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Manifestação em Roma contra medidas de austeridade

Por correspondentes do wsws.org
24 de junho de 2010

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Publicado originalmente em inglês nos dia 17 de junho de 2010

Milhares protestaram no último sábado em Roma contra o recente plano de austeridade anunciado pelo governo italiano. O governo de Silvio Berlusconi está procurando cortar os gastos públicos em cerca de € 25 bilhões ao longo dos próximos dois anos.

Os mais atingidos pelos cortes são os serviços de saúde, escolas, universidades e administrações locais. Até 400 mil empregos, principalmente de meio período e temporários, devem ser cortados dos serviços públicos, enquanto os salários dos que restarem nos serviços públicos devem ser congelados ou cortados. O governo também anunciou planos para voltar a aumentar a idade da aposentadoria.

O desmantelamento de amplas camadas do serviço público vem acompanhado de um grande ataque aos empregos e condições de trabalho no setor privado, como na Fiat. A burocracia sindical teme uma onda de protestos populares que será incapaz de controlar, e a manifestação realizada no último sábado, em Roma, foi uma tentativa deliberada por parte dos sindicatos para desviar a raiva dos trabalhadores para longe do governo e do estamento político.

A manifestação foi organizada pelo maior sindicato da Itália, o CGIL, que antigamente era próximo do Partido Comunista Italiano e agora mantém laços estreitos com o Partido Democrático (Itália). A manifestação foi apoiada pelo Partido Democrata e foi dirigida pelo porta-voz econômico do partido, Stefano Fassina. Também presente no protesto estava o partido Itália dos Valores (Italia dei Valori) liderado pelo ex-magistrado Antonio di Pietro. Entre outros que compareceram incluem-se a Refundação Comunista (PRC) e o racha do PR,c Sinistra ecologia e Libertà (Sel), liderada por Nicchi Vendola.

Uma chamada greve geral está prevista para 25 de junho incluindo uma greve de 24 horas no setor público e uma greve de quatro horas no setor privado. A federação sindical "alternativa" Cobas já tinha organizado a sua própria manifestação em Roma no sábado, 5 de junho, ela convocou os seus membros do funcionalismo público a fazer greve no dia 14 de junho.

A maioria dos participantes na manifestação de 12 de junho veio do setor de educação e funcionalismo público, acompanhados de alunos escolares e estudantes que estão protestando nas suas universidades contra os cortes na educação. Eles gritavam palavras de ordem como "Contro la tregua salariale, sciopero, sciopero generals!" ("Contra os cortes salariais: greve, greve geral!"), e alguns carregavam bandeiras e cartazes de protesto com Karl Marx estampado. Uma palavra de ordem dizia: "Os responsáveis por elevar as taxas de desemprego são os capitalistas, não os imigrantes!"

O discurso principal no comício seguinte foi dado pelo líder do CGIL, Guglielmo Epifani, que não criticou os cortes sociais, mas sim a maneira como eles estavam sendo implementados. Epifani reclamou que os cortes não estimulavam "a economia, o investimento e, sobretudo, o emprego para a juventude". Ele apresentou propostas concretas ao Parlamento sobre a melhor forma de implementar os planos de austeridade e retratou a oposição parlamentar e a burocracia sindical como uma alternativa melhor para gerir a crise.

Em uma tentativa absurda de retratar outros governos europeus — por exemplo, o primeiro-ministro espanhol José Zapatero (PSOE), o primeiro-ministro britânico David Cameron (Conservador), e a chanceler alemã, Angela Merkel (CDU) — como uma alternativa positiva para o governo Berlusconi, Epifani declarou: "Ninguém está fazendo isso como a Itália. ... Aqui existe uma classe social que ninguém está convidando para contribuir com a restauração do orçamento. Por sua vez, Zapatero vem taxando os rendimentos médios e altos, Cameron taxou os bancos, e Merkel taxou tanto os bancos quanto operações financeiras ao mesmo tempo em que disponibilizou € 13 bilhões para ensino e pesquisa".

A distorção da realidade é de tirar o fôlego. As medidas de austeridade aprovadas na Alemanha, Espanha e Grã-Bretanha são praticamente as mesmas que os cortes drásticos no orçamento a ser aplicados atualmente na Grécia e, agora, na Itália, às custas da população trabalhadora. Todos esses países estão sendo submetidos a incomparáveis cortes sociais a fim de garantir os lucros dos ricos, dos bancos e especuladores. Os trabalhadores, por outro lado, estão sendo deliberadamente impedidos, por suas respectivas burocracias sindicais nacionais, de assumir uma luta internacional contra os cortes.

A demagogia vazia da direção da CGIL já era evidente no seu relato sobre o número de participantes. Os organizadores declararam que cerca de 100.000 pessoas participaram na manifestação de sábado, embora testemunhas estimassem um número muito menor, de apenas alguns milhares. Há um motivo em tal exagero: a burocracia está tentando apresentar-se para a burguesia como uma força com influência de massas, ao mesmo tempo em que conscientemente se abstém de realizar quaisquer medidas de combate nas fábricas.

Havia muita indignação e radicalismo em evidência na manifestação, mas também muita confusão e desorientação. Muitos evidentemente seguiram o chamado do CGIL, porque não vêem outra alternativa.

Susanna, professora de Gênova, disse que nossos repórteres: "Eu sinceramente espero que as pessoas acordem. Agora é a hora de os sindicatos tomarem uma posição firme, adotar uma posição concreta, sem quaisquer reservas. Agora eles estão sendo usados. Eles cometem erros, mas se eles não nos defenderem, quem o fará?"

É exatamente este o ponto. Os trabalhadores só podem se defender rompendo com os aparatos sindicais e se unindo, perpassando as fronteiras nacionais, com os seus congêneres europeus e internacionais. Um novo partido socialista dos trabalhadores é necessário, um partido que dedique seu programa às necessidades da população trabalhadora, ao invés de às exigências do mercado.

Por seu lado, os tão chamados sindicatos alternativos servem apenas para criar mais confusão. Em maio, um número de grupos pequeno-burgueses participou de uma iniciativa em Roma para unir o Cobas a outros sindicatos de base e estabelecer um novo sindicato, a Unione sindacale di Base (USB), que se proclama como uma alternativa incorruptível, de esquerda, aos sindicatos tradicionais.

Esta iniciativa, no entanto, não faz nada para incentivar o esclarecimento político. A recém-fundada USB é dominada por grupos pequeno-burgueses, incluindo uma ala da PR,c maoístas e a organização Sinistra Critica - filiados ao Secretariado Unificado Pablista. Na sua manifestação em 5 de junho o UBS ainda tolerou a presença do ex-ministro da Solidariedade Social no governo Prodi, Paolo Ferrero (PRC), que aprovou a legislação que aniquila os tradicionais direitos de aposentadoria e elaborou pessoalmente as listas para a primeira deportação de Sinti e Roma.

Os sindicatos existentes têm suas raízes na sociedade burguesa e no Estado-nação. Sob as condições atuais, os sindicatos na Itália e em todo o mundo foram transformados em defensores descarados de medidas de austeridade que visam garantir os lucros e os privilégios da elite financeira e dos bancos.

(traduzido por movimentonn.org)

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