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Medidas "contra especulação" ampliam
crise do euro
Por Stefan Steinberg
25 de maio de 2010
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Na terça-feira, 18 de maio, o euro caiu para a sua pior
marca em 4 anos, atingindo 1,21 dólares americanos na Ásia,
conforme os mercados chegavam a um veredito negativo em relação
às medidas implementadas pela União Européia
e Alemanha para restringir algumas formas de especulação
financeira. No mesmo dia, ministros de finanças da UE haviam
concordado com condições para limitar algumas das
atividades dos fundos de derivativos (hedge funds) e fundos private
equity que operam na Europa. O documento que estabelecia essas
condições foi adotado enfrentando oposição
tanto do Reino Unido quanto dos Estados Unidos.
O Secretário do Tesouro dos EUA, Tim Geithner, havia
escrito anteriormente a parlamentares da União Européia
reclamando que as novas regras constituíam protecionismo,
enquanto o ministro da Economia britânico George Osborne,
que pela primeira vez comparecia a um encontro da UE desde a sua
recente tomada de posse, deixou claro que se opunha à nova
diretriz. Atualmente, 80% da indústria de hedge funds européia
se concentra em Londres.
Num desenvolvimento ulterior, a agência regulatória
alemã Bafin proibiu na terça-feira as vendas abertas
sem contrapartida em ações (naked short selling)
- a prática de vender um título ou ação
sem emprestar a garantia ou assegurando que sua garantia possa
ser emprestada. Em paralelo à queda de valor do euro, os
mercados de ações europeus também caíram
bruscamente na quarta-feira, particularmente em reação
ao banimento alemão.
As recomendações com as quais os ministros da
Economia concordaram na terça, o banimento unilateral alemão
contra o naked short selling, e um consenso geral na Alemanha
quanto a um imposto sobre transações financeiras
foram precedidos por uma série de declarações
de importantes figuras políticas européias criticando
as práticas dos fundos de derivativos e outras formas de
atividade especulativa diante da crescente crise da economia grega
que, em questão de semanas, se desenvolveu numa crise de
toda a União Européia.
No dia 6 de maio a chanceler alemã Angela Merkel declarou
que era um "escândalo" o fato dos fundos de derivativos
não terem sido regulados. "De certa forma, é
uma batalha dos políticos contra os mercados", ela
denunciou; batalha que ela declarou estar "determinada a
ganhar". Alguns dias depois, o ministro da Economia sueco
comparou as companhias que especulavam sobre a queda do valor
do euro em relação à crise grega como uma
"matilha de lobos", enquanto o presidente da Bafin,
Jochen Sanio, recentemente disse ao comitê orçamentário
do parlamento alemão que a Europa estava diante de uma
"guerra de agressões dos especuladores, contra a zona
do euro".
Os governos da Alemanha e outros países europeus agora
procuram apresentar as medidas apresentadas no início da
semana como passos importantes na direção da regulamentação
dos mercados financeiros. Nada poderia estar mais distante da
realidade. Tal postura é de motivação fundamentalmente
política e tem um caráter absurdamente hipócrita.
Durante toda a atual crise, o governo alemão e todas as
outras administrações européias seguiram
os ditames dos mercados financeiros sem hesitação,
determinados a defender os interesses de suas elites bancárias
locais.
Nada mudou depois das últimas propostas da UE e Alemanha.
Procurando demonstrar justamente isso, o parlamentar da UE Jean-Paul
Gauzes deu um informe relativo às medidas do Ministério
da Economia da UE na terça-feira: "Este posicionamento
irá assegurar maior transparência e melhor proteção
aos investidores, ao mesmo tempo permanecendo ao lado da indústria
financeira quando ela trabalha pela economia real".
A queda do valor do euro e das ações européias
durante a semana tem pouco a ver com as preocupações
do mercado de que as últimas propostas da UE tenham algum
efeito real sobre operações especulativas. Investidores
experientes concordaram que, independentemente de qualquer nova
legislação européia, os fundos de derivativos
poderão continuar suas atividades - ainda que a partir
de novas localidades. Os analistas financeiros também demonstraram
indiferença diante do banimento contra o naked short selling.
A maioria dessas transações acontece nos EUA ou
no Reino Unido, e na Alemanha são pouquíssimas as
transações do tipo. Sob condições
de um mundo financeiro globalizado, um banimento restrito à
Alemanha não implica em qualquer conseqüência
séria. O maior banco do país, o Deutsche Bank, conduz
suas operações de naked short selling a partir de
uma filial em Londres, e portanto permanece intocado pelo banimento.
