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Decadência da democracia Americana

Por Patrick Martin
13 de dezembro de 2010

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Publicado originalmente em inglês em 2 de novembro de 2010

A campanha eleitoral dos Estados Unidos em 2010, agora melancolicamente se encerrando, marca uma queda mais profunda do sistema bipartidário num poço de imbecilidades. Nenhum das questões principais que o povo americano enfrenta - a pior crise econômica desde a Grande Depressão, duas guerras, pobreza que se alastra, a cobrança executiva de dívidas hipotecárias, crescente ataque aos direitos democráticos, a pior catástrofe ambiental da historia americana - foi seriamente discutida. A maior parte delas, nem foi abordada.

Em seu lugar, os candidatos democratas e republicanos engalfinharam-se numa guerra mútua de acusações injuriosas, frases vazias e deslavadas mentiras em escala sem precedentes mesmo no curso da história sinistra das eleições americanas. Mais de 4 bilhões de dólares foram gastos pelos dois partidos e criaram-se várias facções apoiadas por grandes empresários, com o propósito de difamar um grupo de candidatos em proveito de outro.

A parte do leão dessa enorme soma de dinheiro foi aplicada na compra de anúncios televisivos agressivos que alcançaram um crescendo no decorrer da semana passada. Tornou-se impossível assistir a um programa noticioso, a uma novela, a uma comédia ou a eventos desportivos sem sujeitar-se a alguma torrente de sujeiras, viciosas, alienantes da mente pelas suas deformidades, repetidas à exaustão e obviamente insinceras.

No Nevada, os telespectadores receberam a informação de que o atual senador democrata Harry Reid, patrocinara o fornecimento grátis de Viagra para pedófilos encarcerados. No Kentucky, disseram-lhes que o candidato republicano ao senado amarrara uma aluna de escola mista obrigando-a a adorar um ídolo chamado Aqua Buddha. No Illinois, o candidato democrata ao senado foi caluniado e apontado como “financiador de quadrilheiros”. Um candidato republicano do Michigan ao congresso, foi chamado de trapaceiro que extorquira 6 milhões de dólares de sócios comerciais.

A maior parte da propaganda e anúncios é paga por grupos “independentes” criados da noite para o dia com o objetivo de influenciarem a votação de 2010, comumente por um influxo de contribuições de doadores ricos, lobies corporativos ou um dos maiores sindicatos. Sob a capa de rótulos inocentes - “Americanos em favor da Prosperidade” , “Americanos pelo Trabalho”, “Famílias Americanas em Primeiro Lugar” - o grupo então compra horários televisivos destinados a detratarem alguns candidato e promoverem outros.

A função principal da barragem propagandística é confundir a audiência e tornar coerente a reflexão acerca de temas políticos virtualmente impossíveis. Nenhum partido deseja efetivamente comunicar-se com os eleitores em níveis racionais. Em vez disto, cabos eleitorais, marqueteiros e anunciantes procuram desorientar os ouvintes através de ataques prenhes de emoções sobre os candidatos adversários, enquanto a agenda efetiva dos patrocinadores permanece encapada.

O nível intelectual insondável da campanha de 2010 não é meramente o aspecto grotesco e diverso do que seria um processo eleitoral saudável. Representa fundamentalmente a expressão do caráter da democracia capitalista americana.

É impossível para os dois partidos do capital falar ao povo americano honesta e sem rodeios, porque ambos, tanto os democratas quanto os republicanos, representam a aristocracia financeira, um diminuto punhado da população cujos interesses se opõem diametralmente aos das amplas massas.

O posicionamento populista de ambos os partidos tornou-se enfadonho e incrível. É pretensão de Obama fazer crer que sua administração tem sido o flagelo de Wall Street, quando se observa que trilhões de dólares do tesouro foram empregados no socorro a instituições financeiras. Os republicanos por seu turno esbravejam contra os generosos subsídios para os bancos, no entanto os auxílios foram maquinados pela .administração Bush e ratificados pela liderança congressional republicana.

A ausência de uma discussão substantiva de assuntos como a guerra e os ataques arquitetados contra os direitos democráticos constitui demonstração do caráter degradado e falso de um processo político oficialmente sancionado. Nenhum dos partidos se subordina à vontade popular quando se trata de questões cruciais.

Bush foi à guerra contra o Iraque a despeito da maciça oposição interna. Obama escalonou a guerra no Afeganistão após ganhar a eleição em 2008 como suposto candidato da “paz”. Semelhantemente, na questão dos direitos democráticos ambos os partidos se encarregam de continuar a desenvolver o poder do aparato da inteligência bélica, no sentido de materializar o estado policial americano.

Faz exatamente uma década que a evidente intervenção da Suprema Corte dos Estados Unidos nas eleições presidenciais e a capitulação dos democratas consentiram a instalação de George W. Bush na Casa Branca. Na ocasião, a World Socialist Web Site concluiu que já deixara de existir um poder constituinte nos Estados Unidos, representativo da classe dirigente americana disposto a defender os direitos democráticos.

Seguiram-se varias eleições, cada uma mais grotesca do que a anterior. A de 2002 decorreu sob o temor da guerra do Iraque, com a administração Bush advertindo do perigo de “nuvens pestilentas” sobre as cidades americanas se Saddam Hussein não fosse derrubado.

Nas eleições de 2004, os democratas deram as costas aos sentimentos anti-bélicos do povo americano e apontaram um candidato empenhado numa vitória militar no Iraque. Em 2006, os democratas conseguiram o controle do Congresso, em grande parte por causa da oposição popular à guerra do Iraque, mas a administração Bush ampliou suas atividades bélicas ao invés de reduzir os fundos destinados às operações militares ou tomar alguma medida a fim de pôr cobro ao derramamento de sangue.

Nas eleições presidenciais de 2008, a vitoria de Obama representou o triunfo da manipulação da mídia e da disseminação de ilusões. Um candidato virtual e desconhecido, com apenas quatro anos no senado americano, foi escolhido e preparado pelos agentes do poder e magnatas do Partido Democrático e, então, acondicionado como um mocinho insurgente que poderia alimentar “esperanças” e promover “mudanças”. Assumiu o governo no meio de declarações pomposas de que o primeiro presidente afro-americano representava um marco na reconstrução democrática. Dois anos mais tarde, a desilusão é, em todos os aspectos, ainda maior.

Esses anos não foram vividos em vão, porem. Dezenas de milhões de pessoas perceberam, baseadas em dolorosas experiências, que ambos os partidos fazem o jogo da América corporativa, qualquer que seja sua retórica no curso das eleições. Há crescente compreensão de que o povo trabalhador necessita fundamentalmente de novos caminhos.

Não há saída no âmbito do caráter degradado e corrupto praticado pelo sistema político americano através de mecanismos tais como “reforma” das campanhas de financiamento eleitoral e outros esforços para remendar as regras pelas quais políticos capitalistas são comprados e vendidos por seus senhores do grande capital.

A política americana só será redefinida através do acesso das massas nas grandes lutas sociais e políticas. A emergência de um movimento genuinamente popular, de baixo para cima, explodirá tudo que é falso, inverídico, artificial, maquiado e mistificado na vida política americana, inclusive facções pseudo-populistas a exemplo do Tea Party (Partido do Chá).

O caminho futuro para a classe trabalhadora será a construção de um partido político independente próprio - do povo trabalhador e para o povo trabalhador e de todos oprimidos - fundamentado num programa socialista e antiimperialista. Esta é a política defendida pelo Partido da Igualdade Socialista.

(Tradução de Odon Porto de Almeida)

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