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Um ano da falência da GM
Por Jerry White
15 de junho de 2010
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Publicado originalmente em inglês no WSWS em 4 de
junho de 2010.
Esta semana completa um ano desde que a gigante de automóveis
americana General Motors declarou falência no contexto da
maior quebra de uma indústria da história dos EUA.
O pedido de arquivamento, de 1º de junho de 2009, ordenado
pelo governo Obama, abriu caminho para a destruição
de dezenas de milhares de postos de trabalho, o fechamento de
dúzias de plantas de montagem e de autopeças e de
mais de 1000 concessionárias de carros.
A insolvência da fabricante de carros mundial produziu
repercussão internacional, incluindo demissões no
Canadá, o fechamento da planta da Opel na Bélgica
e o aniquilamento de ao menos 8300 empregos na Alemanha, Espanha,
Grã-Bretanha e outros países europeus.
Até 2012, o plano de reestruturação da
GM deverá incluir a eliminação de 31000 horistas
e mensalistas de sua força de trabalho de 96000 funcionários
americanos, medida planejada para cortar os gastos com folha de
pagamento em 30%. Isso exige um terrível preço a
ser pago pela população de cidades e comunidades
em Michigan, Ohio e outros estados já economicamente arrasados,
onde números recordes de trabalhadores estão perdendo
seus lares e governos e escolas locais já se encontram
sem dinheiro.
Além dos cortes de empregos, os salários e benefícios
que restarão na Nova GM - que emergiram dos
julgamentos do caso de falência em 10 de julho de 2009 -
foram brutalmente decepados. Sob as condições ditadas
pelo Departamento de Tesouro dos EUA e impostas pelo sindicato
United Auto Workers, os salários para trabalhadores atuais
foram congelados e os aumentos relacionados ao custo de vida,
eliminados; intervalos e férias foram substancialmente
reduzidos e os aposentados foram roubados de seus benefícios
médicos, incluindo plano odontológico e de oftalmologia.
A nova geração de trabalhadores automotivos sair-se-á
ainda pior. O salário inicial de novos contratados - US$
14 por hora - traduz-se em uma renda anual de US$ 28000 sem contar
a dedução de impostos e contribuição
sindical. Isso é menos que a metade da média anual
de renda doméstica americana e está muito pouco
acima da fronteira das estimativas subestimadas pelo governo de
nível de pobreza para uma família de quatro membros.
Pela primeira vez em um século, trabalhadores automotivos
não serão capazes de comprar o próprio carro
que constroem.
O analista da Citi Investment Research, Itay Michaeli, ostentou
na semana passada que o custo fixo por veículo da GM cairá
de US$ 10400 no ano passado para US$ 7280 neste ano, e cairá
para US$ 5772 em 2012. Nos próximos cinco anos, os custos
trabalhistas da GM e da Chrysler - que decretou falência
em 30 de abril de 2009 - poderão ser mais baixos do que
qualquer planta automotiva japonesa não-filiada a qualquer
sindicato nos EUA, tornando lucrativo para a empresa a construção
de carros de pequeno porte nos EUA, mais do que no México.
Como resultado, a companhia automotiva anunciou recentemente
que sua renda líquida aumentou em US$ 865 milhões,
em contraste aos US$ 6 bilhões que havia perdido no mesmo
período do ano passado. Além disso, enquanto os
trabalhadores vêem seus empregos, suas comunidades e sua
sobrevivência sendo devastados, Wall Street deverá
colher frutos inesperados da futura venda das ações
da GM que o governo americano tem em mãos.
De acordo com o Wall Street Journal, os banqueiros
de Wall Street estão salivando sobre um de seus maiores
dias de pagamento potenciais desde o derretimento dos mercados
de 2008: a oferta pública inicial planejada da General
Motors. Com alguns analistas prevendo que uma venda de títulos
da GM poderia render US$ 70 bilhões - se a ação
for vendida entre $ 113 e $ 137 -, grandes companhias financeiras
podem fazer quase US$ 2 milhões em honorários, a
maior pilhagem adquirida a partir de uma única negociação
de títulos na história.
No que Wall Street chamou de concurso de culinária,
banqueiros maiores do JPMorgan Chase, Morgan Stanley, Bank of
America, Citigroup e Goldman Sachs participaram de uma série
de reuniões com a GM e oficiais do Tesouro americano para
convencer o governo Obama a selecioná-lo como o principal
subscritor de ações do negócio.
Ambos os czares de carros da Casa Branca que acompanharam
a falência da GM e da Chrysler são ex-executivos
da Lazard, outra firma de Wall Street contratada pelo governo
para prestar serviços de assessoria na venda dos US$ 40
bilhões que este possui em participação orçamentária
da GM. O investidor Steven Rattner, cuja fortuna é calculada
em nada menos que US$ 600 milhões, está passando
por problemas com a reguladora dos mercados de ações
americanos (Securities and Exchange Commission) devido a seu envolvimento
em um esquema de suborno para obter investimentos lucrativos do
fundo de pensões do estado de Nova York.
