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WSWS : Portuguese

Portugal caminha em direção ao resgate enquanto a taxa de empréstimos bate recorde

Por Paul Mitchell
4 de abril de 2011

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Publicado originalmente em inglês em 31 de março de 2011

Portugal esteve próximo de buscar um resgate financeiro nesta semana, visto que o custo dos empréstimos do governo atingiu recordes históricos.

A taxa de juros dos títulos de 10 anos subiu para um novo recorde da era do Euro, 8,2% —muito acima dos níveis que permitam que Portugal pague suas dívidas soberanas de longo prazo. Segundo analistas financeiros, o governo de Portugal pode ficar sem dinheiro nos próximos três meses e ser incapaz de pagar um empréstimo de 5 bilhões de euros que vence em junho, o que equivale a dizer que o país está a caminho da inadimplência.

Portugal está em uma espiral descendente. Está caindo em uma nova recessão, a segunda em três anos. Esta semana, o Banco de Portugal reviu as suas previsões de crescimento zero no próximo ano, feita no final do ano passado, para uma queda de 1,4%, culpando, em parte, os efeitos das medidas de austeridade. Ao mesmo tempo, pede novas medidas de austeridade substanciais para reduzir o déficit orçamental, o que contribuirá para a crise.

Este ano já houve quatro cortes no orçamento — os chamados Programas de Estabilidade e Crescimento. A falta de acordo no último orçamento levou à renúncia do primeiro-ministro José Sócrates e do seu governo do Partido Socialista (PS) na semana passada. Portugal agora funciona com um governo interino, até as eleições esperadas para ocorrer dentro de dois meses. Sócrates insistiu que seu orçamento era vital para reduzir o déficit nacional de 7,3% do ano passado para 4,6% do produto interno bruto neste ano, e para 3% em 2012.

A renúncia de Sócrates levou a novos pedidos para que Portugal peça um resgate. O membro do Conselho do Banco Central Europeu, Ewald Nowotny disse a repórteres: “Do ponto de vista puramente econômico o resgate provavelmente pode ser recomendável. A situação política interna em Portugal piorou claramente.”

Após a renúncia de Sócrates, a agência de crédito Fitch baixou a classificação da dívida soberana de Portugal em dois pontos para A- e advertiu que novas reduções provavelmente ocorram devido à ausência de um “programa de apoio” da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional que seja “tempestivo e confiável”, envolvendo o Fundo Europeu de Estabilização Financeira, o que representaria uma ajuda de 60 a 80 bilhões de euros.

O EFSF é um fundo de resgate de 750 bilhões de euros, criado pela União Europeia, pelo FMI e por vários governos europeus em maio de 2010, no auge da crise da dívida grega. Ele é projetado para emprestar dinheiro para os governos europeus ameaçados de falência, quando os mercados financeiros se recusam a emprestar. Antes de obter o empréstimo, o país tem que participar de um “programa nacional”, impondo cortes sociais e reformas trabalhistas negociados com o FMI e com o Eurogrupo dos ministros das finanças europeus.

A agência de classificação de crédito Standard & Poor's seguiu o exemplo da Fitch, baixando a classificação da dívida soberana de Portugal pela segunda vez em uma semana, colocando-a em BBB-, um nível acima da classificação de ‘lixo'. Ela cortou a classificação de crédito dos cinco maiores bancos de Portugal — Banco Espírito Santo, Banco BPI, Caixa Geral de Depósitos, Banco Santander Totta e Millennium BCP — para um status semelhante.

Para piorar, a agência de estatísticas de Portugal disse que pretende fazer “mudanças contábeis” em um relatório a ser apresentado para a União Europeia esta semana, que mostrará que o déficit orçamental de 2010 de 7,3% do PIB na verdade ficou acima de 8%. A agência foi obrigada a investigar, depois que a agência da UE, Eurostat, percebeu que um resgate de 2 bilhões de euros (US$ 2,8 bilhões) para o Banco Português de Negócios não foi incluídos nas contas, juntamente com empréstimos no valor de 500 milhões de euros para empresas de transporte de massa à beira da falência. O ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, admitiu que os números “inevitavelmente afetarão os resultados de 2010”, mas culpou o Eurostat por “mudar o placar depois que o jogo acabou”.

Sócrates renunciou depois que os cinco partidos da oposição rejeitaram o último orçamento apresentado por seu governo minoritário do PS, que incluía cortes de gastos enormes, aumentos de impostos e o congelamento ou redução das pensões, destinados a impedir que Portugal tenha que procurar ajuda, como as concedidas à Irlanda e à Grécia no ano passado. Ao mesmo tempo, o governo procurou implementar novas medidas para tornar a demissão de trabalhadores mais fácil e barata, um passo fundamental para satisfazer as exigências da UE e do FMI para as mudanças “estruturais” fundamentais no mercado de trabalho.

Até agora, o governo minoritário do PS funcionou com o apoio tácito dos partidos de “oposição” — sobretudo os de direita, como o Partido Social Democrata (PSD), que se absteve nas votações anteriores sobre as medidas de austeridade permitindo que elas passassem. Desta vez, o PSD decidiu votar contra declarando que “uma ampla coalizão de governo” era necessária para implementar completamente as medidas de austeridade necessárias.

