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Dois anos desde o colapso do Lehman Brothers
Por Nick Beams
20 de setembro de 2010
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Dois anos depois do colapso do Lehman Brothers ter provocado
a maior crise financeira e econômica desde a Grande Depressão
da década de 1930, nenhuma das contradições
fundamentais do sistema capitalista mundial foi resolvido. Ao
contrário, elas assumem formas cada vez mais malignas na
medida em que as classes dominantes em todo o mundo lançam
uma ofensiva contra a classe trabalhadora, para fazê-la
pagar pela crise.
Poucas semanas depois da falência do Lehman, todo o sistema
financeiro mundial estava à beira do colapso. O presidente
dos EUA foi à televisão para avisar que "os
principais setores do sistema financeiro americano estão
correndo o risco de fechar" e que sem medidas de emergência,
"a América poderia cair em um pânico financeiro".
Nada semelhante a isto foi visto desde as profundezas da crise
dos anos 30.
Nos três meses seguintes, o comercio mundial, os investimentos,
o mercado de ações e a produção industrial
começaram a cair mais rapidamente que em relação
ao período após o crash de Wall Street em outubro
de 1929,
O colapso de todo o sistema financeiro só foi contido
através dos maiores pacotes de resgate feitos aos bancos
e instituições financeiras da história. Após
anos refutando todas as demandas por melhorias nas condições
sociais com a resposta não há dinheiro,
governos e bancos centrais de todo o mundo repentinamente encontraram
centenas, se não milhares de bilhões de dólares.
No total, a operação de resgate está estimada
em US$14 trilhões, equivalente a um quarto do produto interno
bruto mundial.
Confrontados pela raiva profunda da população
sobre o fato de que eles estavam salvando as instituições
que causaram a crise, os líderes do governo adotaram uma
certa posição "esquerdista" . Eles insistiram
que ações seriam tomadas para assegurar que isso
não acontecesse novamente. Os bancos e casas financeiras
cujas atividades imprudentes e, em alguns casos, completamente
criminosas, que causaram a catástrofe, seriam trazidos
sob controle.
Figuras da direita, como o presidente francês Nicolas
Sarkozy, blasfemavam contra os excessos do capitalismo. O primeiro-ministro
australiano Kevin Rudd escreveu um ensaio de 7.000 palavras, denunciando
"o neoliberalismo, insistindo que a social-democracia
deveria salvar o capitalismo de si mesmo.
Dois anos depois, longe de serem cortados , os bancos estão
de volta no comando. Depois de uma série de consolidações
e fusões, os bancos dos EUA exercem um controle ainda maior
sobre a economia e, consequentemente, sobre o governo, do que
eles exerciam antes do colapso.
Os lucros voltaram aos níveis pré-crise, e vários
milhões de dólares em bônus foram restabelecidos.
Em todo o mundo as ações dos super-ricos, resultantes
da prosperidade de suas atividades financeiras, estão em
alta de novo, após sofrer uma queda menor em 2009.
Longe de serem obrigados a pagar, os bancos e instituições
financeiras estão lucrando muito mais com a crise que eles
criaram.
Em novembro passado, o executivo-chefe do Goldman Sachs, Lloyd
Blankfein, de maneira extraordinária, declarou que estava
"fazendo o trabalho de Deus". Mas não foi uma
intervenção divina que restaurou a posição
dos bancos. Grande parte do aumento nos lucros do Goldman Sachs
e de seus correspondentes veio do dinheiro fornecido pelo Federal
Reserve, banco central norte-americano, à taxas de juros
próximas de zero e, em seguida, usado para financiar a
dívida pública dos EUA a uma taxa superior.
A operação de resgate, lançada após
o colapso de 2008, não resolve a crise. Ela simplesmente
transferiu os inúteis "ativos tóxicos"
acumulados pelos bancos para o Estado capitalista. Agora, a conta
deve ser paga, não pelo capital financeiro, mas pela classe
trabalhadora. Este é o significado das medidas de austeridade
que estão sendo implementadas pelos governos ao redor do
mundo e do desenvolvimento de formas cada vez mais autoritárias
de impô-las.
