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China: Relatório expõe o opressivo regime de
trabalho na Foxconn
Por John Chan
8 de novembro de 2010
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Um relatório publicado no mês passado, sobre as
condições de trabalho dentro das fábricas
da gigante eletrônica chinesa Foxconn, fornece detalhes
esclarecedores sobre o regime opressor que tolhe milhares de jovens
operários.
A investigação vem depois da temporada de revolta
na China em função dos suicídios nas plantas
da Foxconn, que aconteceram este ano. Suas descobertas foram amplamente
divulgadas na mídia estatal chinesa, indicando um certo
grau de aprovação oficial. Ao fazer isso, o Partido
Comunista Chinês (PCC) tenta se desvincular das práticas
opressoras nas fábricas de super-exploração
do país - práticas que vêm das condições
criadas pelo Estado e que são mantidas através de
seus métodos policialescos.
Embora limitado em suas conclusões, o relatório
representa uma indiciação contra as condições
de exploração sob as quais vivem os trabalhadores
chineses, e principalmente os milhões de jovens trabalhadores
rurais migrantes nascidos nas décadas de 1980 e 1990. Foram
essas as camadas que iniciaram uma onda de greves em maio e junho
em plantas automotivas e eletrônicas, exigindo a melhoria
de salários e de condições de trabalho.
A investigação, conduzida de junho até
agosto, foi realizada por 60 acadêmicos e estudantes de
20 universidades da China, Hong Kong e Taiwan. Envolveu pesquisas
feitas com 1.736 trabalhadores em 12 fábricas, baseadas
em nove cidades diferentes, e 19 membros da equipe investigativa
que trabalharam na Foxconn por vários meses.
A Foxconn é a maior empresa subcontratada para a produção
de eletrônicos do mundo, e produz para grandes corporações
mundiais como Apple, Dell e Nokia. Em 2009, a companhia exportou
US$59,3 bilhões em produtos manufaturados - uma quantia
maior que o montante de exportações anual de alguns
países de economia de médio porte, como Finlândia
e Portugal.
A vasta maioria dos mais de 900 mil empregados da Foxconn está
na faixa etária de 16 a 24 anos. O relatório descobriu
que muitos trabalhadores são também estudantes estagiários,
apontando para o papel das escolas como agentes de força
de trabalho para as fábricas do país. No complexo
da Foxconn na cidade de Kunshan, por exemplo, havia 10 mil estudantes
presentes durante as férias de verão, em um total
de força de trabalho de 60 mil.
A maioria dos estagiários vem de escolas técnicas.
Com idade de entre 16 e 18 anos, eles são forçados
a trabalhar na linha de montagem por até 2 anos. Sem contrato
ou direitos legais, os estagiários contam com o mais baixo
salário mensal de 1,200 yuan (US$180). Os estudantes são
ilegalmente forçados a fazer horas-extras e turnos da noite.
Jornadas de 10 horas, sem pagamento de hora-extra, são
comuns.
Em 2006, o ministério da educação implementou
uma medida regulatória que dava passe livre para que os
empregadores explorassem estudantes estagiários em nome
da combinação do estudo com o trabalho.
Sob condições nas quais os gastos em educação
pública foram cortados, muitas escolas correram para mandar
estudantes para o trabalho como forma de conseguir renda adicional.
A escolas recebem uma contribuição por sua cooperação
com as empresas privadas.
Os estudantes estão entre os mais explorados trabalhadores
da Foxconn. As pesquisas mostram que 73,3% dos empregados trabalham
10 horas, ou mais, por dia. A média individual de horas-extras
totais é de 83,2 horas por mês - um óbvio
desrespeito às leis oficiais do trabalho, que limitam em
36 horas o montante de horas-extras mensal.
Além disso, ao estabelecer metas de produção
irrealizáveis para cada turno, a Foxconn força os
trabalhadores a fazer a chamada hora-extra voluntária,
sem pagamento até que as cotas sejam atingidas. A investigação
descobriu que desde o escândalo dos suicídios, a
Foxconn somente intensificou as cargas de trabalho, em nome do
corte das horas-extras.
