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O que está por trás da luta pelo poder no Partido
de Esquerda alemão?
Por Lucas Adler
29 de janeiro de 2010
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Publicado originalmente em inglês no dia 18 de janeiro
de 2010.
Uma luta aberta pelo poder estourou no Partido de Esquerda
alemão entre seu presidente, Oskar Lafontaine, e seu secretário
nacional, Dietmar Bartsch. Sob crescente pressão por parte
da facção Lafontaine no partido, Bartsch renunciou
ao cargo sexta-feira passada.
Em 5 de janeiro, o jornal Spiegel Online relatou uma carta
dirigida ao presidente da facção parlamentar (Bundestag)
do Partido de Esquerda, Gregor Gysi, na qual o presidente regional
do partido nos estados da Renânia do Norte-Vestefália
e Baden-Württemberg expressou afiadas críticas a Bartsch
e exigiu sua renúncia. A principal acusação
contra Bartsch foi que ele espalhou rumores sobre a vida privada
de Lafontaine e abriu um debate sobre um possível sucessor
ao presidente do partido, após o último ter anunciado
que iria se afastar brevemente das atividades políticas,
devido a um câncer.
A polêmica se intensificou. Círculos próximos
a Lafontaine relatam que ele considerou que sua relação
com Bartsch foi danificada irremediavelmente e que ele apenas
se candidataria à presidência do partido em maio
deste ano se Bartsch renunciasse a seu posto. Agora Bartsch se
foi.
De sua parte, Bartsch negou que tenha havido qualquer luta
pelo poder ou rivalidade entre ele e Lafontaine.
Em 11 de janeiro, Gysi alinhou-se contra Bartsch. Em uma reunião
com cerca de 700 membros do partido de vários órgãos
legislativos e de organizações regionais, o presidente
da facção do Partido de Esquerda no Bundestag lamentou
o "clima insuportável de denúncia" que
prevaleceu no partido e acusou Bartsch de deslealdade. Uma semana
antes, Gysi havia se reunido com Lafontaine no distrito eleitoral
deste, no estado de Sarre, e os dois homens supostamente acordaram
o conteúdo dos comentários feitos por Gysi no dia
11 de janeiro.
Seguiu-se uma torrente de protestos das organizações
regionais do leste alemão. O vice-presidente regional da
Saxônia-Anhalt, Birke Bull, disse ao Spiegel Onlineque Gysi
estava dando "um nocaute passo a passo" em Bartsch.
E acrescentou: "Aparentemente, amplas camadas do partido
que apóiam Bartsch e sua política pragmática
não estão sendo levadas a sério. Acho isso
extremamente lamentável".
O presidente regional do Partido de Esquerda para o estado
de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Steffen Bockhahn, expressou
seu apoio a uma candidatura de renovação por Bartsch.
"Eu quero fazer tudo o que eu posso para assegurar que ele
se candidate novamente", disse ele.
Seu colega do estado da Turíngia, Bodo Ramelow, lamenta
que as críticas de Bartsch não tenham ocorrido a
portas fechadas e declarou que foi inaceitável que a impressão
dada publicamente de "alguém estar sendo apunhalado
pelas costas".
A vice-presidente do partido, Halina Wawzyniak, disse que a
acusação de Gysi de deslealdade foi "fictícia"
e exigiu uma reunião imediata da direção
do partido.
Os conflitos que estão agora assumindo uma forma aberta
no Partido de Esquerda têm suas raízes nos fundamentos
da organização.
As políticas do governo de coligação Partido
Social-Democrata (SPD) / Verdes (1998-2004) - incluindo os maiores
cortes de benefícios sociais na história da República
Federal, a criação de um setor enorme de baixos
salários e a re-militarização da política
externa alemã - aprofundou enormemente o abismo entre a
social-democracia e os seus tradicionais apoiadores dentro da
classe trabalhadora. Desde que foi derrotado das eleições
governamentais, o SPD nas últimas eleições
perdeu mais de 10 milhões de votos em todo o país,
ou seja, mais da metade do seu apoio eleitoral. No mesmo período,
cerca de 250.000 membros saíram do SPD.
Isto tirou a elite dominante do instrumento político
mais importante para conter a luta de classes. Devido às
suas ligações de longa data com a classe trabalhadora,
o SPD havia sido o mais importante amparo da ordem burguesa no
período pós-guerra. A criação do Partido
de Esquerda foi uma resposta de setores da classe dominante que
possuíam visão a longo prazo para esse desenvolvimento.
Com o SPD perdendo todos os meios de controlar a classe trabalhadora,
um novo partido tornou-se necessário a fim de assumir esta
função.
A peça-chave na fundação do Partido de
Esquerda foi Lafontaine, que, como presidente do SPD, havia dirigido
a vitória do SPD nas eleições em 1998. Lafontaine,
tendo rompido com o seu antigo partido, baseou seu novo projeto
sobre os remanescentes das burocracias stalinista e social-democrata:
o pós-stalinista Partido do Socialismo Democrático,
no leste, e ex-funcionários do SPD e ex-sindicalistas desiludidos
no oeste que haviam estabelecido a criação de um
grupo chamado Eleição Alternativa (WASG).
