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Alemanha: Medidas de austeridade da Chanceler relembram a
República de Weimar
Por Ulrich Rippert
16 de junho de 2010
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O pacote de austeridade de 80 bilhões anunciado
na semana passada pelo governo alemão, pedindo ataques
brutais contra os pobres, provocou indignação e
choque em amplas camadas da população.
Muitos reconhecem que os cortes -que tem como alvo os desempregados,
o fim do abono para licença maternidade, a abolição
do subsídio de aquecimento para aqueles que recebem subsídios
de habitação, bem como a anulação
das contribuições para o seguro de pensão
para os desempregados de longo prazo- são profundamente
anti-sociais, injustos e covardes. Enquanto isso, os bancos, os
especuladores e os responsáveis pela crise permanecem incólumes
e ditam os cortes nos gastos sociais.
O caráter provocativo destas políticas foi calculado.
O ataque aos membros mais fracos da sociedade não é
apenas resultado da arbitrariedade patológica e da arrogância
do líder do Partido Democrático Liberal (FDP), Guido
Westerwelle, e dos esforços da chanceler Ângela Merkel
(União Democrata Cristã - CDU) para salvar sua enfraquecida
coalizão governamental. O significado do pacote de austeridade
é mais fundamental e extenso do que isso.
Isso significa que a elite dominante decidiu colocar todo o
peso da crise financeira e econômica sobre as costas das
pessoas comuns. Isso não pode ser feito sem um grande confronto
e é, ao final, incompatível com a manutenção
das estruturas democráticas.
Estes eventos são uma reminiscência dos anos finais
da República de Weimar. Naquela época, assim como
agora, a classe dominante explorou a crise econômica mundial,
a fim de enriquecer-se além da medida. E, assim como as
medidas de austeridade hoje de Merkel, foi alegado naquela época
que não havia alternativa para os decretos de emergência
do governo de Brüning. No final, a resistência popular
foi reprimida pelo terror fascista e ditatorial.
O governo de Merkel está abrindo uma nova etapa da luta
de classes com o seu ataque covarde aos membros mais vulneráveis
da sociedade. A política de mediação social,
que a burguesia alemã adotou após da tragédia
de Weimar e os resultados catastróficos do nazismo, estão
irrevogavelmente acabados.
A classe trabalhadora não pode evitar um confronto.
É preciso se preparar para grandes batalhas de classe.
Isto faz necessário uma contabilidade política completa
e implacável.
Merkel, Westerwelle, o CEO do Deutsche Bank, Josef Ackermann,
etc, estão bem cientes que a grande maioria da população
rejeita a sua política anti-social. As eleições
na Renânia do Norte-Vestfália, no início de
maio, que desferiu um duro golpe contra a CDU e o FDP, mostrou
isso claramente.
Que estas políticas, que foram rejeitadas pelos eleitores,
estejam dando continuidade de forma ainda mais agressiva demonstra
que a elite dominante não leva em consideração
a vontade do povo. O programa do governo de 80 bilhões
em cortes representa um ataque à democracia e um passo
para formas autoritárias de governo.
Isto está em concordância com as políticas
de austeridade que estão sendo anunciadas por governos
em toda a Europa - Grécia, Espanha, Portugal, França,
Grã-Bretanha, Hungria, Romênia, etc - todas elas
seguindo ordens da máfia financeira internacional.
O governo de Merkel, assim como suas contrapartes na Europa,
está contando com o apoio tácito de todos os partidos
parlamentares e trabalhando em estreita colaboração
com os sindicatos. O clamor atual do Partido Social Democrata
(SPD), o Partido de Esquerda e os sindicatos é uma farsa
política. As convocações para protestos e
resistência de Willy Brandt Haus (da direção
do SPD), Karl Liebknecht Haus (da direção do Partido
Esquerda) e dos sindicatos são pura hipocrisia. Eles são
destinados a impedir o desenvolvimento de um movimento independente
que se liberte do poder dos sindicatos e do SPD.
Ninguém deve permitir que sua ira contra Merkel e Westerwelle
caiam nos discursos demagógicos dos burocratas sindicais.
É necessário manter a cabeça fria e examinar
atentamente os fatos políticos.
As medidas de austeridade de Merkel continuam a partir de onde
o governo do SPD-Partido Verde, com Gerhard Schröder (SPD)
e Joschka Fischer (Verdes), parou há cinco anos atrás.
Os maiores ataques ao estado de bem-estar ocorreram nesse governo.
Sua Agenda 2010, com "reformas" para o trabalho e bem-estar,
estabeleceu um patamar de baixíssimos salários.
Muitos que trabalharam ao longo de décadas e pagaram pelo
programa de seguro-desemprego foram rapidamente movidos do bem-estar
e levados para a pobreza abjeta.
