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Medidas de austeridade por toda a Europa

Por Peter Schwarz
2 de junho de 2010

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Publicado originalmente em inglês no WSWS em 29 de maio de 2010.

Há duas semanas, chefes de estado europeus e do Fundo Monetário Internacional (FMI) acordaram um pacote de resgate de €750 bilhões para o euro. Desde então, não se passou um único dia sem o anúncio de uma nova rodada de medidas de austeridade draconianas. Ordena-se agora aos trabalhadores que paguem o preço, tapando os gigantescos buracos nas finanças públicas, advindos das diversas medidas de resgate aos bancos e ao euro.

Diversos países da zona do euro e a Inglaterra, na busca por cumprir os critérios de estabilidade financeira definidos pela União Europeia —a saber, um déficit de 3% do PIB— terão de cortar seus gastos orçamentários, ao todo, em €400 bilhões. Num primeiro momento, essa gigantesca soma será recuperada às custas dos trabalhadores públicos, pensionistas, desempregados e os dependem de provisões sociais.

Seguindo o exemplo da Grécia, que adotou um plano para reduzir seu gasto orçamentário em €30 bilhões nos próximos três anos por meio do corte nos salários e pensões, ataque aos programas sociais ao aumento em impostos (como o VAT, sobre as vendas), o governo da Espanha decidiu na última semana realizar cortes no valor de €80 bilhões. Para esse fim, 13 mil empregos do setor público serão cortados, os salários dos funcionário públicos será reduzido em 5% e as pesões serão congeladas. Os €2,500 até então destinados às famílias com crianças recém nascidas serão cortados sem nenhuma forma de compensação.

Buscando reduzir seus gastos em €2 bilhões, Portugal impôs um congelamento nos contratos e nos salários, assim como um aumento no imposto sobre mercadorias vendidas (VAT) adotado no país.

No começo da semana, o governo Britânico anunciou cortes imediatos no valor de €7,2 bilhões, incluindo um congelamento nas contratações na área civil. Este é apenas o começo. Nos próximos quatro anos, o déficit britânico será cortado, ao total, em mais de €100 bilhões. Contidos nestes o corte de 300.000 postos no serviço público e o congelamento dos salários também do setor público.

Na quarta-feira, o governo italiano lançou medidas que resultarão em cortes de €24 bilhões até 2012. Estes incluem a redução nos empregos do serviço civil, corte nos salários, aumento na idade para aposentadoria e cortes no sistema de saúde.

A França planeja reduzir seu déficit orçamentário dos atuais 8% para 3% do PIB até 2013. Isso será alcançado com o aumento da idade para aposentadoria, cortes em benefícios, compensações de empregos e fundos destinados a museus; assim como um corte de 10% nos custos administrativos.

O governo alemão decidirá por medidas concretas no dia 6 e 7 de junho. A assim chamada "quebra do déficit", ancorada na constituição, impõe uma redução de €60 bilhões no déficit até 2016. Entre as muitas medidas discutidas estão cortes nas provisões sociais, como os benefícios destinadas às famílias, crianças, ao bem-estar, assim como cortes nas anuidades e pensões.

A Comissão da UE sugere que a idade para aposentadoria continue a aumentar na Europa. Trata-se de garantir que, no futuro, não mais que um terço do período de vida de um adulto receba aposentadoria. A longo prazo, significará um aumento na idade para aposentadoria para 70 anos.

Para milhões de trabalhadores e jovens, as medidas recém adotadas significam desemprego e aumento da pobreza. Em particular, a pobreza entre os velhos se tornará um fenômeno massivo na Europa. Nada restará do estado de bem-estar social do pós-guerra. Um estudo da Associação de Caridade Carniege para a Paz Internacional conclui que "os estados de bem-estar estabelecidos na Europa desde os anos 40 com o intuito de suprimir a discórdia popular e esfriar as tensões que poderiam levar a outras guerras continentais" são hoje "impossíveis".

Mas não há falta de dinheiro. Os buracos orçamentárias usados agora para justificar o desmantelamento dos estados de bem-estar são o resultado de sistemáticas redistribuições de impostos e riquezas daqueles da base da sociedade àqueles do topo. Ao menos desde 1980, tanto os governos de direita quando os de "esquerda" têm reduzido os impostos e taxas para os ricos, diminuídos os salários e criado formas de trabalho pouco remuneradas. Essa é uma das principais causas do aumento do déficit público.

