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Protestos em Stuttgart e Berlim contra cortes do governo
Por correspondentes do wsws.org
24 de junho de 2010
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Publicado originalmente em inglês nos dia 17 de junho
de 2010
Milhares de manifestantes tomaram as ruas em Berlim e Stuttgart
no dia 12 de junho para protestar contra os cortes e o programa
de austeridade recentemente anunciados pelo governo de coalizão
alemão, encabeçado pela chanceler Angela Merkel.
Os protestos foram originalmente organizados com base no mote
"nos recusamos a pagar por sua crise" e receberam apoio
de estudantes que se manifestavam contra cortes na educação.
No ultimo momento, o sindicato do setor público alemão,
o Verdi, interveio para tomar o controle da marcha em Stuttgart,
permitindo que representantes e líderes do Partido Social
Democrata (PSD), do Partido Verde e do Partido de Esquerda falassem
aos manifestantes. Em Berlim, o Partido de Esquerda assumiu o
controle da manifestação quando ficou claro que
protestos maiores poderiam ocorrer após o anúncio
das medidas de austeridade. Não houve praticamente qualquer
presença dos sindicatos na manifestação em
Berlim, e ficou claro que estes não fizeram qualquer esforço
para mobilizar seus membros.
Na manifestação em Stuttgart, políticos
reunidos criticaram severamente as medidas de austeridade do governo
como neoliberais, anti-sociais e irresponsáveis apenas
para declararem, em seguida, que o PSD e os Verdes poderiam fazer
um melhor trabalho de contenção na administração
da crise.
O presidente do Verdi, Frank Bsirske, criticou as "políticas
anti-sociais e economicamente dolosas de redução
de custos do governo" e pediu pela regulamentação
do setor financeiro. Bsirske reclamou que Angela Merkel colocava
a manutenção de sua coalizão governista acima
de todas as necessidades sociais. "Uma política justa
tem outra característica", afirmou ele. Existem "alternativas
ao governo, capazes de dirigir uma maioria e politicamente viáveis",
declarou.
Outros oradores falaram num viés similar. O presidente
da Federação de Sindicatos Alemães (DGB)
Nikolaus Landgraf, chamou o setor financeiro e os ricos a assumirem
uma parcela maior do fardo da crise, enquanto o líder da
facção do PSD no estado de Baden-Wüttemberg,
Claus Schmiedel, exigiu um salário mínimo legal
e melhor controle sobre os especuladores e mercados financeiros.
A contribuição de Schmiedel foi marcada pelo
som ensurdecedor dos apitos e gritos de "cala a boca"
vindos de seções do público, ameaçando
abafar seu discurso. Participantes do protesto insistiram em lembrar
ao orador do PSD que foi o seu partido o responsável pelas
leis anti-seguridade social draconianas, as chamadas leis Hartz
IV. Perguntavam e respondiam eles: "Quem nos traiu? Os social-democratas!".
Um grupo de jovens jogou garrafas e outros objetos no palco.
Nesse ponto, um grupo de policiais fortemente armados surgiu
de trás do palco. Ao mesmo tempo, esquadrões da
polícia e equipes de filmagem policiais forçaram
a passagem para o centro da manifestação. No entanto,
os protestos continuaram durante o discurso do orador do Partido
Verde, Silke Krebs.
A recepção hostil aos representante do PSD e
aos Verdes não é surpresa alguma. É altamente
fraudulento e hipócrita o fato de que políticos
desses partidos critiquem as medidas de austeridade do atual governo.
A verdade é que a última orgia de cortes de Angela
Merkel apenas continua um processo iniciado pelo governo SPD-Verde,
sob Gerhard Schröder (PSD) e Joschka Fischer (Verde), que
perdeu as eleições 5 anos atrás, depois de
nove anos no poder. Outra característica comum é
que Merkel, hoje - assim como seu predecessor, Schröder -
pode contar com a cooperação integral dos líderes
sindicais.
A partir dos protestos do dia 12 ficou claro que os sindicatos
não estão fazendo qualquer esforço real de
mobilização dos trabalhadores. Na manifestação
em Stuttgart, sequer havia representantes de grandes fábricas
como a Daimler, que emprega milhares de operários. O maior
sindicato automobilístico da Alemanha, o IG Metall, recusou-se
a apoiar a manifestação. Uma grande parcela dos
que participaram do evento era de funcionários sindicais;
ainda assim, não podemos deixar de reconhecer a postura
cada vez mais crítica e o descontentamento crescente dos
participantes em relação aos seus dirigentes sindicais.
Em Berlim, representantes do PSD e dos Verdes não ousaram
discursar publicamente. O único partido estabelecido com
uma presença significativa na manifestação
era o Partido de Esquerda, mas também ficou claro que ele
fracassou em conduzir qualquer mobilização genuína.
