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O Assassinato do irmão de Karzai aprofunda a crise
dos EUA no Afeganistão
Por Bill Van Auken
16 de julho de 2011
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O assassinato do meio irmão do Presidente Afegão,
Ahmed Wali Karzai, na terça-feira (12), representa um sério
impacto na estratégia estadunidense na província
de Kandahar, no extremo sul.
O poderoso comandante e trunfo de longa data da CIA, Karzai,
foi alvejado na cabeça e no peito por um de seus mercenários,
descrito por seus companheiros como um dos mais confiáveis
comandantes da milicia armada leal ao Karzai.
O Talibã anunciou a responsabilidade pelo assassinato
afirmando que o atirador, Sardar Mohammad, foi recrutado a muito
tempo atrás e finalmente obteve sua oportunidade
e cumpriu seu objetivo. O grupo descreveu o assassinato
como uma de suas maiores realizações.
Mohammad foi morto pelos outros seguranças imediatamente
após alvejar Karzai.
Dizem que Mohammad trabalhou para Karzai pelos últimos
sete anos, comandando os milicianos que guarneciam as barricadas
ao redor do vilarejo de Karz, da família, no distrito de
Dand, ao sul da cidade de Kandahar.
Inicialmente foi sugerido que o assassinato tivesse sido o
desfecho de uma disputa pessoal, Mas, enquanto o chefe de polícia
de Kandahar, General Abdul Raziq, descrevia o assassino como um
bom amigo de Karzai, ele anunciou em uma coletiva
de imprensa na Cidade de Kandahar que alguns suspeitos haviam
sido presos por possuir conexões com o assassinato e estavam
sob interrogatório.
Raziq, que assumiu seu cargo após seu antecessor ter
sido assassinado por um agente infiltrado do Talibã, no
dia 15 de Abril, disse que ele não poderia desconsiderar
o envolvimento de uma mão estrangeira neste
assassinato e descreveu a morte de Karzai como uma grande
perda.
Um dos preferidos das autoridades militares de ocupação
dos EUA, Raziq - como o próprio Karzai - apareceu em notícias
publicadas ligado ao lucraivo tráfico de ópio da
região e atacado por críticas pelas sistemáticas
execuções extra-judiciais de suspeitos de insurgência.
O Governador de Kandahar Tooryalai Wesa foi mais longe chamando
o assassinato de uma catástrofe para todos,
declarando que Karzai ajudou a trazer paz e estabilidade
para a região.
Na realiadade, Karzai trabalhava como o governador de fato
da província e mais. Descrito como o rei de Kandahar,
seu título oficial foi presidente do concelho provincial.
Seu poder, de qualquer maneira, vinha de seu relacionamento com
o governo central de seu irmão e seu controle sobre as
empresas privadas de segurança que possuem um monopólio
virtual sobre as operações de segurança para
apoio de comboios e contratantes particulares.
As milicias armadas sob sua direção também
incluíam a Força de Ataque Kandahar, um equipamento
clandestino que trabalhava com a CIA e as tropas das Forças
Especiais dos EUA em esquadrões da morte dirigidos a insurgentes
suspeitos.
Ahmad Karzai também era acusado de fazer milhões
extorquindo contratantes, apropriando-se de terrenos lucrativos,
recursos hídricos e monopolizando empréstimos externos
e doações.
O Karzai mais jovem também fornecia um apoio chave a
seu irmão, o Presidente Hamid Karzai, ajudando-o a trapacear
nos resultados que o levaram a reeleição em 2009.
Em Junho de 2009, em textos diplomáticos confidenciais,
divulgados pela WikiLeaks em Dezembro de 2010, oficiais dos EUA
no Afeganistão forneceram um retrato sincero do irmão
do presidente. Como o pivô em Kandahar, Ahmed Wali
Karzai (AWK) controla o acesso aos recursos económicos,
apadrinhamento e proteção, o texto declara.
A maior parte dos negócios reais correndo em Kandahar
acontecem de maneira escusa, onde AWK opera, paralelos às
estruturas do governo formal, através de uma rede de clãs
políticos que utilizam das instituições estatais
para proteger e permitir iniciativas lícitas e ilícitas.
O texto diplomático descreve o jovem Karzai como o imbatível
homem forte do Kandahar, enquanto confirma que ele é
largamente impopular em Kandahar devido o seu profundo
envolvimento com a corrupção. Os principais
propósitos que unificam seus papeis políticos como
presidente do conselho provincial de Kandahar e como representante
particular do presidente no sul são o enriquecimento, extensão
e perpetuação do clã Karzai, de acordo
com o documento.
Em outubro de 2009, o New York Times citou fontes anônimas
do governo dos EUA que forneceram informações detalhadas
sobre as íntimas conexões entre Karzai e o tráfico
de heroína bem como sobre o fato de que eles estava na
folha de pagamento da CIA desde 2001. Os militares e os oficiais
do governo dos EUA expressaram seu desejo de ver o jovem Karzai
enviado para fora do país e temiam que suas atividades
ilegais estivessem alimentando o ódio à ocupação
dos EUA e o regime Karzai.
Um segundo documento divulgado pelo WikiLeaks, elaborado em
fevereiro de 2010, descreveu o encontro diplomático dos
EUA, militares e oficiais da inteligência para tomar medidas
que deveriam empregar contra os criminosos e autoridades
afegãs corruptas. Em particular, eles focaram na
necessidade de tomar uma atitude contra três notáveis
agentes malignos afegãos: Abdul Raziq, o atual chefe
de polícia em Kandahar, Ahmed Wali Karzai (agora assassinado),
e Asadullah Sherzad, que neste momento é chefe de polícia
na província vizinha, Helmand.
