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Repressão mortal contra manifestantes egípcios
Por Patrick O'Connor
8 de fevereiro de 2011
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Publicado originalmente em inglês em 03 de fevereiro
de 2011 no wsws.org
Ontem, o presidente egípcio, Hosni Mubarak, mobilizou
milhares de capangas pró-regime, provocadores e policiais
à paisana contra os manifestantes que exigem o fim da sua
ditadura. Pelo menos cinco pessoas foram mortas, embora o número
final de mortos provavelmente seja significativamente mais elevado
e centenas de pessoas foram feridas, muitas delas, gravemente.
A provocação planejada foi facilitada pelos militares,
o que permitiu que os ataques violentos ocorressem ao longo do
dia. Forças pró-Mubarak foram escoltadas pelo exército
na praça central de Tahrir no Cairo, o ponto focal dos
protestos contra o regime, poucas horas depois que os líderes
militares emitiram um comunicado exigindo que os manifestantes
desistissem e restabelecessem a vida normal. A violência
tem como objetivo intimidar e dividir as forças revolucionárias
no Egito e criar condições para os militares intervirem
mais diretamente.
Comandantes de alto escalão sinalizaram o seu apoio
ao plano de Mubarak para permanecer no poder até setembro.
Isso daria tempo suficiente para os militares e a inteligência
trabalharem lado a lado com seus parceiros americanos, para preparar
uma votação fraudada para nomear o vice-presidente
Omar Suleiman ou outro parceiro seguro como sucessor
de Mubarak.
O governo Obama é totalmente cúmplice na contra
ofensiva sangrenta de Mubarak. Não há dúvida
de que a Casa Branca foi consultada antes dos acontecimentos de
ontem e deu sinal verde para a ação.
Não havia nada de espontâneo no ataque pró-Mubarak.
Muitos trabalhadores do setor público foram orientados
a juntar-se a ele. Repórteres da CNN souberam pelos trabalhadores
da empresa petroquímica nacional que eles receberam ordens
para ir para as ruas. Alguns, que se juntaram à multidão,
foram levados de ônibus da zona rural para o Cairo. Outros,
na capital, foram pagos, segundo reportagem do New York Times
sobre pessoas que receberam 50 libras egípcias (cerca de
US$ 8,50) para levar cartazes pró-Mubarak.
Vários relatos observam que houve participação
voluntária de alguns membros da elite ultra-rica do Cairo.
Um enviado da Associated Press no bairro de classe alta
de Mohandiseen, descreveu como homens de óculos
escuros de grife e mulheres com penteados caros juntaram-se aos
funcionários do governo, incluindo dúzias de enfermeiros
vestidos de branco que pulavam e cantavam: Nós te
amamos Mubarak!.
A odiada polícia do Egito mal foi vista nas ruas nas
últimas semanas mas ontem reapareceu com força.
Alguns estavam de uniforme e foram saudados como heróis
pelos vândalos pró-Mubarak, enquanto muitos outros
permaneceram à paisana. Vários foram capturados
com seus cartões de identificação da polícia
por manifestantes antigoverno. O jornalista Reham Saeed relatou
ter visto homens com uniformes da polícia entrando em hotéis
perto da praça Tahrir e saindo em trajes civis.
Várias mensagens de celular pró-governo foram
enviadas em massa, incluindo uma de ontem cedo em que se convidam
aqueles que amam o Egito a reunir-se na praça
Tahrir. O Guardian também observou: a TV estatal
do Egito informou que os estrangeiros foram pegos distribuindo
panfletos anti-Mubarak, aparentemente tentando retratar o movimento
como se fosse instigado por estrangeiros.
Segundo a CNN, um programa de televisão estatal acrescentou:
Deixem que os militares assumam e protejam vocês e
o Egito [...] Temos relatos confirmados de que existem componentes
radicais liderando conflitos internos. Eles têm pessoas
ativas que querem abrir fogo na Praça Tahrir.
A mídia egípcia também destacou um comunicado
divulgado pelo ministério das Relações Exteriores
dizendo que as exigências para a mudança política
rápida vinda de partidos estrangeiros foram
destinados para incitar a situação interna
no Egito.
Em uma aparente tentativa de apresentar a imagem de uma nação
que voltou à normalidade, o regime suspendeu o corte da
Internet e reduziu o seu toque de recolher declarado para das
17 às 07h, ao invés de 15 às 8h.
Na televisão estatal, um porta-voz militar perguntou
aos manifestantes anti-Mubarak: Podemos andar com segurança
pelas ruas? Podemos voltar a trabalhar regularmente? Podemos ir
para as ruas com as nossas crianças, para as escolas e
as universidades? Podemos abrir nossas lojas, fábricas
e clubes? É hora de voltar à vida normal. Vocês
têm o poder de permitir que o Egito volte à vida
normal [...] Suas mensagens foram recebidas e sabemos o que vocês
querem.
Imediatamente após isso, o noticiário exibiu
uma mensagem na parte inferior da tela:As forças
armadas pedem aos manifestantes que se dirijam para suas casas
e tragam de volta a estabilidade.
Logo depois, aproximadamente às 14h, milhares de homens
armados com facas, coquetéis molotov, pedras, bastões
e outras armas surgiram na praça Tahrir, superando o número
de manifestantes que permaneceram nas ruas após a manifestação
de massas e a greve geral na terça-feira. Batalhas eclodiram
depois que os manifestantes pacíficos anti-Mubarak foram
atacados e tentaram se defender. Em um determinado momento, os
capangas pró-governo foram carregados através dos
manifestantes em cavalos e camelos.
