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Chile: direita assume o poder pela primeira vez em 20 anos

Por Bill Van Auken
28 de janeiro de 2010

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Publicado originalmente em inglês no dia 20 de janeiro de 2010.

Com a vitória do empresário bilionário Sebastián Piñera na eleição presidencial do Chile no último dia 17/01, os partidos de direita identificados com a ditadura do General Augusto Pinochet assumirão o poder pela primeira vez em 20 anos.

Piñera, o candidato da direitista Coalizão pela Mudança, obteve uma vitória apertada sobre Eduardo Frei, ex-presidente e candidato da Concertación, uma aliança política dominada pelos Democratas Cristãos e pelo Partido Socialista, que elegeu todos os quatro presidentes desde a transição da ditadura militar para o governo civil no final de 1980.

Piñera ganhou 52% dos votos na eleição de domingo, contra os 48% obtidos por Frei; uma diferença de apenas 222.742 votos.

A eleição marca a primeira vez em meio século que os partidos da direita tradicional chilena —hoje representada pelo Partido Renovação Nacional e pela União Democrática Independente— ganham uma eleição popular para a presidência.

Os dois partidos foram fundados por colaboradores políticos da ditadura Pinochet, que veio ao poder num golpe militar apoiado pelos EUA em 11 de setembro de 1973 e foi responsável pela execução, desaparecimento, tortura, aprisionamento e exílio de dezenas de milhares de chilenos durante seus 17 anos de governo.

Os laços de Piñera com a ditadura Pinochet são profundos. Seu irmão foi o ministro responsável pela privatização do sistema de pensões chileno no último governo do ditador, enquanto o próprio Piñera fez sua fortuna sob dominação militar introduzindo os cartões de crédito no Chile pela primeira vez.

Em 1989, Piñera foi gerente de campanha para Hernan Buchi, ex-ministro de finanças de Pinochet, que concorreu à presidência na primeira eleição realizada desde o golpe militar de 1973. Três dos principais conselheiros políticos de Piñera ocuparam postos governamentais sob o regime Pinochet.

Nos anos após a ditadura Piñera acumulou ainda mais riqueza, comprando 26% das ações da Lan Chile, a maior companhia aérea da América do Sul. Logo após o término da eleição, as ações de sua companhia de holding, a Axxion, subiram 20%, levando a uma interrupção automática de sua compra e venda na bolsa de valores. A valorização das ações foi impulsionada pela especulação sobre a suposta venda por Piñera de seus bens, particularmente a companhia aérea, antes de assumir o cargo em março.

A elevação das ações já tornou um investimento lucrativo os quase US$ 14 milhões que Piñera retirou de seus fundos pessoais para financiar sua campanha eleitoral.

O comparecimento no segundo turno foi ainda menor que no primeiro, no qual Frei estava atrás de Piñera por uma margem maior e o terceiro candidato, Marco Enriquez-Ominami, ex-candidato pelo Partido Socialista, concorreu como independente, conquistando 20% dos votos.

No pleito de domingo cerca de 40% da população —incluindo os que votam em branco ou nulo, os que se abstêm e uma crescente parte da população mais jovem que sequer se registra— não votou para candidato algum.

A vitória de Piñera foi obtida com os votos de não muito mais que um terço dos chilenos legalmente hábeis a votar. Essa tem sido a parte aproximada da população que votou na direita nos últimos 20 anos.

A eleição não reflete qualquer aprovação popular aos anos Pinochet —uma pesquisa feita em dezembro mostra que 73% dos chilenos são hostis às práticas e políticas repressivas e reacionárias da antiga ditadura.

Ela sinaliza muito mais, na verdade, a crescente desilusão entre os trabalhadores chilenos com relação às políticas da Concertación e seus aliados, que no decurso de 20 anos mantiveram intactas as estruturas econômicas —assim como muito do sistema legal repressivo e reacionário— impostas sob a ditadura.

O resultado tem sido uma sempre-crescente concentração de riqueza nas mãos de uma elite financeira acompanhada de níveis sem precedente de desigualdade social. Ondas sucessivas de privatização vieram em paralelo com ataques sobre direitos sociais previamente conquistados: saúde pública, moradia, seguridade social e educação.

Enquanto isso, o assim chamado "milagre chileno", que gerou taxas de crescimento de 5% junto com extrema polarização social, chegou ao fim sob o impacto da crise financeira mundial. O país viu crescimento negativo nos últimos dois anos e uma taxa oficial de desemprego que subiu em um terço no ano passado, chegando a 10,2% em setembro de 2009.

Os assistentes políticos de Piñera imitaram a campanha de Obama nos EUA, chamando o direitista de candidato da "mudança" com uma plataforma de "esperança para o futuro".

No decorrer da campanha, Piñera prometeu criar um milhão de empregos, fazer uma entrega única de US$ 80 para todos os pobres chilenos e dispensar benefícios não-especificados para a classe média do país. Ele também prometeu implementar uma política de lei-e-ordem linha dura, através da colocação de mil novos policiais nas ruas.

A presidente do Partido Socialista chileno, Michelle Bachelet, presidente do Chile ainda em exercício, foi além das congratulações formais ao futuro presidente e esteve na casa do candidato direitista para o café da manhã pós-eleição, onde anunciou que levaria Piñera para acompanhá-la em um encontro do Grupo do Rio em fevereiro.

De sua parte, Piñera falou sobre a formação de um governo de "unidade nacional" baseado no "consenso". Dada a ausência de maioria dos partidos direitistas no congresso chileno, seu governo precisará de apoio de elementos dos partidos daConcertación para implementar projetos de lei. É provável que Piñera tente incorporar alguns membros da coalizão de esquerda em seu gabinete.

A própria Concertação tem atuado em consenso com a direita nas últimas duas décadas. Isso é coerente com uma longa trajetória histórica.

Na década de 1970, a encarnação precoce dessa formação de frente popular, o governo da Unidade Popular do presidente do Partido Socialista Salvador Allende, desarmou política e literalmente os trabalhadores chilenos no período anterior ao golpe militar, que tirou a vida de Allende e de muitos outros.

Em 1988-1989, essa "frente de esquerda" negociou uma transição pacífica com a ditadura Pinochet, onde sustentou os mesmos interesses da classe dominante defendidos pelo regime militar, aceitou a constituição de 1980 ditada pelos generais e concordou com uma anistia para os responsáveis por crimes horríveis contra o povo chileno.

Enquanto os líderes dos partidos da Concertación falam sobre vitória da direita de Pinochet nas eleições como uma expressão da democracia chilena, a realidade é que ela sinaliza para uma nova virada do Estado numa direção reacionária e para uma intensificação da luta de classes no Chile.

[traduzido por movimentonn.org]

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