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Trabalhadores gregos denunciam cortes de Papandreou
Por Alex Lantier
18 de maio de 2010
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Repórteres do WSWS entrevistaram trabalhadores em Perama,
uma cidade operária nos subúrbios de Atenas. Perama
abriga o terminal oeste do Porto de Pireus, incluindo um complexo
de descarregamento de contêineres, um estaleiro para reparo
de navios e um terminal de balsas para passageiros. O Porto de
Pireus é o maior porto comercial em toda a Grécia
e fica ao leste da Bacia do Mediterrâneo. Antes da explosão
da crise econômica, o porto gerenciava 20 milhões
de toneladas de mercadorias por ano.
Os trabalhadores em Perama se mostraram amargamente revoltados
com o primeiro ministro grego George Papandreou, que antes de
sua eleição em outubro passado disse que aumentaria
os gastos sociais com um pacote de investimento de bilhões
de euros. Imediatamente após ser eleito, Papandreou cortou
os gastos orçamentários para atender às exigências
dos bancos e da União Européia (UE). Papandreou
emprestou 110 bilhões da UE e do Fundo Monetário
Internacional (FMI), em troca de promessas de que levaria adiante
massivos cortes de gastos contra a população.
Os trabalhadores de Perama também denunciaram os sindicatos
-- cujos líderes vêm principalmente do PASOK de Papandreou
e trabalham lado a lado com o governo -- por organizarem apenas
protestos fracos e esporádicos contra os cortes. Trabalhadores
mais velhos com freqüência compararam a situação
econômica atual com aquela do governo da junta militar apoiada
pelos EUA que esteve no poder entre 1967 e 1974, afirmando que
hoje em dia os trabalhadores vivem sob piores condições.
O WSWS visitou tanto o estaleiro de reparo de navios quanto
as docas de descarregamento de contêineres, ambas funcionando
muito aquém da capacidade. Os dois locais viram sérios
acidentes de trabalho que ocorreram recentemente.
Panayotis trabalhou por vinte anos nos estaleiros de reparo
de Perama. Ele disse que "a maior parte dos trabalhadores
foi demitida de um ano e meio para cá. Não sabemos
se os empregos vão voltar. Estamos reduzidos a 500 trabalhadores;
antes eramos 5 mil. As condições de trabalho são
péssimas: altas temperaturas, muitos gases venenosos. O
turno padrão dura 8 horas, mas, contando as horas-extras,
você trabalha por 12 horas. Os trabalhadores começam
a trabalhar aqui ganhando 1500 por mês."
Tassos completou: "Não sabemos nada sobre o que
vai acontecer aos nossos planos de aposentadoria. Nós ouvimos
coisas na TV, mas nada está claro."
Questionado sobre o que achava de Papandreou, Panayotis disse
que "ele nos enganou com promessas eleitorais. Ele não
fez os ricos pagarem. Houve pacotes de resgate em todos os países;
é uma crise global. Estas são as piores condições.
Os trabalhadores obtiveram conquistas graduais após [a
queda da junta militar, em] 1974, através de greves, de
luta. Quem podia fazer greve durante o governo da junta, afinal
de contas? Então [as melhorias das condições
de vida dos trabalhadores] tiveram de vir depois de 1974."
Em um café dentro do estaleiro, Kiriakos, um soldador,
afirmou: "Vemos muitos acidentes de trabalho, e houve diversas
fatalidades. Um ano e meio atrás, oito trabalhadores perderam
suas vidas. Eles ficaram presos e depois foram envenenados pelos
gases." Kiriakos continuou, "nós entramos em
greve por 10 dias, exigindo medidas de segurança. Falamos
com o ministério, mas as palavras deles não serviram
de nada"
Theophilos disse que "eles nunca tomam medidas de segurança
por aqui. Você está basicamente algemado ao patrão."
Dimitris afirmou: "A vida é muito difícil.
O problema não é [o nível] dos salários,
mas que quando você está desempregado, você
não recebe salário algum. Nos últimos um
ano e meio, não vimos nenhum trabalho grande chegar. Nos
últimos 5 meses, só fizemos o trabalho de 20 dias.
Sério, nós estamos desempregados."
Theophilos disse: "Ninguém está seguro,
você não está assegurado para o desemprego"
porque se um trabalhador deixar de fazer um pagamento de 67
sequer ao fundo de seguro-desemprego, ele perde automaticamente
seus benefícios.
Questionado sobre o que os trabalhadores do estaleiro pensam
de Papandreou, Kiriakos respondeu: "Esta é nossa segunda
casa. Eles terão que roubar nosso sangue se quiserem fechar
isto aqui. Nós precisamos de empregos. Muitos divórcios
acontecem quando trabalhadores perdem seus empregos. A Grécia
tem a maior frota de navios transportadores do mundo, e os patifes
dos proprietários de navios não trazem empregos
para cá." Falando sobre o pacote de resgate do FMI,
ele disse que "o dinheiro do FMI vai somente para a elite,
e os trabalhadores são deixados na rua."