Uma semana atrás, um alto oficial dos EUA
anônimo, disse à agência de notícias
Reuters que ele queria Ahmed Karzai fora de lá,
pois ele era muito impulsivo. Ele complementa que
este era o único caminho para que os militares pudessem
agir sem que isso pudesse ligá-lo à insurgência.
Sobre o caso ele disse, ... nós podemos colocá-lo
(na lista de alvos) e capturar e matá-lo.
Em junho do ano passado, o Washington Post informou que em
Março de 2010 um encontro com o General Stanley McChrystal,
então o principal comandante estadunidense no Afeganistão,
durante a qual foram apresentados dossiês detalhando a corrupção
de Ahmed Wali Karzai. De acordo com o Post, no final do encontro
McChrystal instruiu seus subordinados à parar
de dizer coisas ruins sobre AWK e ao invés disso trabalhar
com ele'.
Esta política foi adotada por Gen. David Petraeus, que
assumiu o posto logo após McChrystal e agora também
deixou o comando do Afeganistão para se tornar diretor
da Agência Central de Inteligência (CIA).
Como um de seus últimos atos oficiais, Petraeus ofereceu
suas simpatias e condolescências particulares
ao presidente afegão acerca da morte de seu irmão,
comandante de Kandahar, e prometeu que as forças estadunidenses
de ocupação iriam trabalhar de todas as maneiras
possíveis para trazer a justiça qualquer um
que estiver envolvido com o assassinato.
Como o governo Obama lançou o aumento de 30.000 soldados,
diretamente dirigidos para as provìncias de Kandahar e
Helmand ao sul, Petraeus, McChrystal e outras autoridades dos
EUA determinaram que Ahmed Karzai era uma peça indispensável,
apesar do medo que de que sua corrupção ostensiva
servisse como uma grande fonte de apoio aos grupos armados da
oposição à Karzai e à ocupação
estrangeira.
Como a autoridade dos EUA disse ao Washington Post ano passado,
Se você tirar o Karzai, você não terá
um bom governo, você não terá governo. Ele
fez coisas muito boas aos Estados Unidos. Ele é eficiente.
O fato de que em quase 10 anos da guerra estadunidense Washington
ser dependente de uma figura como esta é uma evidencia
irrefutável do caráter criminoso e semicolonial
desta guerra e da falta de qualquer apoio popular genuíno
à qualquer ocupação estrangeira ou regime
corrupto instalado em Cabul. Agora ele foi derrubado,
e as perspectivas de sua morte trazer um bom governo
são nulas.
Se o Talibã, que já havia tentado matar Ahmed
Karzai repetidamente no passado, foi realmente responsável
pelo assassinato de terça ainda não é evidente.
O grupo, no passado, já afirmou ser responsável
por atos cometidos por outros, e lá existem certamente
muitas outras razões de se querer a morte do comandante,
abrangendo a competição entre traficantes, líderes
tribais rivais, e mesmo dentro de sua própria organização
por aqueles que visavam ocupar seu lugar através de métodos
como uma morte no estilo guerra de gangues.
O New York Times anunciou preocupadamente que a morte do jovem
Karzai traria a tona a ameaça de um vácuo
de autoridade na região Pashtun do sul do Afeganistão
e representará uma luta pelo controle e a possibilidade
de mais derramamento de sangue como clans rivais brigando
pelo controle.
Independente de quem seja o responsável pela morte de
Karzai, o ataque, que segue de perto o atentado ao Hotel Intercontinental
em Cabul duas semanas atrás e os recentes assassinatos
de figuras públicas como o chefe de polícia de Kandahar
e outros, apenas confirma a percepção popular de
que o governo e as tropas de ocupação estrangeira
são incapazes de proteger seu auto escalão e seus
aliados.
Os assassinatos também demonstram a crise enfrentando
o governo Obama e os militares do EUA como estes se preparam para
implementar a retirada de 33.000 soldados até o final do
próximo ano. Enquanto aproximadamente 70.000 soldados e
fuzileiros navais continuarão ocupando o país, o
plano de retirada está baseado no fato de que as forças
de seguranças e o governo Afegão terão maior
responsabilidade em suprimir a resistência. O papel representado
por figuras como Ahmed Karzai e a crise provocada por sua morte
apenas comprovam o caráter completamente podre e impotente
deste governo instalado por Washington ao invadir o Afeganistão.
No mesmo dia em que Ahmed Karzai foi assassinado em Kandahar,
autoridades na província de Logar, ao leste, informaram
que o ataque aéreo feito pela OTAN no dia anterior havia
matado ao menos 16 pessoas.
Doze cidadãos, incluindo mulheres e crianças,
foram mortos na última noite quando duas aeronaves da OTAN
atingiram duas casas, disse o chefe de polícia da
região para a AFP. A autoridade informou que quatro pessoas
suspeitas de serem membros do Talibã também morreram
no ataque. Informou-se que o ataque era dirigido à casa
onde os membros do Talibã estavam reunidos, mas, a casa
vizinha também foi atingida.
O ataque mortal veio justamente dias após outro ataque
aéreo na província de Khost no sudeste, onde outros
13 civis foram mortos, incluindo oito crianças e três
mulheres.
O número de ataques aéreos conduzidos pelos aviões
de guerra dos EUA e da OTAN aumento agudamente desde o início
dos ataques e espera-se que aumente ainda mais com a retirada
parcial dos soldados estadunidenses e a ocupação
dependa mais das forças aéreas.
Traduzido
para Diário Liberdade por E. R. Saracino.
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