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1, 3 mi em greve
Irrompe a luta de classes na África
Por Ann Talbot
1 de setembro de 2010
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Publicado originalmente em inglês em 27 de agosto
de 2010.
A greve de 1,3 milhão de trabalhadores do servico público
na África do Sul é uma avanço significativa
da luta de classes internacional, em resposta à recessão
global e às medidas de austeridade que os governos adotaram
mundialmente. Expressa a contradição fundamental
que existe entre os interesses da classe trabalhadora e todos
os governos que defendem o sistema capitalista.
Isso é fortemente demonstrado pelo caso do Congresso
Nacional Africano (ANC), que veio ao poder com o apoio de um movimento
popular de massas.
Nenhum governo contou com período tão estendido
de boa vontade como o do AN,c desde que assumiu o poder em 1994
sob a presidência de Nelson Mandela, acabando com o sistema
do apartheid e prometendo criar uma "Nação
do Arco-íris" na qual toda a população
compartilharia dos benefícios econômicos do país
rico em recursos minerais. Em vez disso, a divisão entre
ricos e pobres se ampliou, conforme uma pequena camada de empresários
associados com o AN,c se tornou milionária. A "Capacitação
Econômica Negra" deixou a maioria dos apoiadores do
governo vivendo em cidades e áreas rurais que não
possuem nem mesmo os recursos de estrutura mais essenciais.
As tensões de classe se desenvolveram por vários
anos, enquanto o ANC implementava medidas liberais que resultaram
no desemprego acumulado e fracasso em atender às necessidades
das massas populares. O presidente Jacob Zuma depôs o sucessor
de Mandela, Thabo Mbeki, prometendo fornecer empregos, casa e
serviços. Mas ele continuou as políticas pró-empresariais,
o que resultou na crescente desilusão e no ódio
que irromperam na atual ação de greve.
O que começou como uma disputa rotineira da campanha
salarial, com servidores públicos, professores e trabalhadores
de hospital exigindo um reajuste salarial e benefícios
compatíveis com aqueles ganhos por outras seções
da classe trabalhadora, agora ameaça paralisar toda a economia
sul-africana. Mineiros e outros trabalhadores industriais entraram
em ação de solidariedade. A greve já custa
1 bilhão de rand, ou US$135,5 milhões/dia.
A greve levou a classe trabalhadora ao conflito direto com
o governo do ANC e o Estado sul-africano; a polícia usou
balas de borracha e canhões de água contra os trabalhadores,
as cortes judiciais baniram a participação de diversos
setores na greve, e o exército se instalou nos hospitais.
O governo e sua mídia aliada lançaram uma campanha
de difamação contra os grevistas. Ministros governamentais
chamaram os trabalhadores dos hospitais de "assassinos".
O governo está determinado em quebrar a greve e usar
os trabalhadores do serviço público como exemplo.
A ação assumiu uma dimensão política
reconhecida pelo governo, que vê que sua credibilidade está
em jogo.
Os politicos de oposição vindos da Aliança
Democrática querem saber se o governo ou os sindicatos
estão controlando a África do Sul. Mas fundamentalmente,
os bancos globais e especuladores estão atentos para ver
se o ANC tem o que é preciso para lidar decisivamente com
a classe trabalhadora.
O que a elite dominante teme é que a maioria da população,
que não está organizada nos sindicatos, comece a
se mobilizar, iniciando uma insurgência de massas como aquela
que encerrou o apartheid. Cerca de 50% dos jovens estão
desempregados. O nível oficial de desemprego é de
30% e a taxa real é provavelmente de cerca de 40%. As condições
existem para uma explosão social, e uma greve prolongada
do setor público pode ser a faísca.
Líderes sindicais como o secretário geral da
Confederação de Sindicatos Sul-Africanos (COSATU)
Zwelinzima Vavi fazem questão de criticar os ministros
do governo e empregaram sua retórica mais esquerdista numa
tentativa de reter a liderança da greve. Eles têm
consciência do nível de ódio social presente
entre seus membros e estão desesperados para finalizar
a greve antes que ela saia do seu controle. Adiaram a greve para
depois da Copa do Mundo e inicialmente recomendaram que os trabalhadores
do serviço público aceitassem a oferta governamental.
Desesperados por discussões no mais alto escalão,
pediram que Zuma retornasse de sua viagem à China para
que pudesse negociar com eles.
A oposição do COSATU ao governo é meramente
retórica. Permanece parte da aliança tripartite
com o ANC e com o Partido Comunista Sul-Africano (SACP) que sustentou
o governo no poder na última década e meia. Os trabalhadores
sul-africanos conquistaram a democracia formal parlamentarista,
mas não há nada de genuinamente democrático
num governo que põe a defesa dos lucros acima do direito
dos trabalhadores a um padrão de vida decente.
Fissuras profundas estão se abrindo no movimento nacional
sul-africano, conforme fundamentais conflitos de classe reemergem
com imensa força sob o impacto da falência global
do sistema capitalista. Esses conflitos só podem se ampliar,
conforme o governo tenta implementar as exigências dos mercados
globais e competir com outras economias emergentes como Brasil,
Rússia, Índia e China. Cada vez mais, os trabalhadores
sul-africanos entrarão em conflito com seus próprios
líderes sindicais e com o SACP, que insistirá que
a aliança tripartite seja mantida.
A presença do COSATU e do SACP na coalizão governamental
ajudou a manter a ficção de que o ANC é,
de alguma forma, uma organização que reflete os
interesses da classe trabalhadora. É na verdade um movimento
nacionalista burguês que defende os interesses da classe
capitalista. Seu documento de fundação declara explicitamente
sua intenção de criar uma África do Sul capitalista
- na qual empresários negros possam tomar parte da exploração
da classe trabalhadora ao lado de suas contrapartes brancas -
e é precisamente isso o que o ANC fez e continua a fazer.
O SACP deu ao ANC um encobrimento ideológico esquerdista
ao afirmar que o socialismo poderia ser conquistado na África
do Sul por um processo de dois estágios, no qual o governo
democrático da maioria seria obtido primeiro. Num segundo
estágio, o stalinista SCAP afirmava que seria possível
iniciar a luta pelo socialismo. Os trabalhadores, portanto, deviam
subordinar seus interesses de classe à luta nacional até
que surgisse um Estado democrático.
Os stalinistas condenaram o programa marxista da Revolução
Permanente, que insiste que a classe trabalhadora organize seu
próprio movimento revolucionário independente e
assegure a liderança das massas campesinas em oposição
à burguesia nacional com base num programa socialista e
internacionalista. Conforme Leon Trotsky insistia, as tarefas
democráticas que confrontam os países oprimidos
como a África do Sul só podem ser completadas no
decurso de uma revolução socialista e do estabelecimento
de um Estado dos trabalhadores.
A erupção da luta de classes aberta na África
do Sul, a mobilização de milhões de trabalhadores
contra o governo nacionalista do AN,c demonstra conclusivamente
que o único modo de completar a revolução
e resolver questões duradouras como a da distribuição
das terras e a do fornecimento de serviços essenciais é
através da derrubada do sistema capitalista e da organização
da produção com base nas necessidades sociais, e
não no lucro.
(traduzido por movimentonn.org)
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