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Medo de dívida pública sinaliza novo estágio
da crise mundial
Por Barry Grey
11 de fevereiro de 2010
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Originalmente publicado em inglês o dia 6 de fevereiro
de 2010.
Bolsas de toda a Ásia e Europa despencaram na sexta-feira,
num segundo dia de venda descontrolada de ações
no mercado especulativo motivada pelo medo de que a crise
de endividamento enfrentada por economias européias mais
fracas jogue a economia mundial num segundo round
da recessão.
Preços de commodities particularmente petróleo
e ouro também caíram significativamente.
Nos EUA, perdas de três dígitos no Dow Jones
Industrial Average foram revertidas na última hora,
resultando em pequenos ganhos para o Dow e outros grandes índices
do mercado volátil, após um frenesi de vendas na
quinta-feira.
O Dow encerrou o expediente com um saldo positivo de 10 pontos,
depois de um mergulho de 268 pontos na quinta-feira. O índice,
que esteve abaixo da marca dos 10.000 pontos durante a maior parte
do dia, caiu 6,5% nas últimas duas semanas.
Todos os grandes índices europeus fecharam em queda,
com o CAC-40 da França caindo mais que todos -3,4%, sua
maior perda em um dia desde 26 de novembro. O pan-europeu Down
Jones Stoxx 600 desceu 2,2%, chegando ao patamar mais baixo desde
3 de novembro.
O Nikkei do Japão caiu 2,89% e o Shangai Composite perdeu
1,87%.
As ações perderam valor pelo segundo dia na Grécia,
Portugal e Espanha, três países fortemente endividados
da zona do euro cuja capacidade de dar rendimento aos donos de
títulos acionários incluindo grandes bancos
europeus e americanos é cada vez mais posta em dúvida.
Os preços de títulos estatais de todos os três
países continuaram a cair e as taxas de juro subiram ainda
mais, conforme investidores globais aumentavam a pressão
sobre os três governos para que impusessem medidas draconianas
contra suas respectivas populações.
Os custos dos contratos CDS (credit default swaps) relativos
às dívidas dos três países subiram
ainda mais dramaticamente. Os credit default swaps
hoje um mercado multi-milionário são uma
forma de derivativos não-regulamentados na qual vendedores
de CDS garantem o valor dos títulos acionários pertencentes
a compradores de CDS.
O mercado de contratos CDS é bastante favorável
à especulação, já que nele os investidores,
incluindo bancos e hedge funds, podem apostar sobre o preço
dos CDS sem possuírem controle dos títulos derivadores.
A ameaça de calote, posta mais imediatamente pela Grécia,
mas também por Portugal e Espanha, forneceu uma oportunidade
para que os especuladores elevassem às alturas os preços
dos seguros para os títulos desses países através
da especulação em relação à
possibilidade de um calote, minando a confiança no pagamento
da dívida pelos países e aumentando a chance do
calote de fato acontecer.
Todos os três países juraram impor cortes de varredura
nos empregos e salários do setor público, assim
como nos benefícios sociais, junto com novos impostos para
bens de consumo, algo que corresponde às exigências
da União Européia de que os déficits orçamentários
desses países que atualmente estão em 10%
ou mais dos respectivos produtos internos brutos sejam
fortemente reduzidos.
O presidente grego George Papandreou do partido social-democrata
PASOK, que foi eleito no ano passado com base em promessas de
que reverteria as políticas direitistas do governo conservador
precedente, esta semana anunciou planos para um congelamento geral
dos salários no setor público, junto com cortes
nos bônus salariais, resultando num corte salarial total
de 4%. Ele também pediu além de um aumento
dos impostos sobre combustíveis uma reforma
do sistema previdenciário, que implicaria em elevar a idade
de aposentadoria.
Os governos social-democratas de Portugal e Espanha juraram
impor medidas de austeridade parecidas.
Sinais de crescente resistência por parte da classe trabalhadora
desses países têm cumprido um papel importante nos
tremores que abatem sobre os mercados financeiros globais. Há
uma crescente sensação nos governos e comitês
administrativos em todo o mundo de que um grande confronto com
a classe trabalhadora está por vir, com implicações
potencialmente revolucionárias.
Os bancos e a mídia estão exigindo que chefes
de Estado e parlamentares exibam a vontade política
e o consenso político necessário para
impor ataques históricos sobre a classe trabalhadora. Esses
termos são eufemismos para um grau de violência que
implica na capacidade de empregar prontamente a repressão
estatal. Os mercados financeiros, porém, estão ao
mesmo tempo céticos quanto à disposição
dos líderes políticos em implementar as medidas
requeridas e ansiosos quanto ao resultado de tal confronto.
Na quinta-feira, trabalhadores gregos lançaram a primeira
série de greves para protestar contra o pacote de austeridade
do governo. Oficiais de receita e oficiais alfandegários
começaram uma greve de 48 horas que fechou portos e passagens
fronteiriças por todo o país. Greves de outros setores
públicos e privados foram convocadas para a semana que
vem.
Fazendeiros gregos têm bloqueado rodovias em protesto
contra as propostas de austeridade do governo.
