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China: Greve prolongada em fornecedora de peças da
Honda
Por John Chan
7 de agosto de 2010
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Publicado originalmente em inglês em 22 de julho.
Uma amarga disputa, que tem sido contínua desde 12 de
julho em uma fornecedora de peças da Honda na cidade chinesa
de Foshan, é outro sinal da agitação trabalhista
em curso na China. Cerca de 100 trabalhadores na Atsumitec Auto
Parts (Foshan), que fornece bastões de engrenagem e outras
peças para a Honda e outras empresas japonesas de automóveis,
entraram em greve por maiores salários.
A greve, envolvendo cerca de metade da força de trabalho
da fábrica, começou depois que a gestão implantou
um novo sistema de turnos que reduzem drasticamente as horas extras,
o aumento da carga de trabalho; e conseqüentemente, cortou
os rendimentos dos trabalhadores.
A Honda é a maior acionista da Atsumitec. A intensificação
da exploração dos trabalhadores pela Atsumitec é
parte de um amplo movimento dos fabricantes na província
de Guangdong e em outras partes do país para evitar o "aumento"
dos custos do trabalho. A onda de greves em toda a China, iniciada
pelos trabalhadores da planta de transmissão da Honda na
cidade de Foshan em maio, aumentou as expectativas por salários
mais elevados dos trabalhadores. No início de julho, uma
greve de três dias na fábrica de montagem da Honda
em Guangzhou interrompeu as exportações da Honda
Jazz para a Europa.
As notícias da greve na Atsumitec foram inicialmente
apagadas pela mídia estatal chinesa. A greve atraiu a atenção
do público, no entanto, somente quando os trabalhadores
expressaram seus protestos através de mensagens na Internet.
A agência de notícias Xinhua informou a greve tardiamente,
mas apenas em Inglês e não em Chinês.
Um jornalista da filial de Hong Kong do jornal Ta Kung Pao
conversou com trabalhadores da Atsumitec em 15 de julho, explicou
que o salário básico deles é apenas 1.070
yuan ($ US158) por mês. Após as deduções
para a segurança social e aposentadoria, os trabalhadores
receberam apenas 800 yuan. Eles estão exigindo um aumento
de 500 yuan.
Longe da elevação dos salários como nas
greves anteriores, a Honda optou por uma abordagem de confronto.
A resposta da Atsumitec à demanda salarial era de que a
produção moderna é altamente automatizada
e requer poucas habilidades, e que portanto, não havia
necessidade de "salários excessivos". Em 13 de
julho, a empresa cortou as refeições fornecidas
aos trabalhadores e tentou impor horas extras para compensar a
produção perdida pelo bloqueio dos portões
da fábrica. Em 14 de julho, a Atsumitec emitiu um aviso
de demissão a todos os grevistas e fechou os dormitórios
da fábrica no dia seguinte. Estas ações irritaram
105 trabalhadores da administração, que se juntaram
aos trabalhadores da produção. Um funcionário
administrativo disse: Por causa de ações irracionais
dos patrões contra os grevistas, não podíamos
mais ficar parados. Isso passou dos limites.
Ta Kung Pao relatou que os trabalhadores dos sindicatos controlados
pelo Estado, All China Federation of Trade Unions (União
dos Sindicatos Chineses - ACFTU) tentaram "mediar" a
disputa, mas desistiram em função da posição
"linha-dura" da Atsumitec. Com efeito, a ação
da central sindical facilitou a agressão da empresa, destacando
o papel da federação sindical, que é reprimir
as lutas dos trabalhadores em nome do regime chinês e dos
patrões.
Os trabalhadores elegeram seus representantes para negociar
com os empregadores, enquanto permaneciam ocupados dentro da fábrica.
Uma sessão de curtas negociações com Atsumitec
aconteceu na quinta-feira passada, quando a empresa se recusou
a aceitar as exigências dos trabalhadores. Uma grevista
disse ao South China Morning Post: Todos nós temos um
consenso de que se a empresa sacanear qualquer um de nós,
vamos todos entrar em greve e parar imediatamente. Também
vamos procurar os meios legais de proteger os nossos direitos.
Em resposta, a empresa contratou 100 trabalhadores temporários
no fim de semana para substituir os grevistas, a fim de restaurar
parcialmente a produção. Alguns grevistas retornaram
aos seus postos, a fim de mantê-los na terça-feira,
mas se recusaram a trabalhar. A administração, porém,
obrigou-os a deixar as linhas de produção.
Outros 20-30 trabalhadores, na maioria nativos das proximidades
da cidade de Zhongshan, se recusaram a aparecer. Um disse à
Reuters: Como podemos viver com apenas 1.000 yuan se tudo é
tão caro agora? O governo não está nos ajudando,
a gestão rejeita as nossas reivindicações
e não fala conosco.
A polícia local foi mobilizada para assistir aos trabalhadores
em greve, mas não interveio. Um funcionário do governo
local, Zhong Weiwen, disse à Xinhua na terça-feira:
Temos policiais estacionados perto da fábrica para proteger
contra eventuais emergências, mas a forma de resolver o
problema ainda é uma pergunta difícil.
Na quarta-feira, justamente quando Atsumitec parecia aceitar
as exigências dos trabalhadores de um aumento salarial de
500 yuans, cerca de 400-500 trabalhadores, ou metade da força
de trabalho, em outra fábrica de propriedade japonesa de
equipamentos eletrônicos, Omron, localizada em Guangzhou,
entrou em greve. A planta produz interruptores e chaves de ignição
para montadoras como Honda, Ford e BMW. Os grevistas exigem um
aumento salarial de pelo menos 40 % do seu salário atual
de apenas 1.270 yuan por mês.
