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Vazamento de oleo da BP ameaça ecossistemas
Por Dan Brennan
11 de maio de 2010
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Milhares de barris de óleo cru continuam a vazar no
Golfo do México, duas semanas e meia após a explosão,
no dia 20 de abril, da plataforma de extração de
petróleo Deepwater Horizon - da gigante britânica
BP - matando 11 operários.
Na quinta-feira, um "domo de contenção"
especialmente desenvolvido foi enviado ao cenário do desastre.
A BP espera descer o dispositivo de 200 toneladas e posicioná-lo
por cima da tubulação rompida no leito do oceano,
bombeando o óleo do vazamento para uma embarcação
na superfície. Os engenheiros avisam que, em tal profundidade,
o esforço é experimental e que pode levar dias para
descobrir se vai ou não funcionar.
No meio-tempo, o petróleo continua a sangrar para dentro
do Golfo do México numa taxa de pelo menos 200 mil galões
por dia. Em audiências fechadas do Congresso realizadas
na terça-feira, os executivos da BP admitiram que o poço
pode começar a liberar até 60 mil barris, ou 2,5
milhões de galões por dia.
A mancha de óleo já se configura como um desastre
ecológico envolvendo amplas áreas da costa do Golfo,
independente da região em que o petróleo alcance
o continente.
Na quinta-feira, a BP e a guarda costeira dos EUA confirmaram
que a mancha havia alcançado as ilhas Chandeleur, na Lousiana.
Relatos adicionais citam águas-vivas mortas na baía
de Chandeleur e algas cobertas de petróleo chegando à
costa. A MSNBC informou na segunda-feira que longas faixas de
petróleo flutuante já passaram por South Pass, um
importante canal da Louisiana circundado por mangues que servem
como santuário para caranguejos, ostras, camarões,
peixes e outros frutos do mar.
Ainda assim, o impacto mais grave pode vir somente dentro de
alguns dias, considerando que as condições climáticas
favoráveis mantiveram a mancha de óleo milhas distante
da linha costeira. Os especialistas avisam, porém, que
a mancha atingir a terra não é uma questão
de se, mas de quando. Basta que as condições
climáticas mudem desfavoravelmente.
A ameaça mais imediata é aos ecossistemas vulneráveis
da Louisiana, Alabama, Mississípi e Flórida. As
áreas úmidas dessas regiões já estão
sob severo estresse graças aos furacões recentes
e às décadas de mau planejamento de uso do solo
e péssimo gerenciamento dos recursos hídricos. O
resultado é a perda para o mar de 50 acres de área
úmida por dia, conforme a erosão supera em ritmo
a reposição natural de sedimentos.
Denise Reed, diretora interina do Instituto Pontchartrain de
Ciências Ambientais na Universidade de Nova Orleans, disse
ao New York Times que "o problema com nossos mangues
é que eles já estão sob ameaça, já
estão por um fio." O impacto adicional do petróleo
poderia significar sua destruição.
As áreas úmidas ao longo da Costa do Golfo são
fonte de diversas funções ecológicas vitais,
incluindo o de hábitat para frutos do mar. A pesca comercial,
ao lado da indústria do petróleo, domina a economia
local. A Louisiana é responsável por quase um terço
da pesca bruta do país. É o maior estado produtor
de ostras do mundo, do qual se originam cerca de 250 milhões
de libras desse fruto do mar todos os anos.
O capitão de barco turístico Dan Dix falou sobre
a gravidade da situação do ponto de vista da indústria
de pesca numa entrevista com a Reuters. "Nossa maior preocupação
é que o óleo chegue às plantas do mangue,"
ele disse. "Assim que destruir as plantas, matará
os camarões. Se mata os camarões, mata também
os peixes que se alimentam dele, e se mata os peixes então
não sobra mais nada no Golfo do México. Seria com
certeza um desastre que continuaria por anos e anos."
O governo proibiu a pesca nas águas entre a boca do
rio Mississípi e a baía de Pensacola, Flórida.
A potencial devastação se estende para muito
além das populações de peixe. Os mangues
ao longo da costa fornecem proteção contra as tempestades
e elevação do nível do mar. Ecossistemas
de mangue saudáveis são capazes de armazenar água,
filtrar a poluição e estabilizar a erosão
nas bordas costeiras. Se quantidades grandes de petróleo
atingirem os mangues, isso poderá matar a vegetação
rasteira que fundamenta o ecossistema.
"A vegetação é o que mantém
essas ilhas onde estão", explicou Garret Graves, diretor
do Escritório Estadual de Atividades Costeiras, ao New
York Times. "Quando você mata essa vegetação,
só sobra lama, e lama simplesmente é lavada pra
longe."
A perda de mais mangues significaria maior vulnerabilidade
a furacões como o Katrina, que devastou a Costa do Golfo
em 2005. Para piorar, os cientistas esperam elevação
do nível do mar e intensas tempestades - resultados das
mudanças climáticas.
De acordo com o serviço de Pesca e Vida Selvagem, até
20 refúgios da vida selvagem enfrentam o perigo de grave
contaminação. O Refúgio Nacional de Vida
Selvagem de Ilha Breton, que inclui a ilha Breton e todas as ilhas
Chandeleur em Louisiana, é um hábitat essencial
para dezenas de pássaros, incluindo pelicanos marrons,
gaivotas-alegres, garajaus-reais, gaivinas-de-bico-vermelho e
trinta-réis-de-bando.
