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China: morte de mineradores revela face brutal do capitalismo mundial

Por John Chan
13 de julho de 2010

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Este texto foi publicado originalmente no WSWS em ingles o dia 25 de novembro de 2009.

A morte trágica de 104 operários no dia 21/11 em exploção de uma mina de carvão, ocorrida na cidade de Hegang, província de Heilongjiang, é um exemplo verdadeiro da exploração brutal a que são submetidos os 400 milhões de trabalhadores do país, cujo suor e labuta são bases para o capitalismo chinês e mundial.

Enquanto a imprensa financeira mundial fala da China como o destaque da economia global e cita várias estatísticas de grande produção e crescimento, os salários de fome, as condições opressoras e inseguras de trabalho e os grandes custos sociais envolvidos são sistematicamente ignorados.

As mortes dos mineradores em Heilongjiang são um resultado da transformação da China em uma grande fábrica hiper-exploradora para o capital mundial. Em meio à pior crise econômica desde a década de 1930, o impulso por super-lucros na China apenas se intensificou, presidida por um Estado policial stalinista que suprime implacavelmente qualquer oposição dos trabalhadores.

Milhares de mineradores morrem todos os anos conforme a indústria de carvão da China se expande para preencher as altíssimas e crescentes demandas por energia e aço. A produção anual aumentou de um bilhão de toneladas em 2000 para 2,63 bilhões ano passado. A China hoje consome mais de um terço da produção total de carvão do mundo e a demanda deve provavelmente ultrapassar 3 bilhões de toneladas em 2010. Na corrida pelo lucro, a vida dos cinco milhões de mineradores de carvão chineses são simplesmente dispensáveis.

O desastre é o segundo em menos de 4 anos no grupo Heilongjiang Longmei Mining Holding, uma das maiores e mais modernas companhias de carvão estatais. Em novembro de 2005, 171 mineradores perderam suas vidas na mina da companhia em Dongfeng.

O que aconteceu na mina de Hegang nos últimos dias é uma repetição da tragédia em Dongfeng há alguns anos. Quando os mineradores de Dongfeng morreram, o governo, nos níveis central e provincial, fizeram controle de danos para aplacar a raiva da população. Alguns gerentes foram presos e viraram bodes-expiatórios. Políticos prometeram em frente às câmeras que não haveria mais desastres. Uma investigação descobriu que medidas de segurança básicas foram ignoradas para aumentar a produção. Uma escalada cosmética nas medidas de segurança foi iniciada para fechar pequenas minas ilegais, deixando as grandes estatais e companhias privadas ilesas. Quaisquer protestos pelas famílias das vítimas foram rapidamente silenciados pela polícia. Assim que os olhos do público se voltaram para outros assuntos, as companhias mineradoras continuaram seus negócios de sempre — até a próxima grande catástrofe.

Em média, 13 mineradores morrem na China todo dia. A maioria das mortes acontece em milhares de pequenas minas privadas, onde as condições são bárbaras. Em 2007, um escândalo eclodiu nas províncias de Shanxi e Henan quanto ao uso de trabalho escravo em minas de carvão e fábricas de tijolos. Centenas de trabalhadores, muitos deles crianças, haviam sido vendidos como escravos para suportar 16 horas por dia em condições de sujeira e perigo físico. Mas como o último desastre demonstra, as condições de exploração brutal não estão restritas a pequenos operadores privados. Embora a mina de Hegang tivesse equipamentos atualizados e procedimentos de segurança em seus manuais, na prática recorreu a atalhos perigosos para maximizar a produção e os lucros.

Em 2006, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma divulgou um plano para concentrar a indústria do carvão em cinco ou seis conglomerados gigantes pela fusão ou fechamento de todas as pequenas minas nas principais províncias de mineração até 2015. O grupo Heilongjiang Logmei Holding é um dos conglomerados emergentes, com 88.000 empregados somente na cidade de Hegang. Longe de melhorar a segurança, o plano de fusões produzirá desastres de maior escala.

A última tragédia na mineração é mais um testemunho contra o maoísmo e o stalinismo, que sempre se basearam na rejeição explícita ao marxismo e ao internacionalismo socialista. Da década de 1980 em diante, o regime de Estado policial estabelecido por Mao em 1949 se provou particularmente atraente para os investidores globais, conforme esses procuravam força de trabalho barata para superar a lucratividade em queda e a curva para baixo da economia mundial.

A catástrofe em Hegang não apenas evidencia as horrorosas condições de trabalho que enfrentam os operários nas minas e em toda a acelerada indústria chinesa, mas também constitui um aviso aos trabalhadores de todo o mundo. Os processos de consolidação e reestruturação que acontecem na indústria de carvão da China são uma resposta típica da classe capitalista de todos os países à crise econômica global. No esforço de sobreviver, corporações estão engajadas em uma marcha brutal para reduzir e cortar gastos em detrimento da classe trabalhadora. A cada dia, as condições de super-exploração que os trabalhadores chineses enfrentam estão se tornando o parâmetro de trabalhadores do mundo inteiro.

A explosão da mina no nordeste da China ocorreu poucos dias após a visita do presidente dos EUA Barack Obama a Xangai e sua declaração de admiração pela General Motors na China — hoje a operação mais lucrativa da gigantesca montadora norte-americana. Embora a GM tenha falido e anunciado cortes e demissões devastadores nos EUA, sua produção na China continua a crescer rapidamente. Os salários e condições de trabalho nos EUA irão se alinhar rapidamente com os da China conforme a corporação utiliza o enorme exército de reserva de trabalho barato na China para abater a resistência dos trabalhadores nos EUA e outros países.

Numa maior escala, Obama chamou pelo "rebalanceamento" das relações econômicas globais, apontando em particular para a colossal dívida com a China e as grandes compras de títulos de dívida pela China. Os fardos do "rebalanceamento" irão inevitavelmente recair sobre a classe trabalhadora. Tornar as mercadorias americanas "competitivas" na China, onde o salário mínimo é cerca de US$ 150 por mês, significará cortes de custos massivos pelas firmas dos EUA. Reduzir a montanha de dívidas do governo dos EUA significará um aprofundamento do processo selvagem de cortes contra serviços sociais essenciais, como saúde e educação.

Assim como o "rebalanceamento" da GM resultou em fechamento de plantas na América do Norte e expansão na China, do mesmo modo processos mais amplos levarão à destruição sistemática de empregos, rebaixamento dos salários, aumentos nas jornadas e condições cada vez mais perigosas e insalubres que inevitavelmente levarão à tragédias como a da mina de Hegang. A corrida pela "competitividade internacional" e lucros nunca termina. Uma queda no consumo dos trabalhadores americanos irá, por sua vez, cortar a demanda por exportações chinesas, levando a fechamento de fábricas, perda de empregos e maiores cortes de gastos na China.

Dentro dos limites do capitalismo não há saída para essa espiral de queda infinita. Trabalhadores na China, nos EUA e em todo o mundo podem defender seus interesses de classe comuns somente pela unificação de suas lutas contra o capital global e seus representantes políticos. Em muitos casos, como na GM, esses trabalhadores são empregados pelas mesmas corporações, que procuram colocá-los uns contra os outros. Um fim para essa competição fratricida é possível somente sobre uma base socialista, através da abolição do sistema de lucro e da organização sistemática dos vastos recursos produtivos mundiais para suprir as urgentes necessidades sociais da humanidade — e não os lucros da rica elite corporativa.

[traduzido por movimentonn.org]

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