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O ataque aos salários dos trabalhadores dos EUA

Por Tom Eley e Barry Grey
26 de agosto de 2010

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Publicado originalmente em inglês em 19 de agosto de 2010.

Um artigo publicado no Financial Times de quarta-feira sob o título "EUA alcançaram os custos dos call-centers indianos" dá alguma indicação do impacto sobre os trabalhadores americanos de um coordenado e crescente corte de salários dirigido pelas grandes empresas, apoiadas pela administração Obama.

O artigo começa assim: "Trabalhadores de call-centers estão se tornando tão baratos nos EUA quanto na Índia, de acordo com a maior empresa de terceirização do país. Elevados níveis de desemprego têm impulsionado para baixo os salários de alguns serviços terceirizados pouco qualificados em algumas partes dos EUA, particularmente entre a população hispânica".

De acordo com o artigo, um certo número de empresas de terceirização indianas estão mudando suas operações para os EUA para tirar vantagem dos baixos custos da força de trabalho, uma inversão da década de 1990 quando muitos call-centers e empresas de software americanas fecharam operações para explorar os trabalhadores escolarizados, mas com baixos salários, na Índia.

"Precisamos estar bem conscientes de que as pessoas [nos EUA] estão abertas a trabalhar em casa e com salários mais baixos do que estavam acostumadas", comentou Pramod Bhasin, Diretor Executivo da empresa indiana Genpact. A empresa, que já terceiriza o trabalho para Chicago, Ohio, Tennessee e Nova York, pretende triplicar o tamanho de sua força de trabalho nos EUA durante o próximo ano.

O artigo do Financial Times é um indício gritante de que a campanha corporativa do governo para reduzir a diferença salarial entre trabalhadores americanos e trabalhadores super-explorados da Ásia e de outras "economias emergentes" está se realizando com sucesso considerável. O colapso do capitalismo americano e mundial está sendo utilizado pela classe dominante para realizar uma redução drástica e permanente nos salários dos trabalhadores americanos e nos padrões de vida e elevar o nível de exploração.

Esta é uma política deliberada de guerra de classes, que é implacavelmente perseguida para se aproveitar da miséria e do desespero causados pelo desemprego em massa e pela difusão das execuções hipotecárias, cortes de benefícios, fome e falta de moradia.A Casa Branca de Obama deu o sinal para as empresas usarem as demissões e a ameaça de fechamentos de fábricas para reduzir os salários forçando a General Motors e a Chrysler a entrar em falência no ano passado e insistindo para que os salários dos trabalhadores recém-contratados fossem cortados pela metade como condição para um resgate governamental das companhias automobilísticas.

Agora, os novos trabalhadores desse setor estão ganhando o salário quase miserável de US$ 14 por hora. E este é apenas o começo, conforme as empresas automobilísticas se preparam para a demanda de cortes ainda mais profundos em salários e benefícios e para o agravamento de todas as restrições em velocidade ainda maior. Demandas semelhantes estão sendo feitas em todos os setores da economia dos EUA.

A redução dos custos da mão-de-obra nos EUA em direção a níveis que existem na Ásia está no coração da administração Obama, o chamado programa de "empregos". Tendo excluído todos os programas governamentais de criação de emprego e abandonado mesmo as suas próprias propostas insignificantes de estímulo, e tendo se recusado a prestar ajuda à falência de governos estaduais e municipais, a Casa Branca e os democratas do Congresso estão alardeando a promessa de dobrar as exportações EUA em 5 anos como plano para reduzir os níveis mais altos de desemprego desde a Grande Depressão.

No centro desta estratégia está a redução do custo do trabalho americano e, sobre esta base, o reavivamento da manufatura dos EUA como uma plataforma de mão-de-obra barata para as exportações para mercados globais. A transferência das operações da Índia para os EUA é, sem dúvida, algo a ser comemorado em Washington e em Wall Street como prova do sucesso inicial dessa política cruel.

Cortes de salário e de benefícios atingiram todas as partes da classe trabalhadora nos EUA: operários, professores, funcionários públicos e trabalhadores do setor de serviços; brancos, negros, latinos, nascidos nos EUA e imigrantes, mulheres e homens, adolescentes e trabalhadores com décadas de experiência. Na semana passada, o Departamento de Comércio informou que os salários do setor privado caíram 6% em 2009.

