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Espanha: governo do Partido Socialista pretende impor "reformas trabalhistas"

Por Paul Stuart
30 de junho de 2010

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A economia espanhola, a quinta maior da Europa, enfrenta a crise econômica. Os métodos usados para forçar a Grécia a implantar severas medidas de austeridade estão agora sendo implantadas na Espanha, mesmo que cada ataque contra a classe trabalhadora seja recebido nos mercados internacionais como inadequado.

Francisco González, presidente do segundo maior banco da Espanha, o BBVA, declarou: "A maioria das empresas espanholas e grupos financeiros estão excluídos dos mercados internacionais" e incapazes de obter crédito. José García Zárate, estrategista do 4CAST, disse que o governo "perdeu toda a credibilidade do mercado e ninguém o está ouvindo mais".

Em resposta a suas demandas, o primeiro-ministro, José Luis Zapatero, do Partido Socialista (PSOE), declarou que faria "tudo o que fosse preciso" para recuperar a confiança do mercado. Ele anunciou € 15 bilhões em cortes sobre um pacote de cortes total de € 50 bilhões, o congelamento dos salários do setor público e a imposição de “reformas trabalhistas" que vão eliminar o que resta da proteção aos trabalhadores e declarou que os ataques não mudarão seu curso.

Quando a crise econômica mundial começou, em 2008, Zapatero declarou que o governo não escolheria as vítimas da crise, com duras medidas de austeridade. Agora ele está exigindo que a classe trabalhadora suporte toda a conta do projeto para o resgate da aristocracia financeira, por meio de cortes salariais, perdas de emprego e eliminação da proteção do emprego sob condições nas quais o desemprego já é de 20%(previsto para chegar a 23%até ao final de 2010 ) e tão alto quanto 40% entre os jovens.

O governo do PSOE está impondo o maior ataque à classe trabalhadora desde a queda da ditadura de Franco, mas nem isso satisfez a organização patronal CEOE. Quando as negociações entre governo, sindicatos e empregadores faliram em 15 de junho, líderes empresariais declararam que as propostas de Zapatero não foram longe o suficiente. Eles estão exigindo a destruição de todas as formas de proteção social.

Eles foram reforçados pelas declarações do Fundo Monetário Internacional, dos funcionários da União Européia e do Governo dos Estados Unidos, que realizaram uma série de reuniões com Zapatero e seus ministros e disseram para eles pararem de trair seus interesses e para implementarem rapidamente medidas de austeridade. Eles se queixaram de que o discurso sobre a reforma trabalhista se arrasta há quase dois anos dentro do PSOE, seus aliados na União Geral dos Trabalhadores (UGT), nas Comissões Operárias (CCOO) e federação dos empregadores CEOE.

Após uma reunião com funcionários do FMI, Zapatero não só tranqüilizou-os de seu compromisso com medidas de austeridade, mas se comprometeu a acelerar o trabalho de reforma e colocá-la na legislação até o final de julho. Ele acrescentou que iria finalizar os ataques drásticos às aposentadorias na mesma data. Em 16 de junho, o gabinete do PSOE acordou um decreto sobre a reforma trabalhista e agora está procurando forçá-lo, em 22 de junho, através do parlamento.

O jornal The Economist, de 17 de junho, relatou que a reação de "espanhóis comuns" com o decreto "era difícil de medir", em parte porque, no dia em que a reforma foi revelada, a Espanha estava jogando sua primeira partida na Copa do Mundo. "O governo insistiu que o momento foi uma coincidência, mas para muitos espanhóis a transmissão televisiva de acontecimentos desportivos importantes, em momentos de tensão política, é uma reminiscência da era Franco", acrescentou a revista.

Porta-vozes do maior partido da oposição conservadora, Partido Popular (PP), atacou as propostas por não irem longe o suficiente, ao mesmo tempo que emitiu declarações públicas hipócritas, fingindo preocupação com o efeito das medidas de austeridade sobre as camadas mais pobres da sociedade . O presidente da nacionalista União Catalã (CiU), Artur Mas, disse que estava disposto a votar a favor, apesar do "espaço para melhorias" , e o Partido Nacionalista Basco (PNV), também disse ter apoiado as alterações.

Os trabalhadores reagiram às medidas de austeridade com lutas cada vez maiores. Trabalhadores ferroviários realizaram uma greve nacional em 28 de maio, seguida pelos trabalhadores do setor público em 8 de junho. Em 30 de junho uma greve geral está para acontecer no País Basco e em 9 de setembro uma manifestação em massa vem sendo chamada pelos sindicatos em Madri.

