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Itália: milhares de estudantes protestam contra cortes
na educação
Por Marc Wells
29 de novembro de 2010
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Dezenas de milhares de estudantes marcharam em cidades italianas
na quarta-feira para protestar contra os cortes na educação
implementados pelo governo de Silvio Berlusconi. Os protestos
aconteceram no mesmo dia das manifestações em massa
dos estudantes na Grã-Bretanha contra o corte no orçamento.
Na Itália, os estudantes se mobilizaram em mais de 50
cidades e ocuparam 44 das 66 universidades públicas, fazendo
piquetes, paralisando aulas e subindo no topo dos edifícios
da faculdade. Algumas das ocupações continuaram
durante a noite.
As maiores manifestações aconteceram em Roma.
Um grupo de estudantes protestou em frente à Câmara
dos Deputados, enquanto outro grupo tentou entrar no Senado, apesar
de ter sido impedido pela tropa de choque.
Os estudantes gritaram palavras de ordem como "Ridateci
il nostro futuro!" (Devolvam o nosso futuro!), "No
ai tagli!" (Não aos cortes!), "Dimissioni!"
(Demissões!) e "I veri terroristi siete voi!"
(Os verdadeiros terroristas são vocês!).
Pedras e ovos foram jogados contra os prédios do governo.
Doze estudantes, um oficial da polícia e oito Carabinieri
(polícia militar) sofreram feridas leves. Dois estudantes
foram presos, e foram apresentadas queixas contra 27 manifestantes.
Manifestações aconteceram em Pádua, onde
a polícia prendeu estudantes; em Pisa, estudantes bloquearam
várias pontes; e em Siena, 100 estudantes ocuparam a ferrovia.
Também houve protestos em Florença, Turim, Nápoles,
Pavia, Perugia, Palermo e Salerno. Professores e pesquisadores
se uniram aos manifestantes.
A União da Universidade (uma federação
de grupos sindicais de estudantes) declarou que "não
tem a menor intenção de parar. Nós temos
toda a intenção de intensificar a luta se o governo
continuar a ignorar as demandas provenientes do mundo acadêmico".
As Reformas Gelmini (nomeadas devido a Mariastella Gelmini,
ministra da Educação) são o principal alvo
dos protestos. Elas são uma série de decretos executivos
e leis que, juntamente com a lei do orçamento de 2010,
aprovada em dezembro passado, fazem parte de um forte ataque ao
ensino público. Em 2008, o projeto de lei provocou uma
série de protestos em massa e greves no segundo semestre
do mesmo ano.
Estas "reformas" equivalem a uma diminuição
drástica dos fundos para a educação pública,
resultando em demissões em massa e programas de redução.
O ataque à educação é um fenômeno
internacional. No Reino Unido, na quarta-feira, dezenas de milhares
de alunos saíram das aulas contra a triplicação
das taxas de ensino. Milhares participaram de uma manifestação
em Londres, onde mais de 1.000 foram fichados e contidos pela
polícia por horas. A polícia usou cassetetes para
afastar os alunos que tentaram chegar ao parlamento.
As manifestações na Grã-Bretanha aconteceram
duas semanas depois de mais de 55.000 tomarem as ruas em todo
o Reino Unido. As medidas repressoras tomadas pelo governo incluiu
a prisão de dezenas de estudantes.
Nos EUA, houve protestos e, em alguns casos, ocupações
no estado da Califórnia contra o aumento das taxas em mais
de 30%.
Os cortes na educação da Itália e do Reino
Unido são parte de uma onda de austeridades em toda a Europa
destinada a obrigar os trabalhadores e jovens a pagar pela crise
econômica.
Na semana passada, a especulação do mercado sobre
a dívida irlandesa aumentou a pressão para um novo
resgate multibilionário dos bancos, que será pago
por medidas adicionais de austeridade dirigidas à classe
trabalhadora irlandesa. Em meio a esse "contágio",
Portugal e Espanha estão sendo vigiados cuidadosamente.
Um descuido da Espanha iria colocar em grave risco a viabilidade
do euro, bem como da União Europeia como um todo.
Depois da Espanha, a Itália é a próxima
na linha, com uma economia oscilante, uma grande dívida
nacional, uma enorme crise política e elevado desemprego.
Como na Grã-Bretanha, a resposta da classe dominante
italiana é a garantia da repressão. O neofascista
Gianfranco Fini, presidente da Câmara dos Deputados, referindo-se
aos protestos estudantis, declarou que "condena firmemente
este incidente inaceitável de violência e intolerância."
Duas semanas atrás, Fini deixou o governo de Berlusconi,
abrindo uma crise política que levará a um voto
de confiança em 14 de dezembro. Este é o dia após
o outra medida de austeridade - a lei orçamental de 2011
(agora chamada de "Lei de Estabilidade") - estar marcada
para a votação.
O presidente do Senado, Renato Schifani, um membro do Popolo
della Libertà de Berlusconi (PDL, Povo da Liberdade)
foi ainda mais explícito na ameaça de violência
contra os estudantes. Ele observou que o governo tem feito muitos
"apelos ao senso de responsabilidade a fim de reduzir os
tons e evitar uma situação em que o aumento da violência
e da intolerância se transformem em atos de incivilidade
que poderiam provocar mortes."
Este é um aviso claro de que a classe dominante está
pronta e disposta a utilizar toda a força necessária
para reprimir qualquer protesto ou dissidência. A ameaça
após anos de ataques crescentes contra o nível de
vida e os direitos democráticos dos italianos por ambos
os governos de centro-esquerda e centro-direita.
A chamada oposição também apoia os cortes
na educação. O secretário do Partido Democrático,
Pierluigi Bersani, pregou uma peça quando ele se juntou
aos alunos e professores sobre o telhado do edifício da
faculdade de arquitetura em Roma. Apesar de posar como um apoiador
dos protestos, sua presença é entendida como um
sinal para a burguesia de que os democratas estão prontos
para assumir o controle da situação e redirecionar
a oposição para canais seguros.
A declaração de Bersani dá uma ideia de
como um governo democrático iria resolver a crise da educação.
Segundo ele, "mesmo na Grécia, eles estão a
implementando reformas sociais e educacionais. Cedo ou tarde nós
também chegaremos lá."
Assim como na Grécia, onde a classe trabalhadora tem
visto cortes de salários de 30% e ataques sem precedentes
sobre os benefícios sociais, Bersani está oferecendo
seus serviços para a implementação de duras
medidas de austeridade na Itália.
[traduzido por movimentonn.org]
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