A verdadeira razão para a reação negativa
do mercado às últimas medidas na Europa e Alemanha
está no medo dos investidores internacionais de que a Alemanha
e outros governos europeus estejam prestes a ceder à crescente
hostilidade da população contra os bancos e não
estejam suficientemente determinados a levar adiante as medidas
de "consolidação fiscal" exigidas pelo
capital financeiro, isto é, a imposição de
programas de austeridade draconianos por toda a Europa, similares
aos que já são implementados na Grécia, Hungria,
Romênia e Letônia. Ao mesmo tempo os investidores
estão preocupados com o crescente desarranjo nas tentativas
dos governos europeus de desenvolver uma estratégia financeira
e orçamentária comum. O banimento alemão
contra o naked short selling foi implementado unilateralmente
pela Alemanha, isto é, sem que seus parceiros na Europa
fossem consultados, e imediatamente atraiu as críticas
dos seus vizinhos próximos, a França e a Áustria.
O dilema para o governo alemão e outros governos europeus
é que agora eles precisam implementar cortes drásticos
sobre seus próprios orçamentos para pagar pelo resgate
massivo aos bancos e pelas conseqüências da quebra
financeira de 2008. Estão tentando passar a impressão
de que levam adiante algumas medidas punitivas contra os especuladores,
mas sua agenda real permanece sendo ditada pelos bancos.
Isso ficou claro a partir do debate no parlamento, na quarta-feira,
referente ao pacote de resgate de um trilhão de dólares
da UE-FMI para a Grécia. Na sexta-feira os parlamentares
alemães devem votar a fatia de 123 bilhões
do pacote da zona do euro.
Durante o debate, a chanceler alemã destacou o aspecto
de urgência da crise, argumentando que o próprio
futuro da Europa está em jogo. "A atual crise do euro
é o maior teste que confronta a Europa em décadas.
É um teste existencial e precisa ser superado... se o euro
fracassar, a Europa fracassa", disse.
Para enfrentar essa crise, Merkel salientou, a Europa precisa
de "uma reforma abrangente do Pacto de Estabilidade e Crescimento,
com regras de jogo mais duras objetivando conseguir principalmente:
que os Estados membros assumam a responsabilidade por uma administração
orçamentária sólida". Esta é
precisamente a agenda exigida pelos bancos e financeiras internacionais.
Merkel continuou, declarando que o governo alemão proporia
medidas para um "freio de dívidas" para países
europeus em um encontro especial da UE na sexta-feira. Um "freio
de dívidas", que introduz limites estritos sobre o
montante de dívidas que um país pode acumular, forçando
os governos à imposição de programas orçamentários
rígidos, foi introduzido na Alemanha no ano passado pelo
ex-governo de coalizão.
Detalhes das propostas alemãs para a UE vazaram para
o diário financeiro alemão Handelsblatt no início
da semana. De acordo com um documento confidencial do Ministério
da Economia, Berlim pretende exigir "uma rigorosa examinação
independente" dos programas de estabilidade dos países
da zona do euro pelo Banco Central Europeu ou por "um grupo
seleto de institutos de pesquisa". Em seguida, o documento
advoga por medidas punitivas contra países que falhem em
levar adiante as medidas de austeridade exigidas, incluindo a
suspensão do financiamento estrutural para países
da zona do euro e/ou suspensão de 12 meses dos direitos
de voto no Conselho Europeu. Como um último recurso, o
documento inclui até um dispositivo emergencial para o
caso de falência de Estados membros, que transformaria um
país quebrado em "protetorado da Comissão Européia".
Essas propostas, antidemocráticas do começo ao
fim, foram saudadas pelo principal diário financeiro da
Alemanha como "um modelo econômico muito necessário".
O jornal salienta que "a Europa tem tudo para vencer se continuar
nesta direção. A Alemanha deve permanecer firme
em suas posições".
Por trás de toda a fumaça e reflexos de uma "luta
contra os especuladores", a intenção de Berlim
é introduzir poderes semi-ditatoriais e implementar medidas
de austeridade em nome dos bancos da Alemanha e de toda a Europa
numa escala jamais vista desde o governo Brüning, na década
de 1930.
(traduzido por movimentonn.org)
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