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A situação social na Grécia

Por Markus Salzmann
4 de março de 2010

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A União Européia ditou para a Grécia um rígido programa de cortes nos gastos públicos, com o objetivo de reduzir o déficit orçamentário do atual patamar de quase 13% para menos de 3%. Amplas camadas da população grega tomaram as ruas para reagir ao plano, integrando ações de greve no dia de ontem. De sua parte, as principais centrais sindicais estão trabalhando lado a lado com a administração social-democrata de George Papandreou para canalizar as greves e manifestações, de modo que elas não ameacem o governo.

Se destacavam na greve de ontem os servidores públicos, que serão especialmente atingidos pelos cortes orçamentários. Junto deles, estavam nas ruas muitos agricultores, se posicionando contra cortes aos subsídios, que ameaçam levá-los à falência.

Em resposta às manifestações, políticos europeus, representantes empresariais e a mídia iniciaram uma ofensiva exigindo que os cortes sejam implementados implacavelmente; alguns setores chegam a ver como demasiado tímido o programa do governo.

O presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, disse que a Grécia precisa fortalecer suas iniciativas e demonstrar a viabilidade de seus planos de austeridade voltados à redução do enorme déficit orçamentário. Os planos anunciados até agora são inadequados se a Grécia deve em pouco tempo atender aos requisitos para continuar em concordância com o Tratado de Maastricht, de acordo com Trichet, que busca um caminho mais agressivo. «Todos os gregos devem reconhecer que precisam corrigir uma rota que saiu do controle», disse ele.

O chefe do Instituto Ifo de Pesquisa Econômica em Munique, Hans Werner Sinn, exigiu medidas «que machuquem mesmo» - enquanto Rolf Langhammer, vice-presidente do Instituto de Economia Mundial em Kiel, demandou uma redução clara dos salários reais para reviver a competitividade do país.

O secretário de finanças alemão Jörg Asmussen declarou: «Nós com certeza somos da opinião de que medidas adicionais por parte da Grécia são necessárias». De acordo com Asmussen, o país precisa se

comparar à Irlanda (que usa o euro como moeda) e à Letônia (que não usa) - os dois países acabaram de começar a implementação de cortes draconianos com o objetivo de reduzir seus respectivos endividamentos orçamentários.

Esses apelos ecoaram pela mídia. O Nürnberger Nachrichten insistiu em enormes ataques contra a população: «Não, existe apenas um modo: usar de pressão massiva para forçar os parceiros do euro a percorrerem o caminho da virtude. Além de cortes nos sistemas de seguridade social e aposentadoria, é preciso reduzir o exército de servidores públicos, fazer cortes reais nos salários, aumentar os impostos e reduzir o total de gastos».

Cinicamente, a mídia declara que a população grega é responsável pela crise de endividamento. Muitas entrevistas e comentários terminam concluindo que «os gregos viveram com mais do que podiam» e agora precisam «ajustar seus cintos».

Em termos de salários e padrões de vida, na verdade a Grécia está entre os países mais mal pagos da Europa.

A situação social para a maioria da população já se deteriorou nos últimos anos. A taxa oficial de desemprego está atualmente em 18%, e de acordo com índices oficiais 20% dos gregos vivem abaixo da linha da pobreza. Uma taxa ainda pior de pobreza é registrada por organizações independentes.

Sessenta por cento dos aposentados cadastrados nos maiores fundos previdenciários estatais precisam sobreviver com menos de €600 ao mês, e o salário médio no serviço público é de €1.200.

Particularmente, o desemprego entre jovens tem subido rapidamente nos últimos anos. Em 1998, 21% dos jovens entre 15 e 24 anos estavam desempregados. Em 2009, esse número subiu para mais de 27%. Os jovens que têm a sorte de conseguir um emprego são forçados a subsistir com um salário de em média €700 ao mês.

O desemprego é um problema para muitos ex-estudantes universitários graduados, e a situação para os médicos é particularmente difícil. De acordo com estatísticas da Organização Mundial da Saúde, a Grécia tem o maior nível de desemprego para esse grupo profissional.

Ao mesmo tempo, o custo de vida é comparável com o de um país como a Alemanha, embora itens de consumo básicos como leite, queijo e ovos cheguem a custar duas vezes mais. Os custos de ligações telefônicas estão entre os maiores da Europa. O custo de vida varia significativamente conforme a região, com preços maiores nas muitas ilhas da Grécia devido aos altos preços do transporte.

