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Demissões massivas em Cuba: a agonia final do castrismo
Por Bill Van Auken
20 de setembro de 2010
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O anúncio desta semana, de que mais de meio milhão
de trabalhadores cubanos devem ser jogados na rua nos próximos
seis meses, escancarou o caráter de classe do regime Castro.
A medida brutal foi divulgada pela Central de Trabajadores
de Cuba (CTC), o corpo sindical controlado pelo governo que representa
não os trabalhadores cubanos, mas as camadas dominantes
dentro do aparato estatal.
O anúncio da CTC começou com uma convocação
ritualística dos 52 anos da revolução cubana
e uma afirmação da vontade e determinação
da liderança de nossa nação e de nosso povo
em continuar a construir o socialismo.
As palavras vazias desses burocratas estatais não podem
esconder o fato de que o regime Castro está executando,
de uma forma particularmente brutal e anti-democrática,
o mesmo tipo de programa de austeridade idealizado pelos governos
capitalistas do mundo todo. Em Cuba, como na Grécia, Espanha,
Grã-Bretanha, Estados Unidos e outros países, o
objetivo desse programa é impôr o fardo pleno da
crise capitalista sobre a classe trabalhadora.
Sem qualquer aviso, os trabalhadores serão privados
de seus empregos no setor estatal, praticamente o único
empregador de Cuba, para subsistirem como puderem.
Esse prospecto foi declarado ainda em um documento, que veio
à tona logo após o anúncio, intitulado Informações
sobre o Reordenamento da Força de Trabalho, uma apresentação
em estilo Power Point que foi aparentemente esboçada para
uso na preparação do massacre contra os empregos
cubanos.
O documento enfatiza repetidamente a necessidade de eliminar
o tratamento paternalista dado aos trabalhadores cubanos.
Com esse termo não se refere, porém, à intervenção
dominadora dos irmãos Castro em cada área da vida
econômica e social, mas sim aos benefícios sociais
limitados e garantias que possibilitavam que os trabalhadores
cubanos sobrevivessem, apesar de um salário mensal, que
em média equivale a US$20 ao mês.
Entre as primeiras políticas paternalistas
destinadas ao corte - por razões óbvias - está
o pagamento de benefícios-desemprego. O documento declara
que trabalhadores com menos de 20 anos de idade receberão
60% de seu salário básico por somente 1 mês,
antes do benefício ser completamente eliminado.
O documento diz que entre as oportunidades de auto-emprego
às quais os trabalhadores serão direcionados, estão:
cortar cabelos, produzir tijolos, dirigir táxis, vender
doces/frutas secas e criar coelhos! O documento expõe claramente,
referindo-se a esses novos empreendimentos, que muitos
deles podem falir em um ano graças ao baixo grau
de experiência dos trabalhadores e falta de acesso a matérias-primas,
crédito e outras formas de apoio empresarial. Não
há indicação de que o Estado tenha planos
para auxiliar os que sofram falência.
Vislumbra-se aqui a promoção daquilo que, no
resto da América Latina, os tecnocratas conhecem como economia
informal, um setor que engloba mais de metade da população,
composto pelos pobres urbanos cujas fileiras foram avolumadas
por ondas de privatizações e programas de ajuste
estrutural através do continente.
Outros ataques sobre o paternalismo em Cuba incluem
a eliminação das cafeterias nos locais de trabalho,
nas quais os trabalhadores almoçavam de graça, o
corte dos cartões de ração e uma reforma
no setor de saúde com a finalidade de reduzir os serviços.
Tudo isso está acontecendo com a hostilidade aberta
da elite dominante em relação à classe trabalhadora
cubana. Esse traço foi exposto pelo presidente cubano Raúl
Castro, que declarou sua determinação de apagar
para sempre a noção de que Cuba é o único
país do mundo onde se pode viver sem trabalhar.
Trata-se de uma calúnia. Os trabalhadores cubanos são
tanto industriosos quanto os de qualquer outro país, e
mal são pagos pelo seu trabalho. Mas eles não controlam
a produção e, muito menos, o Estado que os governa,
o Estado que é dominado por uma camada dos burocratas privilegiados
e corruptos.
