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Reino Unido enfrenta um possível cenário grego,
adverte União Européia
Por Andre Damon
31 de março de 2010
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Publicado originalmente em inglês no WSWS no dia 22
de março de 2010.
A Comissão Européia alertou que o governo britânico
pode enfrentar um cenário grego caso não intensifique
a imposição de medidas de austeridade.
Comissários da UE declararam em um relatório
que a avaliação de crédito AAA da Grã-Bretanha
estava em perigo porque o governo Trabalhista de Gordon Brown
não havia proposto cortes suficientemente drásticos
para reduzir o endividamento. Em mais de £178 bilhões,
12% do Produto Interno Bruto, o déficit da Grã-Bretanha
está equivalendo proporcionalmente ao da Grécia
e é muito maior em termos reais.
O relatório critica o fato de o Reino Unido não
estar caminhando para reduzir o seu déficit de acordo com
as regras da EU. Tais regras determinam que os déficits
governamentais devem ser inferiores a 3% do PIB em 2014. A Grã-Bretanha
não está na zona do Euro, mas é extremamente
dependente da economia européia.
O relatório pré-orçamental dos Trabalhistas
anunciou planos para fazer cortes de £19 bilhões,
que, segundo eles, reduziriam o déficit do Reino Unido
para 4,7 % até 2015. Estimativas do governo da dimensão
de cortes adicionais que serão necessários variam
entre £20 e £25 bilhões.
O relatório da UE afirma incisivamente: "Um calendário
confiável para o restabelecimento das finanças públicas
a uma posição sustentável exige medidas adicionais
de cerco fiscal, além daquelas já previstas."
O relatório também questiona as previsões
do Tesouro do Reino Unido de um crescimento econômico de
2 % em 2010-11 e 3,3% durante cada um dos quatro anos seguintes.
Um funcionário europeu disse à BBC: "A Grã-Bretanha
está sendo muito otimista sobre suas chances de recuperação.
Ela acredita que será capaz de sair desta mais rápido
do que nós pensamos que irá sair".
Os mercados reagiram inicialmente vendendo libras esterlinas,
com a libra tendo uma queda de dez meses de baixa em relação
ao dólar, ficando abaixo de $1,50 a $1,4977. Ela voltou
a subir depois da divulgação de dados imobiliários
melhores do que o esperado, mas continua sendo o pior desempenho
dentre as principais moedas neste ano, após o enfraquecimento
de 7 % em relação ao dólar.
A Bloomberg salientou "Os negociadores de mercados
de futuro estão mais pessimistas do que nunca em relação
à libra esterlina, com apostas no enfraquecimento da libra
em relação ao dólar superando os mercados
de futuros que lucram com seu fortalecimento em oito vezes mais
do que quando George Soros ganhou $1 bilhão apostando contra
a moeda em 1992."
Tal especulação é apenas uma expressão
da demanda insaciável dos financiadores internacionais
para que a classe trabalhadora pague pelos resgates a bancos e
por uma reestruturação mais geral e sustentada da
vida econômica e social em seus próprios interesses.
Eles têm a intenção de abocanhar milhões
nas costas dos trabalhadores para encher os cofres esvaziados
do Estado, a fim de sustentar casas financeiras que faliram devido
à especulação desenfreada.
Para fazer isso eles querem que os serviços públicos
essenciais sejam eliminados e milhões sejam lançados
no desemprego ou passem a receber salários de fome. Enquanto
isso, eles se fartam mais uma vez, ganhando bilhões com
o aumento das taxas de juros sobre os títulos comprados
por governos denunciados como altamente endividados. A retirada
de uma avaliação de crédito AAA aumenta o
custo relacionado às dívidas contraídas junto
a banqueiros que foram resgatados por esses mesmos governos, ameaçando
nações inteiras de falência.
Esses são os interesses gananciosos que estão
ditando a agenda política em cada país.
O relatório da UE foi visto pelo governo mais como uma
ameaça do que um alerta, em especial vindo ao encontro
de uma ainda não anunciada, mas provável, eleição
geral em 6 de maio na qual os Conservadores estão denunciando
o governo por serem desonestos em relação à
dimensão dos cortes necessários.
O representante para assuntos financeiros do Partido Conservador,
George Osborne, disse: "Os Conservadores têm argumentado
que temos de reduzir nosso déficit orçamentário
recorde mais rapidamente, a fim de possibilitar a recuperação."
O líder dos conservadores, David Cameron, disse que
os eleitores podem escolher entre um governo Trabalhista desonesto
que adia decisões difíceis e um Partido Conservador
disposto a "arregaçar as mangas e continuar com o
trabalho."
O porta-voz Liberal-Democrata do Tesouro, Vince Cable, disse
que para serem confiáveis, os partidos deveriam mostrar
que cortes planejam fazer.
Brown respondeu que os Conservadores iriam "destruir a
recuperação" por seus cortes planejados no
orçamento. O orçamento do ministro Alistair Darling
será entregue na quarta-feira desta semana. Ele insistiu
que a UE estava "errada" e que fazer cortes mais rapidamente
seria prejudicial para a recuperação.