Enquanto os bancos lucram, a classe trabalhadora enfrenta um
agravamento da situação. Nos Estados Unidos quase
30 milhões de pessoas estão desempregadas, subempregadas
ou retiraram-se da força de trabalho. O desemprego de longa
duração está em seu nível mais alto
desde a Grande Depressão, enquanto o governo Obama, sob
os ditames do capital financeiro, recusa-se a implementar medidas
para resolver a crise social.
Na Grã-Bretanha, onde a cidade de Londres foi um dos
principais centros mundiais de especulação financeira
e de completa fraude, milhões de pessoas estão prestes
a ser atingidas pelos cortes nos gastos públicos mais severos
em três gerações, ultrapassando, em muito,
aqueles do notório governo Thatcher na década de
1980.
Todos os governos da Europa estão impondo medidas de
austeridade, após o pacote de resgate dos bancos de 750
bilhões de euros em maio, na medida em que os mercados
financeiros exigem que a classe trabalhadora seja obrigada a pagar.
Entretanto, a crise financeira continua a se aprofundar. No mês
passado, Morgan Stanley avisou que longe de ser resolvida, a crise
da dívida soberana não estava confinada à
Europa, mas estendeu-se por todo o mundo. Não era uma questão
de um governo pagar ou não suas dívidas, mas quando
isso aconteceria. Esse aviso foi imediatamente seguido por novas
preocupações sobre a estabilidade financeira da
Irlanda, Portugal e Grécia.
Em um comentário publicado na segunda-feira, o colunista
do Financial Times Wolfgang Münchau observou que dois
anos depois do colapso do Lehman, a fragilidade do
sistema bancário europeu continua. Eu apostaria
que nós ainda estaremos falando disso daqui a cinco anos.
Isso, por sua vez, significa que a crise financeira continuará,
pelo menos na zona do Euro.
No oriente, a economia japonesa vai de um ano de estagnação
econômica para outro sem fim, tendo em vista que a dívida
pública cresce para quase 200% do Produto Interno Bruto.
Qualquer afirmação de que o mundo capitalista
está prestes a entrar em uma nova fase de crescimento porque
a China fornecerá estabilidade é contradita pelo
fato de que o crescimento chinês, por sua vez, depende da
economia mundial. Deve ser lembrado que depois do primeiro grande
colapso do mundo capitalista em 1914, a economia dos EUA desfrutou
um grande boom na década de 20, entrando em colapso no
final da década quando chegou aos limites impostos pelo
mercado mundial.
Além disso, o crescimento da China está criando
uma série de tensões geopolíticas e econômicas,
na medida em que vai contra os Estados Unidos. Estes conflitos
não podem ser resolvidos pacificamente, assim como, em
um período anterior, quando o crescimento da Alemanha e
do Japão não poderia ser aceito pela Grã-Bretanha
e pelos EUA, resultou em duas guerras mundiais no espaço
de menos de quatro décadas.
Quando a crise financeira global eclodiu, o WSWS avisou que
ela teria duas consequências imediatas.
Primeiramente, as classes dominantes em todo o mundo procurariam
readaptar a relação entre as classes e desenvolver
formas mais autoritárias de governo para fazer a classe
trabalhadora pagar pela crise do sistema de lucro. E, em segundo
lugar, haveria uma reestruturação das
relações internacionais na medida em que as rivalidades
e conflitos entre as potências imperialistas se aprofundassem.
Estes avisos sustentaram-se. Nos últimos dois anos,
toda a superestrutura política se deslocou para a direita.
Este processo continuará e acelerará até
que a classe trabalhadora comece a intervir e desenvolver seu
próprio programa socialista para resolver a crise com base
em seus interesses, abrindo o caminho para se livrar do beco sem
saída para o qual o capitalismo levou a humanidade.
[traduzido por movimentonn.org]
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