WSWS : Portuguese
Mídia européia alerta contra inquietação
social global
Por Chris Marsden
15 de junho de 2010
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Publicado originalmente em inglês no WSWS em 2 de
junho de 2010.
Quando Karl Marx escreveu no Manifesto Comunista que "um
espectro ronda a Europa", o fez às vésperas
de erupções revolucionárias, que começaram
na Itália e França em 1848 e se espalharam por grande
parte do continente europeu.
Em nosso atual momento, uma série de comentários
na mídia prevê uma erupção semelhante
de agitação social de dimensões revolucionárias,
como resultado direto do agravamento da crise econômica.
Esses avisos são acompanhados por terríveis previsões
de que a Europa sofrerá com o retorno de tensões
nacionalistas, o surgimento de movimentos fascistas e até
mesmo a guerra.
O historiador Simon Schama, por exemplo, escrevendo no Financial
Times de 24 de maio, afirmou: "Longe de mim tornar uma
situação arriscada ainda mais arriscada, mas não
há como não perceber, ao sentir o odor do enxofre
no ar, que estamos no limiar de uma era de raiva. (...) Na Europa
e na América há uma possibilidade distinta de um
verão longo e quente de descontentamento social".
Schama observa que, em geral, há um "lapso de tempo
entre o início de um desastre econômico e a acumulação
da fúria social", mas, após um período
inicial de "medrosa desorientação", novamente
aparece o perigo da "mobilização organizada
da indignação".
Essa indignação será dirigida contra os
burgueses e aqueles vistos como responsáveis pela crise,
escreve ele, comparando os "nossos próprios plutocratas"
com os financistas tão memoravelmente alvejados durante
a Revolução Francesa de 1789 como "egoístas
ricos".
No Observer de 30 de maio, Will Hutton, ex-editor do
jornal e agora um consultor da coligação Conservadora-Liberal
Democrata do governo britânico para o corte de salários
do setor público, declara: "O futuro da Europa está
em jogo. A potencial desintegração do euro será
um desastre econômico e político de primeira ordem.
Economicamente, vai mergulhar a Europa em desvalorizações
competitivas, calotes em dívidas, resgates a bancos, fluxos
de créditos congelados, proteção comercial
e estagnação prolongada. Politicamente, por mais
que se resolva que temos que conter juntamente nosso continente
desigual, onde as velhas inimizades e suspeitas nunca estão
longe da superfície, tal proposição evaporará.
(...) O que surgirá será uma Europa mais próxima
daquela dos anos 1930. Temerosa, estagnada e presa ao racismo
vicioso das ideologias nacionalistas".
De longe, o aviso mais apocalíptico do que está
por vir foi feito pela Deutsche Welle, da Alemanha, em
26 de maio. Seu artigo começa retomando as advertências
feitas em 2008 a respeito da crise pelo Secretário-Geral
das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pelo chefe do FMI,
Dominique Strauss-Kahn, e por Robert Zoellick, presidente do Banco
Mundial. Strauss-Kahn, por exemplo, alertava que "a inquietação
social pode acontecer em muitos países, incluindo nas economias
avançadas".
A Deutsche Welle escreve que estes avisos são
"mais próximos hoje do que em qualquer outro momento
desde que a atual crise financeira, a pior desde 1929, iniciou-se".
Citando as manifestações de centenas de milhares
de pessoas na Grécia, adverte que o mesmo destino pode
engolir "governos europeus financeiramente frágeis,
como a Espanha, Portugal e Itália" e que "todas
as nações ao redor do mundo estão preocupadas
com o crescente descontentamento social".
"Existe um sentimento entre os especialistas de que a
profunda raiva fermentando nesses países fermenta também
no mundo inteiro, contra as mesmas instituições,
as mesmas pessoas e o fracasso do capitalismo global", afirma
o relatório.
Ele cita como o diretor da serviço de inteligência
nacional dos EUA, Dennis C. Blair, advertiu o Comitê de
Inteligência do Senado do país a respeito de uma
crise econômica continuada, que "aumenta o risco de
instabilidade do regime", à qual "os Estados
Unidos não estariam imunes".
A Deutsche Welle termina seu artigo com observações
de Marie-Hélène Caillol, presidente do Laboratório
Europeu de Antecipação Política, e Gerald
Celente, previsor de tendências políticas e financeiras
e editor do periódico Trends.
