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Aumentam as divisões entre os EUA e a UE a respeito do resgate grego

Por Stefan Seinberg
24 de março de 2010

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O governo grego prepara-se para buscar ajuda financeira do Fundo Monetário Internacional (FMI) nas próximas semanas, no intuito de reverter seu débito nacional. O giro rumo ao FMI deu-se após a falência do encontro dos ministros financeiros europeus em Bruxelas, no começo desta semana, incapaz de acordar um plano concreto para prover ajuda financeira à Grécia. O principal obstáculo no encontro em Bruxelas foi a linha-dura assumida pela Alemanha.

Na quinta-feira, dia 18, o Primeiro-Ministro grego Papandreou afirmou ao Parlamento Europeu que a taxa de juros que seu país é forçado a oferecer aos investidores por conta do débito é insustentável, algo que seu governo havia reclamado ao FMI. Papandreou comentou que os custos inflados dos empréstimos mais que compensariam as economias do país com as medidas de austeridade introduzidas.

Estima-se que a Grécia terá que refinanciar cerca de €54 bilhões de seu débito em 2010, dos quais €22 bilhões virão de impostos entre abril e maio. O governo conseguiu levantar €5 bilhões em novos empréstimos no começo deste mês, mas apenas ao concordar com o pagamento de 6,3% de juros em seus títulos.

Tal taxa é cerca de três pontos percentuais acima daquela dos títulos do Estado alemão. De acordo com um economista do governo grego, as altas taxas requeridas pelos investidores internacionais estão impedindo que a Grécia venda títulos adicionais. "Uma coisa é certa", afirmou, "não reingressaremos no mercado com essas taxas de juros bárbaras, pois são a receita para a bancarrota".

Os €5 bilhões em empréstimos, levantados em março pelo governo grego, são uma soma maior do que os €4,8 bilhões economizados pelo tesouro do país com a implementação dos pacotes de austeridade, aprovados pelo parlamento do país no dia 3 de março.

Expressando sua frustração com a incapacidade da União Européia definir um pacote de resgate financeiro à Grécia, Papandreou declarou que as medidas de austeridade que a Grécia está tomando sob as ordens da UE são tão severas quanto aquelas que teriam sido exigidas pelo FMI. "Eles [o FMI] não pediriam nada além", afirmou. "Temos o pior do FMI", embora sem os benefícios de um empréstimo do FMI, reclamou Papandreou.

Representantes do governo grego alertaram que dariam uma última chance à UE no encontro que esta realizará na próxima semana, mas, de acordo com fontes do governo, as chances de solucionar tal problema "não pareciam as melhores". O mesmo representante complementou: "Se não houver nenhum apoio no encontro da UE de 25 de março, teremos que decidir para quem nos direcionaremos. Existem muitas possibilidades na mesa, mas a mais proeminente é o FMI".

De sua parte, o governo alemão reforçou sua oposição a um resgate feito pela UE. O ministro de finanças do país alertou que a Grécia não deveria esperar um pacote de ajuda financeira detalhado do encontro de 25 de março. Na quarta-feira, 17, a chanceler alemã Angela Merkel advertiu os parceiros alemães na UE contra uma "decisão precipitada" para resgatar a Grécia.

Em outro gesto que refletiu a linha-dura assumida pelo governo alemão, Merkel comentou ao parlamento alemão (Bundestag) no mesmo dia que apoiava a proposta, feita no fim de semana anterior por seu ministro de finanças, de que países incapazes de atender os critérios oficiais orçamentários da UE estariam sujeitos à expulsão do órgão. Ou seja, que não mais estivessem habilitados a usar o Euro como moeda corrente.

O ministro de finanças alemão, Wolfgang Schäuble levantou o assunto recentemente, vinculado à discussão sobre a criação de um Fundo Monetário Europeu com amplos poderes para impor medidas draconianas sobre os países em dificuldades financeiras.

Em sua declaração ao Bundestag, Merkel defendeu "um acordo em que, em último caso, seja possível excluir um país da Zona do Euro caso seus requerimentos não sejam atendidos reincidentemente". Ainda que não mencionando a Grécia, as implicações de sua ameaça eram claras. De Atenas, o Primeiro Ministro Papandreou retrucou que "é nula a possibilidade" da Grécia deixar a Zona do Euro.

