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Encontro expõe divisões entre ministros de economia
dos países europeus
Por Stefan Steinberg
13 de dezembro de 2010
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Publicado originalmente em inglês em 15 de dezembro
de 2010
Uma reunião de ministros de Finanças europeus
na segunda-feira e terça-feira revelou profundas e crescentes
divisões entre os governos europeus sobre como lidar com
o agravamento da crise econômica do continente.
Em particular, os dois dias de cúpula em Bruxelas mostrou
um endurecimento de posições dividindo vários
países do norte europeu liderados pela Alemanha do resto
da Europa.
As discussões na reunião foram dominadas por
duas novas propostas de medidas de emergência para lidar
com a crise da dívida.
No fim de semana, o primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean Claude-Juncker,
e o ministro das finanças italiano, Giulio Tremonti, publicaram
um artigo no Financial Times, convocando os políticos
europeus a emitirem de um novo tipo de título, o chamado
euro-bond, para substituir o atual sistema de separação
de títulos dos governos nacionais.
A segunda proposta discutida na reunião do Eurogrupo
foi a forte alta no fundo criado no início deste ano para
resgatar os bancos europeus e defender a moeda comum do continente,
o euro. Na esteira da crise da dívida grega, os governos
europeus concordaram com um fundo de emergência de 445 bilhões
de euros, o Fundo Monetário Internacional (FMI) da União
Europeia, para lidar com novas contingências econômicas.
Seguindo o recente pacote de 85 bilhões de euros para
os bancos irlandeses e a ameaça iminente de mais resgates
europeus, as principais instituições financeiras
e os lobistas têm intensificado a sua chamada para mais
um, de quatro, aumento do fundo de resgate europeu, ou seja, um
fundo totalizando 2.000 bilhões de euros.
A proposta de uma forte injeção de dinheiro novo
para o fundo de resgate foi feita no fim de semana por Didier
Reynders, ministro de Finanças belga, que preside o conselho
da UE para assuntos econômicos. Reynders alegou também
que o FMI apoiou essa iniciativa. A Bélgica recentemente
foi incluída na lista dos países europeus que, de
acordo com os mercados e as agências de avaliação,
têm necessidade de iminente apoio financeiro da União
Europeia.
No encontro, ambas as propostas foram torpedeadas pelos principais
políticos alemães, que são referidos como
tendo o apoio de pelo menos dois outros governos europeus, a Áustria
e a Holanda.
Numa conferência de imprensa em Berlim, na segunda-feira,
a chanceler alemã, Angela Merkel, disse que não
vê necessidade de aumentar o tamanho do fundo de resgate
de 445 bilhões de euros da União Europeia. Merkel
também rejeitou a proposta do eurobond, argumentando que
tal relação violaria tratados europeus.
Os comentários de Merkel foram precedidos por declarações
do ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble,
que concedeu uma entrevista ao jornal Bild no fim de semana.
Schauble deixou claro que ele rejeitou tanto um eurobond quanto
qualquer aumento do fundo de resgate europeu.
A postura assumida pela Alemanha, apoiada por um punhado de
outros governos, irá intensificar o fosso cada vez maior
na Europa. A desunião que reinou na cúpula de Bruxelas
é sintoma da intensificação das divisões
nacionais e do crescimento do egoísmo nacional na Europa.
Por alguns anos após a introdução do euro
em 1999 foi possível mascarar as diferenças de crescimento
econômico entre as nações europeias.
Os principais bancos europeus - com os da Alemanha, França,
Áustria e Suíça na linha de frente - bombearam
dinheiro nas mais fracas economias periféricas e orientais
da Europa. Este influxo de fundos abasteceu a demanda para os
bens de consumo das principais potências exportadoras como
a Alemanha. Também alimentou as bolhas imobiliárias
e da dívida que explodiram de forma tão espetacular
na Irlanda e na Espanha.
Esta estratégia de investimento dos bancos europeus
foi aprovada e incentivada por seus respectivos governos nacionais.
Na Alemanha, o governo do partido social-democrata-verde que tomou
o poder em 1998 introduziu a legislação que facilitou
a estratégia de investimento internacional dos principais
bancos da Alemanha.
Por quase uma década, com base em sua moeda comum, foi
possível para a elite política europeia encobrir
as disparidades econômicas entre os países europeus
e projetar uma imagem de crescente harmonia e integração.
Esta política explodiu em 2008 com a queda do Lehman
Brothers e do início da crise financeira internacional.
A crise que começou nos EUA logo revelou a podridão
dos investimentos feitos pelos bancos europeus. Um governo europeu
após o outro reagiu através da implementação
de um resgate em massa ao seu sistema bancário. Pela primeira
vez na história, o governo alemão interveio para
nacionalizar um banco alemão, bombeando um total de 105
bilhões de euros no Hypo Real Estate, que havia
investido fortemente na bolha especulativa irlandesa.
Agora, a chanceler alemã rejeita o aumento do fundo
de resgate europeu e propostas para um eurobond, pois isso teria
consequências negativas para os bancos alemães e
empresas alemãs. Ambas as propostas implicam gastos extras
de Berlim, que são agressivamente contrapostos por parte
das empresas e lobbies financeiros do país.
A própria alternativa da Alemanha é a imposição
de duras sanções sobre as fracas economias europeias.
Isto está exigindo e tentando garantir o poder de impor
o tipo de táticas de "terapia de choque" implementadas
pelo FMI em uma série de países latino-americanos
na década de 1990, e que prevaleceram em toda a Europa
de Leste após o colapso da União Soviética.
De uma força líder para a integração
europeia no período pós-guerra, a Alemanha está
se transformando em uma força de desestabilização
e divisão na Europa. A economia alemã tem se beneficiado
enormemente a partir da introdução do euro, o fato
é que os círculos financeiros e empresariais, juntamente
com o governo alemão, fazem questão de manter a
moeda comum.
Ao mesmo tempo, a crescente orientação nacionalista
do governo alemão levou a um acalorado debate político
sobre o futuro do euro e da própria União Europeia.
Em uma coluna para o jornal Süddeutsche Zeitung nesta
terça-feira, o ex-ministro alemão e líder
dos Verdes, Joschka Fischer, atacou duramente o governo alemão,
acusando-o de ter "amnésia" histórica
e de incentivar uma "Europa alemã", em vez de
uma Alemanha europeia.
Enquanto isso, em um lançamento de livro em Berlim na
semana passada, o ex-chefe da federação industrial
alemã BDI, Hans-Olaf Henkel, apresentou o seu novo livro,
intitulado Rescue Our Money (Salve Nosso Dinheiro). A própria
proposta de Henkel para a crise é dividir a zona do euro
em dois, com o norte da Europa (Alemanha, Países Baixos,
Áustria), de um lado e os países do sul, como Espanha,
Itália e França, em outro.
A proposta de Henkel é nada menos do que um trampolim
para o rompimento do euro e da desintegração da
Europa como um todo. O seu livro é amplamente recomendado
pelo proeminente social-democrata, Thilo Sarrazin, que recentemente
publicou seu próprio livro difundindo argumentos racistas
contra imigrantes muçulmanos. O convidado de honra no lançamento
do livro Rescue Our Money era ninguém menos que
o ministro das Finanças alemão, Rainer Bruederle.
[Traduzido por movimentonn.org]
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