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Índia: Trabalhadores da Hyundai denunciam represálias
e más condições de trabalho
Por M. Kailasam e K. Sundaram
30 de junho de 2010
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Um time de repórteres visitou a montadora automotiva
da Hyundai, em Sriperumbudur, dois dias após uma ocupação
radicalizada de 300 trabalhadores ter sido dispersada pela polícia,
sob ordens do governo do estado de Tamil, dirigido por Nadu's
Dravida Munnethra Kazhagam (do partido DMK). Sriperumbudu localiza-se
a 40 km de Chennai, capital do estado de Tamil.
Ao acabar com a ocupação de dois dias, a polícia
deteve e prendeu 282 operários. Os trabalhadores, que haviam
obtido apoio de milhares de outros trabalhadores da Hyundai, reivindicavam
a reintegração de 67 trabalhadores despedidos pela
diretoria por sua participação em uma greve no ano
passado, além do reconhecimento de seu sindicato, o Sindicato
dos Funcionários da Hyundai Motor India (HMEIU).
No dia após a ocupação ter sido reprimida,
o HMEIU - filiado à Central de Sindicatos da Índia
(CITU), a central do stalinista Partido Comunista da Índia
(Marxista) - ordenou seus membros, que recorreram à greve
após a empresa ter feito lock out (fechamento patronal)
por medo de uma ocupação, a retornarem ao trabalho.
O sindicato buscou justificar sua capitulação apresentando
um acordo feito com a empresa, sob mediação do governo,
de estabelecer um processo tripartite para rever algumas das demissões.
Nenhuma garantia de que algum trabalhador seria readmitido foi
dada e a empresa continua a não reconhecer o HMEIU.
No dia 11 de junho, dois dias após este acordo vendido
ter sido alcançado, os 282 trabalhadores que a polícia
prendeu enquanto acabava com a ocupação tiveram
sua fiança paga. Porém, as queixas contra eles não
foram retiradas, apesar de a companhia ter, em dado momento, sugerido
que não iria prestar queixa. Aqueles que dirigiram a ocupação
poderiam ainda sofrer multas ou até mesmo serem aprisionados.
(Ver http://movimentonn.org/jornal/noticia/internacional/2171)
Quando visitamos a planta da Hyundai, havia presença
massiva da polícia, com oficiais à paisana vigiando
os passos dos trabalhadores ao redor do portão de acesso
ao complexo Hyundai.
Dadas a presença da polícia e a ação
policial apenas dois dias antes, muitos operários estavam,
é compreensível, relutantes de falar conosco. Antes
de adentrar o complexo para acabar com a ocupação,
a polícia havia desmantelado uma tenda improvisada que
os operários haviam erguido do lado de fora do portão
para fins de agitação.
Alguns trabalhadores que estavam próximo à cantina
localizada do lado de for a da fábrica estavam dispostos
a falar conosco, mas pediram que não publicássemos
seus nomes por medo de retaliação por parte da diretoria.
S. K., 28 anos, descreveu como a greve e ocupação
começaram: "Foi a suspensão de quatro trabalhadores
que motivou a ocupação. Desde 23 de maio a 3 de
junho, a diretoria da Hyundai organizou um programa de treinamento'
que incluía Yoga, palestras e jogos, numa tentativa de
fazer a cabeça dos trabalhadores que cada vez mais recorrem
a ações de agitação e greve nos seus
setores".
A diretoria, explicou S. K., suspendeu quatro trabalhadores
com o pretexto de que estavam atrasados ao voltar à linha
de produção após os jogos e/ou terem obtido
dispensa de um dia para o programa de treinamento-doutrinamento.
Revoltados com a punição, centenas de trabalhadores
cruzaram os braços na linha de produção logo
após comparecerem ao turno da noite, no dia 6 de junho.
A ação destes trabalhadores foi apoiada com entusiasmo
pelo resto da força de trabalho, com operários saindo
ou abandonando o trabalho em outro lugar da fábrica, paralisando
assim toda a produção na mesma.
"Para prevenir que os trabalhadores do turno da manhã
aderissem à ocupação, a diretoria decretou
recesso' a partir de segunda-feira e impediu que os trabalhadores
entrassem na fábrica".
"A diretoria organizou deliberadamente a destruição
de dois carros estacionados fora do complexo da Hyundai e culpou
os trabalhadores-agitadores por isso. Em seguida, uma reclamação
foi registrada na polícia contra os operários. Logo
depois, na manhã do dia 8 de junho, a polícia entrou,
expulsou os trabalhadores engajados na ocupação
e prendeu-os".
Um trabalhador efetivado na fábrica da Hyundai recebe
um piso salarial de 7.760 rúpias (US$ 165). Somando vários
benefícios para aluguel, educação e plano
de saúde, um trabalhador efetivado pode receber um salário
mensal de 29.000 rúpias (US$ 620). Mas trabalhadores efetivos
representam menos do que um quarto da força de trabalho
total do complexo da Hyundai de Sriperumbudur. Mais do que três
quartos da força de trabalho é composta de trabalhadores
temporários - eventuais, aprendizes e outros estagiários
- que recebem apenas uma fração deste montante.
Além disso, os trabalhadores efetivos temem que a Hyundai
planeja invocar a crise econômica como justificativa para
reduzir o pagamento.
Tendo em vista dividir os trabalhadores, a Hyundai insiste
que os efetivos supervisionem o trabalho dos aprendizes, técnicos
estagiários, eventuais e terceirizados. E, por meio de
ameaças de demissão imediata, empurra os trabalhadores
temporários a cumprir com o trabalho dos efetivos quando
estes tomam alguma ação organizada.