Os aluguéis aumentaram consideravelmente nos últimos anos, e nas grandes cidades seus custos também se comparam aos da Alemanha. No campo, os aluguéis são menores, mas frequentemente há uma suboferta de acomodações, com muitos proprietários dando prioridade aos turistas.

Em relação ao custo de vida, os níveis salariais na Grécia são bastante baixos se comparados com os de outros estados europeus - novamente com diferenças regionais pronunciadas: em Thessaloniki os trabalhadores ganham 25% menos que em Atenas, e no resto do país cerca de 35% menos.

Secretários administrativos recebem em média apenas 40% do salário pago a seus pares na Alemanha. Dentro da zona do euro, a renda só é menor em Portugal. Um trabalho de meio-período - única maneira de pais solteiros ganharem a vida - não paga o bastante para cobrir os custos de vida.

O salário mínimo legal está em cerca de €700, enquanto o maior salário inicial é de €1.000 ao mês, pago a trabalhadores de serviços financeiros. O menor salário contratualmente estabelecido - de cerca de €680 - é pago no setor de engenharia mecânica e nas indústrias elétrica e eletrônica. Um engenheiro com até três anos de experiência profissional ganha ao menos €1.050 brutos por mês, um programador ganha em média €700, um secretário com conhecimento de línguas estrangeiras €710, um contador €770, e um motorista €715.

A maioria das aposentadorias é menor que o salário mínimo. Embora mal tenham subido em valor nos anos recentes, os governos subiram a idade de aposentadoria diversas vezes. Nas décadas de 1980 e 1990 os trabalhadores do serviço público na Grécia se aposentavam ao final de seus 50 ou início de seus 60 anos. Hoje, a idade de aposentadoria está em 65 anos, e o governo Papandreou planeja aumentá-la ainda mais, para 67.

O governo também planeja implementar cortes no sistema de saúde do país, que já está em condições deploráveis. Um serviço de saúde nacional (o ESY) foi criado na década de 1980, garantindo cuidados de saúde básicos para todos e tinha como principal objetivo oferecer infra-estrutura médica para as regiões rurais da Grécia.

Na década de 1990, tanto governos social-democratas quanto conservadores retiraram fundos das companhias de seguridade médica administradas pelo Estado, em parte para participar de transações acionárias obscuras. Como resultado, o sistema de seguridade hospitalar encontrou problemas crescentes que foram exacerbados pela estagnação salarial. Existem hoje dívidas totalizando €5 bilhões cobradas das companhias de seguro-saúde por médicos, hospitais, farmácias e laboratórios.

A situação catastrófica do serviço de saúde trouxe corrupção generalizada. A combinação de baixos salários e milhares de postos permantentes para médicos e pessoal de manutenção que permanecem não-preenchidos em hospitais estatais implica subornos como parte do dia-a-dia. Qualquer um que esteja procurando cuidados básicos ou a antecipação de sua cirurgia escorrega um «Fakelaki» para o médico — um pequeno envelope contendo dinheiro.

Médicos mais jovens, que falam contra essa prática imoral ou rejeitam esses pagamentos em geral sofrem a pressão dos seus colegas por ameaçarem o que é amplamente visto como um suplemento salarial importante. «O nascimento de uma criança num hospital público, por exemplo, precisa ser facilitado com a soma de €1.000», relatou Ellen Katja Jaeckel, chefe do escritório de Atenas do Instituto Goethe, numa entrevista sobre os protestos na Grécia em 2008.

Zachos Kamenidis teve a mesma experiência. Ele tem uma companhia de encanamento próxima a Thessaloniki, a segunda maior cidade do país. Como muitos outros ele fez menção ao declínio social crescente. «A maioria das pessoas precisa viver aqui com €600 ou €700 euros», ele disse. Ele recebe €250 por mês do Estado por suas três crianças pequenas. Quando sua esposa estava grávida do seu último filho, ele teve de pagar €140 a um médico privado por um ultrassom. Em um dos hospitais estatais de Thessaloniki, sequer há um equipamento de ultrassom.

Mas a corrupção não se limita aos serviços de saúde. O professor grego de macroeconomia da Universidade de Leipzig, Spiros Paraskewopoulos, estima que a família grega precisa gastar aproximadamente €1.600 ao ano com subornos.

traduzido por movimentonn.org

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