World Socialist Web Site
 

WSWS : Portuguese

Queda da produção desencadeia novas greves

Por John Chan
7 de dezembro de 2011

Utilice esta versión para imprimir | Comunicar-se com o autor

Um agudo recuo no ritmo da produção fabril chinesa está levando os empregadores a cortar salários, impulsionando uma nova onda de greves.

Durante a semana, uma greve envolvendo 1.000 trabalhadores na planta da cingapurense Hi-P International foi brutalmente reprimida pela polícia. O website da Hi-P descreve a companhia como componente de um "fabricante-por-contrato global e verticalmente integrado, servindo às indústrias de comunicações sem fio, eletrônicos de consumo, computação e automóveis".

A greve começou quando a Hi-P decidiu cortar empregos e transferir mais linhas de produção para Tianjin e Suzhou, onde os custos de mão de obra são menores. Os trabalhadores demitidos não receberam qualquer compensação, apenas promessas de transferência para os novos locais. A resposta dos operários foi ocupar a planta e bloquear o portão. A Reuters informou que os empregados gritavam "nos deem justiça" e levantavam estandartes que diziam "nós queremos uma explicação, nós queremos a verdade". Os trabalhadores também acusaram a companhia de práticas ilegais. "Algumas vezes, eles nos pedem para trabalhar por 18 ou 19 horas num dia", um trabalhador disse à Associated Press. "Algumas vezes as horas extras somadas ultrapassam a própria jornada normal de 8 horas".

Na terça-feira, primeiro dia de greve, veículos da polícia bloquearam as estradas principais mais próximas, e no dia seguinte centenas de oficiais foram encarregados de acabar à força com os protestos. A polícia bateu nos trabalhadores e arrastou vários pelos cabelos, incluindo mulheres. Diversos trabalhadores foram feridos e mais de uma dúzia foi presa. De acordo com a Associated Press, até ontem os trabalhadores se mantinham em greve, e "vans da polícia e carros sem identificação observavam mas não intervinham".

Não é a primeira greve dos trabalhadores da Hi-P. Em julho e agosto, eles organizaram uma greve de 10 dias contra o plano da companhia de transferir duas linhas de produção para a fábrica de Suzhou. Essa ação também foi quebrada pela polícia.

Uma onda de greves atingiu os centros manufatureiros na província meridional de Guangdong durante as últimas semanas.

Uma greve de 1.100 trabalhadores da fábrica da japonesa Citizen em Shenzhen terminou em 19 de novembro após uma batalha de 1 mês. Em outubro, a planta decidiu mudar o sistema de pagamento de uma taxa por produto fabricado para uma taxa horária. Numa indústria de baixa sofisticação como a de produção de componentes de relógio, os trabalhadores dependem do aumento da produção para manter um salário que garanta a sobrevivência. O pagamento-hora baixo oferecido pela companhia vai reduzir drasticamente seus salários.

Em resposta ao sistema de pagamento-hora, os trabalhadores exigiram que a administração os compensasse com salários equivalentes aos 40 minutos já deduzidos de sua jornada diária desde 2005 como tempo para ir ao banheiro e beber água. Mas eles só receberam 70% do tempo não pago. Os operários foram forçados a voltar ao trabalho com policiais e oficiais de segurança para vigiá-los em cada departamento da produção.

Na cidade de Kunshan da província de Jiangsu, no leste, 1.200 trabalhadores da taiwanesa Lisheng, que produz eletrônicos - incluindo notebooks, mouses e celulares - organizaram uma greve no dia 22 de novembro contra a carga de trabalho horária excessiva. A administração chamou a polícia para acabar com a greve e a manifestação. Diversos trabalhadores foram feridos.

Um trabalhador da Lisheng escreveu um post num website local explicando que a administração muda seus turnos arbitrariamente, sem qualquer compensação. Eles só recebiam um salário mensal básico de 1.140 yuan (US$ 179,00), mas após a dedução de 450 yuan para pagar a comida fornecida pela fábrica, 120 yuan para cobrir os fundos de seguridade social, e 400 yuan pelo aluguel, "não temos nada para mandar de volta para casa".