Até o momento, o regime chinês tem tolerado cautelosamente
as greves isoladas, devido à preocupação
de que a repressão aberta seria um tiro pela culatra, provocando
mais agitação. Mas os aumentos salariais são,
em última instância, incompatíveis com os
interesses das elites empresariais internacional e chinesa de
explorar o trabalho barato.
Enquanto o governo vem pressionando os sindicatos estatais
para chegar a alguns acordos limitados de aumentos salariais,
dando um show de simpatia para os trabalhadores, o espaço
para fazer concessões à classe trabalhadora é
muito limitado. Geoffrey Crothall da filial de Hong Kong do China
Labour Bulletin, disse à Reuters: Se esses acordos
forem até o final do ano e os trabalhadores ainda continuarem
exigindo, então você pode ver o governo começar
a tomar uma linha mais dura (com as greves). O argumento é:
Olha, nós demos mais que o esperado para vocês, apenas
fiquem satisfeitos com o que vocês têm e não
balancem mais o barco.
As ameaças dirigidas contra os trabalhadores da Atsumitec,
de indiscriminada conclusão e reposição,
são um aviso de uma contra-ofensiva da entidade patronal
apoiada pelo governo.
Outra evidência surgiu este mês sobre as intoleráveis
condições de jovens trabalhadores migrantes. Uma
pesquisa publicada pela agência de Shenzhen da ACFTU e pela
Universidade de Shenzhen, no pólo de exportação
industrial de Guangdong, revelou severo excesso de trabalho e
baixos salários. A pesquisa foi provocada pelas 13 tentativas
de suicídio por parte dos trabalhadores na gigante fábrica
de eletrônica da Foxconn em Shenzhen este ano. Os trabalhadores
migrantes da zona rural compõem três quartos da força
de trabalho em Shenzhen.
Ao contrário do mito popular de que a segunda geração
de trabalhadores migrantes é constituída de "pequenos
imperadores", porque são as únicas crianças
em suas famílias, a pesquisa mostrou que eles têm
que trabalhar tão duro como seus pais, com pouca melhora
nos salários e condições de trabalho. Noventa
por cento dos trabalhadores em seus 20 anos queixou-se das longas
horas. Mais da metade disse que eles eram forçados a trabalhar
muito mais do que os limites legais, pois seus salários
básicos foram muito baixos.
O salário médio dos trabalhadores migrantes em
Shenzhen é de apenas 1.800 yuan por mês, incluindo
as horas extras. Isso é apenas 47 % do salário médio
na cidade. Mesmo com o pagamento de horas extras, os trabalhadores
mais jovens só conseguem viver uma vida de luta, admitiu
a pesquisa.
Cerca de quatro quintos dos salários dos jovens trabalhadores
migrantes foram gastos em necessidades básicas, como alimentação,
alojamento e transporte. Ainda assim, 90% dos trabalhadores enviam
a maioria dos seus rendimentos restantes de volta para suas famílias
nas áreas rurais pobres.
Mais da metade dos jovens trabalhadores viviam em dormitórios
abarrotados na fábrica, com mais de seis pessoas dividindo
uma pequena sala. Daqueles que tinham filhos, 70% tem que viver
longe de seus filhos. Assim como seus pais, eles continuaram a
ser discriminados pelo sistema de registro urbano doméstico
(hukou), que lhes nega os direitos básicos como
o acesso aos cuidados de saúde urbana e educação
infantil.
As mesmas condições opressivas de exploração
existem em Foshan. Na terça-feira, um trabalhador de 18
anos, saltou para a morte na Chimei Innolux, uma subsidiária
da Foxconn. A planta, que tem 25 mil trabalhadores, produz
telas planas para televisores e computadores. O jovem era um estudante
universitário do norte da China, trabalhando durante as
férias escolares.
A recusa da Atsumitec de fazer concessões aos trabalhadores
é um reflexo da ansiedade crescente da elite corporativa
sobre o agravamento da crise financeira global. O crescimento
do PIB da China desacelerou para 10,3% no segundo trimestre de
2010, abaixo dos 11,9% no primeiro trimestre, enquanto o governo
chinês impôs medidas para controlar uma bolha imobiliária
altamente inflacionada, agravada pelos pacotes de estímulo
antecedentes.
Zhou Hongren, um porta-voz do Ministério da Indústria
e Tecnologia da Informação, declarou na terça-feira
que a China "enfrenta muitas dificuldades na aceleração
do crescimento". Zhou disse que os fabricantes estão
particularmente preocupados com a incerteza econômica global,
com a crise da dívida soberana da Europa ameaçando
alguns dos principais mercados de exportação da
China. As exportações chinesas aumentaram 35,2%
em junho em relação ao baixo nível de anos
anteriores, mas o Ministério do Comércio advertiu
que o crescimento iria precipitar no segundo semestre de 2010.
"Nosso mercado de exportação tem limitado o
espaço de crescimento", declarou um porta-voz.
Impulsionados pela crise global, os crescentes ataques dos
patrões sobre as já insuportáveis condições
dos trabalhadores chineses conduzirá inevitavelmente a
uma maior agitação social.
(traduzido por movimentonn.org)
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