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Alemanha: principais sindicatos fornecem apoio vital ao governo
Por Dietmar Henning
19 de janeiro de 2010
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Pela primeira vez em muitos anos, os dois principais sindicatos
da Alemanha o IG Metall e o sindicato de Minas, Químicos
e Energia (IGBCE) concordaram em não reivindicar
aumentos salariais em 2010. Defendem tal posição
justificando que, devido à crise econômica, proteger
os empregos é prioritário.
O acordo deixa claro que depois de anos de empregos e salários
ameaçados na indústria alemã, os sindicatos
trabalharão para garantir que os trabalhadores suportem
o fardo da atual crise econômica. O governo de coalizão,
que consiste nos partidos "trabalhistas" conservadores
o União Democrática Cristã (UDC) e
o União Social Cristã (USC) e no liberal
Partido Democrático Livre (PDL), está profundamente
dividido e, por isso, também profundamente grato por qualquer
ajuda que consiga por parte dos sindicatos.
Com um total de 22.000 fábricas e uma força de
trabalho de 3,45 milhões, as indústrias de engenharia
e metalurgia são fatores-chave da economia alemã.
Ao final de outubro de 2009, o presidente da IG Metall, Berthold
Huber, explicou os planos da empresa para as negociações
contratuais de 2010, dizendo a um jornal: "No momento, não
vejo chance de atendermos a pedidos de aumentos salariais substanciais".
Ele disse ainda que a crise nunca é "a hora para
os sindicatos conseguirem vitórias na frente salarial"
e que ele seria forçado a dispensar antecipadamente a usual
tática de barganha de exigir aumentos salariais correspondentes
à inflação e produtividade.
Essa linha de argumentação expõe o verdadeiro
caráter da burocracia sindical. Numa época em que
a defesa dos interesses dos trabalhadores é urgente como
nunca, o cabeça do IG Metall declara que isso é
impossível, citando a crise nas indústrias de aço
e engenharia. O vice-presidente do IG Metall Detlef Wetzel afirmou,
pouco tempo antes do natal, que até 750.000 empregos correm
perigo imediato.
O sindicato declarou ainda que seus membros no Estado da Bavaria,
lar de muitas companhias de engenharia e montadoras de automóveis,
devem se preparar para um "round nulo" nas negociações
contratuais. De acordo com o membro do IG Metall Werner Neugebauer,
em 2009 cerca de 30.000 empregos foram perdidos em fábricas
da Bavaria, de uma força de trabalho total de 720.000.
Mais demissões só foram evitadas pelas medidas de
curto prazo implementadas no ano passado pelo governo alemão.
Neugebauer anunciou que ele estará satisfeito se o corte
de postos de trabalho na Bavaria for limitado a 20.000 em 2010.
No maior Estado alemão, Westphalia (ao norte do Reno),
o organizador distrital do IG Metall Oliver Burkhard declarou:
"Precisamos chegar em soluções mais rápido
do que o passo dos problemas que confrontaremos nas fábricas
em 2010".
Embora o atual contrato (um acordo bianual assinado em 2008)
não termine até abril, os funcionários do
IG Metall já estiveram trabalhando junto às associações
patronais para desenvolver planos no sentido de transferir o peso
da crise para as costas dos trabalhadores. De acordo com o sindicato,
suas comissões de contrato regionais têm desenvolvido
propostas desde o outono passado.
As negociações entre sindicatos e empregadores
se concentram em três questões. Primeiro, as empresas
receberão carta branca para cortar horas de trabalho ainda
mais drasticamente do que fizeram até agora. Sob o atual
contrato, os empregadores podem reduzir a semana de trabalho de
35 para 29 horas, sem compensação para perdas salariais
decorrentes. O IG Metall agora sugere uma redução
do limite mínimo para 25 horas, sobre a base de um "ajuste
salarial parcial."
Segundo, aprendizes ameaçados de demissão depois
de terem completado seu período de treinamento devem ser
mantidos "se preciso com trabalho praticamente zero até
que a situação melhore", isto é, na
base de nenhuma hora de trabalho e nenhum salário. De acordo
com o porta-voz do sindicato Jurgen Kohlinger, "um último
recurso" seria a inclusão de aprendizes nas assim
chamadas "companhias de transição". Essas
companhias se mostraram no passado o meio caminho para o desemprego.