Uma das principais causas do frenesi de vendas que começou
no mercado de ações na quinta-feira foi o anúncio
pelos sindicatos gregos de uma greve geral de um dia no dia 24
de fevereiro. Os sindicatos haviam inicialmente demonstrado boa
vontade em auxiliar o governo do PASOK na implementação
dos planos de austeridade, mas foram forçados pela pressão
da classe trabalhadora a convocar ações de greve.
Líderes sindicais esperam usar as mobilizações
parciais dos trabalhadores para desarmar a raiva popular e canalizá-la
através de slogans nacionalistas, enquanto manobram para
formular um acordo com o governo que seja aceitável para
os bancos e para a União Européia. Entre os círculos
dominantes, porém, existe medo de que os sindicatos não
possam conter o ódio dos trabalhadores e jovens, que já
enfrentam o desemprego em massa e a queda nos padrões de
vida. Sindicatos portugueses e espanhóis também
ameaçam convocar greves e protestos.
Entre outros fatores que precipitaram a venda de ações
em massa está o fracasso do governo português em
encontrar compradores para todo o montante de seus títulos
de dívida na quarta-feira, e a derrota de seu pacote de
austeridade pela ação de partidos de oposição
no parlamento.
A crise de endividamento dos países mais fracos entre
os 16 localizados na zona do euro, incluindo Irlanda e Itália,
além da Grécia, Portugal e Espanha, está
levantando questões sobre a viabilidade do próprio
euro. Há cada vez mais especulação pública
de que a moeda de 11 anos de idade pode entrar em colapso sob
a pressão da crise econômica e financeira.
Nas semanas recentes, o euro caiu precipitadamente em relação
ao dólar e ao yen. Na sexta-feira, foi para $1,3620. Perdeu
9% em relação ao dólar desde dezembro. Isso
não reflete qualquer força inerente à moeda
dos EUA. Pelo contrário, pairando sobre a crise de endividamento
na Europa está a crise muito maior do maior devedor do
mundo os Estados Unidos. Não é acidental
que a crise européia tenha emergido logo após o
anúncio orçamentário do presidente Obama.
O plano orçamentário dos EUA revelou que o déficit
atual é de $1,6 trilhões, o equivalente a 10,6%
por cento do produto interno bruto do país, um recorde
desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Esse número se aproxima da taxa de endividamento de
12,7% do PIB exibida pela Grécia, é maior do que
a da Espanha e representa o dobro da média de endividamento
na zona do euro. O orçamento dos EUA, além disso,
projeta déficits de trilhões de dólares para
os anos futuros.
Como aconteceu em qualquer outro país industrializado,
o Estado americano respondeu à sua quebra financeira de
2008 assumindo para si os débitos de seus bancos e essencialmente
falindo seu tesouro para preservar os interesses dos ricos da
elite financeira. A administração Obama, não
menos que os governos da Europa, está exigindo que o custo
seja pago pela população em geral na forma de cortes
em programas sociais básicos e redução no
consumo isto é, um declínio permanente e
dramático nos padrões de vida da classe trabalhadora.
Diferentemente de crises financeiras anteriores, como a crise
da dívida asiática na década de 1990, atualmente
os EUA não podem fazer o papel de credores de recursos
emergenciais. Os Estados Unidos perderam irreparavelmente sua
posição anterior de potência econômica
mundial dominante, e seu declínio é refletido nos
desafios crescentes que o dólar enfrenta enquanto moeda
global de reserva e troca.
No Fórum Econômico Mundial de Davos, mês
passado, o presidente francês Nicolas Sarkozy disse em seu
principal discurso que usaria sua presidência iminente do
Grupo dos 20 para levar adiante um novo sistema monetário
internacional no qual o dólar não mais seria a primeira
moeda de reserva. E na quarta-feira, o Moody´s Investors
Service avisou que os Estados Unidos enfrentam a ameaça
de perder sua classificação de confiabilidade AAA
para crédito estatal a menos que Obama aja para reduzir
a dívida pública através de mais cortes sociais
draconianos.
É a erosão do poder econômico e da solvência
dos EUA que confere às crises de endividamento na Grécia,
Portugal e outros países europeus um caráter tão
explosivo e universal.
A recente alta do dólar é resultado de uma fuga
de segurança por investidores que temem um colapso
das bolhas especulativas e consideram os títulos do tesouro
dos EUA, junto com a dívida estatal da Alemanha, zonas
de tranquilidade temporárias. Em aspectos importantes,
a reversão de curto prazo do declínio do dólar
é uma expressão de uma crise social em aprofundamento
nos mercados financeiros mundiais.
Conforme um número de economistas avisou no ano passado,
a política dos EUA de inundar os mercados financeiros com
crédito barato baseado em taxas de juro quase nulas e no
equivalente eletrônico de imprimir um trilhão de
dólares projetada para impulsionar os grandes bancos
dos EUA e permitir que eles registrassem lucros recorde mesmo
diante do índice de desemprego de dois dígitos -
catalisaram uma enorme onda de especulação sobre
o valor de bens arriscados como ações, títulos,
commodities e moedas. Esses economistas previram que uma grande
alta no valor do dólar iria puxar o tapete debaixo dos
pés dos especuladores, que se baseavam na presunção
de um declínio continuado do dólar, e forçar
uma rápida e desestabilizante venda de bens inflados.
Parece que o estouro das bolhas começou.
[traduzido por movimentonn.org]
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