Os dirigentes sindicais ameaçam greve geral em 29 de setembro, dia em que a Confederação Européia de Sindicatos (CES) chamou "um dia de ação" em escala européia. No entanto, o secretário-geral da CES, John Monks deixou claro que 29 de setembro não é uma greve geral, mas tem sido chamado para pressionar uma reunião de ministros das Finanças da UE que ocorre nesse mesmo dia. Ele alertou que os países europeus não têm escolha senão aceitar as condições estabelecidas pela UE e pelo FMI para o pagamento dos empréstimos.

Os sindicatos espanhóis disseram que a ação de 29 de setembro (três meses depois do PSOE implementar a reforma trabalhista) é "oportuna", justificando que irá permitir aos espanhóis avaliar o impacto do programa econômico do governo. Com isso, eles esperam ganhar tempo para direcionar a imensa tensão social para dentro das vias de segurança, pressionando o PSOE e a União Européia para suavizar as arestas de seu ataque brutal.

Em uma entrevista coletiva em 15 de junho, o chefe da CCOO, Ignacio Toxo, e o líder da UGT, Cándido Méndez, declararam que a greve "não é para mudar o governo", mas para fazê-lo alterar a sua direção. Anteriormente Toxo avisou, "A greve geral seria a pior coisa a acontecer na Espanha."

A única preocupação da burocracia sindical é como salvar o capitalismo. Eles apoiaram a eleição do PSOE em 2004 e tem operado como seus parceiros leais desde então, ajudando a reforçar as políticas que levaram à proliferação de contratos temporários, cortes de empregos, aumento da idade de aposentadoria e o congelamento de pagamentos e de pensões. A burocracia tem procurado limitar a greve a um único dia, ou, como na greve ferroviária de 28 de maio, concordando em operar os serviços básicos, o que reduziu o seu impacto e criou divisões entre os trabalhadores. A burocracia tem tentado limitar a oposição às medidas de austeridade, argumentando que se os trabalhadores forçarem demais, o PSOE vai ser derrubado e o PP vai voltar ao poder.

A burocracia sindical está preocupada com o fato de que o PSOE será ineficaz na resolução da crise econômica do capitalismo. Toxo disse aos jornalistas: "A visão tanto do CCOO quanto da UGT é de dar uma resposta completa, tanto para o plano de austeridade quanto para qualquer reforma trabalhista em potencial que seria introduzida por decreto, o que seria prejudicial para o nosso país."

A incapacidade dos sindicatos para chegar a um acordo público com o governo não é porque eles se opõem aos cortes. Eles diferem apenas na tática. Isso fica muito claro pela explosão de Toxo, quando ele declarou: "Eu quero acreditar que até o último minuto há uma possibilidade de chegar a um acordo", acrescentando: "O governo tem me decepcionado."

A força principal que impede que a classe operária rompa com a aliança sindicato do PSOE é a Esquerda Unida (IU), liderada pelo Partido Comunista Espanhol. Estes ex-esquerdistas têm aliança com o PSOE no governo e nas autoridades locais em toda a Espanha e têm altos cargos dentro da burocracia sindical.

O apoio da IU à greve de 29 de setembro e a entrega de toda a autoridade à burocracia sindical tem como objetivo apresentar um protesto formal à reforma trabalhista, enquanto o PSOE e a elite financeira estão abrem espaço para forçar medidas de austeridade.

O chefe da IU, Cayo Lara, intima Zapatero a parar de agir como um "mensageiro" para os mercados e a agir como representante de sua “base social”. A idéia de que Zapatero, um funcionário da aristocracia financeira, tenha também uma base social na classe trabalhadora ou que o PSOE possa ser deslocado de seu atual caminho tem como objetivo deliberadamente confundir e desorientar a classe trabalhadora.

O programa da IU é inteiramente burguês e tenta criar ilusões de que a crise econômica possa ser resolvida sem que a classe trabalhadora assuma o controle dos bancos e grandes empresas. A queda no apoio à IU nas últimas eleições estava relacionada a sua imagem de auxiliar do PSOE. A IU apoiou a eleição do PSOE e agora trabalha com os sindicatos para proteger o governo de uma radicalização política da classe trabalhadora, enquanto ele busca salvar o capitalismo à custa das massas.

(traduzido por movimentonn.org)

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