O Partido de Esquerda, porém, contou com um grande número
de grupos de protesto pequeno-burgueses, aparecendo com pose de
radical durante a manifestação em Berlim. Uma série
de oradores desses grupos puderam falar publicamente, empregando
fraseologia radical e às vezes até mesmo criticando
energeticamente o capitalismo. O Partido de Esquerda, no entanto,
teve um papel-chave em implementar as medidas de austeridade na
capital alemã como parceiro do PSD na administração
municipal. Nenhum dos oradores desses grupos desenvolveu qualquer
explicação séria para os cortes anunciados
pelo governo federal.
Os discursos desses grupos foram o prelúdio para a fala
de um último orador, a co-presidente do Partido de Esquerda,
Gesine Lötzsch. Em seu discurso, procurou dissolver as diferenças
e posicionar os manifestantes atrás da social-democracia,
chamando uma "ampla aliança contra os cortes sociais"
baseada na cooperação com o PSD, os Verdes e os
sindicatos.
Reproduzindo o papel dos sindicatos em Stuttgart, o Partido
de Esquerda berlinense procurou somente sufocar qualquer protesto
efetivo. A principal preocupação do partido era
assegurar a manutenção sob seu controle da crescente
onda de protestos contra a política governamental. Para
cumprir este papel, ele depende grandemente do apoio de todo um
cortejo de grupos ex-radicais - como o SAV (afiliado ao British
Militant), o Marx21 (afiliado ao Socialist Workers Party da Inglaterra)
e o MLPD maoísta. Todos oferecem seus serviços de
prevenção de desastres, impedindo que a classe trabalhadora
rompa com a social-democracia.
A realidade, porém, é mais complexa que todas
as ilusões geradas por esses ex-radicais. O amplo ceticismo
e a desconfiança crescente quanto aos estreitos elos existentes
entre os sindicatos e o PSD, Verdes e Partido de Esquerda foram
expressos por um número de participantes que falaram aos
repórteres do World Socialist Web Site, tanto em Stuttgart
quanto em Berlim.
"As decisões do governo Schröder com relação
às leis Hartz IV e sua agenda 2010 desencadearam um processo
que agora saiu totalmente do controle," declarou Hagen em
Stuttgart. "Não estamos protestando pela primeira
vez hoje, mas somente agora a situação se mostra
realmente intolerável."
Nicolai, um projetista de software que conhecia o WSWS há
algum tempo, disse: "Os sindicatos podem protestar em alto
som agora, mas onde estavam eles há 5 anos atrás,
quando o SPD introduziu a Hartz IV? Ninguém ouviu falar
muito deles naquela época. Eles ainda têm o rabo
preso no PSD".
Também houve indignação ampla quanto ao
modo provocativo com que o governo Merkel concentrou seus últimos
ataques nas camadas mais pobres da sociedade. Wiltrud, um pensionista
de Heidelberg, forçado a viver com 900 euros mensais, disse
que era "um escândalo que mais uma vez nós tenhamos
que pagar a conta das dívidas assumidas pelos bancos e
especuladores. Eu simplesmente não estou preparado para
tolerar isto. Eu estava nervoso o suficiente quando Schröder
introduziu a Hartz IV; eu achei aquilo simplesmente intolerável".
Glenn Kessler, um jovem especialista em eletrônicos,
falou contra os ataques do governo aos beneficiários da
seguridade social e desempregados. Ele complementou: "Além
disso, o governo tem financiado os salários de líderes
religiosos por mais de cem anos. Se este estado de coisas fosse
mudado, seria possível economizar centenas de milhões
de euros em um único golpe." Glenn também criticou
as políticas energéticas do governo, que estão
permitindo que usinas nucleares funcionem ininterruptamente, apesar
das promessas de aumento dos impostos para as operadoras das usinas.
"Penso que isto é algo realmente perigoso", afirmou.
Em geral, houve uma mudança clara no tipo de discussão
em comparação às manifestações
anteriores. Enraivecidas e preocupadas com a extensão sem
paralelos das medidas econômicas anunciadas, novas camadas
da população estão começando a considerar
alternativas políticas e procurar respostas. Diversos participantes
das manifestações declararam que estavam participando
desse tipo de protesto pela primeira vez, porque, como um jovem
da manifestação em Berlim destacou, "não
é mais suficiente reclamar sobre a política com
a segurança de quem está entre quatro paredes".
Membros e apoiadores do World Socialist Web Site e da
organização estudantil ISSE montaram bancas com
literatura marxista que tiveram bom comparecimento em ambas as
demonstrações, distribuindo além disso milhares
de panfletos com o editorial do WSWS chamado "Medidas de
austeridade da Chanceler relembram a República de Weimar".
(traduzido por movimentonn.org)
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