A proposta de Schäuble e Merkel também foi rebatida pelo presidente do Banco Central Europeu, Jean Claude Trichet, que afirmou à revista francesa Le Point que a idéia de expulsar um país da Zona do Euro era "absurda".

Na quarta-feira pela manhã, figuras importantes da União Democrática Cristã (CDU, em inglês — partido de Angela Merkel), indicaram que a Alemanha apoiaria, relutantemente, um acordo com o FMI. Michael Meister, líder de um grupo de deputados da CDU no parlamento, afirmou à agência de notícias Bloomberg: "Ninguém além do FMI possui tais instrumentos".

Meister reconheceu que seu grupo parlamentar opunha-se fortemente a um resgate do FMI a qualquer país da Zona do Euro, assim como opunham-se completamente a um resgate à Grécia.

Tendo em vista que alguns anos seriam necessários para o estabelecimento de um Fundo Monetário Europeu em alternativa ao FMI, assim como a resistência que encontrou tal ideia em muitos círculos políticos e econômicos do meio europeu, parece agora que Berlim reconsidera uma intervenção do FMI na crise grega.

O Governo Merkel também foi forçado a encarar o fato de que a oposição à intervenção do FMI (dominado pelos EUA) na Zona do Euro tenderia a esmigalhar-se.

Dificilmente tratou-se apenas de uma coincidência que a aproximação entre Papandreou e o FMI tenha se dado poucos dias após a visita do Primeiro Ministro Grego ao presidente dos EUA, Barack Obama, ao seu secretário de finanças, Timothy Geithner, assim como a líderes congressistas vinculados ao big bussines norteamericano. Ainda que publicamente os EUA "não se metam" no assunto da crise grega e suas reverberações na UE, não há dúvida de que, em privado, seus representantes tenham garantido a Papandreou apoio numa intervenção do FMI.

Isso marcaria uma intervenção sem precedentes dos EUA nos assuntos internos da UE, algo que a Alemanha, em particular, busca prevenir. O conflito a respeito da intervenção do FMI é apenas mais uma expressão das tensões crescentes entre Washington e Berlim.

Os comentários de Meister e outros não serão capazes de resolver os conflitos entre a UE e países dirigentes europeus com os EUA a respeito da crise grega. O Wall Street Journal de quinta-feira citou um "respeitado representante do governo grego": "O racha do governo alemão aumenta, em vez de diminuir. Há uma crescente convicção dentro do governo de que o FMI é a única solução".

Tensões entre as elites políticas européias não se restringem apenas à Grécia. Em toda Europa, nações preparam pacotes de austeridade para cobrir grandes déficits estatais resultantes dos resgates aos respectivos sistemas bancários. Numa coluna nesta semana no Financial Times, Martin Wolf comentou que a Grécia não configura o verdadeiro problema da Zona do Euro. Assim escreveu Wolf: "Não são as finanças publicas gregas que ameaçam a estabilidade da Zona do Euro. Tais são meras bagatelas. A ameaça são as finanças dos grandes países".

Na medida em que a crise financeira entra em um novo estágio, os antagonismos nacionais e os egoísmos consequentemente afloram. O ministro de finanças francês, Christine Lagarde, sugeriu recentemente que a dependência alemã das exportações é, grande parte, responsável pela crise, e que a recusa do país em estimular a demanda interna está dificultando a recuperação dos outros países.

Políticos e a mídia alemães bruscamente rejeitaram a crítica francesa. Na quarta-feira, a Chanceler Merkel terminou seu comunicado ao parlamento insistindo: "Não abandonaremos nossa política de exportações".

As diferenças também se aprofundam entre os EUA e a Europa a respeito de medidas para regular algumas formas de especulação financeira. Seguindo as declarações dos governos Francês e Alemão de que favoreceriam algumas formas de regulamentações de derivativos e hedge funds, o Secretário do Tesouro dos EUA, Geithner, objetou publicamente.

A questão da regulamentação financeira estava na agenda do encontro dos ministros financeiros da UE do começo desta semana. Mas nenhuma medida concreta foi tomada após a intervenção da Inglaterra. O Primeiro Ministro inglês, Gordon Brown contatou o Primeiro Ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, e o informou que a Inglaterra não estava preparada para aceitar as propostas feitas pela Alemanha e França. No último minuto, a presidência da UE, apoiada pela Espanha, jogou fora da pauta a questão da regulamentação aos hedge funds.

(traduzido por movimentonn.org)

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