Os trabalhadores do estaleiro e os repórteres do WSWS
discutiram como os bancos e políticos estão agindo
para fazer que os trabalhadores paguem pelos resgates ao redor
do mundo. Os trabalhadores perguntaram sobre o papel dos EUA no
desprezado pacote de resgate grego organizado pelo FMI, no qual
o governo dos EUA efetivamente tem poder de veto. Alguns ficaram
surpresos ao ouvirem sobre os problemas de desemprego e pobreza
que confrontam muitos trabalhadores dos EUA, já que na
Grécia os EUA muitas vezes são descritos como um
país rico.
Ao final, todos concordaram que os trabalhadores gregos e americanos
precisavam lutar contra um inimigo comum: os bancos e políticos
que tentam fazer os trabalhadores pagarem pela crise. Vassilis,
um aposentado de 63 anos, disse: "Eu viajei pelos EUA e pela
Ásia na marinha mercante. Os EUA eram um bom país;
algumas pessoas dizem coisas ruins sobre os americanos, mas eu
não. Pode ser que eles tratem muito mal as pessoas do outro
lado do oceano, mas dentro dos EUA tratam uns aos outros com respeito.
Eu pensei em trabalhar nos EUA como um soldador, mas não
teria conseguido o visto de trabalho."
Ele explicou, "Eu comecei a trabalhar aqui durante o governo
da junta. Você precisava de um passe especial para entrar.
Se você fosse um esquerdista, eles não te davam emprego,
então nós tínhamos que fazer malabarismos
[para conseguir emprego]. Depois que a junta caiu, os que assumiram
eram todos bandidos. As coisas são piores hoje do que durante
a junta. Comparativamente, as pessoas vivam bem naqueles anos."
Os trabalhadores expressaram preocupação quanto
ao futuro de seus filhos, pois está ficando muito difícil
pagar pelas aulas particulares extras tradicionais. Theofilos
disse que "nossos filhos vão acabar analfabetos; só
os filhos dos políticos vão estudar de agora em
diante. Eu tenho três filhos."
Os repórteres do WSWS falaram com Lefteris, um trabalhador
de 53 anos da municipalidade de Perama, com 16 anos de experiência.
Ele disse, "Nós tivemos cortes nos nossos salários.
O bônus da Páscoa foi cortado e passou de 1000
para 500. O meu salário em si não foi cortado,
mas o décimo-terceiro e décimo-quarto salários
foram eliminados. Meu salário básico bruto é
de 900, mas o aluguel custa 400 e os serviços
e alimentos são custos extras que estão subindo
rapidamente. Por exemplo, um pacote de lentilhas que custava 0,50
hoje custa 0,57, e o detergente foi de 1,80 para 2,00
da noite para o dia."
Falando sobre o governo atual, ele disse: "Papandreou
nos enganou, antes da eleição ele disse que tinha
muito dinheiro. Agora as pessoas estão com fome, há
muita miséria. Não sei se as pessoas nos EUA entendem.
O turismo está entrando em colapso, não há
novos empregos por aqui. Há um desemprego de 25 por cento
em Perama.
Lefteris também criticou os sindicatos como mais um
dente da engrenagem do estamento político corrupto: "Quem
quer que dirija o GSEE [a principal federação sindical
da Grécia] se tornará um parlamentar, é parte
do jogo. [O presidente do GSEE, Yiannis] Panagopoulos se tornará
um membro do parlamento. Não é preciso refletir
muito para chegar nessa conclusão."
Ele afirmou também que a estratégia do GSEE de
realizar greves gerais esporádicas, de um dia, é
covarde: "As greves gerais não conquistam nada. Se
você entra em greve, deve entrar em greve indefinidamente.
Se você fica em greve por 5-10 dias, você não
consegue nada. Se você faz uma greve por tempo indeterminado,
todos devem aderir ao movimento. Sem luta não se conquista
nada."
Falando sobre as conseqüências da crise, Yiannis,
um operador de maquinário das parcialmente estatais docas
de Perama, disse que elas incluem "cortes nos salários
e bônus, provavelmente de um total de 10 por cento, até
agora. Parte do porto foi vendido aos chineses [companhia Costco].
Hoje as máquinas não estão em movimento;
dois anos atrás o porto estava rodando a todo vapor."
Ele descreveu o governo Papandreou como um grupo de "patifes,
ladrões, vigaristas e mentirosos," e disse que havia
pouco greve contra Papandreou. Questionado sobre por que não
havia mais greves, ele disse: "Os trabalhadores não
têm muito dinheiro, então é mais difícil
entrar em greve. Além disso, os sindicatos são marionetes
dos dois maiores partidos."
Os repórteres do WSWS foram convidados ao café
onde os trabalhadores das docas se reúnem. Durante a conversa
os trabalhadores disseram que, apesar de ninguém ter sido
demitido ainda, atualmente eles só têm trabalho suficiente
para manter um terço deles em atividade ao mesmo tempo.
Giorgos, um supervisor da produção, falou sobre
um acidente recente nas docas: "Dois trabalhadores foram
severamente feridos na Costco. Eles estavam trabalhando sem treinamento
adequado, tinham meros 2-3 meses de experiência. A maquinaria
daqui não existe em outros portos da Grécia, e caiu
sobre eles. A companhia privada não adere aos procedimentos
de segurança, e a conseqüencia foi essa. Eles tentam
cortar custos, contratar pessoas sem treinamento, e rezam para
que não haja nenhum acidente. Infelizmente, Deus tem outras
prioridades."
[traduzido por movimentonn.org]
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