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Espalha-se a crise na Zona do Euro: Portugal, Itália
e Bélgica são afetados pelo resgate irlandês
Por Stefan Steinberg
10 de dezembro de 2010
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Após o resgate da Irlanda , a crise financeira na Zona
do Euro chegou a Portugal e começou a afetar a rotina financeira
da Itália, Bélgica e Espanha.
Estes quatro países foram obrigados a mostrar registros
de rendimentos sobre títulos do Estado em 10 anos, visto
que os credores exigiram a maior rentabilidade desde a introdução
do Euro em 1999. Mesmo os títulos franceses e alemães
foram pegos na corrente descendente, já que os especuladores
exigiam taxas de juros meio ponto mais altas em comparação
ao verão passado.
Portugal escapou por pouco da catástrofe na manhã
de quarta-feira, visto que flutuou com sucesso 500 milhões
de euros em títulos a 12 meses, mas foi obrigado a pagar
uma taxa de juros muito mais alta - 5,281% - em relação
a 4,813% em um leilão semelhante há duas semanas.
O leilão foi realizado poucas horas depois do serviço
americano de classificação de risco Standard &
Poor's ameaçar cortar o valor de crédito para o
país.
Uma análise da S&P observou que os cortes no orçamento
já aprovados pelo Governo Português, provavelmente
jogariam a economia do país em recessão. "Vemos
o governo fazendo poucos progressos nas reformas para que favoreçam
o crescimento a fim de compensar o entrave fiscal desses cortes
orçamentais agendados para 2011', advertiu o S&P."
Como consequência da rigidez estrutural da economia portuguesa
e das condições externas voláteis, projetamos
que a economia irá se contrair em pelo menos 2% em 2011
em termos reais".
Em um relatório divulgado na terça-feira, o Banco
Central português avisou que estava sofrendo uma crise de
liquidez e estava sendo socorrido por empréstimos do Banco
Central Europeu. Pela primeira vez um líder político
português, o líder da oposição Pedro
Passos Coelho, dos socialdemocratas, reconheceu que o país
pode ter que aceitar uma ajuda da União Europeia e do FMI.
Isso faria de Portugal o terceiro país da Zona do Euro
a receber um empréstimo desse tipo, seguindo a Grécia
e a Irlanda.
Na Itália, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi alertou
seus colegas de gabinete sobre as possíveis repercussões
dos registros de rendimento que estão sendo cobrados por
títulos do governo italiano. Seu colega de gabinete Gianni
Letta fez uma comparação entre os últimos
movimentos no mercado monetário com a AIDS. Letta, disse
à imprensa que ele temia que os "choques de mercado
do euro pudessem contaminar outros países mais sólidos,
como a Espanha, Portugal e a Itália" e que "as
turbulências do mercado são mais infecciosas do que
a AIDS, e é necessária uma vacina".
A crise contínua também levou a uma queda acentuada
no valor do Euro, que em um certo momento nesta semana caiu abaixo
de 1,30 dólar pela primeira vez desde setembro. O contínuo
declínio do Euro ocorre apesar de uma campanha de guerra
de mercado feita pelo governo dos EUA para reduzir o valor do
dólar nos mercados internacionais.
O Conselho de Governadores do Banco Central Europeu reuniu-se
na quinta-feira, em meio à crescente pressão para
o BCE acelerar compras de títulos dos países mais
fracos, a fim de escorar os mercados financeiros.
Ao longo das últimas duas semanas as lideranças
das potências europeias, juntamente com a Comissão
Europeia e o BCE, tomaram uma série de medidas extraordinárias,
a fim de aplacar a sede de sangue dos principais bancos e agentes
financeiros. Em uma grande jogada para aliviar os bancos, os ministros
das Finanças europeus concordaram às pressas com
uma proposta apresentada pela Alemanha e apoiada pela França
no fim de semana, para extensão do já existente
fundo de resgate de emergência europeu, através da
criação de um Mecanismo Europeu de Estabilidade
(ESM).
O principal elemento do novo acordo é a criação
de um fundo para substituir o fundo de resgate atual de 440 bilhões
de euros (US$ 583bilhões) estabelecido pelos governos europeus,
após a crise da dívida grega em maio deste ano.