Um trabalhador do gigante complexo de Longhua, em Shenzhen,
explicou: É simples: você precisa terminar
em cinco dias o que antes era feito em seis, porque a companhia
não é burra de atrasar os pedidos para diminuir
as horas-extras dos trabalhadores. Em outras palavras, a quantidade
de pedidos é a mesma, o tempo de produção
desses pedidos foi diminuído, e naturalmente nossa produção
aumentou num dado período de tempo. A exploração
se intensificou.
O relatório analisou o impacto dessa intensificação.
Sob elevada pressão, 12,7% dos trabalhadores tiveram desmaios,
24,1% dos trabalhadores do sexo feminino tiveram irregularidades
em seu ciclo menstrual e 47,9% dos trabalhadores reclamaram de
estresse psicológico.
Como resultado do baixo salário, a maioria dos trabalhadores
é forçada a viver em dormitórios fabris superlotados.
Em média, cada trabalhador tem um espaço de cerca
de dois metros quadrados. Eles raramente conversam uns com os
outros porque estão exaustos demais. A comida é
de má qualidade. Nas palavras de um trabalhador, você
precisa aprender que comer é pra encher o estômago,
não pelo sabor. Diarréia causada pela higiene
comprometida é um problema comum.
A maioria dos trabalhadores não pode pagar pela celebrada
estrutura de entretenimento da companhia, que inclui piscinas
e cinemas. Eles gastam seu pouco tempo livre na internet. De acordo
com um relatório, o resultado é a alienação
dos trabalhadores, que causa danos psicológicos coletivos
aos trabalhadores e causando suicídios.
A filosofia da Foxconn
O bilionário presidente da Foxconn, Terry Guo, elaborou
uma filosofia corporativa - um código empresarial
que resume e justifica o regime de molde militar imposto nas fábricas
da companhia. Um de seus ditados diz que a democracia é
a coisa mais ineficiente do mundo. Embora nenhum local de
trabalho capitalista seja organizado democraticamente, o regime
da Foxconn exclui qualquer voz para os trabalhadores. É
um sistema implacável de regras e punições.
De acordo com Guo, os trabalhadores não precisam de
uma mente independente. Eles devem seguir estritamente as instruções
da administração e repetir mecanicamente algumas
operações simples. Os trabalhadores só podem
entrar nas suas zonas de trabalho após passarem por múltiplas
checagens de segurança. Como num exército, os trabalhadores
e os administradores estão rigidamente organizados em uma
hierarquia, com diferentes uniformes e diferentes direitos. É
comum o abuso verbal e físico pelas mãos dos superiores.
As regras de trabalho da Foxconn incluem: primeiro, é
proibido dormir, falar, dar risada ou andar; segundo, os trabalhadores
devem assinar um documento para deixarem seus postos e irem ao
banheiro por um período que não exceda 10 minutos;
terceiro, as cadeiras devem ser dispostas organizadamente e não
podem atravessar as linhas amarelas; quarto, todos os uniformes
devem estar limpos e arrumados.
Qualquer violação dessas regras pode ativar uma
gama de 127 punições, de avisos formais à
demissão. Muitas punições informais são
usadas, incluindo copiar os dizeres de Guo centenas de vezes ou
fazer auto-críticas públicas humilhantes.
Embora o culto a Mao seja uma memória distante na China,
um novo culto de personalidade foi criado em torno de Guo na Foxconn.
Os trabalhadores são doutrinados com sua história
de sucesso e ascensão social. Os contos de
outros empresários conhecidos como Bill Gates são
ensinados nos cursos de treinamento. Como o relatório explica,
o propósito é fazer os operários mais devotados
aos seus trabalhos de modo que possam ser mais ativamente
explorados pela Foxconn.
