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As lições políticas dos protestos na
Tailândia
Por Peter Symonds
2 de junho de 2010
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A ofensiva militar pode ter esmagado os protestos anti-governistas
nas ruas de Bangcoc, mas as tensões sociais e questões
políticas subjacentes permanecem e irão inevitavelmente
emergir, cedo ou tarde, sob novas formas.
Depois de quatro anos de contendas amargas dentro da classe
dominante tailandesa, os apoiadores do antigo primeiro-ministro
Thaksin Shinawatra convocaram protestos em meados de março
para dar o troco às facções antagônicas
e ao governo do primeiro-ministro Abhisit Vejjajiva. As divisões
agudas presentes no estamento político do país,
porém, abriram caminho para um movimento mais amplo, dominado
por manifestantes do norte e nordeste rurais do país.
Com a continuidade das manifestações, os fazendeiros,
comerciantes e pequenos negociantes começaram a encontrar
sua própria voz. Os manifestantes camisa vermelha
expuseram o abismo entre as suas vidas e aquelas dos ricos que
trabalham e fazem compras no pólo comercial de Bangcoc.
Eles expressaram sua hostilidade contra as elites tradicionais
da Tailândia - o exército, a burocracia estatal e
a monarquia - que haviam removido do cargo o primeiro-ministro
Thaksin, figura política na qual eles votaram e que consideravam,
erroneamente, como seu verdadeiro representante.
Esses manifestantes exibiram grande coragem e determinação.
Usando não muito mais do que estilingues e coquetéis
molotov, eles fizeram retroceder os soldados que tentavam limpar
a zona de protesto no dia 10 de abril. Mesmo diante do aumento
na contagem de mortos, milhares permaneceram mesmo enquanto o
exército cortava suprimentos e deslocava tropas e veículos
blindados para um confronto final. Quando os militares avançaram,
grupos de manifestantes denunciaram os líderes camisa
vermelha que se renderam, e atearam fogo contra prédios
considerados símbolos de riqueza e privilégios.
O alvoroço, porém, apenas expunha a fraqueza crítica
do movimento: ele não possuía um programa e uma
perspectiva para levar adiante os seus interesses.
Os eventos em Bangcoc são uma confirmação
surpreendente dos pontos essenciais da Teoria da Revolução
Permanente, elaborada há mais de um século por Leon
Trotsky. Assimilando as experiências da Revolução
de 1905 na Rússia, Trotsky formulou conclusões de
amplo alcance histórico: em primeiro lugar, que a burguesia
em países capitalistas atrasados era organicamente incapaz
de liderar uma luta genuína por direitos democráticos
ou atender às necessidades do campesinato; em segundo lugar,
que o campesinato não poderia assumir um papel político
independente e, inevitavelmente, seguia ou a burguesia ou a classe
trabalhadora; e em terceiro lugar, que o proletariado era a única
força social capaz de liderar o campesinato numa luta contra
o Czar. Tendo conquistado o poder, a classe trabalhadora seria
empurrada a transgredir a propriedade privada como ação
fundamental na revolução socialista internacional.
A teoria passou por seu primeiro e mais decisivo teste no ano
de 1917, que produziu a Revolução de Outubro e o
primeiro Estado operário do mundo na Rússia.
Muito mudou nos últimos cem anos, mas a dinâmica
básica da luta de classes sob o ultrapassado sistema do
lucro permanece a mesma. Na ausência de um movimento politicamente
consciente da classe trabalhadora, os fazendeiros, pequenos proprietários
e a população pobre rural afluíram para Bangcoc
sob a bandeira de Thaksin e sua Frente Unida por Democracia contra
a Ditadura (UDD). Apesar de toda sua demagogia sobre democracia,
os objetivos de Thaksin se limitaram ao adiantamento das eleições
e a um governo mais propício aos seus interesses. No cargo,
Thaksin repetidamente demonstrou desprezo pelos direitos democráticos
- jornalistas foram ameaçados, centenas de mortes extrajudiciais
aconteceram durante sua guerra contra as drogas, e
operações militares contra os separatistas islâmicos
do sul foram intensificadas.
Além disso, Thaksin, bilionário das comunicações,
não é mais capaz do que Abhisit, educado em Oxford,
de solucionar a crescente crise social enfrentada pelas massas
rurais tailandesas. As concessões limitadas de Thaksin
e a assistência à saúde barata foram parte
dos esforços de seu governo para estimular a economia tailandesa
no despertar da crise financeira asiática de 1997-98. Thaksin
e os líderes da UDD são defensores sistemáticos
do sistema capitalista que é a raiz da incerteza financeira
e insolvência enfrentadas por fazendeiros e pequenos negociantes.