Reidar Hindrum, um cientista e especialista em limpeza de petróleo
que trabalha para o Diretorado Norueguês para Gerenciamento
Ambiental, disse ao World Socialist Web Site que a remoção
do óleo da lama e savanas da Costa do Golfo em Louisiana
provavelmente será muito mais difícil do que a limpeza
que se seguiu ao desastre de Exxon Valdez na baía de Prince
William, Alasca, em 1989.
"Será muito difícil", disse Hindrum.
"O óleo provavelmente se fixará na lama. Em
última análise a remoção efetiva do
óleo envolve a remoção da própria
vegetação."
O vazamento não poderia ter ocorrido em pior época
para diversas espécies de pássaros. David Viker,
diretor-assistente regional de pássaros migratórios
para a região Sudeste do Serviço de Pesca e Vida
Selvagem, disse que estamos agora próximos do pico da estação
de migração trans-Golfo.
Hindrum, que trabalhou numa delegação norueguesa
durante a limpeza pós-Exxon, disse que os efeitos dos vazamentos
de petróleo sobre os pássaros e outras formas de
vida selvagem continuarão sendo sentidos por anos. "Nós
tendemos a colocar o foco sobre os próprios pássaros
e suas penas", Hindrum disse. "Mas a longo-prazo, a
sobrevivência desses pássaros dependerá também
de quanto suas presas foram afetadas."
O Serviço de Pesca e Vida Selvagem descreveu algumas
outras áreas que podem enfrentar a devastação
como resultado da chegada da mancha de óleo à costa.
* O refúgio de Bon Secour, no Alabama, possui 7 mil
acres em hábitat para pássaros migratórios,
tartarugas marinhas em fase de reprodução e o rato
de praia do Alabama, uma espécie ameaçada de extinção.
As praias do Refúgio servem de locais de aninhamento para
tartarugas-amarelas e tartarugas-de-Kemp. Mais de 370 espécies
de pássaros foram identificadas no refúgio durante
períodos migratórios, incluindo águias-pescadoras
e garças.
* O refúgio de Grand Bay se estende por 10.200 acres
do Mississípi e Alabama. Espécies encontradas no
refúgio incluem tartarugas-gopher, pica-paus vermelhos
e pelicanos marrons.
* O refúgio do delta do Rio Mississippi cobre 48.800
acres de mangues e lagos. Fornece santuário e hábitat
para aves aquáticas, jacarés americanos, pelicanos
marrons, falcões peregrinos do Ártico, veados, coelhos
do pântano e batuíras-melodiosas. Os mangues e córregos
sustentam uma variedade de espécies de peixe, incluindo
corvinatas-pintadas, peixes-vermelhos, linguados, peixes-gato
e achigãs.
Um símbolo particularmente marcante do perigo para a
vida selvagem no refúgio é o do pelicano marrom,
a espécie escolhida para representar o estado de Louisiana.
Só recentemente ele foi removido da lista de espécies
ameaçadas. O pelicano marrom faz ninho nos pântanos
da Costa do Golfo, principalmente nas áreas mais próximas
do vazamento de óleo.
Embora milhares de metros de barreiras flutuantes tenham sido
colocadas em pontos ao redor dos refúgios habitatos pelos
pelicanos marrons, grandes amplitudes de refúgios naturais
permanecem desprotegidos. As próprias barreiras fornecem
apenas proteção limitada no caso de mar agitado.
"Nossa experiência é de que quando as ondas
excedem três ou quatro metros de altura as barreiras flutuantes
se tornam inúteis," disse Hindrum, do Diretorado Noruguês
para Gerenciamento Ambiental. "Elas podem proteger apenas
pequenas áreas, como baías."
"Você não pode colocar barreiras por toda
a extensão de 60 milhas do refúgio [da ilha Breton],"
disse ao Greenwire o porta-voz do Serviço de Pesca
e Vida Selvagem, Tom MacKenzie. "Não podemos proteger
todos os pássaros. Estamos nos focando nos pelicanos marrons
aninhados porque eles são um recurso estacionário."
Essa abordagem fragmentária foi criticada por defensores
dos pássaros, que temem que a mancha possa dizimar as espécies
da área.
Além das barreiras flutuantes, uma variedade de outras
medidas, como queimas controladas e dispersantes químicos,
estão sendo utilizadas numa tentativa de evitar as piores
conseqüências. Mas essas medidas não vêm
sem seus próprios perigos.
O impacto das centenas de milhares de galões de dispersantes
químicos, em particular, é altamente incerto. Dispersantes
não removem o óleo; na verdade eles diluem a mancha
de óleo quebrando-a em pequenas gotas. A composição
química exata dos dispersantes é desconhecida, pois
eles são protegidos pelos segredos comerciais das companhias.
E embora haja sem dúvida alguma alguns benefícios
na redução da concentração na superfície,
a contraparte, principalmente para os organismos marinhos, é
em última análise pouco conhecida.
Neste estágio do desastre há inevitavelmente
um alto grau de incerteza sobre a extensão e localização
do dano que está por vir, tanto ao meio ambiente quanto
ao bem-estar de populações inteiras que dependem
dele. Porém, conforme os milhares de barris continuam a
vazar dia após dia, fica mais e mais provável que
este será um dos piores desastres ambientais da história
dos EUA.
(traduzido por movimentonn.org)
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