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WSWS : Portuguese

Política de classe da Europa: cheque em branco para os bancos, austeridade para os trabalhadores

Por Stefan Steinberg
5 de agosto de 2010

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Publicado originalmente em inglês em 31 de julho, no WSWS

Na mesma semana em que oficiais europeus anunciaram os resultados dos testes de estresse bancário, destinados a dar uma luz verde aos banqueiros para prosseguirem em seu caminho especulativo, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, publicou uma coluna no Financial Times (em 22 de julho) defendendo um fim aos programas de estímulo econômico e a rigorosa imposição de medidas de austeridade em toda a Europa.

No artigo, intitulado "Não estimular mais — Agora é hora de todos apertarem os cintos", Trichet escreveu que, após o colapso financeiro de setembro de 2008, o mundo era apenas capaz de evitar um "colapso financeiro e uma segunda Grande Depressão", mas a um preço elevado. De acordo com cálculos do BCE, "o volume de riscos do contribuinte destinado a apoiar a esfera financeira (...) chegava a 27% do PIB". Trichet observou que um percentual semelhante do PIB foi disponibilizado para o sistema bancário do outro lado do Atlântico.

O custo total para os contribuintes europeus do resgate aos bancos em 2008-2009, escreveu Jean-Claude Trichet, correspondeu a mais de € 4 trilhões, uma soma equivalente àquela posta à disposição dos bancos americanos.

Os governos por toda a Europa e, conseqüentemente, nos EUA e em todo o mundo, tiveram que, declarou Trichet, "confirmar a sua determinação em consolidar as suas finanças públicas", ou seja, avançar programas de austeridade que esvaziarão programas sociais e condenarão milhões de pessoas ao desemprego e à pobreza.

As observações de Trichet seguiram a decisão de junho do grupo de países do G20 de migrar para a política de coordenação de cortes no orçamento. Seguindo o pacote de resgate de emergência de € 750 bilhões firmado em maio, os governos europeus já haviam começado a implementar pacotes de austeridade sem precedentes em todo o continente.

Segundo um comentarista econômico para um canal francês de negócios, a crise da dívida grega levou os governos europeus a se esforçarem para reduzir mais os gastos sociais nas últimas 10 semanas do nos últimos 10 anos. Trichet está exigindo que o desmantelamento do Estado de bem-estar social europeu seja acelerado e ampliado.

A fim de assegurar que os governos europeus "consolidem suas finanças públicas", a União Européia, juntamente com o Fundo Monetário Internacional, está preparando medidas punitivas para serem usadas contra países que não conseguem reduzir os gastos com suficiente rapidez. Comissários da UE estão exigindo o direito de inspecionar os orçamentos nacionais e emitir sanções contra os Estados que não cumpram com as suas exigências.

Comentando a necessidade de tais medidas no caso da Hungria, o Comissário de Economia e Política Monetária da Europa, Olli Rehn, declarou recentemente: "Precisamos afiar nossas garras".

A UE e o Banco Central Europeu adotaram uma atitude muito diferente para os bancos que primeiramente desencadearam a crise.

Os testes de estresse aplicados sobre os bancos europeus e publicados na semana passada foram tudo, menos "estressantes". Realizados em grande parte devido à pressão dos investidores dos EUA e da Ásia e seus respectivos governos, os testes foram um exercício para "dar confiança", ditado pelos próprios bancos para acalmar os nervosos mercados financeiros e estabilizar o euro.

De acordo com a revista de negócios Money Week: "Os testes de estresse de bancos europeus foram uma farsa, é claro. Você teria que ser muito ingênuo para esperar outra coisa (...) para ser franco, os órgãos reguladores da Europa nem sequer tentam fingir que se tratava de um exercício sério. De 91 bancos, apenas 7 reprovaram. E esses foram os que sabíamos que já estavam em uma enrascada".

Antes dos testes, o Der Spiegel relatou que os 14 bancos alemães que estão sendo testados ouviram que "tinham pouco a temer, porque os critérios para os testes foram diluídos nas agitadas negociações entre o Banco Central Europeu, a Comissão Européia e os cães de guarda do sistema bancário europeu".

Na seqüência da publicação dos testes de estresse foi revelado que seis dos 14 bancos alemães desafiaram os parâmetros dos testes e sonegaram informações sobre sua participação na dívida soberana. A falha desses bancos em publicar seus números indica que eles continuam com grandes quantidades de dívida tóxica em seus livros.

Os testes de estresse jogam os holofotes sobre o alerta de Trichet em seu comentário no Financial Times sobre "uma catástrofe econômica futura". Trichet está ciente de que muitos bancos europeus continuam sobrecarregados com enormes quantidades de dívidas impagáveis. Isso se combina ao endividamento em massa de várias economias européias enfermas. Uma nova crise bancária em caso de calote nos pagamento dos créditos de um país soberano ou de outra grande instituição financeira é inteiramente possível.

É para pagar pelo resgate aos bancos no ano passado e se preparar para mais operações de resgate que virão que Trichet exige medidas de austeridade contra a classe trabalhadora. Por meio disso ele articula a política de guerra de classes da classe capitalista internacional.

A crise econômica mundial é a forma pela qual uma reorganização fundamental das relações sociais está ocorrendo, visando aniquilar os ganhos econômicos do passado da classe trabalhadora e reduzir os salários e as condições de trabalho nos centros capitalistas antigos para aqueles dos trabalhadores pobres e brutalmente explorados da Ásia e América Latina.

Em resposta aos ditames do capital financeiro, os governos de toda a Europa, América do Norte, Japão e Austrália querem impor cortes históricos na qualidade de vida da classe trabalhadora. Eles e as elites dominantes, a cujos interesses eles servem, contam com os serviços da burocracia sindical para fazê-lo.

Em país após país - Grécia, Espanha, Portugal - os sindicatos estão trabalhando para dissipar o trabalho da oposição de classe, limitando-o a greves e protestos simbólicos de um dia, enquanto apóiam os governos que estão implementando os cortes. Em junho, o secretário-geral da Confederação Européia dos Sindicatos, John Monks, declarou o seu total acordo com os planos da UE-FMI de austeridade na Grécia.

Há uma crescente oposição popular a esses ataques. Mas a classe trabalhadora precisa de seu próprio programa e estratégia de classe para se contrapor à agenda da luta de classes da burguesa.

Novas organizações democráticas dos trabalhadores, tais como comitês de fábrica, devem ser estabelecidas em oposição aos sindicatos para realizar greves em defesa dos empregos, salários e as necessidades sociais básicas. Acima de tudo, a resistência da classe trabalhadora deve ser guiada por uma nova perspectiva política revolucionária, baseada na unidade internacional dos trabalhadores na luta pelo poder operário e pelo socialismo.

(traduzido por movimentonn.org)

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