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Na reunião dos ministros das Finanças da UE: ?Sem acordo sobre a crise do euro

Por Stefan Steinberg
25 de janeiro de 2011

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Uma reunião de cúpula de ministros das finanças europeus realizada na segunda e terça-feira desta semana falhou ao chegar a qualquer consenso claro sobre como enfrentar as crescentes crises econômicas e sociais do continente.

Realizada sob condições de uma nova ofensiva no mercado internacional contra algumas economias europeias, a última reunião de cúpula em Bruxelas, mais uma vez, confirmou que os Estados da UE obstinadamente se recusam a tomar quaisquer medidas contra os bancos e instituições financeiras que estão conduzindo uma sistemática campanha de austeridade por todo o continente e ameaçando mergulhar a Europa no caos econômico.

Ao mesmo tempo, a reunião dos Ministros das Finanças deixou claro que separações e divisões no seio da UE estão se intensificando conforme a crise financeira de 2008 entra em seu terceiro ano.

A principal questão em discussão na reunião da UE foi uma extensão do European Financial Stability Fund (Fundo Europeu de Financiamento de Estabilidade - EFSF), que foi originalmente criado em maio do ano passado em uma tentativa apressada de defender o euro contra uma onda de especulação sobre a economia grega.

Países europeus chegaram em um acordo sobre uma quantia de 440 bilhões de euros em maio do ano passado com um adicional de 280 bilhões de eurosgarantido pelo Fundo Monetário Internacional. Desde a sua criação, o fundo tem diminuído gradualmente. Em novembro do ano passado, o fundo foi usado para socorrer a economia irlandesa, no montante de cerca de 100 bilhões de euros. A Irlanda foi um dos signatários do fundo original da UE, o que significa que uma cláusula especial teve de ser inserida no acordo que permitia ao país contribuir para o seu próprio resgate. O montante inicial de 440 bilhões de euros encolheu ainda mais devido a compromissos assumidos pelo EFSF para obter uma classificação triplo A dos mercados financeiros.

Então, no final do ano passado, uma série de outras economias que também são contribuintes do fundo de 440 bilhões de euros - incluindo Portugal, Espanha, Bélgica e eventualmente Itália - também entrou na mira das agências de notação de risco e dos mercados de títulos, que têm sistematicamente aumentado os pagamentos de juros sobre as dívidas destes países. O consenso nos círculos financeiros e políticos é de que o acordo de três quartos de trilhões de euros do trimestre feito em maio é completamente inadequado para lidar com o resgate iminente de Portugal e, possivelmente, da Espanha.

Como resultado, os governos europeus e, em particular, a maior economia do continente, Alemanha, têm estado sob intensa pressão para aumentar o seu compromisso com o fundo EFSF. Por seu lado, o governo alemão está teimosamente desafiando qualquer aumento na sua participação e continua a insistir em uma intensificação das medidas de austeridade por toda a Europa.

Uma série de incidentes na véspera da cúpula de Bruxelas revelou as crescentes tensões dentro da União Europeia sobre como lidar com a crise.

Uma semana atrás, a chanceler alemã, Angela Merkel, declarou que não era o momento certo para um aumento do fundo de EFSF. Merkel estava respondendo a comentários do presidente da Comissão Europeia (CE), José Manuel Barroso, e do Comissário Monetário da UE, Olli Rehn, ambos os quais haviam emitido duas chamadas para uma expansão do EFSF nas vésperas da reunião de segunda-feira.

A resposta de Merkel foi considerada como uma rejeição clara a Barroso, um homem que pertence ao mesmo grupo político europeu da chanceler alemã e cuja recente reeleição como presidente da CE foi em grande medida devida ao apoio alemão. No seu relatório sobre o incidente, o Guardian descreveu as aquecidas conversas nos bastidores entre a chanceler alemã e o líder oficial da CE.

"Publicamente, Merkel e seu ministro das finanças, Wolfgang Schäuble, descreveram a intervenção de Durão Barroso como "desnecessária". Particularmente, o oficial da chanceler disse a Barroso para calar a boca, que os 440 bilhões de euros garantidos pelos governos da zona do euro não lhe interessava, já que o dinheiro não era dele."

