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Eleições gerais britânicas: uma mudança
política histórica
Por Chris Marsden
6 de maio de 2010
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Qualquer que seja o resultado das eleições gerais
na Grã-Bretanha de 7 de maio, a vida política britânica
já passou por uma mudança em suas bases.
O aspecto mais extraordinário da campanha eleitoral
é o contínuo derretimento do Partido Trabalhista.
As previsões sobre qual será a forma do governo
de coalizão - o resultado mais provável da eleição
- variam. Mas a probabilidade de um governo de coalizão
é levantada principalmente em função da falência
da base de apoio do PartidoTrabalhista.
O Partido Trabalhista garantiu apenas 33% dos votos em 2005.
Mas as últimas pesquisas avisam que ele ainda pode cair
para o terceiro lugar, atrás dos Conservadores e dos Democratas
Liberais, com a pior predição colocando a parcela
Trabalhista dos votos em meros 18%. Seria a primeira vez que o
Partido Trabalhista ficaria atrás dos Liberais desde 1922.
Até o presente momento o Partido Trabalhista calcula
ainda ser capaz de conseguir despontar como o partido majoritário
no governo graças ao sistema eleitoral britânico
de vitória por maioria relativa, e pode formar uma coalizão
com os Democratas Liberais, cujo suporte veio à tona principalmente
como resultado do desencantamento dos eleitores em relação
ao Partido Trabalhista. Mas hoje as discussões giram em
torno de uma coalização Conservadora-Democrata Liberal.
É difícil dizer mais sobre o provável
resultado da eleição. Tal é o grau de volatilidade
política, que ninguém sabe quantos se manterão
fiéis a sua intenção de voto declarada. Um
terço dos eleitores do Partido Trabalhista dizem que podem
acabar apoiando outro partido.
Nem é possível estimar a proporção
das abstenções, que pode ser uma massiva por parte
daqueles que estão enjoados de todo o estamento político.
O que é certo é que o Partido Trabalhista não
se recuperará dessa humilhação eleitoral
- e nem deveria. O Partido da Igualdade Socialista (SEP) da Grã-Bretanha
e seus candidatos se opuseram a todos os chamados por votos no
Trabalhista como se, de alguma forma, este representasse o mal
menor - posição comum dos vários grupos
de falsa esquerda surgidos nas classes médias. Nós
caracterizamos o Partido Trabalhista como o partido direitista
das grandes empresas, tão ruim quanto os Tories (Conservadores)
- o partido das medidas de austeridade, do militarismo e da guerra,
como provam seus 13 anos no poder.
Essa avaliação não é correta apenas
politicamente, mas é cada vez mais compartilhada por trabalhadores
e jovens que chegaram a conclusões similares não
sentem nada além de desprezo pelo partido de Tony Blair
e Gordon Brown.
O colapso do Partido Trabalhista expressa a relação
transformada entre as velhas organizações que uma
vez constituíram o movimento operário e a ampla
massa da classe trabalhadora.
Por mais de uma década, o Partido Trabalhista agiu como
um representante direto da oligarquia financeira global, confiante
de não enfrentar qualquer grande desafio vindo da classe
trabalhadora. A participação do governo trabalhista
na guerra do Iraque provocou amargura e revolta, que não
puderam encontrar qualquer expressão política porque
o monopólio institucional do Partido Trabalhista foi cuidadosamente
preservado pelos sindicatos e seus apologistas da pseudo-esquerda.
Tudo isso mudou. O início da crise econômica global
em 2008 intensificou enormemente os antagonismos de classe que
não mais podem ser contidos nos quadros da política
oficial. Dezenas de milhões de indivíduos que, na
década passada, ainda podiam respirar artificialmente contraindo
níveis enormes de endividamento na forma de hipotecas e
crédito pessoal, agora enfrentam o declínio absurdo
de seus níveis de vida.
O desemprego ameaçando subir acima da marca dos três
milhões, o perigo de mais demissões, os cortes salariais
e as execuções hipotecárias assombram a maioria
da população.
Por mais de um século, o Partido Trabalhista e seus
sindicatos afiliados foram os principais veículos através
dos quais as lutas da classe trabalhadora se mantinham confinadas
a uma perspectiva de garantia de reformas limitadas, que nunca
ameaçaram a sobrevivência do capitalismo.
O cálculo que está no cerne do projeto do Novo
Partido Trabalhista - de o partido poder manter-se como uma força
política significativa mesmo depois de abandonar suas premissas
de reforma, graças ao apoio da oligarquia financeira -
agora está em ruínas. O resultado dessa estratégia
é a morte, de uma vez por todas, do Partido Trabalhista.
Isso representa uma grande crise política para a burguesia
britânica.
Na última semana surgiram avisos partindo dos círculos
da classe dominante de que os três principais partidos precisam
ser honestos com o eleitorado em relação à
escala da selvageria de cortes que está por vir. Esses
avisos culminaram num relatório do Instituto de Estudos
Fiscais (IFS) declarando que os cortes planejados pelo Partido
Trabalhista e pelos Democratas Liberais são comparáveis
aos impostos pelo Trabalhista na década de 1970.
Tais medidas levaram ao Inverno do Descontentamento
em 1978-79, que trouxe a queda do governo Callaghan. O IFS identifica
as propostas de medidas de austeridade do Tory (Conservadores)
como as mais agressivas desde a Segunda Guerra Mundial. Entre
70% e 80% desses cortes ainda não estão documentados,
e, na realidade, outros são planejados.
Os avisos são motivados por uma preocupação
de que, sem garantir um acordo sobre o que precisa ser feito,
nenhum partido ou agrupamento partidário terá o
mandato necessário para impor as medidas de austeridade.
O problema é que garantir tamanho acordo popular é
impossível. Ninguém concordará em ser privado
de um salário digno, um emprego, uma aposentadoria ou mesmo
uma casa.
Acima de tudo, o Partido Trabalhista não se encontra
mais em posição de explorar a lealdade política
de amplas seções da classe trabalhadora para forçar
os ataques em aliança com os sindicatos.
O colapso do Trabalhista é desse modo um presságio
das enormes lutas de classe que virão, lutas que inevitavelmente
farão surgir um realinhamento político fundamental
na Grã-Bretanha.
O impacto inicial da morte do Partido Trabalhista é
a desestabilização de toda a democracia burguesa,
através da perda da crença, um dia sustentada por
milhões de trabalhadores, de que poderiam garantir seus
interesses pela via do parlamento. Por essa razão, esse
fato constitui um primeiro passo necessário na direção
de um movimento verdadeiramente socialista da classe trabalhadora.
Isso reforça a significância da campanha eleitoral
do Partido da Igualdade Socialista (SEP), e a urgência da
construção do SEP para tornar este desenvolvimento
nascente um desenvolvimento consciente e fornecer a perspectiva
política, o programa e a direção dos quais
a classe trabalhadora precisa.
(traduzido por movimentonn.org)
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