver alguém preparado para comprar, afinal você não pode privatizar independentemente do mercado", frisou Tremonti.

O governo agora duplicou sua meta original de economizar 40 bilhões de euros ao longo de três anos e meio. O governo italiano agora planeja cortar não 40, mas 79 bilhões de euros. Nas propostas se inclui acabar com subsídios para toda a estrutura do serviço público, inclusive escolas e universidades, hospitais e casas de repouso, teatros, concertos, museus, sítios arqueológicos e outros. A eliminação de 265 mil empregos do serviço público está sendo discutida e os salários dos funcionários que permanecerem na folha de pagamento estatal serão congelados por quatro anos.

No cerne da assim chamada "manovra" (medida) está um massivo ataque contra os benefícios de aposentadoria. Sob o pretexto de um ajuste para que corresponda aos aumentos na expectativa de vida, a idade de aposentadoria deve ser gradualmente aumentada para 67. O benefício de aposentadoria foi a mais importante salvaguarda contra a pobreza na antiga Itália. Em longo prazo, economias de até 50 bilhões de euros devem ser obtidas através desses cortes.

A assistência hospitalar pública também deve ser severamente afetada, com a introdução de uma taxa de 10-25 euros cobrada por cada consulta médica, prescrição e procedimento médico.

O governo se recusa a cortar recursos, porém, somente para seus gastos bilionários com operações militares em casa e no exterior (por exemplo, na Líbia e no Afeganistão). Escolas privadas não perderão seu financiamento e megaprojetos de construção de importância questionável (como a linha de trem de alta velocidade através do Val di Susa e a ponte sobre o mar para Messina) devem continuar. Qualquer aumento de impostos sobre os ricos e super-ricos foi descartado, enquanto impostos regressivos sobre as massas serão ainda maiores. O imposto sobre a gasolina, por exemplo, será aumentado.

O sentido do programa de austeridade é claro. O fardo da crise econômica e da dívida pública deve recair sobre a população. O fato de o primeiro ministro Berlusconi, amplamente odiado pela população, poder ir para a ofensiva com um programa tão drástico, se explica pelo consenso que ele encontra em todo o estamento político.

Não apenas o campo governamental, profundamente dividido, garantiu seu apoio às medidas de austeridade de Berlusconi, como o partido do assim chamado "campo da centro-esquerda" também sinalizou sua cooperação.

O presidente Giorgio Napolitano, ex-membro do Partido Comunista Italiano (PCI), conclamou todos os partidos a apoiarem o pacote de austeridade com base na mais alta unidade nacional. Na quarta-feira, Napolitano declarou ter percebido "com grande satisfação" a disposição da oposição de cooperar.

Os partidos da oposição indicaram que restringirão qualquer crítica a algumas emendas, sem evitar que se adote o orçamento de austeridade. Ao mesmo tempo, eles exigem a renúncia de Berlusconi logo após a implementação do orçamento. Acreditam que devido a seus laços estreitos com os sindicatos, eles são mais adequados que Berlusconi para a tarefa de estrangular qualquer oposição às medidas de austeridade vinda da classe trabalhadora.

Uma porta-voz do principal partido de oposição, o Democratas (PD), Marina Sereni, descreveu a posição do líder do partido Pierluigi Bersani como a seguinte: "Assim que a manovra for confirmada, o governo deve se retirar e, pelo bem comum, permitir o começo de uma nova era política." Lorenzo Cesa, líder do Cristão-Democrata (UDC), exigiu: "Imediatamente após o início das medidas econômicas, que não devem ser atrasadas, [precisamos] de um governo nacional responsável."

Em outras palavras, primeiro concordem com o mais vicioso plano orçamentário dos tempos modernos, e então com um governo de unidade nacional - esse é o programa dos partidos burgueses de "centro-esquerda". Esse programa é perfeitamente coerente com as exigências e interesses da aristocracia financeira italiana e internacional. A lealdade incondicional e sem questionamentos aos ditames dos bancos é a principal razão pela qual o governo Berlusconi pode implementar tamanha destruição das conquistas sociais da população trabalhadora.

Com base nessa colaboração, o ministro das finanças Tremonti disse no encontro dos banqueiros: "Estamos dando ao mercado um sinal forte. E sabem qual é? É que a manovra será absolutamente sem falhas e será confirmada pelo parlamento dentro de uma semana. Isso nunca aconteceu na história da Itália."

Emma Marcegaglia, filha de um barão do aço e presidente da associação de empregadores da Confindustria também demonstrou confiança na colaboração entre os partidos de oposição e os sindicatos: "Precisamos concordar com a manovra, e isso significa que necessitamos de uma coesão política e social considerável."

Essas forças podem confiar completamente nos sindicatos. Duas semanas atrás, os três grandes sindicatos - CGIL, CISL e UIL - se reuniram com a associação de empregadores para iniciar uma "mudança marítima" na política italiana, com o objetivo de suprimir qualquer potencial disputa entre empregadores e sindicatos. No dia 28 de junho, os sindicatos assinaram um "Pacto Nacional para o Emprego" em Roma que inclui uma cláusula garantindo a não realização de greves.

De acordo com Raffaele Bonanni, líder da federação sindical cristã, CISL, em um momento difícil para a economia tal contrato tinha um "grande, grande valor". "Assim podemos ajudar o país a restaurar sua confiança", disse Bonanni.

O CGIL, maior sindicato do país e antigamente próximo do PCI, também assinou o pacto. A chefe do CGIL Susanna Camusso borbotou, "Esse acordo começa um novo período".

O modelo de contrato veio do último acordo feito pelos sindicatos com a Fiat. Sobrepõe o atual contrato nacional, triplica o tempo de horas-extras compulsórias, e retira direitos básicos - como o de fazer greve independentemente de um sindicato, ou escolher representantes sindicais independentemente da burocracia sindical. Esse é o modelo para todos os trabalhadores do setor privado e logo, sem dúvida, será também para os do serviço público.

Na noite de assinatura do pacto, Tremonti agradeceu pessoalmente aos sindicatos: "Obrigado, Raffaele Bonanni (presidente da Federação Sindical-CISL), Luigi Angeletti [presidente do UIL], Susanna Camusso e Emma Marcegaglia. Obrigado pelo que vocês realizaram no interesse de nosso país".

Essa rendição incondicional pelos sindicatos encorajou o governo a preparar ataques ainda maiores. Para cobrir seus rastros, o CGIL chamou uma manifestação no sábado contra o programa de austeridade, chamando-o de "falso, injusto e ineficiente". Esses protestos são uma fraude e uma tentativa transparente de desarmar o ódio popular através de protestos inofensivos sem qualquer perspectiva.

Um papel particularmente pernicioso foi assumido pela organização Rifondazione Comunista (Refundação Comunista). Os remanescentes desse partido são liderados por Paolo Ferrero, antigo ministro de Assuntos Sociais sob Romano Prodi. Ele apoiou as ações dos sindicatos, empregando alguns slogans pseudorradicais para se proteger. É preciso "erradicar a especulação", declarou para então repetir a ladainha de uma penca de ex-radicais, demandando a introdução de títulos baseados no euro, um imposto de conversão de moeda (Tobin Tax) e "mecanismos de regulação para os mercados financeiros europeus e internacionais".

Outra pessoa celebrada na mídia como potencial figura pública de liderança - o governador de Puglia e líder da organização de esquerda ambientalista SEL (Esquerda, Ecologia, Liberdade) Nichi Vendola - fez sua própria declaração em apoio aos cortes. Ele declarou, "Sou favorável a uma ampla manovra dentro do quadro da unidade nacional".

(traduzido por movimentonn.org)

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