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Novas greves sacodem as plantas automotivas da China
Por Peter Symonds
30 de junho de 2010
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Novas greves em fornecedoras de autopeças interromperam
a produção de grandes plantas de montagem da Toyota,
Nissan e Honda, na província costeira sulista de Guangdong,
China. As paralisações fazem parte de uma onda de
agitação operária que sacode as maiores produtoras
automotivas desde meados de maio, trazendo preocupação
aos círculos de poder chineses e internacionais.
Centenas de trabalhadores da Denso (Guangzhou Nansha), de propriedade
de uma afiliada da Toyota, pararam de trabalhar na segunda-feira,
exigindo um reajuste salarial de 800 yuans (118 dólares),
o direito de estabelecimento de um sindicato independente e a
promessa de nenhuma punição aos grevistas. Os salários
mensais da maioria dos trabalhadores da firma está entre
1.100 e 1.300 yuans.
Uma declaração do governo afirmava que somente
200 trabalhadores estavam envolvidos, mas os operários
insistiram que cerca de metade da força de trabalho da
Denso - de 1.200 trabalhadores - havia aderido à ação.
Com a continuidade da greve, na terça-feira a Toyota foi
forçada a suspender a produção em sua grande
planta de montagem de Guangdong, a GAC Toyota Motor, que apresenta
uma produção anual de cerca de 360 mil carros.
A Denso é a principal fornecedora de injetores de combustível
e outros componentes para companhias automotivas na China, incluindo
a Toyota, Honda e Volkswagen. Se isso continuar, o impacto
sobre as montadoras, mesmo as do norte da China, como a Toyota
em Tianjin e a Hyundai em Beijing, será contagioso, já
que somos fornecedor primário, um jovem trabalhador
disse ao South China Morning Post.
As negociações começaram na quarta-feira,
depois que os grevistas elegeram 20 representantes. Eles voltaram
para a fábrica, bateram cartão e vestiram os uniformes,
mas se recusaram a trabalhar. O administrador geral da planta
da Honda em Guangzhou, Zeng Qinghong, também delegado do
Congresso Nacional do Povo, foi trazido para mediar o conflito.
Ainda assim, os debates se estenderam até quinta-feira.
Os trabalhadores da Denso finalmente voltaram ao trabalho depois
que a administração concordou com aumentos salariais
gerais de 800-900 yuans/mês. A produção deve
ser retomada na planta de montagem da Toyota em Guangzhou já
na próxima semana.
A Honda foi atingida por uma nova greve das fornecedoras de
autopeças quando operários da NHK-UNI Spring (Guangzhou)
pararam a produção na quarta-feira, exigindo que
seus salários fossem aumentados dos atuais 1.200 para 1.700
yuans, e que seus bônus de final de ano subissem dos atuais
1.200 para 6.800 yuans. A fábrica, que é de propriedade
conjunta da japonesa NHK Spring e de uma firma taiwanesa, produz
molas de suspensão e estabilizadores.
A greve novamente compeliu a Honda a parar a produção
na quinta-feira em suas duas fábricas de montagem em Guangdong.
A companhia também havia sido afetada por uma série
de greves que começaram com uma interrupção
de duas semanas no trabalho em sua planta de transmissões
de Foshan. A interrupção se espalhou para outras
plantas de peças automotivas da cidade: a Honda Lock em
Zhongshan, e, na semana passada, a Wuhan Aliança de Autopeças.
As vendas e produtividade da Honda caíram bastante em
maio. De acordo com estatísticas divulgadas durante a semana,
em comparação a abril a produção caiu
em 37%. As vendas continentais da Honda caíram em 10%,
de um ano para o outro, embora tenha havido um crescimento de
33% nas vendas de carros do setor automotivo como um todo. Os
analistas da JP Morgan estimam que a perda produtiva de cerca
de 20 mil veículos custaria aos negócios continentais
da Honda cerca de 12 bilhões de yuans (134 bilhões
de dólares) em lucros operacionais.
A greve na NHK-UNI Spring também forçou a Nissan
a suspender por duas horas a produção em sua planta
de Guangzhou. A produção recomeçou na quinta-feira,
mas não há informações sobre qual
foi a base do acordo.
Vários relatos da mídia especulavam que o regime
chinês está tacitamente permitindo as greves como
meio de elevar os salários e, conseqüentemente, o
consumo doméstico. Um artigo do New York Times de
quinta-feira comentava: A tática da China nesta semana,
de tornar sua moeda, o renminbi [moeda do povo, cuja principal
unidade é o yuan], mais flexível, e a aparente tolerância
das autoridades diante de greves fabris recentes, que levou a
aumentos salariais significativos, sinalizam que os líderes
chineses podem estar falando sério sobre reprojetar o modelo
econômico [exportador] da nação.
Pequim está observando de perto a inquietação
operária e colocou a polícia em alerta elevado.
