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Economia européia desacelera devido à crise
bancária e dívida soberana
Por Stefan Steinberg
21 de julho de 2010
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Publicado originalmente em inglês no dia 13 de julho
de 2010.
Em pronunciamento no final da semana passada, o presidente
do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, buscou amenizar
as previsões de uma possível nova recessão
na zona do euro:
"Estamos num momento onde inúmeros fatos e dados
não confirmam que teremos estagnação ou recessão
em W [mergulho duplo] (...). Vejo talvez uma tendência (...),
vinda de fora, que é excessivamente pessimista (...) e
penso que os números que temos não confirmam esse
pessimismo", afirmou.
Trichet se pronunciou logo após de uma reunião
do conselho BCE ter decidido manter sua taxa de juro principal
na baixa recorde de 1% pelo 15°mês consecutivo. Sua
tentativa de acalmar os mercados deu-se após as previsões
pessimistas, de uma série de relatórios internacionais,
para a Europa.
Em um relatório emitido no dia 08/07 o FMI previu que
o crescimento da zona do euro seria o menor do mundo em 2010 e
2011. De acordo com as novas estimativas, a economia mundial crescerá
4,6% em 2010 e 4,3% em 2011. A zona do euro, no entanto, deverá
crescer apenas 1% em 2010 e 1,3% no ano seguinte.
A previsão de estagnação do FMI para a
economia européia apoiou-se em dados publicados na última
quarta-feira pelo Eurostat (escritório estatístico
europeu) que atribuiu apenas 0,2% de crescimento econômico
para o primeiro trimestre de 2010.
O número revelado pelo Eurostat diz respeito ao produto
interno bruto tanto dos 27 Estados da União Européia
quanto dos 16 Estados-membros da zona do euro. Caso a estimativa
do Eurostat seja repetida para os três trimestres restantes
deste ano, a taxa anual de 0,8% ficará abaixo da mera previsão
de 1%, projetada pelo FMI.
Os números do Eurostat revelam variações
relevantes entre países individuais. Tendo implementado
um dos pacotes de austeridade mais duros de toda a Europa, a economia
da Irlanda registrou o maior crescimento da região (2,7%),
seguido pelo da Suécia (1,4%) e Portugal (1,1%).
No fim da lista encontra-se a economia da Lituânia, que
recuou 3,9% em comparação com o último trimestre
de 2009. Outras economias que também sofreram recuo são
as da Áustria, Estônia, Romênia, Eslovênia
e Grécia.
Na Grã-Bretanha, o último relatório do
Escritório Nacional de Estatística (ONS) aumentou
a estimativa de prejuízo econômico medido desde o
irrompimento da crise financeira no outono de 2008. O ONS declara
agora que a economia britânica contraiu 6,4%, ao invés
dos 6,2% previstos inicialmente, contando desde seu pico nos primeiros
três meses de 2008 até seu ponto mais baixo no trimestre
final de 2009.
O editor de economia do jornal Guardian, Larry Elliott,
concluiu seu resumo do relatório da seguinte maneira: "As
exportações estão em dificuldade, o consumo
está em baixa e o sustentáculo do setor público
está prestes a ser derrubado por completo. A segunda metade
de 2010 será marcada pela discussão de um mergulho
duplo recessivo".
Com as economias do continente estagnando ou encolhendo, o
FMI notou que a economia mundial corre sérios riscos devido
à persistência de altos níveis de ativos tóxicos
nos balanços de bancos europeus. O relatório do
FMI declarou que o sistema bancário europeu está
contagiado por um "legado de purificação inacabada"
que deixou "bolsões de vulnerabilidade, excesso de
capacidade e baixa lucratividade".
Apesar do fato de o BCE ter mantido suas taxas de juro baixas
em níveis recordes para incentivar os empréstimos
bancários, o FMI apontou que os bancos recuaram em conceder
empréstimos uns aos outros, deixando muitos bancos europeus
contando apenas com empréstimos a curto prazo do BCE para
não afundarem.
As economias mais frágeis da Europa - Grécia,
Espanha e Portugal, entre outras - se vêem diante de um
aumento constante dos juros que devem pagar àqueles que
investem em seus títulos públicos.
De acordo com um artigo do Wall Street Journal, um total
de US$ 1,7 trilhão de títulos públicos da
zona do euro deverão ser resgatados em 2010-2011. Isso
está muito acima dos níveis de refinanciamento para
os EUA, Reino Unido ou qualquer outro lugar.
Em resposta à incessante pressão dos mercados
financeiros, praticamente todos os países da Europa anunciaram
medidas de austeridade que ameaçam levar ainda mais abaixo
as economias que já sofrem de desemprego crescente e demanda
consumidora em níveis de desmoronamento.
Jose Vinals, diretor do departamento de mercados capitais e
finanças do FMI, disse na semana passada que os problemas
bancários e de dívidas "poderão se espalhar
por outras regiões e enguiçar a recuperação
mundial".
O FMI convocou todos os governos da zona do euro a tornarem
o fundo de resgate de emergência de 500 bilhões
da UE a economias européias "completamente operacional"
e apelaram ao BCE para que prepare-se para fazer novas compras
de títulos públicos. O FMI também pede que
a UE explique como pretende sustentar bancos que não passam
nos testes de stress.
Os stress tests dos bancos europeus, cujos resultados deverão
ser publicados em 23/07, são modelados a partir dos testes
feitos no ano passado com bancos americanos, além de serem
tão inúteis quanto. Apesar de apresentados por Trichet
como uma forma de forçar os bancos a "abrirem seus
livros", os stress tests europeus são totalmente anódinos.
Sob a manchete de "Descobertas banais", o Financial
Times Deutschland sintetizou a opinião do mundo financeiro
em seu comentário ácido: "A questão
é por quanto tempo os investidores deixar-se-ão
ser tratados como burros... A investigação dificilmente
trará algo à tona de que já não se
saiba (...). O motivo da farsa é óbvio: os governos
europeus tiveram que decidir por publicar os resultados para acalmar
os mercados (...). Mas caso algo realmente perturbador de fato
apareça sobre a situação dos bancos, eles
não possuem plano algum. De qualquer maneira, os stress
tests são feitos de tal forma que, no final, nenhum banco
seja reprovado por eles".
Anton Hemerijck, professor de análise política
institucional na universidade VU de Amsterdã, advertiu
recentemente: "Em caso de pânico, a Europa do norte
poderá adotar rigorosas medidas de austeridade que extinguirão
qualquer perspectiva de crescimento. Os países do sul da
Europa dependem de seus vizinhos do norte para receberem estímulos
para sua recuperação econômica. Se isso não
ocorrer, podemos estar diante de um período de calmaria
antes da tormenta".
(traduzido por movimentonn.org)
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