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Sinais de um novo levante dos trabalhadores chineses

Por John Chan
13 de dezembro de 2011

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Nos últimos meses, uma série de greves aconteceu na China. Embora sejam disputas ainda pequenas e isoladas, elas apontam para uma profunda transformação. A entrada da classe trabalhadora na luta política em 2011 - que começou com os levantes na Tunísia e no Egito, e se espalhou para a Europa e para o Estado americano de Wisconsin - está começando a encontrar seu reflexo na China.

Milhões de trabalhadores na Europa e na América estão enfrentando as medidas de austeridade e o desemprego crescente, e o declínio de suas condições de vida se traduz numa redução da demanda por mercadorias exportadas da China. Donos de fábricas chineses, por sua vez, estão passando o fardo das margens de lucro reduzidas para os trabalhadores, provocando o último espasmo de inquietação industrial.

Greves atingiram fábricas exportadoras no Delta do Rio das Pérolas, província de Guangdong. Cerca de 7 mil operários da fábrica de sapatos Yue Cheng pararam no dia 17 de novembro, em defesa de seus empregos, contra o plano da companhia de transferir-se para o interior do país, onde os salários são menores. Aos trabalhadores da Yue Cheng se juntaram centenas de operários da Top Form, uma grande fabricante de roupas íntimas, e 1.000 trabalhadores de uma fabricante taiwanesa de acessórios de informática. Em ambos os casos, os protestos foram contra o excesso de horas de trabalho e os baixos salários.

Mais recentemente, na Shenzhen Hailiang Produtos de Armazenamento, 4.500 trabalhadores estão em greve desde domingo para defender empregos e condições de trabalho da planta que deve ser vendida para a fabricante de discos rígidos americana Western Digital. Como em outras greves, as autoridades chinesas responderam com medidas de Estado-policial, despachando a polícia de choque para lidar com os 2 mil trabalhadores que ocupavam a fábrica.

O regime do Partido Comunista Chinês (CCP) está mais do que ciente de que a nova onda de conflitos industriais é diferente da luta salarial que começou no ano passado em uma planta da Honda. As greves recentes não são por reajustes salariais, mas pela defesa dos empregos e condições de trabalho existentes, diante dos cortes de custos e da exigência de maior jornada de trabalho e mais horas extras não-pagas por parte dos patrões.

Preocupações já expressam que a onda de desemprego pode ser tão grave como em 2008, quando 23 milhões de trabalhadores chineses perderam seus empregos. LiQiang, diretor do US-based China Labour Watch, advertiu recentemente: "As demissões em massa levarão ao aumento de protestos e agitação social em áreas urbanas e rurais da China, estimulado especialmente por aqueles trabalhadores demitidos de fábricas e outros trabalhadores migrantes particularmente marginalizados pela sociedade."

O que o governo de Beijing mais teme é uma ação coordenada dos trabalhadores, como a realizada no mês passado por milhares de operários da PepsiCo, em um protesto conjunto organizado via internet envolvendo 5 províncias, contra um plano de fusão corporativa e demissões em massa. Pega de surpresa, Beijing rapidamente ordenou que sua polícia eletrônica filtrasse as palavras "PepsiCo strike" das redes sociais.

A perspectiva de um levante levou Zhou Yongkang, o mais alto oficial de segurança do CCP, a advertir durante a semana que todos os níveis governamentais precisavam com urgência estabelecer um "sistema de gerência social" - palavras em código para medidas repressivas de Estado-policial - "especialmente em face dos efeitos negativos da economia de mercado".

A burocracia do CCP ainda é atormentada pelo fantasma da última crise revolucionária na China - protestos de massas por estudantes e trabalhadores em 1989, na Praça Tian'anmen de Beijing e em outras cidades chinesas. O regime precisou enviar tanques e dezenas de milhares de soldados para esmagar a rebelião que emergia da classe trabalhadora contra o impacto devastador da restauração capitalista sobre as condições de vida.

A gigantesca expansão do capitalismo chinês nas últimas duas décadas apenas aumentou as tensões sociais. Conforme a China se tornava a grande fábrica do capitalismo mundial, a classe trabalhadora se expandia enormemente a um número estimado de 400 milhões de trabalhadores. O campesinato, que não estava envolvido nos protestos de 1989, agora está intimamente conectado às cidades através de milhões de trabalhadores rurais migrantes.

O regime stalinista não pode contar com os sindicatos estatais para conter uma classe trabalhadora impaciente. A Federação Nacional de Sindicatos (ACFTU) funciona como um organismo diretamente vinculado ao governo e companhias, policiando os trabalhadores. Trabalhador nenhum procura apoio na Federação ao organizar uma ação de greve.

Durante as greves da PepsiCo, por exemplo, os trabalhadores elegeram seus próprios representantes e realizaram suas próprias assembleias gerais para dirigir a luta. Depois de uma negociação no dia 30 de novembro fracassar em satisfazer suas demandas, os trabalhadores da engarrafadora Lanzhou decidiram continuar seus protestos. Muitos trabalhadores, porém, cultivam ilusões de que sindicatos independentes - como advogado pelo diretor do China Labour Bulletin de Hong Kong, Han Dongfang - ofereceriam um meio de lutar pelos seus interesses. O objetivo explícito de Han, um líder trabalhista durante os protestos de 1989, é "despolitizar" qualquer movimento de greve - em outras palavras, impedir que surja qualquer desafio político ao regime stalinista e confinar os trabalhadores a reivindicar reformas limitadas.

Como suas contrapartes no mundo todo, os trabalhadores chineses enfrentam um assalto orquestrado contra seus empregos e padrões de vida. Na China, essa ofensiva é dirigida pelo governo do CCP, que, apesar do seu ocasional uso da fraseologia socialista, age no interesse da elite corporativa.

A lição política dos protestos militantes deste ano no Oriente Médio, Europa e EUA é que o proletariado só pode defender seus interesses através de uma luta revolucionária por um governo dos trabalhadores, que leve adiante a transformação socialista da sociedade. Devido ao caráter transnacional da produção moderna, existe uma necessidade objetiva de unificação dos trabalhadores chineses com seus irmãos e irmãs de classe no resto do mundo, que lutam contra as mesmas corporações globais.

Acima de tudo, é necessário um partido genuinamente marxista cuja atuação se baseie nas lições da prolongada luta política dirigida pelo movimento trotskista internacional contra as traições do stalinismo e do maoismo. Isso significa: construir a seção chinesa do Comitê Internacional da Quarta Internacional.

Traduzido por movimentonn.org