Terceiro, a força de trabalho deverá ser reduzida
pela introdução ampla de trabalho de meio-período
para empregados antigos.
O IG Metall resume sua política com a declaração
de que "quer impedir que companhias usem a crise para reduzir
o quadro permanente de funcionários, que podem ser substituídos
por trabalhadores terceirizados quando a crise passar".
Essa é uma fórmula de colaboração
de classes para ajudar nas demissões e cortes salariais
e, ao mesmo tempo, minimizar a perda de membros e contribuições
dadas ao sindicato.
No distrito do Ruhr, que, como a Bavaria, foi duramente atingido
pelo colapso na demanda por bens industriais, o IG Metall regional
concordou com uma medida adicional. Companhias serão autorizadas
a redistribuir suas forças de trabalho entre si sem a concordância
dos trabalhadores envolvidos.
Esses trabalhadores assinalados a outras companhias permanecerão
empregados em suas companhias originais, das quais eles continuarão
a receber seus salários. A base para esse acordo é
o assim chamado "contrato de crise" acordado entre 350
empresas dentro das federações dos empregadores
industriais das cidades de Dortmund, Bochum, Emscher-Lippe, Essen
e Ruhr Niederrhein.
O sindicato argumenta que esse acordo sem precedentes é
um meio de evitar o uso de trabalho terceirizado, sob condições
onde as demissões estão acontecendo. Na realidade,
o acordo dá aos empregadores mais uma arma contra os trabalhadores.
Cerca de 70 quilômetros separam Duisburg no oeste do distrito
do Ruhr de Dortmund no leste. Qualquer trabalhador transferido
de uma planta para outra que se recuse a aceitar o tempo adicional
de transporte estará sujeito às "conseqüências
legais" que advém da quebra de contrato.
O IG Metall argumenta que suas múltiplas concessões
na frente dos empregos não envolvem concessões em
relação ao salário. O objetivo disso é
enganar os trabalhadores, mas os patrões sabem apreciar
a significação real da posição do
sindicato.
O diário financeiro Handelsblatt escreve: "Seria
um desenvolvimento realmente novo: antes da rodada de negociações
salariais começar, o IG Metall e os empregadores avançam
um plano de proteção de empregos cuidadosamente
contrabalançado e declaram resolvido todo o conflito".
O IGBCE entitula sua política de barganha desse ano
como "Usar Oportunidades para Empregos". As recomendações
do executivo do IGBCE para discussões contratuais afetam
cerca de 1.900 fábricas de químicos e devem ser
efetivadas nesta primavera.
Os contratos da indústria de químicos afetam
cerca de 550.000 empregados, embora as expirações
de contratos variem de acordo com a região. Os atuais contratos
salariais expirarão entre 31 de março e 31 de maio.
Em março de 2009, diversos sindicatos, incluindo o IG
Metall, organizaram manifestações nacionais sob
o slogan "Nós Não Pagaremos Pela Sua Crise".
Esses protestos foram apoiados pelo Partido da Esquerda.
Os sindicatos estão, porém, trabalhando precisamente
para fazer com que os trabalhadores paguem pela crise, na forma
de cortes salariais e de postos de trabalho, enquanto os responsáveis
pela crise especuladores, banqueiros, grandes executivos,
ou seja, a burguesia como um todo estão mais uma
vez enchendo os bolsos à custa da sociedade.
O governo acertadamente vê a posição dos
sindicatos como passe para implementar sua política de
ataques sociais devastadores, sob condições onde
o pleno impacto da crise de empregos se fará sentir. O
governo e especialistas em mercado de trabalho antecipam que o
desemprego na Alemanha crescerá para ao menos 4 milhões
em 2010.
Por isso, o governo está dividido sobre como proceder
tais ataques, com posições divergentes surgindo
sobre as questões do corte de impostos e outras medidas
econômicas. As declarações do IG Metall e
do IGBCE deixam claro que os sindicatos não explorarão
de maneira alguma essa crise política. Pelo contrário,
procurarão conter a oposição da classe trabalhadora
ao regime.
[traduzido por movimentonn.org]
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