Além dos grandes investidores, o aparato sindical da
UAW também está no páreo para lucrar bilhões
com a venda dos títulos da GM. Em troca de sua colaboração
na destruição de empregos, condições
de trabalho e padrão de vida dos trabalhadores que representa
abertamente, a UAW recebeu o controle de um fundo multibilionário
de assistência médica para aposentados, cargos na
comissão de diretores, participação orçamentária
de 17,5% na GM e propriedade majoritária da Chrysler.
Falando diante da Associação de Imprensa Americana
no mês passado, o extrovertido presidente da UAW, Ron Gettelfinger,
defendeu as repetidas concessões que o sindicato garantiu
na última década, dizendo que as companhias automotivas
estavam agora em alta, com a GM registrando lucros
e a Chrysler contratando os primeiros novos trabalhadores em uma
década.
Quando foi apontado que as novas contratações
estavam tornando os salários tão rebaixados que
os trabalhadores agora mal podem bancar um carro, Gettelfinger
defendeu os cortes nos salários, dizendo: Fizemos
o que pudemos para garantir o dia de amanhã. Ele
também elogiou a decisão de Obama de usar o tribunal
de falências, alegando que isso era a abordagem correta.
Eu realmente acredito que foi preciso muita coragem para
o presidente tomar uma atitude e fazer o que fez, disse,
mas, dado um pouco de tempo, penso que esta será
vista como uma grande decisão.
Em 1º de junho de 2009, o Site Socialista de Interligação
Mundial (WSWS) escreveu: Ao conduzir a Chrysler, e agora
a GM, à falência, o governo Obama busca explorar
a crise econômica e levar adiante um realinhamento dos fundamentos
da relação de classes nos EUA. Isso envolve um enxugamento
ainda maior da indústria de base e um arrasamento, assim
como a permanente redução dos níveis de vida
dos trabalhadores de cada setor da economia americana.
Essa advertência se comprova. As brutais condições
impostas aos trabalhadores da GM e Chrysler têm sido utilizadas
como um ponto de partida para uma campanha sem precedentes de
cortes salariais e de benefícios por toda a indústria
e funcionalismo público. Tal movimento coincide com o aumento
na demanda pelo desmantelamento de direitos insustentáveis
como a previdência e a assistência médica,
assim como a destruição da educação
pública e de outros serviços essenciais.
Isso ficou claro em um editorial intitulado As lições
da falência da GM, do colunista Paul Ingrassia, do
Wall Street Journal, ainda no início desta semana,
que escreveu: Todos sabiam que era ridículo e insustentável
pagar trabalhadores indefinidamente para não trabalharem
(no fundo de emprego do sindicato UAW)... e pagar pensões
douradas e benefícios de assistência médica
para funcionários.
Agora, acrescenta Ingrassia, Todos sabem que mantemos
déficits federais insustentáveis... E que fundos
de pensão de funcionários públicos de diversos
estados têm orçamento muito abaixo do nível
de benefícios que providenciam. E que jogar mais dinheiro
nas escolas públicas sem insistir em reformas estruturais
e prestação de contas não têm produzido
bons resultados e não produzirá no futuro.
Tentar solucionar essas questões significa, inevitavelmente,
reforçar a disciplina e enfrentar os sindicatos do funcionalismo
de tal forma que a GM falhou ao fazer com o UAW. A recusa e demora
contínuas provar-se-ão arruinadoras. Para colocar
em outras palavras: Os EUA resgataram a General Motors, mas quem
irá resgatar os EUA?
Dentro dos círculos rarefeitos do estamento corporativo,
político e midiático, todos sabem que
os trabalhadores devem ser reduzidos ao pauperismo. Mas a classe
trabalhadora não é responsável e não
deve pagar pela especulação inconseqüente da
elite financeira, que enriqueceu a si mesma através da
destruição de milhões de empregos, a ruína
da indústria de base e a falência de cidades, estados
e países inteiros, como a Grécia e a Espanha.
A sociedade não pode mais arcar com o estilo de vida
perdulário e as atividades parasitárias desta aristocracia
corporativa e financeira. Pelo contrário, um movimento
político de massas da classe trabalhadora - independente
e oposto aos dois partidos do grande capital - deve ser construído
para tirar os recursos financeiros e industriais das mãos
dos milionários e colocá-los sob o controle coletivo
e democrático dos trabalhadores.
Uma condição para tal luta é o rompimento
total com a UAW e suas políticas reacionárias de
colaboração de classes, nacionalismo econômico
e apoio ao Partido Democrata; assim como a formação
de novas organizações da classe trabalhadora.
(traduzido por movimentonn.org)
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