Outra indicação dos comportamentos conflitantes na Europa foi relacionada no mesmo artigo, que descreve um telefonema desesperado do Primeiro Ministro português, José Sócrates, para a chanceler alemã antes da reunião da UE. Sob enorme pressão dos mercados, Sócrates perguntou a Merkel o que ela deveria fazer, prometendo fazer o que quer que ela quisesse, a fim de evitar um resgate envolvendo até mesmo medidas de austeridade mais intensas.

Merkel colocou Sócrates em espera para pedir conselhos de seu visitante naquele no momento, o chefe do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn. Strauss-Kahn imediatamente repudiou o pedido de ajuda de Sócrates, afirmando que o Primeiro Ministro português não poderia fazer o que foi dito.

A pressão europeia sobre Berlim voltou a ser intensificada, com ambos, o líder do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, e o ministro das Finanças belga, Didier Reynders, pedindo um aumento no saldo do EFSF antes da reunião de segunda-feira.

Na cúpula dos ministros das finanças em si, novas divisões emergiram, com uma reunião separada para discutir a estratégia entre os membros da zona euro com os países classificados com um triplo A no financiamento dos mercados - Austria, Finlândia, França, Alemanha, Luxemburgo e Países Baixos. Nenhum detalhe foi divulgado das discussões nesta reunião, mas é significativo que este clube dos ricos países europeus está realizando as suas próprias negociações separadas.

Na sequência da reunião da UE, o governo alemão deixou claro que está disposto a concordar com um aumento relativamente pequeno para o fundo EFSF, a fim de restaurar seu total inicial de 440 bilhões de euros. Qualquer extensão dos poderes do EFSF para torná-lo capaz de comprar títulos do governo de forma semelhante ao Banco Central Europeu será discutida em uma data posterior.

Os ministros das Finanças da UE acordaram também uma nova série dos chamados testes de estresse para os bancos europeus, mas os resultados destes testes só serão públicos em julho deste ano. O set de testes anterior realizado no ano passado foi amplamente descrito como uma farsa. Às duas das principais instituições financeiras da Irlanda no centro do colapso econômico do país - a falência do Banco da Irlanda e do banco irlandês Allied - foram dados um atestado de saúde nos testes do ano passado.

A cúpula de ministros das Finanças da UE no início desta semana em Bruxelas é a última de uma série de reuniões que aconteceram no ano passado. Sem considerar o pronunciamento paliativo feito pelos altos funcionários da UE - Jean-Claude Juncker declarou que a reunião foi caracterizada por um "nível muito elevado de convergência" - é evidente que os dilemas e as divisões que surgiram no ano passado entre as nações europeias e grupos de nações estão chegando a um ponto de ruptura.

De fato, os Estados da UE e as instituições europeias estão unidos apenas em um aspecto: a sua total subserviência aos interesses dos bancos e dos mercados financeiros. Isto apesar de evidências de que a política de financiamento internacional da elite - austeridade em todos os lugares e uma grande re-divisão dos recursos sociais em favor dos ricos - está massivamente acelerando a crise no continente europeu.

Em seu último relatório sobre a Situação Econômica Mundial de 2011, a UNCTAD alerta contra a euforia que a Europa possa estar emergindo de sua crise.

O relatório assinala que o desenvolvimento econômico na Europa em 2010 "mascara uma série de deficiências importantes". O relatório afirma que a produção industrial em todo o continente continua a ser de 12 % abaixo de seu pico em 2008 e "mais preocupante ainda é que a recuperação está ocorrendo em diferentes velocidades. Em uma ponta estão os países (liderado pela Alemanha) mostrando uma recuperação relativamente forte (...) que foram capazes de tirar proveito da melhora no comércio mundial. No outro extremo do espectro estão os países entrincheirados em crises fiscais, como a Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, que vão permanecer em recessão ou ver uma recuperação mínima. (...) "

O relatório conclui tristemente, lembrando que "os riscos para as previsões estão inclinados para o lado negativo", e, em seguida, adverte: "O impacto da austeridade fiscal em curso ou prevista põem em o risco uma desaceleração econômica renovada (...) renovada turbulência nos mercados financeiros" e minam "a confiança no euro".

[Traduzido por movimentonn.org]

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