Este fundo, conhecido como o Mecanismo Financeiro de Estabilidade
Europeu, deveria expirar em 2013. O novo fundo (ESM) entrará
em vigor em 2013, e introduz uma série de medidas que permitem
aos países europeus mais poderosos impor a "terapia
de choque" com sanções punitivas sobre os países
mais fracos que enfrentam a falência. Pela primeira vez,
o novo mecanismo inclui os países que não honraram
seus empréstimos.
A extensão do fundo de emergência europeu atual foi
um dos principais pedidos feito pelos bancos e mercados financeiros
há algum tempo. A necessidade de outro mecanismo para proteger
os interesses dos bancos foi exposto no início desta semana,
quando a Comissão da UE anunciou que o primeiro candidato
a um empréstimo maciço Europeu, a Grécia,
será incapaz de pagar suas dívidas dentro do prazo.
A Comissão da UE propõe agora estender o período
de amortização de empréstimos gregos por
um período adicional de três anos, até 2017.
Em mais uma concessão aos bancos, o acordo ESM fez cair
a demanda, levantada pela primeira vez pela chanceler alemã,
Angela Merkel, para que os credores privados fossem automaticamente
chamados a aceitar perdas em caso de resgates futuros. A queda
desta demanda ocorreu principalmente devido à pressão
da França.
As implicações reais do ESM, que é apoiado
pelo Fundo Monetário Internacional, foram reveladas em
um comentário de um dos peritos que trabalharam no seu
desenvolvimento. André Sapir, um dos principais membros
de um comitê de especialistas de Bruxelas, declarou: "Se
você tivesse me perguntado há um ano atrás,
eu teria dito que tal ideia era impossível... Um já
está aceitando a ideia que por si só já é
um salto incrível - sobre a reestruturação
dos débitos dos países da zona do Euro. Isso era
impensável, era algo apenas para países emergentes.
Nesse sentido, esta é uma verdadeira revolução".
A "revolução" à qual Sapir está
se referindo é o poder da União Europeia para implantar
este tipo de "terapia de choque", com as mesmas políticas
implementadas pelo FMI em uma série de países no
passado. Após uma intervenção do FMI na Argentina
na década de 1990, a economia do país encolheu 27%
e mais de metade da população mergulhou na pobreza.
Apesar da tentativa da Alemanha e da França para adquirir
o tipo de influência política tradicionalmente associados
ao FMI, no sentido de implantar a devastação social
a pedido dos bancos, os mercados financeiros deram sinal negativo
ao novo plano. Muitos detalhes ainda não estão claros
a respeito da função e do financiamento do mecanismo,
que entrará em vigor tarde demais para fornecer aos bancos
o dinheiro que eles pediram. Apenas um dia após a publicação
do plano, os especuladores financeiros começaram uma nova
ofensiva sobre as economias expostas.
A última fase da crise, a qual alguns comentários
comparam com o crash bancário de 1931, forçou os
principais banqueiros e responsáveis políticos europeus
a implementar medidas ainda mais extremas. O presidente do BCE,
Jean-Claude Trichet, está sob pressão para expandir
maciçamente o crédito.
Comentando sobre o papel do BCE, o economista-chefe do Citigroup,
Willem Buiter, declarou: "O envolvimento do BCE deverá
aumentar, apesar das suas declarações - e, provavelmente
desejos - contrários".
Ele descreveu a Irlanda como "insolvente", Portugal
como "moderadamente insolvente", a Grécia como
"insolvente de fato" e a Espanha como necessitada de
uma reestruturação da dívida de seus bancos
em grande escala. Buiter acrescentou que a crise da Zona Euro
foi apenas um "ato de abertura" para uma calamidade
financeira maior, envolvendo também o Japão e os
Estados Unidos.
As apostas do capitalismo americano sobre a crise crescente na
Europa, foram ressaltadas pelo envio de um emissário especial,
Lael Brainard, o subsecretário para assuntos internacionais,
que está visitando Madrid, Berlim e Paris para falar sobre
"o desenvolvimento econômica na Europa".
[traduzido por movimentonn.org]
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