WSWS : Portuguese
A "mudança de paradigma" na política
externa alemã
Por Stefan Steinberg
6 de abril de 2010
Utilice
esta versión para imprimir |
Comunicar-se
com o autor
Diversos comentários que apareceram recentemente na
imprensa alemã expressam temor sobre as decisões
tomadas pela Chanceler alemã Angela Merkel para responder
à crise de endividamento na Grécia. No encontro
de chefes de estado da União Européia em Bruxelas,
semana passada, Merkel ditou os termos e deixou claro que qualquer
apoio financeiro fornecido pela Europa estaria ligado à
condições punitivas, e viria somente como um último
recurso.
Embora a posição de Merkel tenha sido saudada
por uma série de comentaristas políticos de direita
e elogiada pela imprensa de tablóides alemã, outros
apontaram que ela representa uma mudança de direção
fundamental para a política externa do país, e implica
em conseqüências amplas e potencialmente perigosas.
A última edição da revista Der Spiegel
coloca a questão com a manchete O Quão Européia
é Angela Merkel? Chanceler Abandona Política [externa]
Européia do Pós-Guerra. Aplaudindo o papel
que tiveram os grandes chanceleres pró-europeus da
Alemanha - a revista se refere aos conservadores Konrad
Adenauer e Helmut Kohl e ao socialdemocrata Helmut Schmidt - o
artigo descreve a maneira que Merkel encontrou de lidar com a
crise de endividamento grega como uma mudança de
paradigma na política externa alemã, representando
portanto uma ruptura fundamental com as políticas de seus
predecessores.
Anteriormente, a revista escreve, a abordagem da Chanceler
alemã era silenciosa e firmemente perseguir seus
interesses em Bruxelas com a ajuda de parceiros-chave da Comissão
Européia. Agora, o Der Spiegel observa, Merkel se
tornou a primeira Chanceler a abandonar este princípio
com relação a um problema importante. Ela deixou
claro que existem interesses alemães e interesses europeus,
e que eles não são necessariamente os mesmos.
A mesma argumentação é usada por Joschka
Fischer, ministro de relações exteriores alemão
e vice-chanceler de 1998 a 2005, e líder do Partido Verde
alemão por quase 20 anos, em um comentário publicado
no começo da semana pelo Süddeutsche Zeitung.
Em uma matéria com o nome Frau Germania,
Fischer questiona: qual é o problema de Angela Merkel?
Há pouco tempo, a chanceler era celebrada como 'Sra. Europa';
agora ela cada vez mais dá a impressão de ser a
Frau Germania. Em vez de fornecer uma liderança resoluta
na crise financeira e econômica global, a maior economia
da União Européia está se retirando para
o seu casulo.
Fischer observa que até agora a Alemanha foi capaz de
lucrar consideravelmente com o processo de integração
européia. Ele escreve, a Alemanha sempre foi o motor
da integração européia, em conformidade com
seus interesses políticos e econômicos... o lema
era simples: a Alemanha dá e, em troca, lucra. Se a Alemanha
desdenhar a primeira parte desta fórmula, o projeto europeu
sofrerá danos consideráveis - assim como os interesses
nacionais alemães. Ainda assim, é esta a direção
que a Chanceler Merkel aparenta seguir.
Fischer continua criticando a exigência de Merkel da
expulsão de membros da União Européia que
não cumprem os critérios financeiros, e pergunta:
será que ela realmente pensa que o euro e a UE sobreviveriam
tal ação punitiva?
Ele também salienta que a insistência de Merkel
em medidas de austeridade severas sobre a Grécia e outros
países da zona do euro se provarão prejudiciais
aos interesses alemães, levando à deflação
nesses países, que são mercados importantíssimos
para as exportações alemãs.
A maior responsabilidade pelo conflito atual dentro da UE,
de acordo com Fischer, está com a Alemanha e a França.
Em vez de liderar, o casal franco-alemão está,
constante e publicamente, em crise. Embora esta briga seja sobre
quem deve pagar pela reestruturação da Grécia,
o problema real é a desconfiança latente entre os
parceiros, que carrega o perigo de um rompimento permanente.
Fischer fala por uma camada da burguesia alemã que está
afoita para usar o vácuo de poder aberto pelo declínio
dos EUA para aumentar a influência alemã e européia
no palco mundial. Em um discurso na Universidade de Humboldt,
de Berlim, em 2007, Fischer deplorou a crescente insignificância
da Europa no mundo sob condições do auto-enfraquecimento
dos EUA em função de suas políticas de unilateralismo...
Um ano depois, Fischer chamou o estabelecimento de uma vanguarda
européia para levar adiante os interesses do capitalismo
alemão e europeu sob condições de crescentes
conflitos comerciais com os EUA, de um lado, e a China e outros
países asiáticos do outro. O motor de sua vanguarda
deveria ser um forte eixo franco-alemão.
Agora Fischer é forçado a reconhecer que suas
esperanças por uma união harmoniosa dos estados
europeus foram descartadas. No despertar da crise financeira de
2007-2008, interesses nacionais estão abertamente dominando
o teatro político europeu. Existem poderosos fatores econômicos
por trás deste desenvolvimento. As últimas estatísticas
de custos de força de trabalho apontam para o enorme abismo
econômico que prevalece por todo o continente europeu.
Com custos de força de trabalho de em média 30,9/hora,
a Alemanha está na sétima posição
entre os países europeus. Na Polônia, que fica a
meras duas horas (de carro) da capital alemã de Berlim,
os custos da força de trabalho são cerca de 80%
mais baratos, custando em média 6,9/hora. O país-membro
da UE Bulgária está em último lugar no ranking,
com custos horários da força de trabalho de em média
2,9.
Ao mesmo tempo, a crise financeira acarretou uma polarização
social extremada em certos países.
Estas diferenças econômicas subjacentes estão
quebrando a frágil unidade das nações européias
e levando-as a adotar políticas cada vez mais nacionalistas.
A mudança na política alemã em relação
à Europa tem profundas implicações políticas.
Por mais de quatro décadas, a paz na Europa esteve ligada
à divisão da maior potência industrial do
continente, a Alemanha, supervisionada por um estado americano
poderoso em um lado e pela burocracia stalinista de Moscou em
outro. O colapso dos estados stalinistas, o fim da Guerra Fria
e a posição enfraquecida dos EUA criaram as condições
para uma Alemanha reunida que novamente poderia afirmar seus interesses
no cenário internacional.
Fischer escreve que a posição de Merkel representa
uma fuga da Alemanha de volta para seu casulo nacional, mas não
pode haver qualquer retirada do mercado mundial por parte da maior
e mais exportadora economia européia. As poderosas forças
produtivas desencadeadas pela reunificação da Alemanha
estão forçando a burguesia alemã a sair dos
bastidores e encontrar um meio de organizar a Europa
mais direta e abertamente em função de seus interesses
financeiros.
Duas vezes no último século, o expansionismo
alemão foi um fator decisivo em levar a Europa e o mundo
para a guerra. Uma tentativa renovada de reorganização
forçada da Europa pela Alemanha irá inevitavelmente
reviver velhos antagonismos, com conseqüências catastróficas
para todo o continente.
Este fato reafirma a necessidade da classe trabalhadora européia
avançar com sua perspectiva independente, baseada na luta
conjunta dos trabalhadores europeus contra a burguesia européia;
no programa revolucionário dos Estados Unidos Socialistas
da Europa, em solidariedade com a classe trabalhadora mundial.
[traduzido por movimentonn.org]
Regresar a la parte superior de la página
Copyright 1998-2012
World Socialist Web Site
All rights reserved |