Celente explica: "O que acontece na Grécia vai
se espalhar no mundo inteiro com o declínio das economias.
(...) Veremos crescente agitação social em todas
as nações confrontadas com a crise da dívida
soberana, os mais óbvios sendo a Espanha, Irlanda, Portugal,
Itália, Islândia, Ucrânia, Hungria, seguida
pelo Reino Unido e os Estados Unidos".
Por sua vez, Calliol declara: "A crise está diretamente
ligada ao fim da ordem mundial como a conhecemos desde 1945 -
e mesmo antes, desde o processo de colonização europeu.
Portanto, toda a estrutura global centrada sobre os EUA há
60 anos está lentamente entrando em colapso, gerando tumulto
de todos os tipos".
Perguntada a respeito de onde vai levar tal agitação
social, respondeu: "Guerra. É tão simples e
terrível assim".
Ambos, Calliol e Celente, rejeitam as reclamações
de que agitadores estariam por trás da onda de agitação
social.
"Não há nenhuma organização
por trás dessa resposta - é uma resposta pública",
afirmou Celente, que também invoca a obra monumental de
Marx: "Trata-se de uma versão do século XXI
do proletários de todo o mundo, uni-vos'. As pessoas
estão plenamente conscientes do enorme resgate àqueles
que são 'grandes demais para falir' e que são
forçadas a pagar por isso. Quanto mais alto são
os impostos, quanto mais empregos perdidos, maiores os níveis
de protesto".
Tais declarações demonstram a seriedade com que
os governantes da Europa vêem o crescente perigo de uma
revolução social no continente. Isso é o
que os seus assessores dizem ser o produto inevitável do
agravamento da crise econômica. Isso, no entanto, torna
ainda mais determinados os seus esforços para descarregar
sobre os trabalhadores todo o peso da crise, no interesse dos
grandes bancos e corporações.
As classes dominantes da Europa se preparam para o aparecimento
de lutas massivas da classe trabalhadora, através da promoção
de várias organizações pequeno-burguesas
pseudo-esquerdistas para evitar o desenvolvimento da consciência
socialista e bloquear a independência política da
classe trabalhadora - o Novo Partido Anti-Capitalista (NPA) na
França, o Partido da Esquerda na Alemanha, o SYRIZA na
Grécia etc. Também se preparam para o uso da repressão
estatal maciça e a introdução de formas mais
autoritárias de governo.
A vantagem hoje apreciada pela classe dominante é que
a classe trabalhadora não tem a necessária perspectiva
socialista e revolucionária, assim como não tem
constituída a direção para montar seu próprio
contra-ataque. Em vez disso, essas organizações
falsamente designadas como representantes dos trabalhadores, sobretudo
os sindicatos, agem como uma quinta coluna do big bussines.
Mesmo que estes organizem suas várias greves de protesto
de um dia, como na Grécia, Portugal, Espanha e Itália,
ou não façam nada, como no Congresso dos Sindicatos
do Comércio na Inglaterra, os sindicatos funcionam como
instrumentos para a imposição das medidas de austeridade
e cortes contínuos de supressão deliberada e contenção
da luta de classes. Eles trabalham de mãos dadas com os
empregadores e os governos, quer estes sejam formalmente seus
colegas sociais e democráticos ou a mais maliciosa das
administrações conservadoras.
No final das contas, tudo isso apenas significa que a emergente
luta de classes passará por cima de tais organizações
como uma grande onda. O World Socialist Web Site faz suas
as palavras contidas no prognóstico de Trotsky no Programa
de Transição: "A orientação
das massas determina-se, por um lado, pelas condições
objetivas do capitalismo em putrefação; por outro,
pela política traidora das velhas organizações
operárias. Desses dois fatores, sem dúvida, o primeiro
é o decisivo: as leis da história são mais
fortes que os aparelhos burocráticos".
Longe de ser uma fonte de complacência ou fatalismo,
este prognóstico ressalta a questão crucial da direção
revolucionária. O instrumento indispensável para
preencher a lacuna entre as implicações revolucionárias
da crise mundial e o atual nível de consciência da
classe operária é o partido marxista. Aqueles que
vêem a necessidade de uma alternativa socialista devem tomar
a decisão de participar e construir o Socialist Equality
Party (SEP - Partido da Igualdade Socialista).
(traduzido por movimentonn.org)
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