Os Trabalhistas têm traçado medidas de austeridade
das quais se orgulham por serem as propostas mais inteligentes
e rápidas para reduzir o déficit no G7 das principais
nações industriais, envolvendo cortes de gastos
de £38 bilhões a partir de 2011 e £19 bilhões
de aumento de impostos a partir de abril. O governo deixou claro
que pretende ir mais longe, mas teme que os cortes realizados
tão rapidamente levariam a economia de volta para a recessão,
uma posição compartilhada pelo Banco da Inglaterra
e os principais economistas. Ele também está ciente
de que a promessa das medidas a serem colocadas em prática
agora garantiria a derrota dos Trabalhistas nas eleições.
Estas são, no entanto, apenas diferenças táticas.
Caso as condições econômicas piorem, ou a
demanda por ações mais decisivas continue a crescer,
os Trabalhistas vão fazer o que é esperado.
O Secretário-Geral do Tesouro, Liam Byrne, observou
que as previsões do governo são baseadas em £25
bilhões que virão do crescimento econômico.
Se isso não se materializar, os cortes esboçados
pela UE terão que ser postos em prática.
A economia do Reino Unido está em apuros, e há
todos os motivos para prever um agravamento da situação
econômica interna e mundial.
Esta semana, o boletim trimestral do Banco da Inglaterra alertou
que as famílias devem esperar uma queda contínua
nos níveis de vida, incluindo um corte de pagamento efetivo.
Também era muito cedo para concluir que o desemprego atingiu
seu pico.
Muitos trabalhadores têm aceitado cortes salariais e
o trabalho meio-período, mas o Banco disse que eles devem
perceber que os custos dos bens e serviços provavelmente
vão continuar a aumentar mais rápido do que os salários.
Aumentos salariais estão operando a uma taxa anual de 1,4%,
e no setor privado em apenas 0,7%, bem abaixo da inflação.
"Enquanto o congelamento salarial ajudou a salvar empregos
durante a recessão, a percepção de que isso
terá que continuar por um tempo considerável, para
que os postos de trabalho não sejam perdidos durante a
recuperação, irá testar a boa-vontade dos
trabalhadores do Reino Unido até o limite", diz o
relatório.
O relatório prossegue dizendo: "Permanece o risco
de novas quedas no emprego... Os negócios podem responder
a qualquer aperto futuro nos lucros demitindo pessoal."
A legisladora de política bancária e membro do
Comitê de Política Monetária, Kate Barker,
admitiu que a economia voltaria a entrar em recessão este
ano.
John Philpott, economista-chefe do Instituto Certificado de
Pessoal e Desenvolvimento (CIPD) comentou: "A probabilidade
de recuperação de empregos a níveis pouco
acima das perdas ou, pior ainda, do aprofundamento do índice
de desemprego para níveis piores que os atuais, tem sido
motivo de preocupação para a CIPD há algum
tempo."
Oficialmente, o desemprego diminuiu em 33.000 reduzindo o total
para 2,45 milhões em janeiro, atingindo 7,8%. No entanto,
essa queda do desemprego apenas mascara os 14 anos de aumento
do desemprego no Reino Unido. O Escritório Nacional de
Estatísticas confirmou que 8,16 milhões de pessoas
estão classificadas como "economicamente inativas."
Um em cada cinco adultos já não está mais
procurando emprego.
O desemprego de longa duração aumentou em 61.000,
totalizando 687.000. O desemprego juvenil é de um milhão
e os empregos de meio-período também são
de um milhão. Um adicional de 100.000 pessoas passou a
estudar porque não há empregos. Isso leva o número
de pessoas estudando para 2,3 milhões, um recorde.
O número de desempregados ou pessoas economicamente
inativos, portanto, totaliza 10,6 milhões ou 28% da população
trabalhadora.
É nestas condições que novos cortes serão
feitos. Jeremy Warner escreveu no Telegraph, "Não
conte com as suspensões de juízo dos mercados até
o dia das eleições. Quando elas vêm, crises
monetárias e fiscais tendem a se desenvolver de repente
e sem muito aviso prévio. Nós podemos estar bem
próximos desse ponto".
A descrição mais significativa da natureza aguda
da crise veio da agência de avaliação de crédito
dos Estados Unidos, Moody's, sobre a dívida soberana. Ambrose
Evans-Pritchard, novamente no Telegraph, observou o veredito da
Moody's de que os Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França
e Espanha estão "andando na corda bamba quando tentam
manter as finanças públicas sob controle, sem cortar
o mal pela raiz."
A Moody's alertou para um "risco substancial de execução"
na retirada precipitada das medidas de estímulo, observando
que um estudo do FMI disse que a flexibilização
quantitativa havia cortado em torno de 40 a 100 pontos-base das
despesas da dívida. Mas esperar demais não seria
"menos arriscado".
Pierre Cailleteau, o principal autor do relatório, terminou
com uma sóbria palavra de cautela para a elite dominante
sobre as possíveis implicações de suas próprias
ações:
"Preservar a acessibilidade da dívida em níveis
compatíveis com avaliações AAA invariavelmente
irá demandar ajustes fiscais de uma magnitude que, em alguns
casos, vai testar a coesão social... Nós não
estamos falando de revolução, mas a gravidade da
crise vai forçar os governos a fazerem escolhas dolorosas
que deixarão expostas as fragilidades da sociedade".
[traduzido por movimentonn.org]
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