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Egito: Milhares de pessoas desafiam a polícia e exigem a queda de Mubarak

Por Stefan Steinberg e Barry Grey
1 de fevereiro de 2011

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Manifestantes antigoverno no Cairo, Suez, Alexandria e outras cidades em todo o Egito, oprimidos por enormes contingentes de policiais, na sexta-feira tomaram delegacias de polícia, escritórios do governo e incendiaram sedes do Partido Democrático Nacional (PDN), em um movimento explosivo, que abalou a ditadura do presidente Hosni Mubarak, apoiado pelos EUA há 30 anos no poder.

O regime mandou policiais para as pontes, ruas e estradas, desligou o metrô e cortou a Internet e serviços de telefone celular, na tentativa de bloquear a aglomeração dos trabalhadores e da juventude no Cairo e em outras cidades. Policiais uniformizados e à paisana atacaram e prenderam jornalistas na tentativa de impedir que os eventos do dia chegassem ao conhecimento do público em geral no Egito, no Oriente Médio e no resto do mundo. O único provedor de Internet que continuou em funcionamento foi o Noor Data Networks, que conecta a bolsa egípcia ao resto dos mercados monetários mundiais.

Mas com o fim das orações de sexta-feira, as pessoas saíram das mesquitas e foram para as ruas em cidades de todo o país. A polícia usou gás lacrimogêneo, canhões de água, balas de borracha e cassetetes para intimidar e dispersar a multidão, mas sem sucesso. O Ministério do Interior egípcio deu ordem para a polícia usar munição real contra os manifestantes.

Vários relatórios apontam entre 13 e 20 mortos em decorrência da violência policial, e estima-se que centenas foram feridos, alguns deles com ferimentos de bala. No entanto, sob o bloqueio da comunicação virtual na maioria do país, é provável que o número real de mortos e feridos seja muito superior.

Não se sabe quantas pessoas foram presas, mas estima-se que o número está na ordem das centenas.

A polícia não conseguiu impedir os manifestantes de incendiar a sede do PND no Cairo. Em Suez, os manifestantes ocuparam a sede da polícia e apreenderam armas. Eventos semelhantes ocorreram em outras cidades.

Um grupo de manifestantes cercou o hotel de luxo da rede Hilton, no Cairo. Os clientes foram obrigados a recuar para as varandas, na tentativa de fugir das nuvens de gás lacrimogêneo. Durante grande parte do dia o centro do Cairo e de outras grandes cidades como Alexandria e Suez se assemelhavam a campos de guerra.

No decorrer dos combates, o líder da oposição da Associação Nacional para a Mudança, Mohamed ElBaradei, foi cercado pela polícia em uma mesquita perto do centro de Cairo, onde foi participar das orações de sexta-feira. El Baradei, o ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, voou de sua casa em Viena para o Egito com a finalidade expressa de desviar o movimento revolucionário e oferecer seus serviços para uma transição "pacífica" para um novo governo burguês.

Outras cidades em todo o país relataram grandes passeatas de manifestantes. Cerca de 40.000 manifestantes invadiram a sede do partido atualmente no poder em Mansurya, e 15.000 foram às ruas para protestar em Luxor, no sul do Egito.

Em Alexandria, os manifestantes, muitas vezes ultrapassavam o número de policiais. Alguns policiais foram apreendidos e espancados com seus próprios cassetetes. Manifestantes atearam fogo em veículos policiais.
Um dos mais violentos combates ocorreu em Suez, onde 15.000 policiais apareceram em peso, usando gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Tanques foram enviados para as ruas da cidade após o anoitecer.

Cerca de 80.000 pessoas participaram da manifestação em Port Said, na foz do Canal de Suez. A tropa de choque também enfrentou os manifestantes em Ismailia, Fayoum e Shbin Elkoum.
Houve relatos isolados de policiais arrancando seus uniformes e se juntando à multidão, que exige a derrubada de Mubarak.

Quando, no final da tarde, a multidão ameaçou ocupar o Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Ministério da Informação no Cairo, a televisão estatal egípcia anunciou que Mubarak declarou um toque de recolher no Cairo e em outras grandes cidades e ordenou que o exército ficasse nas ruas.

No Cairo, pelo menos, parece que o Exército evitou atacar diretamente os manifestantes, e houve relatos de confrontos entre o Exército e a polícia. O regime, sem dúvida, a pedido de Washington, pretende incentivar a ilusão de que o exército é neutro ou o protetor do povo na esperança de que a ameaça imediata da revolução possa ser contida e sejam criadas melhores condições para esmagar violentamente a revolta.

Aproximadamente à meia-noite, enquanto milhares continuavam a protestar na capital e em outros lugares, Mubarak, finalmente foi à rádio para fazer um discurso à nação. Ele arrogantemente declarou que iria reforçar a segurança, fez promessas ocas para lidar com as queixas econômicas e políticas do povo e anunciou que ele estava depondo o atual governo e iria nomear um novo. A principal fala foi a sua rejeição aos apelos pela sua renúncia..

Isso só enfureceu ainda mais os manifestantes, levando a multidão a ir atrás de Mubarak.
Cerca de 60 minutos depois, o presidente Barack Obama fez um breve discurso televisionado, essencialmente apoiando Mubarak, enquanto hipocritamente afirmava o apoio dos EUA aos direitos humanos e solicitava que o governo egípcio se abstenha de usar violência contra os protestos. Obama falou da "parceria" dos Estados Unidos com o "governo e o povo" do Egito, ignorando o histórico de repressões sangrentas do governo, que culminaram com a violência em massa na sexta-feira, e o profundo desejo do povo de, finalmente, livrar-se de tal "parceiro".

Obama declarou apoio dos EUA aos direitos humanos no Egito, no mesmo dia em que o WikiLeaks revelou telegramas do Departamento de Estado documentando o conhecimento e cumplicidade dos EUA na utilização de tortura e assassinato de opositores políticos do regime.
A intervenção do exército no Egito representa uma reviravolta na onda de levantes das massas de trabalhadores em diversos países árabes, como Tunísia, Argélia, Iêmen e Jordânia. Pela primeira vez na história recente, um regime árabe mobilizou suas forças militares em grande escala para intervir contra protestos políticos.

Não há dúvida de que a intervenção do exército egípcio foi discutida e aprovada por Washington. Numa conferência de imprensa na sexta-feira, o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, confirmou que o Pentágono estava em constante contato com o alto comando militar egípcio.

Protestos contra o governo também ocorreram na sexta-feira na Jordânia. Estima-se que 1.500 manifestantes reuniram-se no centro de Amã e outras centenas de manifestantes protestaram em outras cidades, de acordo com relatos. Foi informado que a Síria também suspendeu os serviços de Internet na sexta-feira, a fim de evitar a disseminação de informações sobre o levante no Egito.
Manifestantes no Egito prometeram ir às ruas novamente no sábado.

[Traduzido por movimentonn.org]

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