Essa camada forjou laços cada vez mais estreitos com
o capitalismo internacional, abrindo o país para a exploração
para as multinacionais de origem espanhola e outras nacionalidades
européias, assim como empresas da China, Brasil, Rússia
etc. Esse capital estrangeiro domina cada vez mais áreas-chave
da economia.
Os intermináveis escândalos de corrupção
que envolveram um ministro após o outro são sintomáticas
de uma elite dominante, que quer seu próprio pedaço
da torta dos negócios com o capital estrangeiro e está
engajada na acumulação cada vez mais aberta de riqueza
pessoal, mesmo enquanto exige medidas de austeridade selvagens
contra os trabalhadores.
Por meio século, os nacionalistas pequeno-burgueses
da América Latina e suas contrapartes de esquerda
no resto do mundo afirmaram que a Revolução Cubana
de 1959, que trouxe Fidel Castro ao poder, era socialista,
e que o regime que dela surgiu constituía-se num estado
dos trabalhadores.
Na realidade, o regime Castro foi o produto não de uma
revolução dos trabalhadores, mas de um movimento
de guerrilha baseado na pequena-burguesia cubana. O Estado cubano
não foi criado pelos trabalhadores, mas imposto sobre eles,
até mesmo sob a forma da vergonhosa federação
sindical que defende os interesses do Estado e dos capitalistas
estrangeiros.
O Estado cubano foi uma das variantes mais esquerdistas
entre o grande número de regimes nacionalistas-burgueses
surgidos nos países oprimidos durante as décadas
pós-Segunda Guerra Mundial, regimes que com frequência
se auto-proclamavam anti-imperialistas e socialistas
conforme implementavam políticas de nacionalização
econômica.
Por três décadas, a economia cubana se baseou
fortemente em subsídios da União Soviética,
fornecidos como parte de uma barganha faustiana na qual Castro
defendia as políticas contra-revolucionárias da
burocracia stalinista de Moscou no palco mundial. A dissolução
da burocracia da URSS em 1991 jogou o regime Castro numa crise
incurável, à qual respondeu com uma virada em direção
ao capital estrangeiro e uma redução dos padrões
de vida dos trabalhadores cubanos.
O mito de que o castrismo representou uma espécie de
novo caminho para o socialismo foi promovido de forma mais voraz
pela tendência revisionista pablista que atacou a Quarta
Internacional. Ela abraçou a Revolução Cubana
como um meio de abandonar a luta do movimento trotskista para
forjar a independência política, e desenvolver a
consciência socialista da classe trabalhadora contra a dominação
das burocracias stalinistas e reformistas, e o nacionalismo burguês.
A promoção de ilusões no castrismo e no
guerrilheirismo teve as mais catastróficas consequências
para a América Latina, onde uma geração de
jovens radicalizados foi separada da classe trabalhadora e jogada
em lutas armadas suicidas que foram afogadas em sangue
pela sucessão de ditaduras militares.
A liquidação dos quadros trotskistas nesses movimentos
guerrilheiros assegurou a continuidade da dominação
das burocracias stalinistas e peronistas, e sua habilidade de
sufocar e trair a onda de lutas revolucionárias que varreu
o continente.
Hoje, a pior crise do capitalismo mundial em 70 anos está
criando as condições para uma nova erupção
da revolução social na América Latina e internacionalmente.
É vital assimilar as lições estratégicas
do último período de levante revolucionário,
acima de tudo, aquela da necessidade de construção
de partidos revolucionários independentes da classe trabalhadora,
com base no programa do internacionalismo socialista.
O Comitê Internacional da Quarta Internacional tem convicção
de que esse programa atrairá as seções mais
avançadas dos trabalhadores através da América
Latina e fornecerá uma orientação revolucionária
para as amargas lutas sociais que inevitavelmente emergirão,
inclusive em Cuba.
[traduzido por movimentonn.org]
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