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Grécia: milhões se juntam à greve contra
pacote de austeridade do governo
Por Robert Stevens
17 de março de 2010
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Publicado originalmente em inglês no dia 12 de março
de 2010.
Ontem trabalhadores de toda a Grécia realizaram sua
segunda greve geral de um dia dentro de um mês, para combater
as medidas de austeridade impostas pelo governo social-democrata
do PASOK e do primeiro-ministro George Papandreou.
A greve aconteceu poucos dias após o parlamento grego
ratificar seu mais recente pacote de austeridade, que impõe
4,8 bilhões ($6,5 bilhões) em aumentos de
impostos e cortes orçamentários. Servidores públicos,
particularmente, devem ser atingidos por um corte salarial de
cerca de 7% que perpassa todas as categorias do setor e inclui
uma redução de 30% nos bônus salariais normalmente
pagos na Páscoa, durante o verão e no Natal.
Esses cortes acompanham o plano de austeridade inicial do governo,
que prometia reduzir o déficit orçamentário
da Grécia em 4% do PIB este ano, implementando o aumento
de dois anos na idade de aposentadoria (de 61 para 63 anos), o
congelamento salarial no setor público, e demissões
em massa nas empresas privadas que trabalham para o governo.
A greve envolveu um número estimado em três milhões
de trabalhadores, a maioria vinda de organizações
filiadas às duas principais federações sindicais
- a Confederação Geral de Trabalhadores da Grécia
(GSEE), do setor privado, e a Confederação dos Servidores
Civis (ADEDY), do setor público. A GSEE, com cerca de 2
milhões de membros, e a ADEDY, com cerca de 800 mil, representam
cerca de metade da força de trabalho grega, que conta com
mais de 5 milhões de trabalhadores.
A greve foi solidamente apoiada e levou à interrupção
de praticamente todos os serviços públicos e redes
de transporte pelo país. Todos os vôos agendados
a partir da e com destino à Grécia foram cancelados
devido à intervenção dos controladores de
tráfego aéreo. A circulação de trens
foi interrompida e ônibus e metrôs foram levados a
uma total paralisação.
A maioria das escolas e hospitais foi fechada, com equipes
médicas realizando apenas atendimentos de emergência.
Operadores de balsa também se juntaram à greve,
e seus barcos permaneceram atracados. Escritórios da receita,
cortes judiciárias e outros prédios municipais fecharam.
Todas as agências de correio e bancos, em Atenas e no resto
do país, foram fechados. Trabalhadores da companhia elétrica
nacional e da telefônica nacional também apoiaram
a greve.
Trabalhadores da coleta de lixo em Atenas mantiveram-se em
greve pelo sexto dia consecutivo, estendendo sua ação
para que coincidisse com a greve geral. Transmissões jornalísticas
televisivas e produção impressa foram paradas conforme
trabalhadores da mídia, inclusive os da companhia estatal
ANA, aderiam à greve junto com os jornalistas.
O único transporte público em operação
em Atenas era a rede de bondes, que rodou por várias horas
para permitir que os manifestantes chegassem à marcha principal.
Ainda que sem o aval da lei para fazer greve, uma delegação
de 200 oficiais da polícia, corpo de bombeiros e serviços
alfandegários participou da manifestação.
Mais de 30.000 trabalhadores participaram. A marcha do GSEE/ADEDY
começou em Pedio tou Areos e acabou no prédio do
parlamento na Praça Syntagma. Manifestantes entoaram palavras
de ordem como Nenhum sacrifício para a plutocracia
e Empregos de verdade, salários maiores. Faixas
foram estendidas de apartamentos dizendo: Chega de sacrifícios,
guerra contra a guerra.
A Reuters citou um trabalhador de 60 anos, Odysseas Panagopoulos,
empregado do setor de saúde, que disse: As medidas
são injustas... nós não vamos aguentar, temos
filhos, famílias. Precisamos de dinheiro para sustentá-las.
Os bancos e os ricos deviam pagar por esta crise.
Outro manifestante disse, Ora, não ligo se a Grécia
falir, já que eu mesmo pessoalmente fali. Não tenho
mais nada para dar.
Pesquisas de opinião recentes mostram que a maioria
dos gregos agora se opõem ao programa do PASOK para cortar
empregos, atacar os direitos trabalhistas e rebaixar os níveis
de vida.
Uma marcha paralela foi convocada pela Frente Militante dos
Trabalhadores (PAME), que é ligada ao stalinista Partido
Comunista da Grécia.