O regime da Foxconn é assegurado por uma onipotente
força de segurança. O relatório descreve
a Foxconn como uma cidade proibida - fora do limite
para forasteiros. Mesmo a polícia não pode entrar
com facilidade. Se os trabalhadores telefonam para o fone de emergência
da polícia, suas chamadas são automaticamente redirecionadas
para o departamento de segurança da companhia. Um trabalhador
do complexo de Shenzhen Guanlan explica: A Foxconn é
uma instituição violenta, como um Estado com seu
próprio exército e sua própria polícia.
As investigações descobriram uma hostilidade
geral em relação aos sindicatos estatais. Eles
são inúteis, mesmo quando você faz uma reclamação,
diz um trabalhador. Eles estão no mesmo barco da
companhia, outro comenta.
O principal papel dos sindicatos não é defender
os direitos básicos dos trabalhadores, mas glorificar o
regime corporativo da Foxconn. Nos comícios da companhia
em agosto, os sindicatos traziam seus próprios retratos
de Guo. Burocratas do sindicato declaravam: Vovô Guo,
você trabalhou duro demais.
Como o relatório explica, os trabalhadores certamente
são livres' para escolherem sair da Foxconn, mas
sob o sistema econômico e social da China enquanto fábrica
do mundo', os trabalhadores só podem escolher trabalhar
para uma ou outra superfábrica, ou se venderem para esta
ou aquela Foxconn'. Mesmo o processo de pedido de
demissão, porém, não é automático.
Trata-se de um procedimento complicado, que requer a aprovação
de 15 funcionários administrativos, sendo ditado pelos
requerimentos de força de trabalho da Foxconn, e pode levar
meses.
Conclusões manipuladas
O relatório aponta para a falta de direitos democráticos
básicos para os trabalhadores, para as políticas
governamentais ativamente pró-empregador e para o caráter
discriminatório do sistema de moradia urbana da China,
que relega os migrantes rurais à condição
de cidadãos de segunda classe. Emprega terminologia pseudo-marxista,
se referindo criticamente à extração de máxima
mais-valia dos trabalhadores e à exploração
dos trabalhadores pelo capital transnacional.
O relatório declara ainda que a mão negra
por trás da Foxconn é o modo de produção
capitalista monopolista, e a não ser que esse modo de produção
seja mudado, (...) novas tragédias são inevitáveis.
Ele afirma: na cadeia global de indústrias, dominada
por corporações transnacionais, a fabricação
está na base da taxa de lucro, com os menores salários
para os trabalhadores. Com a ameaça da mudança
de fornecedor, as corporações transnacionais forçam
seus fornecedores a rebaixar os salários, prolongar as
horas de trabalho e intensificar as cargas.
Mas as conclusões do relatório foram obviamente
enquadradas nas necessidades políticas do regime do PCC.
Suas recomendações se traduzem em apelos a um governo
que é responsável por transformar a China na pólo
de superexploração mundial. Pede melhores salários,
reconhecimento dos direitos dos trabalhadores e desenvolvimento
de indústrias de alta tecnologia que criem melhores padrões
de vida para os trabalhadores.
Mesmo numa improvável implementação pela
burocracia do PCC de todas as propostas do relatório, o
atual modo capitalista de produção continuará
a reproduzir as condições opressivas que são
enfrentadas por centenas de milhões de trabalhadores na
China. Dado o aprofundamento da crise global do capitalismo, porém,
as elites dominantes da China, como suas contrapartes no resto
do mundo, continuarão a intensificar sua exploração
sobre a classe trabalhadora.
The only means of ending capitalism is through its revolutionary
overthrow by the working class. To combat the giant transnational
corporations that dominate the global economy, the only alternative
is for workers in China to unite with their class brothers and
sisters around the world on the basis of a socialist and internationalist
program.
O único meio de acabar com o capitalismo é com
a sua derrubada revolucionária pela classe trabalhadora.
Para combater as gigantescas corporações transnacionais
que dominam a economia global, a única alternativa para
os trabalhadores chineses é se unir com seus irmãos
e irmãs de classe em todo o mundo com base num programa
socialista e internacionalista.
[traduzido por movimentonn.org]
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