Previsivelmente, em vez de generalizar os protestos, a UDD confinou
e em última análise abandonou as manifestações
conforme o confronto com o aparato estatal se intensificava.
Ao mesmo tempo, as problemáticas sociais expressadas
nas ações de diversos manifestantes nunca foram
sintetizadas num programa político - e nem poderiam ter
sido. Como Trotsky observou, o campesinato não é
uma classe homogênea; suas camadas superiores têm
laços com a burguesia, enquanto suas camadas inferiores
se vinculam ao proletariado rural. Diferentemente da classe trabalhadora
que se expande com o desenvolvimento do capitalismo, esta classe
dos pequenos proprietários está, a longo prazo,
condenada pelo desenvolvimento econômico futuro. Na Tailândia,
a porcentagem da população ligada à agricultura
decaiu de 70% da força de trabalho total em 1980 para 40%
nos dias de hoje.
Somente a classe trabalhadora pode ajudar as massas rurais
através da abolição do sistema de lucro,
que é a fonte de sua opressão, e do fornecimento
de auxílio técnico e financeiro. Nos acontecimentos
recentes na Tailândia, a classe trabalhadora não
teve qualquer papel independente. Ainda que trabalhadores tenham
participado, sua participação foi a de indivíduos
congregados sob a bandeira da UDD. Os oponentes do marxismo sem
dúvida alguma citarão isto como mais uma evidência
de que o proletariado não é uma classe revolucionária.
Mas a transformação da classe trabalhadora de massa
explorada em força social revolucionária requer,
acima de tudo, a consciência sobre seus interesses de classe,
que é impossível sem um partido que possa educá-la,
mobilizá-la e liderá-la em batalha. A falta de tal
partido na Tailândia é o legado de traições
amplamente significativas perpetradas pelo stalinismo e seus apologistas,
que agora precisam ser superados.
A burocracia stalinista que usurpou o poder da classe trabalhadora
na União Soviética promoveu um programa reacionário
de socialismo em um só país e denunciou
Trotsky e o internacionalismo socialista. Na Ásia, Stalin
ressuscitou a desacreditada teoria das duas etapas que assinalava
um papel progressista à burguesia nacional, com conseqüências
desastrosas para a Revolução Chinesa de 1925-27.
Enquanto a teoria da Revolução Permanente de Trotsky
era enterrada sob uma montanha de calúnias e mentiras,
o radicalismo camponês banal de Mao Tsé-tung era
apresentado como marxismo e a guerra de guerrilha como o caminho
para o futuro para países como a Tailândia.
A falência do maoísmo é demonstrada acima
de tudo pelo seu sucesso na China, onde os descendentes
políticos de Mao transformaram o país numa grande
loja vendedora de força de trabalho barata para o capitalismo
mundial. A decadência política de projetos de guerrilha
maoísta é evidente por toda a região. Na
Tailândia, o hoje defunto Partido Comunista assumiu uma
orientação guerrilheira na década de 1960.
Os estudantes, radicalizados pela efervescência política
da década de 1970, que culminou no massacre brutal na Universidade
de Thammasat em 1976, não se voltaram à classe trabalhadora,
mas sim ao campesinato. Muitos retornaram desiludidos. Os maoístas
do passado hoje estão integrados ao estamento político
oficial da Tailândia, incluindo conselheiros políticos
de esquerda trabalhando tanto para o UDD quanto para
seus oponentes.
A Tailândia, como o resto do mundo, está sendo
mergulhada pela crise do capitalismo global para dentro do furacão
de um novo período de ascenso revolucionário. Os
protestos em Bangcoc são um augúrio de eventos que
inevitavelmente levarão a classe trabalhadora na Tailândia
e no resto do mundo para a luta. Como no resto da Ásia,
o proletariado que estava em sua infância na virada do século
XX expandiu enormemente em tamanho e está integrado a processos
produtivos globais. O capital global transformou a Tailândia
na décima maior exportadora de automóveis do mundo,
com cerca de 400.000 trabalhadores atuando na indústria
automotiva.
O desafio que se coloca diante dos trabalhadores e jovens tailandeses
é a construção de um partido político
baseado no programa do internacionalismo socialista, que possa
dirigir a classe trabalhadora através das lutas que surgem
no horizonte. Acima de tudo, a superação desse desafio
requer a assimilação da teoria da Revolução
Permanente de Trotsky, e das lições fornecidas pelas
principais experiências estratégicas da classe trabalhadora
na Tailândia e internacionalmente durante o século
XX. Isso só será possível se esse partido
surgir como uma parte componente do movimento trotskista mundial
- o Comitê Internacional da Quarta Internacional.
(traduzido por movimentonn.org)
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