As autoridades estão particularmente nervosas com o fato
dos trabalhadores em greve estarem denunciando a central sindical
estatal, a Federação Nacional de Sindicatos da China
(FNSC), e levantando exigências de eleição
de seus próprios representantes, assim como o estabelecimento
de sindicatos independentes, que são ilegais sob a lei
chinesa.
A FNSC é notória em seu caráter de força
policial industrial, a serviço do governo e das corporações
privadas. O South China Morning Post observou: A equipe
dos sindicatos é composta de servos civis que integram
a lista de pagamento do governo, e mesmo representantes sindicais
em companhias particulares - como a Honda Lock em Zhongshan -
muitas vezes também são executivos-sênior
dessas companhias.
O professor Lin Yanling, do Instituto Chinês de Relações
Industriais, disse ao jornal que a prioridade dos sindicatos não
era o bem-estar dos trabalhadores. A lei conferiu a eles
a responsabilidade de proteger os interesses dos trabalhadores,
mas na realidade os sindicatos são designados pelo partido
[Comunista Chinês] e pelo governo com o objetivo de manter
a estabilidade social. Para eles isso é mais importante.
De acordo com um jornal de Hong Kong apoiado pelo governo,
o Ya Kung Pao, a Federação de Sindicatos de Guangdong
propôs com hesitação um esquema-piloto para
permitir que trabalhadores da Honda em Foshan elejam seus próprios
líderes sindicais, que seriam submetidos a avaliações
anuais. O plano, caso de fato entre em vigor, teria o objetivo
de cooptar uma camada militante de trabalhadores, a fim de conter
o que atualmente é um movimento de greve relativamente
limitado e evitar o surgimento de um movimento político
contra o governo.
Ao mesmo tempo, os métodos repressivos do governo já
estão em evidência. A polícia foi utilizada
na cidade setentrional de Tianjin, depois que greves estouraram
em duas plantas afiliadas da Toyota e ameaçaram afetar
a produção da gigantesca planta de montagem FAW
Toyota Motor.
No dia 17 de junho, enquanto a greve da fornecedora de autopeças
Toyodo Gosei, em Tianjin, se ampliava, ao menos 200 policiais
entraram na fábrica às 10 horas da noite e deram
um ultimato de 3 minutos para que cerca de 300 grevistas saíssem
do chão-de-fábrica. Uma testemunha disse ao South
China Morning Post que quando os trabalhadores não
obedeceram a polícia começou a empurrá-los
na direção das portas. Ele viu duas mulheres sendo
arrastadas, uma puxada por seu rabo-de-cavalo, e outra com as
mãos presas atrás das costas.
O jornal informou: Cerca de 16 trabalhadores foram levados
pela polícia naquela noite, e o resto deles sentou do lado
de fora da fábrica até 10 da manhã do dia
seguinte, exigindo a liberação de seus colegas,
a testemunha disse. Carros de polícia patrulharam
a área no domingo e segunda-feira, e bloqueios foram montados
nas quatro estradas que levam à fábrica. Na segunda-feira,
ao menos dois jornalistas foram escoltados para fora da área.
As greves no setor automobilístico não são
os únicos protestos e paralisações ocorrendo
na China. O South China Morning Post informou hoje que
centenas de trabalhadores industriais demitidos ou aposentados
haviam acabado de terminar um protesto de 1 semana em Shanxi,
exigindo do governo local compensação por salários
e benefícios não-pagos. Os ex-empregados de quatro
fábricas estatais se reuniram, manhã após
manhã, no portão frontal do prédio do governo
na cidade de Jiexiu, bloqueando o tráfego.
Feng Cai, de 70 anos, disse ao jornal que trabalhou em sua
fábrica por 40 anos, até que a falência foi
decretada em 2001. Os trabalhadores acusam a administração
de desvalorizar significativamente os bens da fábrica,
reduzindo enormemente a devida compensação dos trabalhadores.
Feng disse que algumas de suas ex-colegas recebiam 240 yuans por
mês e não podiam sequer pagar as refeições.
Milhões de trabalhadores perderam seus empregos nas últimas
duas décadas, conforme o governo chinês vendeu, reestruturou
ou fechou empresas estatais.
Embora a polícia monitore cuidadosamente todos os sinais
de inquietação social, o governo não divulga
estatísticas sobre as greves e protestos. De acordo com
um relatório do China Labour Bulletin, baseado em
Hong Kong, houve cerca de 127 mil protestos na China em 2008,
dos quais, estima-se, cerca de um terço teve relação
com questões trabalhistas. As últimas greves causaram
tremores na China e em todo o mundo, recebendo ampla cobertura
midiática, porque tiveram impacto sobre grandes corporações
estrangeiras de um setor-chave da indústria. Trata-se do
presságio de um movimento mais amplo da gigantesca classe
trabalhadora do país.
(traduzido por movimentonn.org)
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