O PSD foi encorajado pela reeleição do seu líder, Cavaco Silva, como presidente de Portugal nas eleições de fevereiro, com 52% dos votos, embora com uma participação muito menor — 47% em comparação com 62% nas últimas eleições presidenciais em 2006.

Uma vez reeleito, Cavaco Silva recusou-se a intervir na crise orçamental, como tinha feito anteriormente, alegando que a sua capacidade de negociar um compromisso entre as partes era limitado pela “ súbita apresentação das medidas do governo e a dura e rápida reação dos outros partidos”.

Desde a queda do PS, Cavaco Silva se reuniu com os três maiores partidos (PS, PSD e a aliança de direita democrata-cristã CDS) e disse aos repórteres que eles manifestaram um “compromisso inequívoco” com o cumprimento das metas de redução do déficit acordadas com a UE no governo do PS. Segundo fontes da UE, Sócrates tranquilizou, em particular, os líderes da UE “de que não importa que tipo de governo surja depois das novas eleições, ele continuará com o programa de austeridade”.

Especulações da mídia sobre uma grande coalizão envolvendo o PS, PSD e o CDS estão crescendo à frente de um anúncio feito por Cavaco Silva sobre novas eleições no final de maio ou início de junho. Todas as partes negam esta possibilidade, enquanto posam como defensores dos interesses nacionais de Portugal e acusam seus adversários de apoiar uma aquisição por forças “estrangeiras”.

No domingo, quatro dias depois da renúncia, Sócrates foi reeleito líder do PS com 93% dos votos e prometeu disputar a eleição com uma plataforma contrária à ajuda financeira. Ele declarou: “É o momento para os portugueses escolherem entre aqueles que querem um programa de ajuda externa, aqueles que querem que o FMI intervenha e aqueles que darão o melhor para que Portugal não tenha que pedir ajuda externa.”

Sócrates acusou o PSD de deflagrar a crise, sem oferecer qualquer alternativa às medidas de austeridade às quais se opunham.

O líder do PSD, Pedro Passos Coelho, disse que seu partido está comprometido com o programa orçamental acordado com Bruxelas e, acrescentou, se referindo ao resgate: “Acho que devemos evitar uma situação como essa.”

Ele sugeriu que o governo interino pode recorrer a um empréstimo para cobrir as obrigações da dívida de Portugal.

A retirada do apoio do PSD ao PS é sinal de uma mudança no interior da burguesia portuguesa sobre a melhor forma de impor medidas de austeridade em meio à crescente oposição social da classe trabalhadora, que ameaça romper com o controle dos partidos oficiais e dos sindicatos.

Em novembro do ano passado, uma greve geral levou Portugal a um impasse. Milhões de trabalhadores do setor público e privado ficaram afastados do trabalho para protestar contra o orçamento do governo do PS e as medidas de austeridade. Enquanto as medidas de austeridade eram debatidas no Parlamento uma série de greves ocorria, inclusive no setor metroviário e ferroviário, o que deixou muitos lugares parados. Estão previstas novas greves nos próximos meses no setor de transportes, comércio e serviços, educação, restaurantes, hotéis, estaleiros, correios e no setor de energia.

Mais ameaçadoras para a classe dominante portuguesa foram as manifestações de 12 de março, envolvendo centenas de milhares de jovens trabalhadores e suas famílias que saíram às ruas em 11 cidades. As manifestações foram organizadas no Facebook pela Geração à Rasc, à parte dos partidos políticos e sindicatos. Estima-se que 200 mil pessoas marcharam em Lisboa e 80 mil no Porto. Os manifestantes exigiram a renúncia do governo e a dissolução do Parlamento, denunciando-os como “ladrões”.

O comentário de Manuel Alegre sobre a manifestação Geração à Rasca foi revelador. Ele disse que era o “maior” movimento que já tinha visto em sua vida, “fora de qualquer estrutura partidária ou sindical” e que representava uma “crise manifesta do sistema” somada à “separação crescente entre os cidadãos e as instituições” que era “perigosa para o futuro da democracia.”

Alegre, com 75 anos de idade, é o “facilitador” da social-democracia, promovido como “veterano de esquerda de Portugal” por grupos pequeno-burgueses, como o Bloco de Esquerda. Vindo de uma origem aristocrática, tornou-se membro do Partido Comunista Português na sua juventude e é deputado do PS no Congresso desde 1974 — ano da Revolução dos Cravos, que marcou o fim da ditadura fascista de Salazar. Em 2004, ele perdeu para José Sócrates a liderança do partido. Ele se manteve como um independente em oposição ao candidato oficial do PS, Mário Soares, para a eleição presidencial de 2006 e recebeu mais votos. Em fevereiro ele se tornou o candidato oficial do PS nas eleições presidenciais, que Cavaco Silva ganhou, e foi apoiado pelo Bloco de Esquerda. Ele também é membro do Conselho Português de Estado, que assessora o presidente.

Manual Alegre esteve intimamente envolvido em mais traições e derrotas das lutas operárias do que talvez qualquer homem vivo em Portugal. Como leal deputado oposicionista, ele se especializou no uso da retórica de esquerda para ocultar a sua inabalável lealdade à burocracia social-democrata e à ordem social capitalista que defende. Suas quatro décadas na política do PS deram a ele experiência para saber que a ação espontânea que está se desenvolvendo contra as medidas de austeridade devem ser contidas e conduzidas por direções oficiais seguras.

[Traduzido por movimentonn.org]

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