O operário lembrou que no dia 22 de novembro, quando a greve começou, de 30 a 40 integrantes da polícia especial e da polícia comum chegaram à cena. A polícia especial é uma força paramilitar especializada em repressão doméstica, inclusive controle de multidões. "Pensávamos que era uma grande coisa termos eles para defenderem a justiça para nós", ele disse. "Quem poderia imaginar - eles atacaram qualquer pessoa que encontravam imediatamente após descerem dos seus veículos. Um jovem que disse algo errado foi arrastado para o carro da polícia e espancado. Uma garota que estava perto demais também foi violentamente atacada, tendo seu canal auditivo quebrado e um ferimento na cabeça. Ela ficou no chão por duas horas, mas a polícia a ignorou."

O operário expressou raiva quanto ao suplício de milhões de trabalhadores migrantes super-explorados da China: "O birô do trabalho nos ignora, a polícia não liga! Nós, trabalhadores migrantes sofremos os abusos deles [os empregadores] sempre que eles querem abusar de nós, onde está a justiça? Onde está a lei?"

Os trabalhadores estão enfrentando um implacável estado policial que defende os interesses das empresas. As principais corporações mundiais se articulam estreitamente com a classe capitalista emergente, e também com a burocracia stalinista chinesa corrupta, para explorar conjuntamente a classe trabalhadora.

 

Essa relação social básica foi posta em evidência por um relatório investigativo em torno da BYD, uma fabricante privada de baterias e carros elétricos, publicado no final de outubro pelo China Labour Watch, baseado em Nova Iorque. A BYD, que pertence em parte ao bilionário americano Warren Buffett, emprega 130.000 trabalhadores. O CEO da companhia Wang Changfu era o homem mais rico da China em 2009.

?Na planta de Shenzhen da BYD, os trabalhadores ganham apenas US$ 204,00 por mês - menos que o gasto mínimo de vida em Shenzhen, estimado em US$ 243. Os trabalhadores estão presos ao fornecimento de comida e habitação pela empresa, e com 144 horas de horas extras impostas todos os meses, não têm qualquer chance de se educarem ou de conseguirem um emprego melhor.

?O relatório do China Labour Watch apontava: "A BYD está preocupada somente com a maximização de seus lucros baseada nos custos de produção mais baixos possíveis [...] clientes dessa multinacional, como Nokia, Motorola e Samsung, estão preocupadas somente com a fabricação de produtos de alta qualidade a um baixo custo. Para trazer esses produtos ao mercado o mais rápido possível, as companhias exigem um ritmo de produção extremamente acelerado. Desse modo, os trabalhadores precisam enfrentar durante longas horas um trabalho em ritmo alucinante."

O relatório concluía com o aviso: "Os trabalhadores estão extremamente tensos e sentem desesperança em relação ao futuro. Se esses problemas não puderem ser resolvidos, ferozes conflitos sociais surgirão dentro das fábricas".

A BYD não é mais do que um microcosmo de incontáveis fábricas ao redor da China, onde condições de trabalho já consideradas terríveis estão piorando cada vez mais.

Em maio-junho de 2010, uma onda de greves iniciada por trabalhadores de uma fábrica de automóveis da Honda na província meridional de Guangdong foi em grande parte impulsionada pela reivindicação de salários maiores. Em meio a massivas medidas de estímulo financeiro na China e também na Europa e nos EUA, a manufatura chinesa continuou a se expandir, tornando possível que os empregadores e o regime stalinista oferecessem concessões limitadas para cortar a cabeça do levante que se construía.

A elite corporativa não está mais na posição de oferecer concessões. Há uma conexão inegável entre as greves que surgem na China e o último índice oficial de consumo (PMI) que mostra uma contração da produção fabril em novembro. Esse declínio se deve principalmente à demanda em queda de dois dos maiores mercados da China - Europa e EUA. O PMI de novembro é de 49 - o menor desde fevereiro de 2009, logo após o colapso do Lehman Brothers. Cerca de 23 milhões de vagas de emprego, ocupadas principalmente por trabalhadores migrantes, foram destruídos em 2008/09.

Uma nova onda de fechamentos de fábricas ameaça detonar uma explosão social da classe trabalhadora chinesa. Uma indicação do que está por vir foi soletrada pela Federação das Indústrias de Hong Kong, que recentemente avisou que um terço das 5 mil fábricas de empresas de Hong Kong na província de Guangdong podem sofrer reduções na força de trabalho e fechar até o final deste ano.

Traduzido por movimentonn.org