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Resgate português: aprofunda-se a crise financeira europeia
Por Nick Beams
14 de abril de 2011
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Os políticos burgueses e a imprensa continuam trabalhando
para apresentar a assim chamada crise da dívida pública
como se fosse o destino de um indivíduo que, tendo entrado
em dificuldades econômicas, vê-se agora obrigado a
fazer sacrifícios em troca de ajuda financeira. O resgate
de Portugal é o exemplo mais recente dessa prática.
Ao anunciar a decisão de seu governo interino de buscar
ajuda emergencial à União Europeia, o primeiro-ministro
demissionário José Sócrates declarou que
ele buscava ajuda financeira ao nosso país
[...] em nome do interesse nacional.
Como aqueles da Grécia e da Irlanda anteriormente, o
objetivo do resgate português, estimado a alcançar
o total de ao menos 80 bilhões de euros, é salvar
os bancos europeus pela imposição de um aprofundamento
nos cortes aos padrões de vida e condição
social da classe trabalhadora.
Os acontecimentos que prepararam o anúncio de quarta-feira
à noite seguiram um padrão já conhecido.
Primeiro implementaram-se medidas de austeridade as quais, dizia-se,
evitariam a necessidade de um resgate. Mas as implacáveis
pressões vindas dos mercados, das agências de classificação
de risco e dos bancos continuaram, culminando no rebaixamento
da dívida portuguesa a um status de quase bônus
lixo e no anúncio, por parte dos bancos do país,
de que não poderiam mais contrair dívidas públicas
em seus livros.
Uma das descobertas científicas mais importantes de
Karl Marx foi a demonstração de como as operações
do livre mercado faziam parecer que a pilhagem e o
roubo, e o empobrecimento das massas de que vêm acompanhados,
eram fruto de acontecimentos naturais para os quais
não havia saída. E assim foi neste caso. O rápido
aprofundamento da crise das finanças portuguesas nos últimos
meses, que apareceu como o resultado de inevitáveis forças
de mercado, era uma operação destinada a forçar
o governo a pedir o resgate, e assim assegurar que as perdas sofridas
pelos maiores bancos europeus seriam garantidas pelo Estado.Assim
que a decisão de pedir o resgate foi anunciada, os bancos
portugueses comemoraram ao ver os preços de suas ações
subirem entre 4% e 6% nas negociações de quinta-feira.
Quantias enormes de dinheiro estão em risco, juntamente
com a solvência de todo o sistema bancário e financeiro
europeu. De acordo com dados do Banco de Compensações
Internacionais - às vezes chamado por banco central
dos bancos centrais - a exposição total dos
bancos estrangeiros à Grécia, Irlanda, Portugal
e ao próximo alvo em potencial, Espanha, é de US$
2,5 trilhões. Destes, bancos alemães têm uma
exposição de US$ 569 bilhões, franceses de
US$ 380 bilhões e britânicos de US$ 431 bilhões.
A importância do resgate para os bancos é demonstrada
pelos números fornecidos pela empresa financeira japonesa
Nomura Securities. A empresa calculou que, se as dívidas
da Irlanda, da Grécia e de Portugal fossem reestruturadas
- seja por meio de amortizações ou prolongamentos
dos prazos para pagamento - as perdas diretas e indiretas dos
bancos da zona do Euro totalizariam US$ 240 bilhões. Este
número subiria para US$ 480 bilhões caso a Espanha
fosse incluída. Os bancos alemães estavam entre
os mais fortemente expostos e arcariam com uma perda de US$ 185
bilhões, equivalentes a aproximadamente um terço
de seu capital total, caso as dívidas dos quatro países
chamados periféricos fossem reestruturadas.
Um dos principais motivos de o Banco Central Europeu, juntamente
com o governo alemão de Angela Merkel, ter se oposto à
reestruturação da dívida é o temor
de que qualquer enfraquecimento dos bancos europeus seria vantajoso
aos bancos americanos, que se fortaleceram com o fornecimento
de gigantescos fundos e empréstimos a juros beirando a
zero feito pelo Federal Reserve americano.
O resgate português veio acompanhado de comentários
na imprensa econômica de que ele marcaria o fim da peste
financeira que se iniciou em abril-maio de 2010. Em editorial
intitulado Traçando os limites na areia ibérica,
o Financial Times insistiu que este resgate deveria ser
o último e que fazer direito o resgate português
interessa a toda a Europa e, acima de tudo, à Espanha.
Mas não há razões objetivas para se pensar
que a crise não se estenderá. Como notou o editor
de economia do Guardian, Larry Elliot: Quando se
trata de fundamentos econômicos não há muito
o que escolher entre Portugal e Espanha. E concluiu: Então,
enquanto possa ser confortável para os formuladores de
políticas em Bruxelas e Frankfurt acreditarem que a crise
da dívida pública chega ao fim com o resgate português,
é muito mais provável que o pedido de ajuda feito
quarta-feira à noite de Lisboa marca o início de
uma fase nova e mais perigosa da crise.
Esta fase nova e mais perigosa virá acompanhada
de ataques ainda mais profundos sobre a classe trabalhadora do
que aqueles que já foram implementados até o momento.
Aqui faz-se necessário formular um balanço político
dos eventos do ano passado desde a emergência da crise
da dívida pública. O anúncio do pedido
de resgate português não produziu nenhuma perturbação
nos mercados financeiros. De fato, os mercados de ações
tiveram altas e o Euro saiu fortalecido diante do Dólar.
Esta resposta não significa um sinal do fortalecimento
do sistema financeiro europeu. Ela foi resultado de fatores políticos,
e não econômicos. A relativa calmaria que seguiu
o anúncio do resgate era expressão do fato de que
os mercados financeiros chegaram à conclusão de
que, mesmo que a situação financeira esteja piorando,
o aparato político oficial trabalhará para assegurar
que suas demandas sejam impostas. Em Portugal, os dois principais
partidos parlamentares, o Partido Socialista e a oposição
de direita, o Partido Social Democrata, são ambos comprometidos
com a imposição de medidas de austeridade a favor
dos bancos, qualquer que seja o resultado das eleições
de 5 de junho no país.
Já o chamado Bloco de Esquerda divulgou uma declaração
de que apresentará um plano em resposta à
situação da dívida. Mas os mercados
financeiros já levaram em conta os partidos de esquerda
e as direções sindicais com base nas experiências
dos últimos 12 meses na Grécia, Irlanda e mesmo
em Portugal. Eles já incluíram na fatura
de seus cálculos que em todos os países esses aparatos
opõem-se veementemente ao desenvolvimento de uma luta política
independente da classe trabalhadora pela derrubada dos governos
do capital financeiro.
As forças desta luta, porém, estão surgindo.
Os atos de milhares de jovens trabalhadores e famílias
no dia 12 de março, organizados independentemente dos aparatos
oficiais, apontam o caminho a ser seguido. Este movimento precisa
ser armado com um programa socialista internacionalista, pelo
estabelecimento de um governo operário na luta pelos Estados
Unidos Socialistas da Europa. Esta é a perspectiva do Comitê
Internacional da Quarta Internacional (CIQI-1953).
[Traduzido por movimentonn.org]
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