O jornalista do Guardian, Mustafa Khalili, que foi ferido
quando uma pedra atingiu-o na cabeça, descreveu a cena
em um dos vários centros médicos improvisados criados
em torno da praça Tahrir : Deve ter mais de 50 feridos,
alguns deles de forma horrível. Eu vi um cara cujo olho
esquerdo estava sangrando, homens com braços quebrados,
dentes quebrados, que tinham acabado de ser atingidos no rosto
por rochas.
Outros confrontos graves foram registrados no exterior do Museu
Egípcio, no Cairo e em Alexandria, onde da mesma forma
calculada, provocações foram organizadas pelo regime
de Mubarak. Vários jornalistas foram alvo de bandidos.
Anderson Cooper e dois de seus colegas da CNN foram atacados,
assim como dois correspondentes da Associated Press. Um repórter
belga foi espancado, detido e acusado de espionagem.
Ontem, final de noite, no horário do Egito, o vice-presidente
Suleiman, somou sua voz à dos militares para exigir o fim
das manifestações. Ele ofereceu diálogo
com os partidos da oposição vinculados ao fim do
movimento anti-Mubarak nas ruas.
Forças pró-governo continuaram seus ataques sobre
os manifestantes em Tahrir Square durante toda a noite e, segundo
alguns relatos, dispararam balas reais contra a multidão.
O blog mantido ao vivo pela Al Jazeera informou à 1h47
da hora local: Dezenas de apoiadores de Mubarak ergueram
barricadas de cada lado da estrada, prendendo os manifestantes
antigoverno. Eles também estão reunindo pedras,
quebrando postes, colocando balaclavas e cobrindo seus rostos,
aparentemente em preparação para uma novo ataque
contra os manifestantes antigoverno. Fontes disseram ao nosso
correspondente que aqueles homens que estavam se preparando para
o ataque são policiais.
Às 03h15 o blog relatou: Manifestantes antigoverno
estão colocando pedras nos acessos para a praça
Tahrir, em preparação para um ataque. Um dos nossos
produtores de web relata que quase todos na praça parecem
feridos, estão enfaixados e mancando.
Os militares continuam prontos para um ataque surpresa contra
os manifestantes anti-Mubarak. Sua cumplicidade ressalta o papel
dúbio e criminal de todas as forças políticas
no Egito, que têm se esforçado para semear ilusões
entre os trabalhadores e jovens no serviço militar.
Mohamed ElBaradei e a Irmandade Muçulmana estão
entre aqueles que saúdam as forças armadas como
protetores da nação e amigos do levante
contra o regime. Mesmo quando as forças anti-Mubarak estavam
sendo brutalmente atacadas ontem, sob supervisão dos militares,
ElBaradei emitiu um apelo patético ao exército para
intervir de forma decisiva para acabar com este massacre.
Os últimos desenvolvimentos apontam para a necessidade
urgente de que a classe operária desenvolva a sua própria
liderança independente e forme novas organizações
democráticas de luta, incluindo guardas de defesa armada
para proteger os grevistas e manifestantes contra os capangas
de Mubarak.
Não é por acaso que as medidas violentas e repressivas
estão sendo desencadeadas contra os manifestantes, ao mesmo
tempo em que a classe trabalhadora está começando
a desempenhar um papel mais proeminente no movimento anti-Mubarak.
O Los Angeles Times fez uma reportagem ontem na cidade
industrial de Suez, onde pelo menos 30 pessoas já foram
mortas.
Os anos de ódio reprimido sobre corrupção
policial, espancamento e intimidação transformaram
a cidade em uma tempestade, com rajadas, transformando a quietude
em rajadas de novo", afirmou o jornal. Muitos dos ricos
fugiram, os trabalhadores tomaram as ruas, os pobres correram
para o mercado antes do toque de recolher.
Repórteres falaram com Kamal Banna, um operário
de uma fábrica química em greve, que disse: O
governo manteve-nos pobres. Nós não falamos sobre
política, porque nós estávamos tentando sobreviver
com todas as forças. Então começamos a conversar
sobre política e eles começaram a nos matar. Não
há caminho de volta para nós agora. Mubarak tem
que sair. Se a polícia voltar, eles vão querer vingança.
Para ElBaradei, a Irmandade Muçulmana e o resto da oposição
burguesa, o objetivo é criar uma remodelação
da dominação burguesa, em estreita colaboração
com Washington, deixando intactos todos os componentes centrais
do aparelho repressivo do Estado, incluindo os militares.
Os trabalhadores e jovens, por outro lado, não podem satisfazer
nenhuma das suas aspirações democráticas
e as demandas por empregos decentes, salários, condições
de trabalho e acesso à educação pública
e outros serviços sociais básicos, no âmbito
do sistema de lucro e das instituições existentes
do Estado burguês egípcio. A tarefa para a classe
operária é mobilizar-se de forma independente, ganhando
para o seu lado as massas rurais e urbanas de classe média
baixa por meio de uma luta revolucionária por um governo
dos trabalhadores, baseado num programa socialista e internacionalista.
[Traduzido por movimentonn.org]
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