O Partido de Esquerda promoveu a ilusão de que era possível
retornar ao tipo de políticas de reforma social que prevaleceram
durante os anos 1960 e 1970, sem analisar por que essa forma de
política tinha caído tão drasticamente, refletida,
sobretudo, na minguante influência do SPD. Todos os envolvidos
na fundação do Partido de Esquerda concordaram que
essa questão seria deixada de lado. Ao mesmo tempo, havia
fissuras subjacentes no partido desde o início.
No oeste do país, o partido foi compelido a adotar uma
certa retórica esquerdista, a fim de se distinguir, pelo
menos verbalmente, do SPD. No leste, o Partido de Esquerda, na
forma de seu antecessor, o Partido do Socialismo Democrático,
tinha desempenhado um papel ativo no governo em vários
níveis por muitos anos, colaborando com o SPD em ataques
sociais sobre a classe trabalhadora e demonstrando que poderia
ser contado como um confiável amparo da ordem burguesa.
O crescimento das tensões sociais na Alemanha exacerbou
as fissuras e atritos dentro do Partido de Esquerda. Em resposta
à crescente radicalização das camadas de
trabalhadores, Lafontaine foi forçado a assumir posturas
mais radicais a fim de aparecer como uma alternativa de esquerda
para o SPD. Sua postura tem ido de encontro com a oposição
de organizações regionais do partido no leste porque
ameaça o curso de suas alianças políticas
com os mais velhos e mais tradicionais partidos burgueses.
Bartsch personifica essa oposição no Partido
de Esquerda. Durante anos, ele havia liderado o incentivo de alianças
entre o Partido de Esquerda e o SPD a nível estadual, e
estava preparado para imediatamente formar uma coalizão
com o SPD, a nível federal.
Bartsch estava na melhor das relações com o presidente
do SPD, Sigmar Gabriel, a quem ele conheceu ocasionalmente no
café Einstein, em Berlim. Bartsch também tem repudiado
as pretensões pacifistas de seu partido e durante algum
tempo solicitou ao partido o reconhecimento da necessidade de
"organizar tropas de paz" internacionais pelo exército
alemão.
O conflito entre os dois campos era particularmente evidente
no decurso das negociações para um novo governo
de coligação no estado de Brandemburgo. Lafontaine
se posicionou publicamente contra uma coligação
entre o Partido de Esquerda e do SPD no Estado, acordo que implicava
em um programa para cortar um em cada cinco postos de serviço
público. Por sua parte, Bartsch defendeu o acordo de Brandemburgo,
e as duas partes chegaram a um pacto de coalizão, no final
do ano passado.
As várias respostas para o abismo entre Lafontaine e
Bartsch indicam o caráter amargo das diferenças
no partido.
Enquanto as organizações regionais, a oeste,
pediram a demissão de Bartsch, os presidentes de todas
as cinco partes das organizações regionais na Alemanha
Oriental se alinharam atrás do secretário nacional.
Eles emitiram uma declaração conjunta que, desde
então, ganhou o apoio do chamado Fórum para o Socialismo
Democrático. Este fórum é uma corrente direitista
no Partido de Esquerda, que surgiu para defender as políticas
anti-sociais da coligação SPD/Partido de Esquerda
no Senado, em Berlim, contra as críticas da esquerda.
Em um curto e sucinto comunicado, o co-presidente do Partido
de Esquerda, Lothar Bisky (ex-PDS), rejeitou as acusações
contra Bartsch, enquanto Bodo Ramelow, chefe da facção
parlamentar do Partido da Esquerda na Turíngia, disse ao
jornal Berliner Zeitung: "A demanda que agora está
sendo levantada para a demissão de Bartsch é equivalente
à remoção deliberada de uma roda de um carro."
A característica mais marcante de todo o assunto é
a maneira como o conflito está sendo conduzida dentro do
Partido de Esquerda. Ninguém quer resolver os reais problemas
em jogo. Em vez disso, os detalhes das cartas supostamente privadas
são distribuídos para a mídia para influenciar
tendências no partido. Lafontaine não está
oficialmente envolvido no debate, e Bartsch nega que existam diferenças.
Isso demonstra que não há em princípio divergências
políticas entre os campos opostos.
A disputa entre Lafontaine e Bartsch vai, provavelmente, decidir
a forma específica com que o Partido de Esquerda pretende
sustentar o sistema burguês no futuro próximo. Com
o crescimento dos conflitos sociais, Lafontaine está convencido
de que qualquer movimento prematuro do Partido de Esquerda em
direção à participação em um
governo federal rapidamente desacreditaria o partido, e este seria
incapaz de cumprir sua função como um instrumento
da burguesia. O lobby por trás de Bartsch, no entanto,
teme que a retórica esquerdista de Lafontaine poderia instigar
o descontentamento popular - pelo menos contra as políticas
anti-sociais do Partido de Esquerda no poder - e enfraquecer o
seu papel como um fator de estabilidade política no leste
do país. Sujeitos a essas diferenças táticas,
ambos os campos estão unidos na sua defesa incondicional
da ordem burguesa contra qualquer movimento independente da classe
trabalhadora.
[traduzido por movimentonn.org]
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