R. K., 25 anos, descreveu como a diretoria sistematicamente
viola o direito dos trabalhadores, efetivos ou temporários:
"Os efetivos têm direito a 8 dias de licença
casual, 3 dias de licença por motivos pessoais e 7 dias
de licença médica por ano. Mas a diretoria se recusa
a pagar por qualquer uma dessas licenças remuneradas. Por
exemplo, se um efetivo tira um dia de licença médica,
seu salário é cortado no equivalente a um dia".
"Um operário na fábrica da Hyundai só
pode ser efetivado após passar por um período de
4 anos de treinamento intensivo - treinamento de aprendiz no primeiro
ano, de aprendiz técnico por dois anos e finalmente de
técnico por um ano. Mas experiências recentes demonstram
que muitos trabalhadores que passaram por esse treinamento não
foram efetivados. E muitos outros trabalhadores foram demitidos
sob um pretexto qualquer".
Na prática não há segurança de
emprego. Se um trabalhador é flagrado em envolvimento com
qualquer tipo de oposição à diretoria, ele
é demitido sob algum pretexto ou remanejado para um trabalho
mais pesado em outro setor da fábrica".
Durante seu período de "treinamento", os trabalhadores
têm que dar duro por baixos salários, em condições
adversas. R. K. disse: "Um aprendiz recebe 3.500 rúpias
(US$ 75) por mês. Eles têm apenas dois dias de férias
no ano. Eles não têm nenhum outro direito. Técnicos
estagiários são pagos 5.000 rúpias (menos
que US$ 110) por mês. Eles ganham 10 dias de férias
por ano. Desde 2001 nenhum deles foi efetivado".
"Trabalhadores eventuais e terceirizados recebem de 100
rúpias (US$ 2) a 120 rúpias (menos que US$ 2,15)
por dia. Eles não têm férias e não
ganham nem mesmo a xícara de chá que os outros trabalhadores
ganham. Eles têm que esperar até que os outros trabalhadores
terminem de tomar seu chá para poderem usar a mesma xícara,
pagar e tomar chá. Eles também não têm
direito às refeições da cantina, tendo que
comprar seu almoço fora".
"Na cantina da empresa, nenhuma refeição
decente é servida. Chapatti duro (um pão do norte
da Índia feito com farinha de trigo) e arroz borrachento'
é o que servem".
Uma década atrás, em discurso aos trabalhadores,
o Diretor Executivo da Hyundai disse que se a empresa produzisse
100.000 carros o investimento inicial seria recuperado. Desde
então, o complexo da Hyundai produziu 1,5 milhão
de veículos. Enquanto que a planta, agora fechada, da Standard
Motors em Chennai produzia 22 carros/hora com uma força
de trabalho efetiva de 2.000, a planta da Hyundai jorra 56 carros/hora.
No entanto, não houve nenhuma melhora significativa nos
níveis de vida dos trabalhadores".
Explicamos aos trabalhadores da Hyundai que, para combater
empresas multinacionais como a Hyundai - empresas que carregam
governos nos bolsos e buscam jogar trabalhadores de diferentes
países e fábricas uns contra os outros - é
necessário forjar a unidade internacional da classe trabalhadora.
A isso, outro trabalhador, S.V., respondeu: ""Não
há ninguém para nos unir aqui. Quando organizamos
nossas reuniões e agitações, dirigentes sindicais
de outras indústrias vêm aqui, falam e depois deixam
tudo na mesma. Só isso. Quando perguntamos a Soundarajan
[o director do CITU no estado] sobre isso, ele disse que chegará
o momento em que nos uniremos. Pelo que vocês dizem, fica
claro que precisamos de uma organização para nos
unir".
R. J., diretor sindical do HMIU, disse em resposta a uma questão
sobre o papel do Partido Comunista da Índia (Marxista),
ou PCM, na luta dos trabalhadores da Hyundai: "Quando perguntamos
a Soundarajan sobre a possibilidade de o PCM assumir a responsabilidade
de mobilizar os trabalhadores em apoio a nossa luta, ele disse
que o partido é diferente do sindicato. Ambos não
podem ser fundidos e o partido não intervirá nas
lutas sindicais".
Quando explicamos como os governos de estado liderados pelo
PCM em Bengala Ocidental e Kerala namoram os investimentos do
grande capital através de isenção de impostos,
zonas francas e medidas anti-sindicais, ele disse: "Eles
[os governos dirigidos pelo PCM] trabalham pelos interesses de
diferentes estados regionais. Mas pelo que você explica,
entendo que eles não estão trabalhando pelos interesses
dos trabalhadores, mas da classe capitalista".
Quando perguntados o que pensam do governo do estado, dirigido
pelo DMK, que até dois anos atrás gozavam do apoio
do PCM e sua Frente de Esquerda, NK, disseram: "Sabemos muito
bem que Karunanidhi [governador eplo DMK] não fará
nada. Na planta da Nokia foi possível reconhecer o seu
LPF [Frente Trabalhista Progressista, central sindical ligada
ao DMK], mas aqui não conseguimos reconhecimento para o
nosso sindicato".
Quando explicamos a necessidade de uma mobilização
internacional dos trabalhadores na base de um programa socialista
em comum, muitos dos trabalhadores da Hyundai expressaram apoio.
Um deles disse: "Os governos estão convidando-as [empresas
transnacionais] aqui. Teremos que agir como vocês dizem.
Os trabalhadores devem se unir, independente de casta, religião
ou língua materna".
(traduzido por movimentonn.org)
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