É nesta base que as empresas estão novamente declarando os seus gordos lucros e os Diretores Executivos continuam a premiar-se com pacotes de compensação de 7 e 8 dígitos.

O sucesso da elite corporativa de até agora apreciar a aplicação desta política se deve, sobretudo, à colaboração das centrais sindicais AFL-CIO e Change to Win. Cada sindicato, os quais dizem representar os professores, trabalhadores da indústria automobilística, trabalhadores das minas ou funcionários do governo, empenha-se em impor exigências dos patrões para a redução dos salários para "salvar empregos".

Este ataque sobre os salários, e a cumplicidade dos sindicatos, não é simplesmente um fenômeno americano, mas sim internacional. O artigo do Financial Times observou que a empresa indiana de terceirização de TI, Wipro Technologies, "começou a recrutar trabalhadores na Europa, Oriente Médio e África durante a reviravolta econômica global".

A raiva está crescendo entre os trabalhadores dos EUA, que estão começando a identificar o próprio sistema capitalista como fonte de opressão e estão cada vez mais reconhecendo que seus chamados "sindicatos" são instrumentos dos patrões.

No domingo, os trabalhadores empregados em uma fábrica de estamparia da GM em Indianápolis gritaram e expulsaram os dirigentes do UAW, que exigiam que eles tivessem um corte de 50% do pagamento como parte de um acordo para vender a fábrica. Isso apósos trabalhadores da Ford terem rejeitado um contrato de concessões no ano passado, que culminou com Bob King, o recém-instalado presidente do UAW, sendo vaiado durante uma reunião dos trabalhadores da Rouge, em Dearborn, Michigan.

Outra luta contra o corte de salários, uma greve de 305 trabalhadores de uma fábrica da indústria alimentícia ao norte do estado de Nova York, está prestes a entrar no quarto mês. Os trabalhadores da Mott´s, subsidiária do conglomerado Dr Pepper Snaple, votou pela greve quando a empresa exigiu que aceitassem cortes de US$ 3000 ao ano, o congelamento das aposentadorias, o fim das mesmas para os recém-contratados e o aumento nas taxas cobradas do trabalhador para o seguro saúde.

Um artigo do New York Times sobre a greve, publicado na terça-feira, nos dá uma análise da atitude da elite corporativa americana - e de seus lacaios políticos de ambos os partidos do grande capital - diante dos trabalhadores americanos. O artigo citava um trabalhador que descreveu as falas de um gerente da fábrica durante as negociações: "Ele disse que éramos uma mercadoria como grãos ou óleo de soja, e que o preço das mercadorias sobe e desce (...) Ele disse que há milhares de pessoas desta área sem emprego, e que eles poderiam contratar qualquer um deles por US$ 14 a hora".

O que o gerente não conseguiu explicar é a diferença entre grãos de soja e trabalhadores. Trabalhadores podem lutar, e eles o farão!

Os trabalhadores americanos, tendo sido traídos e tido suas lutas sabotadas pelos sindicatos nas últimas três décadas, estão prestes a enfrentar enormes batalhas. É importantíssimo que as lições das derrotas passadas sejam aprendidas e que as batalhas futures sejam guiadas por uma nova estratégia operária e política.

O primeiro pré-requisito é que os trabalhadores rompam com os sindicatos oficiais. Comitês de fábrica independentes, órgãos verdadeiramente populares e democráticos da base, devem ser formados para planejar ocupações e greves. Essas lutas devem congregar o maior apoio possível sob o princípio da classe trabalhadora - há tempos abandonado pelos sindicatos - de que se atacam um, atacam todos.

O movimento de firmas de terceirização indianas que contratam por baixos salários rumo aos EUA nos ensina outra lição. A exploração capitalista do globo na busca de salários cada vez mais baixos requer uma resposta mundial da classe trabalhadora. O surgimento recente de greves na China, Europa, Bangladesh, Índia e EUA deve se tornar um ponto de partida para uma contra-ofensiva da classe operária contra as demissões e cortes salariais.

Isso é uma luta política contra toda a classe dominante, contra o governo Obama e contra ambos os partidos do grande capital. Um movimento socialista de massas deve ser construído para lutar pelo poder operário e pela reorganização da vida económica para promover a igualdade social e atender às necessidades sociais, não aos lucros corporativos.

[traduzido por movimentonn.org]

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