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Mercados e lucros decolam em meio a sinais de aprofundamento
da recessão
Por Barry Grey
12 de agosto de 2010
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Publicado originalmente em inglês em 3 de agosto de
2010
As bolsas de valores da Ásia, Europa e EUA subiram abruptamente
na segunda-feira depois de grandes bancos e empresas, apesar dos
sinais de desaceleração do crescimento econômico,
terem anunciado lucros abundantes. Na Europa, as ações
atingiram os valores mais altos dos últimos três
meses depois que o maior banco do continente, HSBC, e o maior
banco de empréstimos francês, BNP Paribas, anunciaram
ganhos maiores do que o esperado. As ações das gigantes
mineradoras BHP Billiton e Rio Tinto também decolaram.
Nos EUA, o índice Dow Jones saltou 208 pontos, ou 1,99%,
e os outros principais índices registraram aumentos semelhantes.
O aumento ocorreu apesar do relatório do Departamento de
Comércio na última sexta-feira anunciar que o crescimento
do PIB Americano no segundo trimestre diminuiu para 2,4% em taxa
anual, tendo sido de 3,7% do primeiro trimestre e 5,0% no quarto
trimestre de 2009. As más novas da economia foram reforçadas
pelo relatório de segunda-feira sobre uma queda na atividade
industrial americana em julho.
Antes disso, em julho, o Fundo Monetário Internacional
previu menor crescimento econômico em nível mundial
ao longo dos próximos 18 meses e revisou para baixo suas
estimativas anteriores de 2011 para os Estados Unidos e outras
economias de destaque na Europa, Ásia e América
Latina. Esses níveis anêmicos de crescimento garantem
que o desemprego continuará em níveis próximos
dos de uma depressão econômica por muitos meses,
e até mesmo anos, por vir. Agora virou rotina para oficiais
americanos declararem, sem rodeios, que não haverá
nenhuma melhora significante na crise de empregos num futuro próximo.
Na Europa, praticamente todos os governos estão impondo
medidas de austeridade draconianas, cortando empregos e salários,
aumentando impostos sobre o consumo, e destruindo programas sociais.
Nos EUA, o governo Obama abandonou até mesmo suas iniciativas
de estímulo mais parcas e tampouco propõe qualquer
coisa para diminuir o desemprego ou providenciar alívio
para os 26 milhões de desempregados e sub-empregados, incluindo
aproximadamente sete milhões que estão sem trabalho
por mais de seis meses. Ao invés disso, o governo está
prometendo cortar programas sociais básicos nos próximos
meses.
Os mercados financeiros comemoraram na segunda-feira os resultados
dessa política deliberada da burguesia internacional de
usar o desemprego em massa para achatar os salários, aumentar
a produtividade e levantar os lucros corporativos, mesmo sob condições
de estagnação ou queda nas vendas e receitas.
Na Europa, cerca de 60% das companhias do índice Stoxx
600 a relatarem ganhos desde 12 de julho ultrapassaram as projeções
dos analistas. Nos EUA, com 70% das companhias do índice
de ações Standard & Poor's 500 relatando seus
ganhos, os lucros estão girando a 42% acima de um ano atrás,
mesmo tendo as vendas crescido apenas 9%.
Os bancos e grandes investidores foram ainda mais encorajados
por comentários do presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke,
que, em discurso na segunda-feira, confirmou que o Fed continuaria
estendendo os créditos quase gratuitos a Wall Street, mantendo
as taxas de juro próximas de zero. Ao mesmo tempo, ele
deixou claro que o desemprego permaneceria extremamente alto por
um período indefinido e indicou que o Fed não tinha
planos de tomar medidas para diminuir o desemprego.
No mesmo dia, o presidente Obama deu uma entrevista à
televisão, na qual ele especulou sobre o suposto sucesso
de sua política econômica e declarou que os EUA estavam
a meio caminho da completa recuperação.
Isso enquanto mais de um em cada cinco americanos terem sofrido
uma queda em seus rendimentos de 25% ou mais em 2009, mais de
um milhão de famílias por ano estão perdendo
suas casas em execução hipotecária, e 1,4
milhão de pessoas desempregadas por 99 semanas ou mais
esgotaram todos os seus benefícios sociais e estão
sem renda em dinheiro.
Os mercados financeiros também foram, sem dúvida,
protegidos pelo uso bem-sucedido, por parte do governo social-democrata
grego, das forças militares para acabar com a greve dos
caminhoneiros no fim de semana.
O economista e colunista do New York Times, Paul Krugman,
na segunda-feira, escreveu francamente sobre a estratégia
de guerra de classes da elite dominante. Ele notou evidências
crescentes de que nossa elite governante simplesmente não
se importa - que o nível, antes impensável, de penúria
econômica, está em processo de se transformar na
nova normalidade.
Ele sugeriu que aqueles no poder iriam logo
declarar que o alto índice de desemprego é estrutural',
parte permanente do cenário econômico (...).
Ele prosseguiu com a seguinte previsão: Daqui a dois
anos o desemprego ainda estará extremamente alto, muito
possivelmente mais alto do que está agora (...).
O fator principal que vem permitindo à burguesia, até
agora, impor tal política é a traição
e cumplicidade dos sindicatos. Na Europa, os sindicatos, auxiliados
politicamente por seus aliados de grupos de esquerda
da classe média, têm trabalhado para conter e dissipar
a oposição em massa da classe trabalhadora às
medidas de austeridade, principalmente na Grécia, Espanha,
Portugal e França. Eles têm limitado a resistência
da classe trabalhadora a protestos e greves simbólicas,
enquanto colaboram com seus respectivos governos para impor os
cortes exigidos pelos bancos internacionais e mercados financeiros.
Nos EUA, a central sindical AFL-CIO e sua rival Change-to-Win
mal conseguem causar qualquer impacto no cenário político.
Eles não propõem nada, não organizam nada
e voltam todos os seus esforços para providenciar cobertura
política ao governo Obama e desviar a raiva da classe trabalhadora
para as vias reacionárias do nacionalismo econômico.
O papel dos sindicatos americanos foi resumido na semana passada
quando o United Auto Workers exibiu Obama em duas plantas automotivas
em Detroit. Em um espetáculo que causa revolta, Obama se
vangloriou de ter salvado a indústria automotiva
americana com seu resgate à General Motors e Chrysler,
ignorando o papel de sua Força-Tarefa Automotiva no corte
de salários de trabalhadores recém-contratados para
US$ 14, metade daquele de trabalhadores mais antigos; no fechamento
de fábricas; no corte de dezenas de milhares de empregos
relacionados à indústria automotiva; e no corte
dos benefícios de saúde de trabalhadores aposentados.
Quase dois anos depois do desastre econômico de setembro
de 2008, os bancos exercem pressão mais acirrada sobre
a política governamental do que antes. Eles continuarão
a usar o desemprego em massa para destruir os salários
e padrões de vida dos trabalhadores até que a classe
se liberte da burocracia sindical e organize uma enorme luta política
e econômica contra a oligarquia financeiro-corporativa e
seus servos políticos.
Isso demanda um programa socialista que exija uma política
de frentes públicas de trabalho para providenciar emprego
a todos, assim como a estatização dos bancos e das
grandes corporações, sob o controle democrático
da classe trabalhara.
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