O déficit orçamental, que é citado como
motivo para os cortes, não caíram do céu.
É, em primeiro lugar, o resultado da repetida redução
dos impostos corporativos e das taxas de imposto superiores impostos
pelo governo SPD-Verdes. A quota das despesas públicas
alemãs, ou seja, a parcela do produto interno bruto que
flui para os orçamentos federal, estaduais e locais, bem
como o sistema de seguridade social, tem caído desde meados
de 1990 de 50% para 44%, ou seja, abaixo do nível do Reino
Unido.
As dívidas estaduais crescentes são, por outro
lado, o resultado dos pacotes de resgate, totalizando mais de
um trilhão de Euros, que o governo entregou aos bancos
e especuladores, com a aprovação do SPD e os Verdes,
a fim de salvá-los e salvar o Euro depois do colapso.
A decisão do SPD e dos Verdes de nomear Joachim Gauck,
um confesso anti-comunista e ex-comissionário federal para
os documentos da Stasi, como candidato a Presidente da República
é mais um sinal político. O SPD e os Verdes querem
deixar claro que eles não têm graves divergências
políticas com Merkel, que proferiu um discurso entusiasmado
em janeiro, para marcar o aniversário de 70 anos de Gauck.
O SPD e os Verdes concordam com Merkel, que as medidas de austeridade
duras são necessárias. Sua crítica não
é se elas devem ser implementadas, mas sim como serão.
Eles acreditam que a coalizão de Merkel, Westerwelle é
muito fraca e inexperiente demais para suportar as pressões
esperadas de baixo. Se cortes drásticos precisam ser realizados,
devem ser feitas pelos especialistas do SPD em crueldade social,
segundo o credo social-democrata.
A atitude dos sindicatos é bastante semelhante. Seus
funcionários são visitantes freqüentes da chancelaria.
Apenas algumas semanas atrás, os delegados durante o congresso
da Federação Alemã de Sindicatos (DGB) aplaudiram
entusiasticamente a chanceler. Como em 1930, os sindicatos estão
respondendo à crise econômica, aproximando-se do
aparelho do Estado e parcialmente fundindo-se com ele.
Os burocratas do DGB consideram que a sua missão principal
é garantir a manutenção da ordem burguesa.
Enquanto os empregadores e o governo declararam guerra contra
a classe trabalhadora, os sindicatos estão fazendo todo
o possível para segurar os trabalhadores, limitando-os
aos protestos inócuos e tentando bloquear qualquer mobilização
independente.
Um papel particularmente desagradável é desempenhado
pelo Partido de Esquerda, que está intimamente ligado com
a burocracia sindical. A advertência do líder parlamentar
do partido, Gregor Gysi, de que as medidas de austeridade de Merkel
estão colocando em risco a paz social na Alemanha é
característico.
Quando a República Democrática Alemã (Alemanha
Oriental, RDA) ainda existia, o aparelho de antecessor do Partido
de Esquerda foi utilizado para assegurar o poder da burocracia
governante em nome da preservação da paz social.
Agora, eles se oferecem como especialistas no controle da classe
trabalhadora.
Raramente houve um partido tão desonesto como o Partido
de Esquerda. Embora proteste contra os cortes sociais, qualquer
que seja a cadeira que ocupe no governo - como no Senado de Berlim,
no governo do estado de Brandemburgo, e muitas autoridades locais
(principalmente do leste alemão) - também impõe
cortes sociais, com particular dureza.
A atitude do Partido de Esquerda foi semelhante quando se tratava
de pacotes do resgate do governo aos bancos. Primeiro, ele aprovou
o uso de procedimentos parlamentares acelerados , sinalizando
o seu apoio. Em seguida, ele votou contra a proposta de fundo
de aplicação das medidas de emergência, porque
sabia que seus votos não eram mais necessários para
garantir uma maioria.
Há uma importante lição da tragédia
de Weimar: Se estes oportunistas da política não
são contestados, uma catástrofe política
é inevitável.
Os trabalhadores não devem deixar-se embalar pelos discursos
demagógicos dos burocratas sindicais, seus defensores no
Partido de Esquerda e os seus apologistas pequeno-burgueses. Os
trabalhadores necessitam de um novo partido que aborda o problema
na sua raiz.
O Comitê Internacional da Quarta Internacional e sua
seção alemã, o Partei für Soziale Gleichheit
(Partido da Igualdade Socialista), estão lutando por um
programa socialista internacionalista que incide sobre a expropriação
dos bancos e grandes corporações. Só nesta
base é possível quebrar a ditadura do capital financeiro
e estabelecer um governo dos trabalhadores que prossegue a partir
das necessidades da população, e não dos
interesses de lucro das grandes empresas.
(traduzido por movimentonn.org)
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