Na segunda maior cidade, Thessaloniki, no norte da Grécia,
14.000 pessoas marcharam pelas ruas do centro para protestar contra
os cortes. Manifestações também foram realizadas
em outras cidades e povoados, incluindo Ioannina, Sitia, Naxos,
Veroia e a grande cidade sulista de Patras. De acordo com um relato,
em Heracleio, Creta, lojas que não permitiam que
seus funcionários entrassem em greve eram fechadas por
barricadas e diversos bancos foram atacados pelos manifestantes.
Centenas de policiais altamente armados da tropa de choque
foram despejados por toda a Atenas central e atacaram seções
da manifestação, usando gás lacrimogênio
indiscriminadamente para dispersar a multidão raivosa.
Confrontos entre a polícia e os manifestantes foram relatados
em outras cidades e povoados.
Essa repressão veio depois de uma ordem no dia anterior
por um promotor público de Atenas para que a polícia
removesse violentamente cerca de 150 trabalhadores demitidos da
Olympic Airways. Os trabalhadores desempregados haviam mantido
um ato no Escritório Geral de Contabilidade durante toda
a semana anterior.
Com sua convocação da greve geral, a GSEE e ADEDY
não refletem a raiva da classe trabalhadora, mas tentam
canalizá-la de modo que não ponham em perigo o governo
e a elite dominante na Grécia. Os sindicatos procuram usar
as greves de um dia para desarmar a oposição de
massa e assegurar que o movimento que se desenvolve contra as
medidas de austeridade não cresça e saia de seu
controle. Com este fim, os sindicatos chamaram ainda outra greve
geral de um dia para 16 de março.
Os sindicatos apoiaram a eleição do PASOK com
entusiasmo, que está servindo como representante das corporações
gregas e dos financistas internacionais ao levar adiante os cortes
nos gastos sociais.
Esta semana, Papandreou completou um tour por quatro países,
que culminou numa visita de três dias aos Estados Unidos
para encontrar o presidente Barack Obama em Washington. Em uma
reunião privada, como havia feito anteriormente com a chanceler
alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicholas
Sarkozy, Papandreou pôs na lista o apoio de Obama a suas
medidas de austeridade. Sua viagem foi elogiada pela mídia
grega e internacional como um sucesso.
Os elogios foram, porém, temperados por avisos de que
as medidas de austeridade ainda precisam ser implementadas. O
Financial Times comentou na quarta-feira: Mas uma performance
de sucesso no cenário internacional - sua viagem de seis
dias incluiu paradas em quatro capitais - não pode esconder
o fato de que em casa o Sr. Papandreou enfrenta problemas que
se agravam.
A posição de colaboração de classes
dos sindicatos em defesa do PASOK foi sumarizada esta semana nos
comentários de Yannis Grivas, presidente do sindicato de
coletores de impostos. Falando sobre as greves recentes, ele declarou,
É apenas um protesto simbólico. Nós
entendemos que as medidas de austeridade são necessárias.
Em contraste com a covardia e ambigüidade da direção
sindical, Dimitris Daskalopoulos da associação patronal
da Grécia na quinta-feira falou firmemente em apoio ao
PASOK e condenou a oposição popular às medidas
de austeridade. Entre a falência e a recessão,
entre o inferno e mar azul, não há alternativa ao
abismo, ele avisou. É necessário começar
de novo e reformar o país.
Mas o que reforma significa no contexto da crise
econômica global foi soletrado por setores da mídia.
O site Libcom informou ontem que o jornal conservador Kathimerini
convocou o governo a derrotar os protestos contra as medidas de
austeridade mesmo que alguns manifestantes morram.
A elite dominante está preparando a mais implacável
repressão contra a classe trabalhadora em defesa de sua
riqueza, e a violência policial testemunhada até
agora é apenas uma pequena demonstração do
que está por vir.
Não há uma solução nacional para
a crise. Por trás do PASOK estão o aparato estatal
na Grécia, as classes dominantes da América e da
Europa, os bancos e as grandes corporações. Trabalhadores
da Espanha, Portugal, França, Alemanha, Inglaterra e Irlanda
também agiram em oposição às medidas
de austeridade que estão sendo impostas por seus respectivos
governos, procurando fazer a classe trabalhadora pagar pelos trilhões
de dólares em dinheiro público que foram despejados
nos grandes bancos. A luta sendo travada pelos trabalhadores da
Grécia deve ser vista como somente uma das frentes do grande
combate que se desenvolve a partir das iniciativas dos trabalhadores
de toda a Europa; combate que precisa assumir uma forma consciente,
programática e organizada de um movimento europeu e internacional
por um caminho histórico socialista alternativo ao capitalismo
agonizante.
traduzido por movimentonn.org
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