Os trilhões que os governos injetaram nos bancos em 2008 e 2009, para prevenir seus colapsos, significaram o aumento da dívida pública. Estatísticas recém lançadas pelo Banco Central da Alemanha (Deutsche Bundesbank) comprovam isso. Em 2008 e 2009, cerca de 53% do déficit alemão advieram das diversas medidas de resgate às instituições financeiras. O novo déficit total cresceu nesses dois anos em €183 bilhões; os custos envolvidos na manutenção das instituições financeiras aumentaram em €98 bilhões.

Agora os bancos exploram a crise que eles próprios criaram para ampliar seu saque à classe trabalhadora. Os governos e a UE atuam como seus cúmplices. Isso ficou claro na última sexta-feira, quando num procedimento expresso o parlamento alemão emitiu um cheque em branco de €148 bilhões. Enquanto os comitês parlamentares, em geral, pechincham durante meses a respeito de somas muito menores, o Bundestag aprovou rapidamente o montante para garantias de empréstimos correspondente à metade do déficit federal, sem mesmo ter claro para quem e sob quais circunstâncias o dinheiro deva fluir.

Tal procedimento antidemocrático foi justificado pelo "nervosismo dos mercados financeiro". A subjugação do parlamento era tão gritante que o governo apenas garantiu uma maioria com dificuldades. Teve que aceitar algumas medidas simbólicas (e completamente inofensivas) contra os mercados financeiros, para conseguir apoio. Isso, no entanto, provocou reações furiosas de Washington e Londres, para quem as medidas alemãs significavam um assalto insubordinado às liberdades dos mercados financeiros.

Para aprovar tais medidas de austeridade contra a classe trabalhadora, a classe dominante europeia apoia-se sobretudo nos social-democratas e nos sindicatos. Na Grécia, Espanha e Portugal, são governos social-democratas que impõem as medidas. Na Inglaterra, França e Alemanha, os social-democratas estão tão desacreditados por suas medidas de cortes que, agora, partidos de direita recolhem frutos políticos. Em todos os casos, os social-democratas não deixam dúvida de que apoiam os cortes, dizendo aos trabalhadores que "não há outra alternativa".

No mesmo sentido, os sindicatos mantêm que não há alternativa aos cortes e cooperam com seus respectivos governos na implementação. Se, no entanto, ocasionalmente organizam manifestações e greves, são usadas para manter qualquer oposição popular sob controle. Isolam os protestos, mantendo-os limitados a apenas algumas horas do dia, assim como impedem qualquer solidariedade internacional dos trabalhadores.

Nisso são apoiados por diversos grupos pequeno-burgueses. Apesar das diferenças entre o Partido de Esquerda Alemão, o Novo Partido Anticapitalista francês ou o SYRIZA grego, por exemplo, todos têm duas coisas em comum —seu apoio incondicional aos sindicatos, nunca os criticando, e sua prontidão para ajudar os governos social-democratas a alcançarem maiorias parlamentares. Nesse caminho, buscam impedir a formação de um movimento político independente da classe trabalhadora.

O aprofundamento da crise capitalista e a implementação dos cortes têm exacerbado as tensões dentro da Europa. O futuro do euro e da União Europeia está agora em jogo. Em alguns países —como Hungria, Eslovênia ou Itália— governos estão alimentando antagonismos nacionais na tentativa de desviar as tensões sociais.

A fragmentação da Europa em nações conflituosas pode ter consequências sociais e econômicas devastadoras. Mas a classe capitalista é organicamente incapaz de unir o continente. Essa é uma tarefa da classe trabalhadora e está inextrincavelmente ligada à defesa de seus direitos sociais e democráticos.

A intensificação da crise levará amplas camadas da população à luta política. Mas isso exige uma perspectiva e o desenvolvimento de um novo partido, o Comitê Internacional da Quarta Internacional. O sistema capitalista não pode ser reformado, somente pode ser derrubado. Os grandes bancos e corporações devem ser colocados sob disposição e controle democrático da classe trabalhadora. Isso criará as condições para utilizar os recursos disponíveis para atender necessidades sociais, ao invés de alimentar a ganancia e os lucros individuais dos capitalistas.

A classe trabalhadora europeia somente pode alcançar esse objetivo com base numa luta pelos Estados Unidos Socialistas da Europa.

(traduzido por movimentonn.org)

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